sábado, fevereiro 25, 2006

Isso não é um país, é uma lata de lixo



Com algum atraso, reproduzo aqui um manifesto de várias entidades contra a prisão arbitrária do professor Nilson Lage, do curso de jornalismo da UFSC, um dos maiores pesquisadores da área de jornalismo do país.
O professor estava dirigindo em uma rua na praia do Campeche, em Florianópolis, onde mora, quando se sentiu mal. Parou o carro e, segundo conta, "apagou". Ele mesmo aponta como possível causa do mal-estar o efeito de remédios que toma diariamente contra a depressão.
O professor diz se lembrar apenas de que acordou apanhando dos policiais, que o levaram para a delegacia e o prenderam sob a acusação de desacato à autoridade.
As marcas da agressão estão na foto, mas não todas. Ser surrado pela polícia enquanto ainda estava inconsciente, aos 69 anos, deixa marcas que uma câmera fotográfica não consegue captar.
A polícia catarinense é a mesma que, na semana anterior, prendera um fotógrafo do Diário Catarinense enquanto fotografava uma manifestação pacífica contra o sistema de transporte da capita catarinense. Detalhe: os manifestantes foram agredidos por meia dúzia de capangas de não se sabe quem. Os trogloditas distribuíram porrada e arrancaram faixas e cartazes da manifestação. Pela ação rápida e violenta, suspeita-se que sejam seguranças particulares que, na sua maioria, são PMs que fazem bicos nas horas de folga para completar o salário ridículo que lhes paga o estado.
Agora perguntem se algum troglodita foi preso? Não, claro que não. Eles só prendem (e espancam) jornalistas - um no exercício da profissão, o outro, um senhor desacordado. COVARDES!
Nos dois casos, parece que vai ficar por isso mesmo: a palavra dos meganhas contra a dos cidadãos a quem os covardes deveriam proteger. E o que dizem as otoridadi? Não vi nenhum pronunciamento do governador, que está mais preocupado em se reeleger. É incrível como eles não pensam em outra coisa, como em administrar. E isso vale para o soneca e para o apedeuta. Santa Catarina já foi um estado diferente, onde as coisas funcionavam um pouquinho melhor do que no resto do bananão. Florianópolis, então... Está largada às traças! Bando de incompetentes, gente muito, mas muito abaixo da crítica está no poder, tanto no estado quanto na capital de todos os catarinenses.
Em tempo: o único jornal que publicou a matéria da agressão ao professor Lage foi O Globo, onde, aliás, ele trabalhou. As fotos daqui foram surrupiadas do blog do Tambosi.
Nilson Lage é o tipo de profissional difícil de se encontrar hoje em dia. Alia erudição com o conhecimento técnico da profissão como ninguém. Ensina como escrever um lide com a mesma naturalidade com que fala de Hegel ou da teoria do caos. Um Nilson Lage em cada redação de jornal, revista e TV e o jornalismo estaria em um outro patamar, neste bananão. Já rodei por várias redações do país, mas nunca encontrei que chegasse nem perto. É um fenômeno que atrasa o desenvolvimento da profissão: a juvenilização. É tarefa hercúlea encontrar profissionais com mais de 50 anos nas redações. Os jornais e revistas preferem os profissionais recém-formados porque são mais baratos e trabalham até 12 horas por dia. Não é raro encontrar editores com 30 anos de idade! Está aqui boa parte da qualidade miserável do jornalismo tupiniquim.
Não quero, com isso, dizer que não se faz o que fizeram com o Nilson só porque é um profissional do mais alto nível; NÃO SE FAZ ISSO COM NINGUÉM! Mas, aqui no bananão, noções de República e direitos civis estão na lata do lixo. Um lixo isso aqui!
Desculpem-me, meus (dois) leitores, pelo texto longo, mas é um desabafo.
Segue o manifesto.


"As entidades e instituições abaixo relacionadas denunciam com veemência a inexplicável e bárbara violência cometida contra o professor universitário, jornalista e escritor Nilson Lage, preso e espancado por policiais militares no último final de semana, em Florianópolis, Santa Catarina.
O professor Nilson Lage sentiu-se mal no último sábado, quando dirigia no bairro onde vive, em Florianópolis, conseguiu parar o carro, mas ficou desacordado. Em vez de receber a ajuda que necessitava naquele momento, foi hostilizado pela Polícia Militar ao ser encontrado dormindo dentro do veículo. Foi algemado, jogado em um camburão e levado a uma delegacia. As marcas em seu corpo – principalmente nos punhos e nos ombros – comprovam a inexplicável violência contra um senhor que neste 2006 completa 70 anos de idade.
Nilson Lage conta com uma trajetória de amplos serviços prestados ao longo dos últimos 50 anos como jornalista, professor e pesquisador do jornalismo. Trabalhou, como profissional jornalista, nas principais redações do Rio de Janeiro, entre as quais as do Diário Carioca, Jornal do Brasil, Última Hora, O Globo, Bloch Editores e TVE. Paralelamente, fez uma brilhante carreira acadêmica como professor da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro e outras instituições de ensino. Desde 1992, trabalha como professor Titular do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. É autor utilizado como referência em todos os cursos de graduação e citado em dissertações e teses sobre jornalismo, com obras vendidas aos milhares.
Reiterando nosso protesto pela violência do comportamento policial, solicitamos às autoridades competentes a apuração do caso, a punição dos responsáveis, o reparo dos danos morais e a tomada de providências quanto ao preparo das nossas polícias, para que lamentáveis fatos como estes não voltem a ocorrer em Santa Catarina ou em qualquer lugar do país.
São injustificáveis e inaceitáveis espancamentos por quem deve garantir a paz, e o abuso da força por quem, ao tê-la, deve impedir o seu uso. Lembramos que justamente aqueles que detêm o poder devem assegurar tratamento humano e digno a todos os cidadãos."
23 de fevereiro de 2006Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ
Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo – FNPJ
Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor
Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina – SJSC
Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro - SJPMRJ
Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina – APUFSC – Seção Sindical do Andes
Centro Acadêmico Adelmo Genro Filho do Curso de Jornalismo da UFSC
Departamento de Jornalismo da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

2 comentários:

Anônimo disse...

A ira dos justos!

Abs., Tambosi

Bonassoli disse...

Olha, bater em qualquer um sem motivo é uma baita sacanagem. Bater no Mestre é sacanagem triplicada.