Neste dia da proclamação da República, uma notícia na capa da Folha me deixou extremamente aborrecido. Quatro economistas foram "expurgados" do Ipea, órgão dirigido pelo economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp, e com quem trabalhei em 2004, na prefeitura de São Paulo. O expurgo, segundo a Folha, acontece por divergência ideológica - com Pochmann e com o chefe Mangabeira Unger. Em outras palavras, censura. Até Delfim Neto, defensor deste governo corrupto e inepto, diz que nem na ditadura houve tal censura no Ipea.
Vejam a que ponto chegamos: um outro economista que não se enquadra nos padrões de João Sicsú, diretor do Ipea, está deixando o instituto rumo aos Estados Unidos - uma espécie de auto-exílio.
A Folha que me desculpe, mas vou copiar aqui a matéria na íntegra por se tratar de interesse público.
Ipea "expurga" economistas divergentes
Quatro pesquisadores independentes e considerados não alinhados ao atual pensamento econômico do governo foram afastados nesta semana do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger. São eles: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios não seriam renovados no vencimento, em dezembro. Já para os outros dois, que estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o instituto, a alegação foi a de que eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e que fica instalada no Rio, não se pronunciaram. A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados pela Folha. De acordo com a versão oficial, Giambiagi e Tourinho teriam pedido para voltar para o BNDES, e, em relação aos outros dois, o Ipea informou que apenas estariam aposentados.
Segundo a Folha apurou, no entanto, Giambiagi e Tourinho teriam sido informados ou por Sicsú ou por seu assessor Renault Michel de que seus convênios com o BNDES não seriam renovados. Os dois já estavam cedidos ao Ipea pelo BNDES há vários anos. Já Bonelli e Rezende, especialistas respectivamente em indústria e agricultura, foram convidados a deixar as salas que ocupavam no Ipea por já estarem aposentados. No governo Fernando Henrique Cardoso, Bonelli ocupou uma diretoria do BNDES, e Rezende, uma diretoria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para os quatro, a direção do Ipea alegou que havia irregularidades nos contratos deles com o instituto.
Os quatro pesquisadores tinham em comum também o fato de serem críticos do excesso de gastos do governo, o que contraria o pensamento tanto de Pochmann como de Sicsú, que se definem "desenvolvimentistas" e defendem um aumento da política de gastos públicos para acelerar o crescimento da economia.
O clima no Ipea é de indignação e desconforto com a saída dos quatro economistas. Ontem, pesquisadores do instituto organizaram um almoço de solidariedade, no Rio, aos quatro técnicos afastados. O ambiente era de preocupação com a nova orientação da direção do instituto.
Considerado um dos maiores centros do pensamento econômico do país, o Ipea, criado há 43 anos, sempre se caracterizou pela liberdade de pensamento. Mesmo no período da ditadura militar, o Ipea nunca deixou de exercitar a crítica -por exemplo, à política de distribuição de renda.
O ex-deputado Delfim Netto, que comandou a economia no período de 1979 a 1985, durante o regime militar, chegando a ser chamado de superministro, lamentou e criticou a saída dos quatro pesquisados do Ipea. Delfim foi até chamado por Pochmann -e aceitou- para assumir o cargo de conselheiro do Ipea."Tenho esses profissionais [os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa, com boa formação acadêmica e trabalhos relevantes prestados à economia brasileira", afirmou o ex-deputado.
Delfim lembrou-se do período do autoritarismo e de sua convivência com o Ipea, quando ministro: "Nunca houve censura de nenhuma natureza no Ipea. No período da ditadura, eles atacavam a ditadura à vontade e ainda recebiam aumento de salário. O que espero é que não haja nenhuma censura à pesquisa acadêmica que o Ipea tem produzido".
Outros pesquisadores do Ipea, segundo a Folha apurou, pensam em deixar o instituto. O economista Ricardo Paes de Barros, um dos maiores especialistas do país da área social e um nome reconhecido internacionalmente, já está de passagem marcada para Chicago, nos Estados Unidos, onde irá permanecer por um tempo dando aulas e realizando seminários.
2 comentários:
Boa, ph, chamei lá em casa...
Gostei do seu pequeno texto introdutório, PH, em que pese a tristeza que o permeia. A "contenção" na escrita e o seu resultado esperado, a objetividade, é sua pedra de toque.
É mesmo lamentável. Triste e lamentável... Por que será que eles não convidam o economista mineiro, Eduardo Gianetti (irmão da Patrícia Gianetti, minha ex-colega no Colégio São Paulo. E o kiko, Maria? Nada, PH! Só tô te contando, cara!) autor do livro, misto de auto-ajuda e economia, chamado "O Valor do Amanhã?" O novo Paulo Coelho da Economia já foi parar no Fantástico!
No mais, meus sinceros pêsames e um beijo grande procê.
D. Maria I e única, a paranóica do blá blá blá. (É brincadeirinha...)
Mais uma beijoca.
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