quinta-feira, abril 20, 2006

Faz um ano

No dia 20 de abril de 2005,mais ou menos por esta hora, eu e minha mãe estávamos no hospital São João Batista, esperando pela cirurgia do meu pai. Foi a última vez que o vi lúcido; a última vez que falei com ele. Exatamente as 15 horas, entrou na sala de cirurgia, de onde só sairia 15 minutos antes da meia-noite. Nunca senti tanta angústia quanto naquelas nove horas. Ou melhor, senti sim, na segunda cirurgia a que ele teve que submeter, para amputação de uma perna, durante os 27 dias que passou na UTI. Os médicos haviam dito que não tinha nem 10% de chances de resistir, mas resistiu... até o dia 17 de maio. Que Saudade.

quarta-feira, abril 12, 2006

Banalização


Esta foto de capa da Folha de S. Paulo de ontem me chocou. Fiquei pensando na banalização da violência. Não estou falando de sensacionalismo da imprensa, não; não é isso. Estou falando de que não passa um santo dia que não tenhamos notícias de mortes em atentados no Iraque, no Afeganistão ou nos conflitos entre árabes e israelenses. Na maior parte delas, a gente passa os olhos ou ouve de forma rápida. "Ah, morte no Iraque não é mais notícia." Impressionante como a gente se acostuma com essas coisas. Uma foto, assim, mais contundente serve para uma pequena pausa para reflexão. Pequena, mesmo; porque em seguida já nos voltamos para os afazeres que nos consomem.

segunda-feira, abril 10, 2006

A patrulha dos petralhas

Se eu fosse um jornalista e trabalhasse em um grande jornal, faria uma matéria sobre os esforços dos petralhas para visitar diariamente os blogs que sentam o sarrafo no apedeuta, no "nosso guia", enfim, naquele que um dia já foi chamado de sapo barbudo. Sapo que nós temos engolido há quase quatro anos e, como desgraça pouca é bobagem, vamos agüentar goela abaixo por mais quatro.
Voltando: a patrulha é incansável. Blogs como os dos filósofos Orlando Tambosi (O Iconoclasta, link ao lado) e Roberto Romano são freqüentemente visitados pela horda. Para esses novos bárbaros, todos que criticam o desgoverno Lula são "de direita"; ou melhor, da "nova direita".
Os comentários deles são todos assim, cheios de chavões retirados das cartilhas - uma pobreza só. Os clichês da vez são "nova direita", "udenista", "gospistas", e por aí vai. Outro lugar comum é piadinha sem graça, quase sempre debochando dos otários que criticam os políticos desonestos, como os mensaleiros do pt e dos outros aliados.
Têm em comum, também, o recurso covarde do anonimato.
Os petralhas também se consideram "de esquerda". Sim, os banqueiros que se fartam no banquete dos juros petistas agradecem seu esquerdismo!
Eu, por exemplo, sou chamado de direitista por não compactuar com a roubalheira. Tenho que confessar, aqui, que estive enganado durante muito tempo: desde 1989 votava no Lula. Não é preciso dizer que nunca mais. Mas não deixo de louvar, aqui, a vitória de Romano Prodi, na Itália. Mesmo uma miscelânea de partidos, como a formada pela coligação de Prodi, é muito melhor do que Berlusconi. Façamos o mesmo aqui; defenestremos os enganadores e saltimbancos.

segunda-feira, abril 03, 2006

E a gente ainda perde tempo trabalhando...

... enquanto este bando de larápios assalta os cofres públicos na cara dura.
Está aqui uma fantástica matéria publicada na FSP de hoje. É candidata ao prêmio Esso.
Jobim tinha que sair da presidência do STF direto pra cadeia. O que esperar de um magistrado que fraudou o texto da Constituição nos bastidores do Congresso?


STF reembolsou Jobim por viagens pagas por anfitriões
LILIAN CHRISTOFOLETTI

DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, que deixou o cargo na semana passada para retomar seus projetos políticos, recebeu do órgão quase R$ 28 mil de adicionais por viagens realizadas em 2005. Na maior parte das vezes, a ajuda de custo foi para viagens de caráter não-oficial e integralmente pagas pelos anfitriões.Após um cruzamento de informações registradas pelo Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais), publicadas em reportagens e divulgadas na agenda do STF, a Folha apurou que Jobim fez pelo menos 32 viagens nacionais e quatro internacionais no ano passado. Passou, no mínimo, 84 dias longe de Brasília.Em 27 viagens, o convite partiu de universidades particulares ou de associações. Jobim foi chamado para dar palestras sobre temas jurídicos, ser paraninfo de turma de formandos em direito, receber medalhas ou participar de jantares em sua homenagem.Por meio de sua assessoria, Jobim disse que não cobra para dar palestras, que as viagens tiveram caráter representativo e que, por isso, o recebimento de diárias foi absolutamente legal.Cinco especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, disseram que a diária existe para ressarcir prejuízos decorrentes de uma viagem realizada em caráter oficial. Esse prejuízo é inexistente, afirmam, quando o deslocamento é pago pelo anfitrião. Para eles, convites pessoais não se encaixam na definição de evento oficial.Viagens de JobimEm abril do ano passado, por exemplo, Jobim ficou três dias num resort de luxo na ilha de Comandatuba, na Bahia, num encontro da Confederação Nacional das Instituições Financeiras. Todas as despesas, segundo a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), foram pagas pelos bancos. Mesmo assim, o ex-ministro requisitou R$ 544,50 em diárias.Somente em agosto, Jobim viajou seis vezes a convite. Numa delas, ficou quatro dias em um hotel cinco estrelas em Salvador, na Bahia, para participar de um evento patrocinado por associações de classe. Levou como acompanhantes a mulher dele, Adrienne Senna, e um assessor.O casal ganhou dos anfitriões passagem aérea, transporte terrestre, alimentação e hospedagem -todos os gastos foram pagos por companhias estatais que patrocinaram o evento. Para esse deslocamento, o ex-ministro solicitou ao Supremo R$ 693.Em setembro, Jobim viajou de Brasília a São Paulo para ser homenageado por uma revista e para palestrar num congresso de executivos de finanças. Mesmo com as despesas pagas pelos organizadores, Nelson Jobim requisitou ao tribunal uma ajuda de custo no valor de R$ 379,50.Algumas das viagens são consideradas oficiais, como, por exemplo, quando ele foi convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar do funeral do papa João Paulo 2º na Itália ou quando foi ao Paraguai em reunião de Cortes Supremas do Mercosul. Nos dois casos, Jobim recebeu do Supremo R$ 2.291 e R$ 2.976, respectivamente.AgendaA resolução 254, de 2003, define a diária como uma indenização para despesas decorrentes de viagens oficiais feitas por servidores do STF que estejam no efetivo exercício do cargo ou da função.Em agosto de 2004, esta resolução, que não contemplava a possibilidade de pagamento de diárias em viagens patrocinadas, sofreu uma "adaptação" -isso porque, mesmo sem previsão legal, alguns ministros já recebiam meia diária em viagens sem nenhum custo.Esta observação consta no texto que alterou a resolução. Tal prática, no entanto, "não se configura rotina freqüente" no Supremo.

domingo, abril 02, 2006

O feminismo é um movimento desonesto

Ando meio sem tempo e, quando o tenho, sou acometido por uma preguiça descomunal. Logo, os posts escasseiam.
Antes que as minhas muitas leitoras me crucifixem, a frase do título não é minha, mas da professora e escritora inglesa marxista Alison Wolf, em entrevista publicada no caderno Mais! da FSP de hoje.
Alguns trechos:

"Muitas feministas ainda se encontram em campanha, afirmando que as mulheres não são bem tratadas o suficiente no mercado de trabalho, que têm mais dificuldade que os homens para progredir na carreira, que sofrem preconceito e nunca atingem os postos mais altos. Na verdade, isso é puro "nonsense", falta de perspectiva histórica.É preciso entender que tudo o que as mulheres conquistaram no mercado de trabalho só teve início nos últimos 50 anos -e de forma progressiva. As pessoas que detêm os postos mais altos atualmente são as que estão na casa dos 50 anos e entraram no mercado de trabalho antes dessa abertura."

"Acho que eles [homens e mulheres] podem ser iguais [em relação à renda], se as mulheres não tiverem filhos. As mulheres que escolherem ter filhos não poderão ser iguais."

"Ele [o feminismo] se apresentava como um movimento que defendia o interesse de todas as mulheres, mas era apenas voltado a uma minoria de mulheres da elite."

"O feminismo foi responsável por difundir essa visão de que apenas o trabalho importa e nada mais vale a pena. O feminismo divulgou a idéia de que quem está fora do mercado de trabalho não tem valor".

"Há especialmente as mulheres feministas jornalistas que gostam de apontar casos de preconceito ou dificuldades no mercado de trabalho, mas o movimento chegou ao fim."

"O argumento que apresento é que há problemas estruturais e inerentes à situação atual. Eu digo que é estúpido se referir às mulheres como se elas fossem todas iguais -ninguém se refere aos homens como se eles fossem todos iguais.Longe de formarem um grupo homogêneo, as mulheres se dividem em dois grupos de forma dramática: as educadas, que buscam uma carreira em detrimento da dedicação à família, e as não-educadas, que se dedicam à família por falta de opção."

"Se tivesse que especular, diria que talvez algumas mulheres sejam geneticamente mais propensas à idéia de ter filhos de que outras. Talvez depois de algumas gerações passemos a ter mais mulheres que queiram ficar em casa e ter filhos em detrimento de uma carreira."