Quando ouvi aquilo, gelei. Sabia que despertaria a ira de todos os politicamente corretos do Brasil, que não são poucos. No meio do jogo entre Suíça e Togo, o comentarista da Globo Sérgio Noronha exultou com o fato de um evento como a Copa do Mundo de futebol reunir a "civilizada Suíça" com o "não tão civilizado assim" Togo, numa festa bonita. Entendi o que ele quis dizer, mas as minhas professoras do mestrado não o perdoariam pelo ato falho: admitir que um país possa ser mais "civilizado" do que outro.
Ontem, ouvi colegas de trabalho revoltados com o comentário do Noronha. Preconceito - bradaram -, entre um e outro comentário irônico sobre as qualidades intelectuais do comentarista global. Como assim? Não tem o próprio Noronha os dois pés no continente negro?
A um dos meu colegas de trabalho, o mais exaltado, eu cheguei a escrever um email perguntando se ele achava que as instituições democráticas funcionam tão bem na Suíça quanto no Togo. E o respeito aos direitos humanos num e noutro país? E as relações entre empresas e empregados e/ou clientes? Enfim, tudo sob o ponto de vista da nossa sociedade ocidental "civilizada" construiu a duras penas até agora.
Ele me responderia que isso se deve a essa minha forma de pensar que não respeita as outras culturas, blá, blá, blá... O relativismo cultural. O que é um perigo, porque o relativismo pode ser usado também para justificar barbaridades, como mutilação de mulheres e outras.
Não que eu ache que os suíços, por serem mais desenvolvidos (esse, sim, é o adjetivo mais adequado), mereçam ser mais bem-tratados do que os togoleses. Pelo contrário. Devemos tratá-los tão bem que a eles devemos dispensar atenção especial para que as conquistas da nossa sociedade pequeno-burguesa possam também por lá proliferar.
Então, eu trocaria o "mais civilizado", usado pelo Noronha, por "mais desenvolvido".
3 comentários:
Ph:
os políticamente corretos representam o que há de mais idiota. Por que eles não vão então morar em Togo, Angola, Moçambique? Só para se ter uma idéia do que é Togo, 70% de seus habitantes professam crenças indígenas.
abs
Aluizio Amorim
http://oquepensaaluizio.zip.net
O problema dos politicamente corretos é a falta de flexibilidade do ouvido. Usar as palavras com seu sentido preciso não é coisa que todo mundo faz, ainda mais falando de improviso, como o Noronha. Claro que ele quis comparar o desenvolvimento dos dois países, dizendo que, na Copa do Mundo, estavam em pé de igualdade, participando da mesma festa. Tratou Togo de forma positiva, não o contrário. É preciso ter flexibilidade para interpretar o que as pessoas querem dizer, e não achar que as palavras tem um sentido em si. Nós é que atribuímos sentidos às palavras, individual ou socialmente. É notório que Togo é menos desenvolvido que a Suíça, embora ser cristão, no lugar de professar "crenças indígenas" não seja um critério que eu usaria.
Olá ph,
Não existe diálogo com doutinados. A verdade para eles é uma só: a última que acreditam.
Para vencer a esquerdofrenia, devemos impor desafios intelectuais. Eles medram diante disso. Sua única estratégia viável é ganhar no grito.
Como nossa antipatia pequeno-burguesa rejeita a barbárie, o melhor a fazer é desenvolver nossos argumentos por escrito. E mandar-lhes por e-mail.
Abraço.
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