sábado, novembro 18, 2006

Isso explica muita coisa

Dia desses, fui a um churrasco com alguns bons amigos, num aprazível canto da zona Sul de Florianópolis. Um amigo e colega jornalista me contou que retomara o curso de economia, que abandonara no finalzinho. Falamos do quão interessante (e chato) pode ser um curso de economia. Pra mim, economia é um curso perfeito porque reúne elementos do que pode haver de melhor em outras ciências humanas/sociais, da psicologia à política.

Mas, por aqui, em tempos de discursos bolivarianos, ainda grassa muita desconfiança de tudo que seja ligado à ciência, não raramente seguida por algum adjetivo do tipo "burguesa". Não é difícil entender porque estamos neste atraso todo.

Mas, voltando à economia, o meu amigo me contou um episódio que ilusta bem isso tudo. Um belo dia, um professor dele, do curso de economia da UFSC, comentou com os alunos (coitados) ter lido um artigo muito interessante de um "pensador" francês (tinha que ser) que considerava a matemática uma "ciência alientante". Isso mesmo!

Pergunto eu: como vamos tirar "effepaiff" do atraso em que se encontra com professores como esses ensinando nas nossas melhores escolas? É por isso que a grande maioria dos economistas sai da graduação praticamente analfabeta em matemática. E vão produzir o quê, essas criaturas, em termos acadêmicos? Lixo.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Assino embaixo

Dá-lhe, Dines! - em dia particularmente inspirado.
Os que atacam a imprensa, na tentativa de defender o lulismo, não criticam um veículo em particular, ou uma prática danosa, mas a instituição da imprensa livre. E não entendem que imprensa livre não significa imparcial, desinteressada.

terça-feira, novembro 14, 2006

Notícias de dois países latino-americanos

Segunda-feira agitada, esta! Lula deu um pulinho ali na Venezuela (com o aerolula tudo fica mais fácil) para participar de um comício do Chavez. Era a inauguração de uma ponte sobre o Rio Orinoco, entre o Brasil e a Venezuela, mas virou comício do presidente-candidato. Tudo na maior cara-de-pau.

Blairo Maggi, aquele que se vendeu por R$ 1 bilhão (por essa grana, até eu!), disse que se fosse no Brasil o tiranete estaria inelegível por 300 anos. E vejam como Chavez gosta do seu querido povo: a ponte já estava pronta há quatro meses, mas só foi inaugurada agora, porque Lula não podia estar lá durante a campanha daqui.

Na ausência de Lula, o Brasil teve o primeiro presidente comunista, Aldo Rebelo. Essa vai entrar para os livros de História.

Por fim, pra fechar com chavez de ouro (não consegui resistir!), o nosso Chavez Requião desapropriou uma fazenda de uma multinacional usada para pesquisa científica que fora invadida pelo movimento Via Campesina. Idade Média, aqui vamos nós!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Em tempos de manifesto...

Esta eu tirei do blog do Claudio Shikida. Em tempos de manifesto em favor de Emir Sader, vale a pena ler um trechinho do depoimento de Eduardo Gianetti, no livro Conversas com Economistas Brasileiros.

"A vida intelectual brasileira ainda é muito tribal. Tem grupinhos de autores que dão tapinhas nas costas e que atacam junto as outras tribos.(...)Quando José Guilheme Merquior acusou Marilena Chauí de fazer aquele plágio, e, segundo a evidência, parece-me que constituiu plágio, chegaram a fazer um abaixo-assinado de solidariedade a Marilena Chauí, que é a reação mais tribal que se pode imaginar. Quer dizer, a pessoa fez um plágio e sucita um abaixo-assinado de apoio porque ela foi vítima de um ataque vil?!"

Como gostam de um manifesto por aqui, heim!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Dúvidas e considerações

Algumas considerações sobre o "caso Emir Sader".

1. Numa democracia, recorrer à Justiça é um direito básico de qualquer cidadão que se sinta prejudicado ou ofendido (ainda que eu ache que alguns endinheirados usem essa tática para intimidar os seus críticos). O senador Jorge Bornhausen se sentiu ofendido pelo artigo de Sader e recorreu à Justiça, o que é plenamente legítimo.

2. O juiz condenou Sader por injúria, ou seja, quando alguém ofende um outro por um juízo geral, não por ter cometido um fato específico, como fez Sader ao chamar o senador de "racista, pessoa abjeta", entre outros elogios.

3. Ignorante que sou em Direito, não consigo chegar a uma conclusão sobre se Sader foi condenado por um crime de opinião. Dizer que uma pessoa é racista significa imputar a ela um comportamento criminoso. Logo, está-se cometendo um crime se não se confirmar que tal pessoa praticou um ato racista.

4. No caso do senador, Sader entendeu que a expressão "esta raça" usada por ele teria conotação racista. Francamente, só com muita limitação intelectual ou má-fé, mesmo. "Esta raça" é uma expressão corrente que se refere a grupo, turma e similares.

5. Muitos dos "intelectuais" e jornalistas que assinaram o manifesto de apoio a Sader alegam que ele está sendo vítima de uma condenação por crime de opinião. Ele não teria ofendido o senador ao chamá-lo de "fascista, pessoa repulsiva da burguesia brasileira, racista, repulsivo, odioso..." Bom, se alguém que escreve isso não tem a intenção de ofender, então também não tem condição de dar aulas em uma universidade pública por absoluta falta de discernimento. Se assim não for, terá mentido na defesa.

6. Entre os que assinaram o manifesto, estão pessoas que foram à Justiça contra jornalistas que os teriam ofendido, principalmente contra Diogo Mainardi, o boquirroto da Veja. Ou seja, Eles podem processar o Mainardi por injúria, calúnia e difamação, mas o Bornhausen não pode processar o Sader pelo mesmo motivo??

7. Esse tipo de comportamento é um verdadeiro perigo porque mostra o messianismo deste pessoal (eu poderia usar a expressão "dessa raça", aqui): processar o Diogo Mainardi ou qualquer outro, como o próprio Bornhausen, porque são "de direita", da "elite branca" - pra ficar em alguns termos simplistas usados por Sader. Mas o sociológo não pode ser processado por ser "de esquerda", o bom moço, um elemento do conjunto dos joãozinho-do-passo-certo, a quem tudo é permitido por ser "de esquerda".

8. Por outro lado, não seria um risco também condenar Sader tão severamente, inclusive com a perda do cargo de professor? Isso não daria margem para que outros juízes condenem outros "intelectuais" - de esquerda ou de direita - por supostas opiniões? E dou o exemplo de intelectuais que escrevem regularmente na internet com críticas a pessoas de "esquerda" ou de "direita". O presidente Lula não poderia processar alguém que o chamasse pelos muitos apelidos que tem angariado nos quatro anos de (des)governo?

9. Falando disso me vem à cabeça o caso da crítica feita pelo professor Roberto Romano a um livro do "intelectual" Muniz Bandeira, publicado na finada revista Primeira Leitura. O autor do livro pediu direito de resposta por ter se sentido ofendido e, até onde eu sei, a revistanão chegou a publicar a resposta. Blogs que publicaram a crítica de Romano publicaram a resposta de Bandeira, como foi o caso do Tambosi. Também até onde eu sei, Bandeira pediu apenas direito de resposta. Não seria o caso de o senador Bornhausen ter se limitado a isso também, no caso do artigo ofensivo de Sader?

10. Enfim, meu receio é o de que, daqui para a frente, a patrulha fique tão intensa que não se possa escrever mais nada, sob pena de responder a processo judicial. Isso é da democracia, claro, mas pode se tornar uma dor de cabeça e um ônus insuportável para os que não têm condições de pagar bons advogados. E isso faz toda a diferença.

PS. Ia esquecendo: virou moda chamar de "fascista ou racista qualquer um que tenha posição diferente do senso comum, do politicamente correto. Eu mesmo fui alvo disso enquanto estudava, porque fazia parte de uma "raça" que satirizava os gays, a quem chamávamos de "viados".

quarta-feira, novembro 01, 2006

A coisa é muito séria

Abusos, ameaças e constrangimentos a jornalistas de Veja

A pretexto de obter informações para uma investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados, a Polícia Federal intimou cinco jornalistas de VEJA a prestar depoimentos. Eles foram os profissionais responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" destinada a afastar Freud Godoy, assessor da presidência da Republica, da tentativa de compra do dossiê falso que seria usado para incriminar políticos adversários do governo. Três dos cinco jornalistas intimados – Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro – foram ouvidos na tarde de terça-feira pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira.
Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial. Não houve violência física.
O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição.
Ao tomar o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira indagou os motivos pelos quais ela escrevera "essa falácia". A repórter da VEJA, então, perguntou ao delegado Moysés qual era o sentido de seu depoimento, uma vez que ele já chegara à conclusão antecipada de que as informações publicadas pela revista eram "falácias". Ao ditar esse trecho do depoimento para o escrivão, o delegado atribuiu a palavra à repórter, no que foi logo advertido pela representante do Ministério Público Federal, a procuradora Elizabeth Kobayashi. A procuradora pediu ao delegado que retirasse tal palavra do depoimento porque tratava-se de um juízo de valor dele próprio e que a repórter nunca admitira que escrevera falácias.
Embora a jornalista de VEJA estivesse depondo na condição de testemunha num inquérito sem nenhuma relação com a divulgação das fotos do dinheiro do dossiê, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre reportagem anterior, assinada por ela, que tratava do tema. O delegado exigiu, então, da repórter que revelasse quem lhe dera um CD com as fotos. A repórter se recusou a revelar sua fonte.
Durante todo o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre o que ele dizia ser uma operação de VEJA para "fabricar" notícias contra a Polícia Federal. Disse que a matéria fora preconcebida pelos editores da revista e quis saber quem fora o editor responsável pela expressão "Operação Abafa".
O delegado disse que as acusações contra o diretor-executivo da Superintendência da PF, Severino Alexandre, eram muito graves. E perguntou "Foi você quem as fez? Como vieram parar aqui?". Referindo-se à duração do depoimento, o delegado Moysés Eduardo Ferreira disse: "Se você ficou duas horas, seu chefe vai ficar quatro"
Indagada sobre sua participação na matéria, a repórter Camila Pereira disse ter-se limitado a redigir uma arte explicativa, a partir de entrevistas com advogados, sobre como a revelação da origem do dinheiro poderia ameaçar a candidatura e/ou um eventual segundo mandato do presidente Lula. O delegado perguntou quais advogados foram ouvidos. A repórter respondeu que seus nomes haviam sido publicados no próprio quadro. O delegado, então, perguntou se VEJA pagara pela colaboração dos advogados. Diante da resposta negativa, o delegado ditou para o escrevente que a repórter respondera que "normalmente a revista não paga por esse tipo de colaboração". A repórter, então, o corrigiu, dizendo que a revista nunca paga para suas fontes
Embora os repórteres de VEJA tenham sido convocados como testemunhas, o delegado Moysés Eduardo Ferreira impediu que eles se consultassem com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida. Em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente. Ele também negou aos jornalistas de VEJA o direito a cópias de suas próprias declarações, alegando que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi foi impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.
A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades. Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio. Nunca é demais lembrar: "Pior do que estar submetido à ditadura de uma minoria é estar submetido a uma ditadura da maioria."

Tudo o que eu queria dizer está resumido aqui

Há uns dias eu vinha pensando, nas poucas horas de folga, em algumas idéias para um artigo que juntasse eleições e a crítica da imprensa que alguns jornalistas governistas estão fazendo. Mesmo ganhando com 60% dos votos, eles reclamam da imprensa. Ou melhor, da Veja. Querem unanimidade; a aprovação unânime da administração do apedeuta. Tristes trópicos; aliás, bananão.
Agora, não preciso ter o trabalho de escrever mais nada. Está tudo aqui no artigo excelente de Gustavo Ioschpe. Simplesmente, perfeito.



Gustavo Ioschpe
Perversões da democracia
A função de todo sistema político é maximizar o bem-estar de seus cidadãos. A premissa da democracia é que ninguém melhor do que o próprio cidadão para julgar o que é melhor para si, e que da agregação das vontades individuais cumprir-se-á a vontade coletiva.

Nas democracias modernas, as vontades são expressas em voto e seus artífices são os eleitos. Para que o processo seja justo e atinja seus objetivos, são necessárias algumas condições. O eleitor precisa saber o que ocorre e o que cada candidato defende (informação) e precisa conseguir analisar esse conhecimento para julgar qual proposta será mais condizente à consecução de seu ideal de país (formação).
Em um país como o Brasil, em que o acesso à informação é precário e a capacidade de julgamento é prejudicada pelo baixo esclarecimento da maioria da população, três quartos dos cidadãos não são plenamente alfabetizados -a tentação de usar as limitações da democracia para solapá-la são enormes.
Em particular há duas tentações: a de sacrificar o futuro pelo presente e a de sacrificar a minoria pela maioria. Creio que o governo que acaba de ser reeleito comete ambos os abusos. Os paliativos oferecidos aos pobres são financiados por um aumento do peso do Estado, que tende a fazer com que o subdesenvolvimento perdure. Os pobres que recebem a ajuda não sabem disso, mas os governantes, sim.
Não apenas a pobreza de amanhã financia a de hoje, como se criou uma cultura de ressentimento e vilanização dos que pensam diferente. Quem aponta a nudez do rei é visto como elitista. Quem cobra a eficiência da gestão pública é tachado de privatista. Quem discorda da imposição de critérios raciais na orientação de políticas públicas é racista. Quem denuncia que o presidente bebe é expulso do país. Quem acredita que o respeito à lei e às instituições é um dever que voto nenhum pode alterar virou golpista. Os adversários políticos que não se vendem serão destruídos por dossiês criminosos.
A democracia está sendo solapada pela desqualificação do contraditório, pelo achincalhamento dos mecanismos de controle do Executivo da imprensa ao Congresso. Pão e mensalão: a receita da pax lulista.
Esse meio é seu próprio fim. O poder que corrompe é usado a serviço da manutenção do poder. Ninguém acredita que o Bolsa Família diminuirá a pobreza. É uma política sem finalidades que não a sua perpetuação. Os que crêem que o petismo morre com Lula são os que acreditaram que o mensalão decretava seu fim. As engrenagens que descosturam nossa fibra democrática estão a pleno vapor.
Assim é também porque os oposicionistas sacrificam o respeito às instituições por votos. Se continuar assim, a justiça econômica advirá da socialização da pobreza, a igualdade social virá por decreto e o processo eleitoral se transformará em mero simulacro de uma democracia que, por vontade popular entronizará a maravilha da brasilidade mantendo inalterado esse caloroso atoleiro em que nos transformamos.