O noticiário confunde a gente de vez em quando, não é mesmo? Ué, jornalista admitindo que se confunde com as notícias? É mais ou menos isso, sim. Num dia, o "presimente" da República comemora a entrada do Brasil no rol dos países de alto Índice de Desevolvimento Humano (IDH). Não esqueçam que esse é o mesmo índice que os petistas tanto detrataram há anos. Pensei cá comigo: agora vai! Parece que o país melhorou, mesmo. Pelo menos nos três aspectos medidos pelo IDH: renda per capita, escolaridade e expectativa de vida. Mas tem alguma coisa estranha aí.
Uma semana depois, a realidade se impõe. A OCDE diz que os nossos pobres alunos estão lá na rabeira quando o assunto é ciência. Entre 57 países, os brasileiros ficaram em 52º lugar - só na frente de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. Lá na frente, aparecem Finlândia, Hong Kong e Canadá (ah, o meu visto de imigração não há de demorar).
Ah, era isso que estava errado - entre muitas outras coisas não medidas pelo IDH. Se hoje há muito mais jovens na escola do que há quatro ou cinco décadas, por outro lado, a qualidade do ensino é péssima. Outro dia uma destas "pesquisas" mostrou que os alunos que saem do segundo grau têm conhecimentos equivalentes aos da quinta série. E todas as pesquisas apontam o ensino brasileiro como um dos piores do mundo.
No ano passado, estive com professor de filosofia da UFSC e, não lembro bem por que, o tema da qualidade da educação veio à tona. E ele me contou uma historinha que ouvira havia pouco tempo, que ilustrava bem a situação da educação no Brasil. Se me recordo bem, ele ouvira um professor do ensino fundamental reclamar do calendário letivo do ano seguinte, quando as aulas começariam muito cedo. Mas algum problem pedagógico havia? Não, ele simplesmente seria prejudicado porque não poderia aproveitar mais o verão para uma atividade importante: catar latinhas para vendê-las e complementar o salário de professor! "Como é que essa criatura tem condições de ensinar alguma coisa", perguntou-me o colega dele de profissão.
É uma questão de gerenciamento de recursos públicos. O governo atual prefere botar o dinheiro em programas meramente assistencialistas, de onde os pobres nunca sairão, em vez de investí-lo para melhorar a situação da educação - o que daria aos mais pobres as condições necessárias para a quebra do ciclo de pobreza. Mas isso não renderia tantos votos.
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