Meu amigo Maurício Oliveira fez alguns comentários no post anterior que merecem um outro específico. Concordo com ele que uma coisa é a impressão que temos de um outro país como visitantes. Outra, bem diferente, é imigrar.
Não tenho dúvidas disso. Estamos no processo de imigração há mais de dois anos. Nesse período, acompanho muitos blogs de gente que já foi ou está indo morar no Canadá. Acompanho a imprensa de lá diariamente. Ou seja, não tenho grandes ilusões. Sei que não estamos indo para o paraíso.
O Canadá tem lá os seus defeitos. E não estou me referindo ao frio e à neve. Falo, principalmente, da ingerência estatal na vida das pessoas. Eu, atualmente, sou um tanto liberal, e o Canadá tem uma tendência forte ao que se pode chamar de social-democracia.
Mas esse preço a pagar é pequeno. Lá, o governo tributa, mas dá em troca. O transporte público e a saúde funcionam e há segurança nas ruas.
Imigrar é uma decisão difícil - até mesmo extrema. No nosso caso, sempre quisemos morar fora. Não sei se será para sempre. Mas queremos ficar por lá pelo menos uns três anos para ter cidadania canadense.
Geralmente, os imigrantes que escolhem o Canadá (ou Austrália, Nova Zelândia) têm um perfil diferente dos demais. Eles não vão em busca de enriquecer, mas de outras coisas não menos caras, como estabilidade, segurança e uma vida melhor para os filhos.
A maioria tem curso superior e está razoavelmente bem estabelecida aqui no Brasil. Até porque, para passar com sucesso pelo processo, é preciso ter as qualificações: formação, idade, conhecimento do idioma e grana.
A única coisa de que discordo do Maurício é a história do destino. Se o destino me fez nascer no Brasil, problema dele. Eu mudo para o Canadá! Não tem essa de destino, não.
No nosso caso, se não gostarmos, voltamos e pronto. Conheço gente que foi e adorou (a grande maioria) e gente que detestou e voltou. Por isso que é uma coisa muito particular. Eu sou meio cigano. É tudo uma questão de perspectiva. Eu moraria em vários lugares do mundo, se me deixassem.
Mas eu não quero deixar a imagem de que estamos imigrando porque estamos desiludidos com o Brasil. A primeira razão é que sempre quisemos morar fora, e só agora tivemos a oportunidade.
É claro que a situação do país nos empurra para lá. Prefiro ter filhos lá a tê-los aqui e correr o risco de vê-los arrastados por um bando de botocudos do lado de fora do carro que eles tentam roubar. Estou exagerando? Pode ser, mas ainda ontem um outro episódio grotesco desses ocorreu - ainda bem que o menino sobreviveu.
Sim, a violência é uma das coisas que mais me incomodam por aqui. Simplesmente porque o medo nos impede de fazer coisas singelas, como sair à rua depois de uma certa hora da noite.
"Ah, mas lá no Canadá também tem violência". Sim. Em Toronto, matam em um ano o que matam em menos de um mês em São Paulo.
Civilidade. Pelo menos por alguns anos.
Ah, sim, Maurício, vocês serão muito bem recebidos por lá. Será uma honra.
7 comentários:
Agora eu também resolvi meter meu bedelho. Amo o Canadá, morei um ano lá quando tinha 16 anos, noivamos lá e minha família (essa do intercâmbio) sempre vem aqui. Na última viagem que fizemos aos EUA, minha irmã atravessou o Canadá e cruzou os Estados Unidos com as três filhas (uma delas com dois meses na época) para nos ver. Fiquei super emocionada e feliz por saber que depois de mais de duas décadas tenha formado laços tão fortes.
Quando morei no Canadá pensei em ficar e, assim que casamos, pensamos em entrar com o processo para imigração. Sei que é uma decisão super difícil, por isso desistimos. Um estrangeiro, seja em qual país esteja, sempre será um estrangeiro e sentirá saudade de casa. Nas nossas viagens sempre que pegávamos táxi, os motoristas eram de outro país. Uma coisa tinham em comum, todos tinham vontade de voltar para casa. Foi assim com um africano, um paquistanês e um indiano.´
Vivo dividida. Penso que nossa vida seria mais fácil em outro país, por isso temos como meta morar fora durante algum tempo com as crianças daqui a alguns anos. Queremos que nossos filhos sejam cidadãos do mundo e vejam que o Brasil não é o melhor nem o pior país. Espero que descubram outras culturas, conheçam outras pessoas e tenham essa paixão pelo novo e diferente.
Podem reservar um espacinho na casa de vocês. Estaremos lá visitando com certeza.
destino natural de gente séria, que acredita(va) no Brasil. Um dia eu e minha esposa....
Cris, esse lado afetivo com o país e as raízes, realmente pesa. Eu tenho o mesmo sentimento que o seu, mas cada vez mais entendo quem embarca para o além-mar.
O mundo hoje é muito menor, a facilidade logística que temos de ir de um lado para outro, assim como os recursos tecnológicos - especialmente a web, claro - mudaram bastante a situação. De qualquer forma, eu acho curioso que minha irmã e o PH tornem-se imigrantes: há 180 anos, meus antepassados por parte de pai chegavam em São Pedro de Alcântara. Aliás, 3/4 da minha família está aqui por conta da imigração. Pelo jeito, a Renata vai continuar esse costume ancestral! Tudo bem, antes era uma necessidade econômica, hoje é mais uma opção de vida, mas é o mesmo movimento.
Força, Paulão!. Adeus ao Grotão!
Citar o destino foi só uma provocaçãozinha, PH. É claro que quem faz o destino somos nós. Abração e vê se aparece sob as traves dos peladeiros!
Saudades, dá sim. Meu irmão, morando há 10 anos em Viena, Áustria, de vez em quando pensa em voltar para casa. Especialmente quando a saúde dos nossos nem tão velhos pais dá sinal de fraquejar. Mas ele resiste. E eu incentivo que ele fique por lá. Vem fazer o quê, aqui? Dar aula de piano na Udesc, umas traduções de alemão ou tibetano? Que fique lá, onde tem uma vida estável, tranquila e confortável. Sempre será estrangeiro, é verdade. E isso o governo austríaco não deixa ele esquecer jamais, com suas leis anti-imigração. Mas vive lá e é feliz. Assim como tenho certeza que vocês serão.
Felicidades PH!
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