sexta-feira, julho 14, 2006

Do Nassif, hoje na FSP

LUÍS NASSIF
Lembo no reino dos espertos
O GOVERNADOR Cláudio Lembo é dotado da boa-fé dos justos, quase até o limite da ingenuidade. Quando ocorreu a primeira invasão do PCC, percebeu logo de cara que tinha sido vítima de uma esperteza de seu antecessor, Geraldo Alckmin, que deixou estourar no seu colo a bomba da transferência para presídio de alta segurança das lideranças do PCC. Hoje, livre da batata quente, o ex-governador Alckmin continua criando máximas clássicas, como a de que a melhor maneira de combater o controle do PCC sobre os presídios é "atuar com inteligência, persistência e prender as lideranças do crime"... que controlam os presídios justamente por já estarem presas.

Depois, caiu na esperteza do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, capaz de gastar 90% do tempo trabalhando explicações para justificar o que não conseguiu nos 10% restantes. Saulo criou o paradoxo do sucesso explosivo: quanto maior a eficiência das forças de repressão, maior a reação dos bandidos. A consagração virá, provavelmente, quando os criminosos conseguirem explodir a avenida Paulista.
Sua avaliação para a segunda onda do PCC é outro clássico: "Se comparar a situação de maio com a que está acontecendo, houve regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não estão obedecendo cegamente, que a tal liderança começou a ser questionada e, na hora em que começa a ser questionada, a liderança perde força. Perdendo força, acabou". A última estatística falava em 106 ataques.
Aí o governador percebe que tem muito esperto no seu entorno e volta os olhos para o amigo Lula. Trata-o com deferência, convida-o a visitar o Palácio dos Bandeirantes. Em retribuição, Lula anuncia publicamente sua intenção de ajudar São Paulo a combater o crime - a maneira mais eficiente e deselegante de evitar qualquer pedido de ajuda e deixar o amigo em má situação.
Só aí Lembo provavelmente se deu conta de que Lula também é esperto. Tão esperto que, quando foi anunciado o Sistema Único de Segurança, no início do seu governo, tratou de afastar de si esse cálice, para não correr o risco de dividir o ônus de problemas de segurança com os governos de Estados. Preferiu a comodidade atual: a cada crise, ele oferece publicamente a ajuda da onipresente força especial de segurança. Ao seu lado, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reitera a oferta de ajuda e se permite criticar a "falta de inteligência e de gestão" da polícia paulista.
Ele tem na Polícia Federal um cérebro sem tronco e membros. Por baixo das ações espetaculares, tem-se uma PF sem gasolina para os carros, sem equipamentos básicos para seus escritórios, sem quadros para vigiar a fronteira, uma força que vive de ações tópicas. A única coisa que falta a São Paulo é um delegado Paulo Lacerda.
Nesse reino de espertos, sobrou apenas a boa-fé do governador Lembo. Que a conserve, não grande o suficiente para ser confundida com ingenuidade, mas na proporção exata de quem, em todo esse episódio, parece ser o único homem público sério, que não tenta tirar nem o corpo nem se prevalecer do desastre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Visão petista

Paulo Henrique disse...

É uma visão, não-tucana, o que é bem diferente. o problema é que quem critica o Lula tende, automaticamente, a esquecer tudo o que os tucanos (não) fizeram - quando não a enaltecê-los.