domingo, março 26, 2006

Abuso de poder

Editorial da Folha de hoje, publicado na capa do jornal.

ABUSO DE PODER
A desfaçatez, o uso sistemático da mentira, o empenho em desqualificar qualquer denúncia, nada disso constitui novidade no comportamento do governo Lula. Chegou-se nos últimos dias, entretanto, a níveis inéditos de degradação ética, de violência institucional e de afronta às normas da convivência democrática. Na tentativa inútil de salvar a credibilidade em farrapos de um ministro, viola-se o sigilo bancário de um cidadão comum, o caseiro Francenildo Costa _enquanto toda sorte de malabarismos jurídicos e parlamentares protege as contas de Paulo Okamotto, celebrizado pelos nebulosos favores que prestou ao presidente. Fato ainda mais grave, o caseiro se torna alvo de investigação por parte da Polícia Federal, num ato indisfarçável de ameaça e abuso de poder. A iniciativa _tomada em tempo recorde_ não tem paralelo na história recente do país, infelizmente pródiga em situações nas quais representantes do poder público se viram às voltas com denúncias sérias de corrupção. Seria o caso de qualificá-la como um crime de Estado, não fosse, talvez, excessiva indulgência chamar de "Estado" o esquema de intimidação oficial que assume o proscênio no momento. Com arrogância e desenvoltura típicas de uma organização habituada à impunidade e aos acertos inconfessáveis, representantes do lulismo já faziam saber, antes mesmo que as contas do caseiro viessem ao conhecimento público, que dispunham de dados supostamente capazes de incriminá-lo. Posteriormente, a demora em chegar aos responsáveis pelo abuso não fez mais do que intensificar as convicções de que terá partido dos altos escalões governamentais a orientação para que fosse levado a efeito. Da "lei da mordaça" contra o Ministério Público ao abortado projeto de um Conselho Nacional de Jornalismo, da tentativa de expulsar do país o correspondente do jornal "The New York Times" aos sucessivos embaraços antepostos à ação das CPIs, o governo Lula já deu mostras de que convive mal com a liberdade de imprensa e com a procura da verdade. Ultrapassou, contudo, o terreno das propostas legislativas desastrosas, como ultrapassou também o terreno das bazófias, das chicanas e do cinismo militante, para se aventurar na prática da chantagem e do abuso de poder.

sábado, março 25, 2006

No Bananão, não funciona

No Bananão, comprar pela internet dá uma dor de cabeça! Minhas duas experiências mais recentes foram frustrantes. Primeira: fiz uma compra e parcelei o valor em dois cartões - uma das opções pelas quais eu "poderia estar optando", na língua dos infames. Como usaria dois cartões, teria que passar pela experiência - sempre desagradável - de falar com a atendente. Ela me informou que um dos cartões não fora aprovado. No dia seguinte, a operadora do cartão me confirmou que a compra havia sido aprovada. Voltei a ligar para a Americanas.com e passei o número da aprovação que me fora passada pela operadora, mas não adiantou. "Vamos ter que estar estornando o valor do seu cartão." Dos dois cartões, eu pedi, ao que a mocinha confirmou. Mas daí não agüentei:
- Mas a compra não foi reprovada?
- Foi.
- Mas então o que é que vocês vão estornar, minha filha?
Ela gaguejou e repetiu que os valores seriam estornado. Praguejei um pouco e disse que jamais voltaria a comprar na Americanaspontocom. E ponto final.
A segunda foi com o Submarino. Comprei um reles livro que estava com um preço ótimo. Mas o prazo de entrega era de até sete dias! Sete dias para entregar um livro em São Paulo, sendo que a empresa está aqui do lado!! Eu teria vergonha de dizer que demoraria uma semana pra entregar um livro na mesma cidade. O submarino deve estar fazendo água (não resisti). Mas tudo bem. Ocorre que dois dias depois recebi um email dizendo que a entrega atrasaria!!! Espinafrei de novo e deixei pra lá.
Pra não dizerem que isso acontece com todas as empresas de internet: os últimos três livros que comprei na Amazon chegaram muito, muito antes do prazo dado. E fiquei surpreso com a qualidade dos livros. Nem pareciam usados. Enfim, lá na terra dos imperialistas as coisas funcionam. Já aqui...

terça-feira, março 21, 2006

A primeira vez

A primeira vez a gente nunca esquece, mesmo. Foi no sábado passado. Ele começou, gentilmente, falando de relações e terminou no limite. Não é nada disso que vocês estão pensando. Sou espada, pô, ou melhor, facão. Estou falando do meu curso intensivo de economia. No sábado, tive minha primeira aula de "limite", no curso de cálculo. Como não aprendi essas coisas no segundo grau e nem na graduação, tudo é novidade. Não sabem vocês a alegria que fiquei ao resolver a primeira funçãozinha de limite.
Mas o professor tratou de jogar uma água fria: isso é só o começo, depois piora bastante. Derivada, integral, equação diferencial...
O professor não é exatamente um craque em matemática, mas disse umas coisas interessantes. Por exemplo: "os melhores livros de matemática são os que têm menos números". Outra: matemática não é número. A grande parte do que hoje se relaciona com matemática pode ser mais adequadamente chamado de computação, ou seja, o ato de calcular. Matemática, mesmo, é a lógica.
Em teoria dos conjuntos, por exemplo, você pode trabalhar só com conceitos. Sabe aquelas coisinhas básicas de "união" e "intersecção" que todo mundo acha que é moleza? Pois isso é a essência da matemática e um dos ramos mais difíceis. O professor brinca dizendo que vai começar de leve, com teoria dos conjuntos, coisa e tal, mas a coisa vai ficando feia à medida que se vai fazendo operações com conjuntos. Aliás, os principais problemas de contradição na mátemática com os quais os matemáticos se debateram no começo do século XX estavam justamente na teoria dos conjuntos, da qual parte toda a aritmética.
Depois o mestre deu uma aliviada. Disse que, na verdade, considera derivada muito mais simples do que teoria dos conjuntos; disse que é só uma questão de calcular, de seguir a técnica. Tomara.

domingo, março 19, 2006

Para o populacho

Não sei bem porque, mas neste ano não estava muito a fim de visitar a bienal do livro, no Anhembi. Acabamos indo ontem à noite, minha mulher e eu. Uma perda de tempo; um programa de índio (expressão que desgosta os policitamente corretos, mas não tô nem aí). Só na terceira visita à bienal é que percebi o óbvio: não é feita para quem gosta de livros. Quero dizer, não é feita pensando em quem lê regularmente, quem visita livrarias com freqüência. Não há novidades lá, nem promoções.
A irritação começa na chegada. Fila de meia hora e 15 reais para o estacionamento - lotado. Achei razoável pagar 15 pratas por duas pessoas. Ledo engano. Na entrada, mais 10 reais por cabeça. Ou seja, você ainda não visitou nenhum estande e já morreu com 35 paus! O preço de um livro bom.
Você entra e logo sente o calorão. Um negócio abafado, insalubre, absurdamente desconfortável. Num ambiente assim, é difícil desodorante que não vença - se é que vocês me entendem. Resultado: gente fedendo a "cachorro molhado" -- sabe aquele cheiro de roupa que secou em lugar fechado? Pois é, isso mesmo.
Ficamos quase duas horas rodando, até as pernas não agüentarem mais. Nesse tempo, achamos um único estande com ar condicionado, da editora Atlas. Parabéns para eles. Ficamos naquele refúgio por uns minutos até pararmos de suar. Respiramos fundo e deixamos aquele oásis.
Estava procurando dois livros e não consegui encontrá-los, naquela loucura infernal.
Resumo da ópera: aquilo é feito pro populacho. Não me refiro aos pobres de dinheiro, não, mas aos que vão a uma livraria uma vez a cada dois anos.

quarta-feira, março 15, 2006

Alckimia


Bom, o improvável aconteceu: os tucanos decidiram lançar Alckmin contra Lula. Jogaram no colo do apedeuta a chave do Alvorada por mais quatro anos. Eu tinha alguma esperança com Serra que, mal ou bem, foi forjado no pensamento "desenvolvimentista"; ou seja, não voltado para banqueiros e rentistas.
Se Lula não ganhar, não vai fazer a menor diferença. Com o picolé de Chuchu (crédito ao Simão), serão mais quatro anos de marasmo, de mesmice, de vôo de galinha; enfim, tudo de que o Bananão precisa para continuar com os recordes de desigualdade e de juros altos.
Com Serra seria diferente? Não estou certo, mas lembro de que em 2004, economistas da Unicamp que podem ser classificados de "esquerda" apoiaram Serra contra Marta, para a prefeitura de São Paulo. Só o fato de não agradar aos banqueiros ele já soma milhares de pontos no meu conceito. Seria, pelo menos, uma tentativa.
Com Alckmin, nem isso será. Como mostra a foto aí do lado, vai ser a continuidade do FHC, ou seja, a continuidade do Lula... Afinal, chuchu é tudo igual; é o quarto estado físico da água.
Mas o bicho foi macho. Peitou Serra, até então considerado o anti-Lula. (Mais uma prova de que Alckmin vai apenas continuar o que está dando errado é sua rejeição à expressão "anti-Lula".) Acho que pra decidir a disputa, a cúpula tucana decidiu medir o tamanho dos bicos dos candidatos. Covardia, né.
O grande erro do vampiro foi ter se candidatado à prefeitura de São Paulo, em 2002. Tivesse esperado mais um pouco e poderia até bater chapa com Alckmin, já que não teria o que perder. Agora, resta o governo do estado, onde a mulher do argentino aparece em primeiro nas pesquisas. Dá-lhe vampiro; vamos sugar o sangue da madame.

segunda-feira, março 13, 2006

Math

Meu chavão preferido atualmente é "esta internet faz cada coisa!"
Aqui tem um curso de matemática http://www.cepa.if.usp.br/e-calculo/
É um projeto do Instituto de Matemática da Usp. Muito bem-feito. Eles tentam usar, ainda que timidamente, noções de história da ciência para explicar o conteúdo, propriamente dito. Essa sempre foi uma grande discussão em história da ciência: como ela pode ajudar no ensino dos conteúdos? Não, não se trata de contar historinhas pitorescas sobre cientistas, não.

domingo, março 12, 2006

Preferências

É atribuída a Aristóteles a frase "a virtude está no meio" - ou algo do tipo. Cerca de 2.300 anos depois, os teóricos da economia chegaram ao mesmo veredito: o consumidor tende a preferir as médias aos extremos. Isso se aplica ao consumo de bens. Dentro de uma mesma curva de indiferença, na qual há várias cestas de bens em relação às quais o consumidor é indiferente entre uma e outra, mesmo assim o consumidor tende à preferir uma cesta que contenha um número razoável de todos os bens. Mas há um tipo de "consumidor" que gosta de se "especializar" em um determinado bem: o viciado em drogas. Esse abre mão de todos os outros bens para ter o máximo possível de droga. Tá aqui um bom eufemismo pro pessoal chegado a uma carreira ou coisa parecida. Falei que estas aulas de economia ainda iam dar pano pra manga.

quinta-feira, março 09, 2006

É só servir


Bom, de que a pizza está pronta ninguém mais tem dúvidas; ainda mais depois da votação de ontem à noite que livrou a cabeça de um tal Luizinho que se entitula "professor" e de seu colega de bando, Roberto Brant. São de partidos diferentes; o primeiro do petê e o segundo do pefelê, mas podem ser representados graficamente pela figura de uma ferramenta que tem um lado pontiagudo e o outro mais larguinho.
Agora vejam vocês, o pefelê do "doutor" Jorge Konder Bornhausen (como o chamam lá em SC) se mancomunou com aquela "raça" da qual ele dissera que o Brasil deveria se livrar! É por isso que CPI nenhuma vai pra frente neste congresso, meu caros. Qualquer investigaçãozinha mais profunda nas contas fétidas do petê e a petezada ameaça chafurdar ainda mais fundo e encontrar enterrado lá um - senão muitos - tucanos e outros bichos menos nobres, como aquele espécime que um personagem do Jô Soares carregava numa gaiola com extremo cuidado, o corrupto. Afinal, de que outro caso se tem notícia de um corrupto na gaiola?

terça-feira, março 07, 2006

Links (in)úteis

Como disse, estou estudando algumas coisas malucas, entre elas, matemática e microeconomia. Aqui vão dois links que podem ser interessantes pra quem gosta disso. O primeiro é de noções de estatística: http://alea-estp.ine.pt/html/nocoes/html/nocoes.html. O segundo é de micro: http://paginas.terra.com.br/educacao/Microeconomia/.
Mas não espalhem porque pode sobrecarregar essas páginas tão interessantes.
Agora falando sério, esta internet facilita as coisas, heim. Só não aprende quem não quer.

domingo, março 05, 2006

Papinho cabeça



Amanhã não vai dar outra: o assunto vai ser o Oscar. Pra quem não é cinéfilo como eu, é um saco. Não assisti a nenhum dos indicados e não tenho inveja de quem os assistiu.
Hoje em dia, cinema virou sinônimo de cultura. Se o sujeito manja muito de cinema, logo pode ser considerado culto. Quem não vai ao cinema com freqüência é um verdadeiro alienado, desinformado, um verdadeiro troglodita.
Sim, isso parece uma autodefesa, já que vou ao cinema muito raramente. Incomoda-me o barulho das pessoas roendo, fazendo aquele barulho irritante com o canudinho quando o refrigerante está no fim, cutucando com o joelho nas costas da minha cadeira, falando durante o filme... enfim, há uma inifinidade de motivos para eu não ir ao cinema. Há outros para ir? Talvez.
Mas não adianta: em qualquer rodinha de amigos ou de colegas de trabalho, amanhã só vai dar o tal do Oscar. Neguinho fica se achando o máximo falando sobre roteiros, tomadas, direções como se fosse o próprio Orson Welles. Outro dia estava falando com um colega sobre o assunto de um livro e ele me disse: " tenho que ver este filme de novo". Desconversei e caí fora.
Numa grande empresa em que trabalhei aqui em São Paulo, eu tinha um colega cujo papo preferido era o quê? Cinema, of course! Eu evitava almoçar com o cidadão às segunda-feiras porque ele desfiava o rosário de filmes a que assistira no fim-de-semana. Um belo dia, os olhos do pobre coitado quase saltaram da cara quando eu disse que não havia visto Matrix. "Você nunca assistiu Matrix", perguntou-me; aquele tipo de pergunta que soa como repreensão, sabe? Compreensível; eles estavam falando sobre o Matrix 2 - ou três, sei lá - e eu não tinha visto nem sequer o primeiro! Devo ter perdido um mil pontos na consideração do distinto, que é muito boa pessoa, diga-se.
O que é engraçado é que soa pedante ao extremo eu falar sobre o livro de epistemologia ou de ciências que estou lendo. Meu colega de trabalho vai me achar um lunático pedante. Mas eu tenho que aturar o papinho de cinema deles.

quinta-feira, março 02, 2006

Tá sobrando dinheiro na Venezuela



Será que a Vila Isabel ganhou o carnaval do Rio por causa dos dólares do Chavez ou das passistas como a da foto acima? Pode ser que pela duas razões.
Agora, deve estar sobrando dinheiro na Venezuela, heim! A Globo disse que fala-se em US$ 1 milhão, o que não foi confirmado pela escola. O enredo da Vila foi uma exaltação à "latinidade", à integração da América Latina. Tudo bem, acho tudo muito bonito, mas é preciso deixar de bravatas e retórica anti-americana e passar a agir.
Chavez, por exemplo, poderia começar por usar melhor o dinheiro da estatal do petróleo PDVSA. Aplicar os recursos em programas de desenvolvimento, em ciência e tecnologia, em vez de patrocinar desfiles de carnaval que nada mais são do que a versão simbólica de sua retórica anti-americana vazia. Em vez de se preocupar tanto com os americanos, que zele pelo bem-estar do povo sofrido da Venezuela. Isso já estaria de bom tamanho; não precisa querer consertar todos os males da América Latina - ou melhor, martelar discursos sobre eles.