Na segunda aula, analisamos um texto de Karl Popper: o capítulo 4 (Sobre a Teoria da Mente Objetiva) de Conhecimento Objetivo. Nele, Popper apresenta sua tese dos três mundos.
Popper apresenta uma visão “pluralista” como alternativa à corrente tradicional dualista – dualidade corpo e mente. A seguir, listo os principais tópicos.
Além do mundo material e o da mente, Popper defende a tese pluralista da existência de um “terceiro mundo”. Tal como em Platão, seria algo como um “mundo das idéias”, diferente dos dois anteriores – ainda que Popper se declare um “não-platônico”.
Em resumo, haveria três mundos. O mundo material (ou dos estados materiais); o mundo mental (ou dos estados mentais); e o mundo dos inteligíveis (ou dos objetos de pensamentos possíveis). Esse terceiro mundo englobaria, por exemplo, as “teorias e suas relações lógicas”.
O principal problema desse esquema, Popper reconhece, é a relação entre esses mundos. Para ele, o primeiro se relaciona com o segundo e este com o terceiro. Ou seja, o mundo das experiências subjetivas se relaciona com ambos; é a ligação entre eles. Essa ligação não se dá de maneira direta entre o primeiro e o terceiro mundos.
O terceiro mundo, das teorias matemáticas e científicas, exerce imensa influência sobre o primeiro mundo. A tecnologia seria a expressão maior dessa influência.
Isso faz do terceiro um mundo “objetivo”. Ele contém conceitos ou noções universais, além de verdades ou proposições matemáticas.
À diferença de Platão, para quem o terceiro mundo era autônomo ou sobre-humano, e dos filósofos que rejeitaram a existência do terceiro mundo por entenderem que a linguagem é produto do homem e, portanto, do segundo mundo, Popper caracteriza o terceiro mundo como sendo tanto autônomo quanto produto da atividade humana. Transcende seus criadores e interfere na realidade.
A partir disso, Popper pretende abordar a “teoria da compreensão”, que considera “o problema central das humanidades”. O processo de compreensão deve ser entendido como diferente de seu resultado (interpretação). A interpretação será uma teoria e, portanto, pertencerá ao terceiro mundo. “A atividade de compreensão consiste, essencialmente, em operar com objetos de terceiro mundo.”
O esquema de Popper para a atividade de compreensão consiste em: P1 → TE → EE → P2; onde P1 é problema de partida; TE é a teoria experimental inicial (conjectura); EE é a eliminação de erro; e P2 é o resultado da tentativa crítica de solucionar o problema.
Uma compreensão satisfatória será alcançada se a interpretação, a teoria conjectural, encontrar apoio no fato que esperávamos. A relação entre uma solução e um problema é uma relação lógica (do terceiro mundo).
Em resumo, sua tese central é: qualquer análise intelectualmente significativa da atividade de compreender tem de analisar nossa manipulação de unidades estruturais e instrumentos de terceiro mundo. Quando reconhece a autonomia do terceiro mundo, Popper não deixa espaço para relativismos. O conhecimento (terceiro mundo) é objetivo e transcende o nível pessoal, até mesmo de seus criadores. Ou seja, a ciência é universal; não depende da minha ou da sua vontade; nem de lugar (vale aqui, na China ou na Índia).
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