domingo, maio 20, 2007

Um pouco de história da ciência

Atendendo ao pedido do Marcelo, vamos atualizar esta porcaria, então /:^>
E em alto nível. Chupando da Folha, pra variar. Quer dizer, do El País.


De Lola Galán
Em Madri, Espanha

A história ainda não se pronunciou sobre Ioannes Myronas. Foi um destrutor da cultura clássica, ou contribuiu para preservá-la, inadvertidamente? Myronas, conhecido só pelos eruditos, foi um monge bizantino autor de um livro de orações -que concluiu em 14 de abril de 1229- confeccionado a partir de vários códices, entre eles o que continha sete tratados de Arquimedes. Mas esse palimpsesto [pergaminho reutilizado], batizado com o nome do cientista grego, guardava outras duas jóias: discursos desconhecidos de Hipérides, um dos grandes oradores gregos, que viveu no século 4º a.C., e um comentário às 'Categorias' de Aristóteles, o pai da filosofia, descoberto graças às últimas técnicas de fotografia digital.
Primeiro foi a ciência, depois a política, finalmente a filosofia. Não é a ordem de criação disposta por alguma deidade caprichosa, mas a seqüência de descobertas que fizeram do chamado Palimpsesto de Arquimedes, submetido a exaustiva análise nos EUA, mais que um manuscrito, uma minibiblioteca clássica ambulante.
No século 13, o presbítero bizantino Ioannes Myronas reciclou, para criar seu breviário, nada menos que quatro códices, tirados de uma biblioteca bem abastecida. Pouco se sabe desse monge, exceto que se aplicou com rigor à tarefa de desmontar de seus bastidores de madeira os fólios do pergaminho e a apagar com ácido as letras minúsculas, do grego clássico. Menos ainda se sabe sobre o escriba cujo trabalho destruía.
A totalidade do saber acumulado na Grécia clássica foi transmitida para o mundo graças a copistas desconhecidos. Mas sua tarefa foi minada pelas vicissitudes da história. O homem que copiou os argumentos de Arquimedes (287-212 a.C.), as sentenças dos discursos de Hipérides (389-322 a.C.) e as reflexões de Alexandre de Afrodísias (cerca de 200 a.C.) a propósito de uma obra essencial de Aristóteles teve um êxito desigual. Nem mesmo sabemos se foi uma única pessoa. Mas sua tarefa exigiu longas horas e numerosas folhas de pergaminho, elaborado a partir da pele de pelo menos 24 ovelhas. (assinante lê tudo
aqui)

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