domingo, setembro 17, 2006

multiculturalismo?

Um trechinho do artigo de Amartya Sen sobre o multiculturalismo, hoje, na FSP.

Os porta-vozes religiosos das populações imigradas parecem desfrutar junto das autoridades britânicas de um reconhecimento (e de um acesso aos salões do poder) de amplitude inédita. Novas escolas religiosas são criadas com a benção e o encorajamento do governo. Aparentemente, este se preocupa mais com o "equilíbrio" religioso sobretudo mecânico desejado por aqueles que são descritos como "líderes comunitários" do que com ensinar às crianças os conhecimentos básicos e a aprendizagem da razão. As escolas separadas, fenômeno de enclausuramento que, na Irlanda do Norte, conseguiu apenas aumentar o abismo entre católicos e protestantes, passaram a ser autorizadas e até mesmo, na prática, encorajadas para outras parcelas da população britânica. Também lá elas serão um fator de divisão. O que é preciso hoje não é abandonar o multiculturalismo nem renunciar ao objetivo de igualdade "quaisquer que sejam as origens raciais ou étnicas -a língua ou a opção religiosa- , mas dissipar essas duas confusões que já causaram tantos problemas. Isso é imperativo, não só porque a liberdade precisa ser levada em conta mas para evitar a revolta dos mais desfavorecidos, como nos subúrbios franceses. Assim, combateremos a ameaça crescente dos pensamentos comunitaristas violentos, que avançam no Reino Unido e correm o risco de conduzir a atos de brutalidade bárbara. É importante reconhecer que os primeiros êxitos do multiculturalismo no Reino Unido estiveram vinculados aos esforços feitos pelo país não para separar, mas para integrar.

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