domingo, junho 08, 2008

O velório dos jornais

Cheguei a esta matéria da Folha de S. Paulo (para assinantes) via blog do Tambosi. Na verdade, é uma tradução de um texto da New Yorker de março deste ano, sobre o futuro dos jornais impressos.


Seguem alguns trechos (num outro post deixo a minha avaliação):

A maioria dos executivos reagiu ao colapso de seu modelo de negócios com uma espiral de cortes orçamentários, sucursais fechadas, fusões, demissões e reduções de formato e entrelinha. De 1990 para cá, um quarto dos empregos no ramo jornalístico desapareceu. A colunista Molly Ivins [1944-2007] reclamava, antes de morrer, da solução dada pelas companhias aos problema: "Tornar o produto menor, inútil e desinteressante".

O jornalismo de verdade, em especial o investigativo, é caro, não cansam de lembrar; compilação e opinião são baratos.

Em outubro de 2005, numa conferência em Phoenix, Bill Keller reclamou dos blogueiros que apenas "mastigam e reciclam notícias", em contraste com o "jornalismo de verificação" do "Times".

"Os blogueiros não mastigam notícias, eles cospem notícias", protestou Arianna Huffington numa postagem em seu blog. Como muitos blogueiros de esquerda, ela se irrita com a idéia de que a imprensa tradicional é superior à blogosfera quando se trata de publicar a verdade mais dolorida.

Mas Huffington não tem o que dizer sobre a relação parasitária que quase todos os sites mantêm com o jornalismo impresso.

Assim, por mais que se simpatize com os ataques de Huffington ao "Times" e com as críticas de Edsall ao "Post", é impossível não se preocupar com o que será feito das notícias e da democracia quando não houver mais jornais que invistam seus recursos e seu orgulho profissional na tarefa de trazer a nós, mesmo que imperfeitamente, a informação que precisamos ter.

Mas a transformação há de gerar sérias perdas. Os jornais ajudaram a definir o sentido dos EUA para seus cidadãos. Para escolher uma data ao acaso, na manhã de 11 de fevereiro eu fui buscar a versão impressa do "Times" na porta de casa e, além das notícias que eu poderia encontrar em qualquer lugar -Obama vencendo Hillary de novo, e George W. Bush tentando condenar à morte seis prisioneiros de Guantánamo-, a primeira página trazia uma combinação única de artigos e matérias que, sem uma instituição que as gerasse e publicasse, jamais fariam parte de nossa consciência coletiva: uma reportagem de Nairóbi, por Jeffrey Gettleman, sobre o impacto da violência étnica no Quênia na classe média local; uma nota de Doha, por Tamar Lewin, sobre o avanço das universidades americanas no Qatar; e, num furo que o Huffington Post depois viria a reproduzir, uma matéria de Michael R. Gordon sobre um estudo da Corporação Rand que criticava a atuação de Bush no Iraque.

A internet conseguirá lançar a mesma "luz" sem os exércitos de jornalistas e fotógrafos que os jornais tradicionalmente empregaram? É uma questão que talvez os democratas mais ardentes não queiram responder.

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