quinta-feira, outubro 30, 2008

A polícia politicamente correta

O Marcelo Soares escreveu algo muito interessante sobre a cobertura do seqüestro e morte da menina Eloá, em Santo André.

Este foi o meu comentário ao post dele: "Marcelo, o coronel está errado e certo. Errado ao não ter atirado no descornado, se de fato teve oportunidade. E certo ao dizer que a imprensa (sempre com os tais "movimentos dos direitos humanos) o massacraria por ter matado um cara sem passagem pela polícia. E daí?! A polícia tinha a obrigação de preservar a vida da vítima, não a do algoz. Houve uma brutal inversão de valores. Ou seja, o coronel erra de novo ao dar importância para o que a imprensa e os "movimentos dos direitos humanos" diriam sobre o caso. Aliás, não vi nenhum defensor dos "direitos humanos" protestar contra o assassino. Depois reclamam porque são acusados de só defender os "direitos humanos" dos bandidos."

Ou seja, a polícia foi politicamente correta e isso causou a morte de uma menina de 15 anos. Claro que a culpa é do assassino. Alguém pode dizer, com toda razão, que a culpa foi, claro, do assassino e que não se pode culpar a polícia. Claro que a culpa foi do assassino. Isso é que justificaria a intervenção policial violenta (o uso de um atirador de elite), depois de esgotadas as chances de negociação - o que já se configurara logo no segundo dia. Quanto ao desempenho da imprensa, recomendo a leitura do texto do Marcelo.

quarta-feira, outubro 29, 2008

One way racism

A CBC está fazendo uma série de reportagens sobre as eleições americanas - no mesmo estilo da que a Globo faz no JN. Na cidadezinha de Chilicothe, no estado-chave de Ohio, um grupo de republicanos expunha as razões para não votar em Obama. Um deles perguntou qual o nome do meio de Obama. Houssein. Islâmico demais para os padrões conservadores. Racismo? Certamente, dirá a maioria. OK, é compreensível.

Em seguida, um outro cidadão sentado à mesa faz o comentário que acho o mais fundamental em toda esta campanha americana em que um negro tem todas as condições - e o dinheiro - para chegar à Casa Branca. Segundo ele, 90% dos negros votarão em Obama porque ele é negro. Tudo certo até aí. Mas se os brancos fizerem o mesmo com McCain, ah, isso sim é racismo!

Esse é só mais um exemplo do que eu chamo de "one way racism". Ou seja, o racismo é uma via de uma mão só. Só vale quando os negros são as vítimas. Nós tivemos aqui um exemplo disso, quando uma ex-ministra (ou secretária, sei lá) de Lula disse claramente que não considera racismo de um negro contra um branco.

O que está por trás de tal raciocínio? Curiosamente, não é a idéia, básica, de que todos são iguais perante a lei, sem distinção por qualquer de suas características físicas. Muita gente "progressista" considera plenamente aceitável dizer que vai votar em Obama porque ele é negro. Ou que vai ser benéfico para os EUA ter o primeiro presidente negro da história. Não vê nisso nenhum contrasenso em relação a todo o ideário anti-racista que, felizmente, parece estar avançando - pelos menos nas sociedades civilizadas.

Justificar o voto em Obama pela cor da sua pele é uma ofensa ao próprio candidato. Ele tem quase todas as qualificações para assumir a presidência da nação mais poderosa do planeta: é bem formado, culto, inteligente, elegante e um ótimo orador (já falei aqui que um discurso dele na campanha de John Kerry me manteve acordado por horas numa madrugada de 2004). Mas lhe falta uma: experiência administrativa.

Apesar disso tudo, considero Barack Obama um fenômeno de mídia - no Brasil, comparável a Fernando Collor. Caiu nas graças da imprensa por ser um candidato cem por cento politicamente correto. As duas campanhas nos brindaram com peças de propaganda que entrarão para a história. Collor e seu "caçador de marajás". Obama é ainda pior: "nós podemos". Tão sólido quanto uma bolha de sabão.

Uma observaçãozinha, antes de terminar. Uma pesquisa da Reuters de ontem ou anteontem trouxe uma diferença de menos de 4% entre os dois. Ou seja, empate técnico. Quer dizer que mesmo com a avassaladora e milionária campanha o Obama vai ganhar - se ganhar - apertado? McCain não é tão fraco assim.

Mantega, o visionário

Nós, brasileiros, somos mesmo sortudos. Sorte de termos um ministro da Fazenda que ontem - isso mesmo, ontem! - nos alertou de que a crise financeira será severa e longa. Agora, sim, eu acredito. É um visionário. Antecipou-se a todos e fez o favor de, antecipadamente, nos abrir os olhos para os dias que estão por vir. Quanta celeridade! Agora vai.

Mantega é um dos piores entre os que já vi ocupar aquele cargo. Cada entrevista dele é motivo de risada para os que entendem de economia - o que não é o meu caso. Com aquela animação que lhe é peculiar, decorada com um indefectível sorriso amarelo, desfia ladainhas do mais puro senso comum.

Ontem, para tentar animar os "consumidores", contou que comprou um imóvel. Em quantas vezes, ministro? Cem? Não, não, em dez prestações, diretamente com o proprietário. Viram como é que se faz? Vocês que não compram uma casa em dez vezes são um bando de idiotas.

O cara queria animar o mercado e acabou confessando que também não se arrisca na crise. Como é que tamanha cavalgadura dá aulas numa das principais universidades do país, eu não sei. Aliás, sei, sim. Lá, há muitas cavalgaduras como ele.

domingo, outubro 26, 2008

À frente, o atraso

Às vezes eu acho que há muito de paranóia nas cruzadas anti-petistas que varam a internet. Muitos dizem que é uma perda de tempo combater gente que, daqui a dois anos, será defenestrada do poder. Mas o problema parece ser bem maior.

Vejam, por exemplo, a que ponto chegou uma das maiores universidades brasileiras. Depois do cara que meteu a mão no dinheiro da pesquisa pra montar um apartamento luxuoso, agora é a vez de um grande pesquisador assumir a reitoria da UnB. Vejam só o currículo da figura!

Bom, isso nem chega a me surpreender. Assim como a aqueles que leram esta matéria que eu fiz pro Valor Econômico, em 2006. A picaretagem já está instalada naquela "universidade" há muito tempo.

Ah, dêem uma espiada no nível dos comentários no blog do professor Marcelo Hermes, um dos que ainda se preocupam em combater a mediocridade que grassa pela UnB. Há, inclusive, ameaças. Gente de baixíssimo nível. Um deles, inclusive, acusa o professor de passar informação para o "império" pelo fato de publicar em inglês. A UnB vai passar a ter um campus em cada acampamento do MST. É o brasilzão a caminho do obscurantismo total.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Ecos da ditadura

Até a Economist entrou na discussão sobre a exdrúxula exigência de diploma de jornalismo e registro no Ministério do Trabalho para o exercício da profissão de jornalista no Brasil. O Marcelo Soares traduziu o texto aqui. E uma polêmica recente você pode ler no blog do Maurício Tuffani.

Eu sou jornalista formado e defendo o fim da exigência do diploma. O mercado é quem deve dizer que tipo de profissional pode ou não trabalhar em jornais, revistas, TVs, internet, etc. O resto é conversa de sindicalista.

terça-feira, outubro 21, 2008

Virou moda

Inspirados no delinqüente do ABC, os descornados do país todo resolveram que era hora de dar cabo de suas (ex) mulheres. Vejam estes dois casos aqui em SC - aqui e aqui.

O Marcelo Soares catalogou outros muitos casos recentes.

Aula de lógica


Esta é uma aula razoável sobre lógica formal. Na verdade, dedução natural. É a segunda parte de uma série longa, disponível no youtube (não coloquei a primeira parte porque é dispensável). Se quiserem assistir às seguintes, é só procurar ali mesmo.

Gianetti quer salvar o planeta


O Osame Kinouchi, do SemCiência, desconfia que Eduardo Gianetti virou esquerdista. Pela entrevista acima, pode-se ver que essa não é uma desconfiança sem fundamento. Gianetti parece ter caído no lugar comum do esquerdismo moderno - a paranóia ambientalmente correta.
Dá uma olhadinha no vídeo abaixo, Gianetti.

Save the planet


O chiste - ou deboche - é sempre a crítica mais contundente. Este é o melhor vídeo a que já assisti sobre a paranóia ambientalista.
(Via DVeras)

quinta-feira, outubro 16, 2008

Coincidência

Completando o post sobre a mágica eleitoral, a diferença entre o primeiro e o segundo colocados na eleição para prefeito de Balneário Arroio do Silva foi de quase mil votos - dez vezes maior do que a registrada na eleição anterior. Houve eleição que a diferença foi de 30 votos. Ou seja, o número absoluto de crescimento do colégio eleitoral foi muito parecido com a diferença de votos em favor do candidato vencedor. Pura coincidência.

Se somarmos a isso os casos em que um único candidato levou 100% dos votos do município teremos evidências fortes de fraude eleitoral em tempos de urna eletrônica.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Quarta-feira negra

Nos mercados e aqui em Balneário Camboriú também; escureceu antes das quatro da tarde.

Mágica eleitoral

Alguém sabe me explicar como o colégio eleitoral de um municipiozinho aumenta de 5600 para 6500 eleitores em dois anos? Pois foi o que aconteceu em Balneário Arroio do Silva, no sul de Santa Catarina, terra da minha família.

Em tempos de urna eletrônica, as fraudes migraram dos chamados "votos-carbonos", "votos formiguinhas" e outros tantos para coisas mais complexas, como a transferência de domicílio eleitoral. Em municípios pequenos, onde a diferença de votos numa eleição para prefeito fica abaixo de 100, trazer eleitores de fora pode fazer toda a diferença.

E o que me chama mais a atenção é que a Justiça Eleitoral não está nem aí. Os partidos é que são obrigados a vigiar uns aos outros. A Justiça Eleitoral está mais preocupada com a escolha dos eleitores. Passou a campanha toda nos enchendo a paciência com aquela campanha do voto consciente - aquela dos quatro anos. Justiça eleitoral não tem nada que se meter no voto dos eleitores. Eles que decidam como quiserem.

A Justiça deveria era se preocupar com a lisura da votação. Como é que um colégio eleitoral cresce quase 20% em dois anos e a Justiça não desconfia de nada?!

quinta-feira, outubro 09, 2008

A Lógica no país das maravilhas

Lewis Carroll é famoso por ser autor do clássico Alice no País das Maravilhas. E confesso que só o conhecia por isso. Eis, então, que me deparo, surpreso, com o nome dele no livro de lógica que usamos no curso de Lógica II, na UFSC. Isso porque, além da tal Alice, ele também criou um joguinho muito interessante - os doublets de Carroll.

A brincadeira consiste em partir de uma palavra e chegar a uma outra completamente diferente, seguindo uma única regra: trocar apenas uma letra por vez, formando sucessivas palavras diferentes. Por exemplo, partir de "gato" e chegar em "paio": gato, rato, raio, paio; ou de "sol" para "lua": sol, sul, sua, lua.

Esses são exemplos bem fáceis. Você consegue sair de "deusa"e chegar em "diaba"? Ou de "professor" para "estudante"?

Mas que diabos isso faz em um livro de lógica? Como bem explica o professor Cézar Mortari, autor de Introdução à Lógica, a coisa toda é parecida com os sistemas formais axiomáticos: as palavras iniciais seriam os axiomas, a partir dos quais deriva-se novas fórmulas, seguindo as regras formação.

Como vocês já devem ter percebido, o o livro do professor Mortari é ótimo. Ele trata de lógica formal com uma desenvoltura incrível. Vocês podem ter idéia do que se faz numa aula de lógica espiando os exercícios na página dele.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Melhor texto que li sobre a crise

O debate sobre de quem é a culpa pela crise econômica - se do excesso de liberalismo ou de intervenção estatal - esquenta. Este texto aqui é muito, muito explicativo. Contém informações que eu desconhecia, principalmente aquelas referentes às empresas que fomentaram a bolha imobiliária nos EUA. Percebe-se que a culpa deve ser dividida entre democratas e republicanos, já que tudo começou lá atrás, com Mr Clinton.
Via De Gustibus.

História americana...

... na Rádio 4 da BBC.

terça-feira, outubro 07, 2008

Notas de viagem

Voltei. Foram 15 dias de correria, ao melhor estilo viagem de turista. Enquanto o mundo desabava, eu e a Renata viajávamos. Escolhemos a dedo o período da viagem: dólar subindo, bancos falindo, crédito secando...

Na semana em que a crise recrudesceu, estávamos em Londres. É claro que tive tempo para ler jornais detidamente, mas, ao chegar em Paris, comentei com a Renata de que tinha impressão de que os europeus estavam achando graça da desgraça americana. Pelo que diziam algumas autoridades da EU, estariam imunes à crise. Seria a vitória do "modelo europeu" - seja lá o que for que isso signifique - sobre o americano. Dois dias depois, a CNN e a BBC só falavam nos bancos europeus que agonizavam.

Comprei a The Economist na manhã da sexta passada, antes de embarcar para Milão. Estava lá, em "Lessons from a crisis", maravilhosamente ilustrada com um desenho de Sarkozy lendo Das Capital. "One by one, European leaders have lined up to hail the triumph of welfare over Wall Street. 'The idea that markets are always right was a mad idea', declared the French president, Nicolas Sarkozy. America´s laissez-faire ideology, as practised during the subprime crisis, 'was as simplistic as it was dangerous', chepped Peer Steinbrück, German finance minister. He added that America would lose its role as 'financial superpower'. The italian finance minister, Giulio Tremonti, claimed vindication for a best-selling book that he wrote earlier this year about the dangers of globalisation."

Dessa vez era eu quem ria. A crise chegara ao Velho Continente, e o texto da revista inglesa era o único alento. "Step foward, Peer Steinbrück, Germany´s finance minister, who rashly declared on September 25th tha America was 'the source... and the focus of the crisis', before heralding the end of its role as the financial superpower. Within days, the focus shifted and Mr Steinbrück and his officials were obliged to arrange a 35 billion (euros) loan from German banks and the German government to save Hypo Real Estate, the country´s second-biggest property lender."

E por aí segue na ironia sobre os principais líderes europeus - ou melhor, da Europa Continental - que, independentemente de partidos, adoram o Estado.