Requião quer se reeleger no Paraná, nem que para isso tenha que calar a imprensa. É isso que dá ficar andando com o Chávez.
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A coordenação jurídica da campanha de reeleição do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), reapresentou ontem no Ministério Público do Estado um pedido de providências que inclui a quebra de sigilo telefônico de quatro jornalistas, para apurar possível vazamento de informações da investigação sobre o chamado caso Rasera.O policial civil e ex-assessor do governo do Paraná Délcio Augusto Rasera, que está preso, é acusado de comandar uma quadrilha de arapongas que se valia de grampos telefônicos na espionagem. Até ser preso, ele trabalhava no Palácio Iguaçu.O pedido foi protocolado na Corregedoria Geral do Ministério Público do Estado e também pleiteia quebra de sigilo dos promotores e policiais que atuam na investigação, centralizada na PIC (Promotoria de Investigações Criminais).Por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, o corregedor-chefe, Ernani de Souza Cubas Filho, informou que só fará uma análise do pedido hoje. Apesar de divulgar anteontem que reapresentaria o pedido na Corregedoria, a coordenação jurídica da coligação que tem o PMDB à frente só cumpriu as exigências do órgão no final da tarde de ontem.O objetivo dos advogados da coligação pró-Requião é chegar às fontes das informações trazidas nas reportagens sobre o caso. De forma velada, os advogados atribuem o vazamento aos promotores da PIC. Eles consideram ""crime" o vazamento de informações da investigação, devido à proteção do segredo de Justiça.A repórter da Folha em Curitiba, Mari Tortato, e os jornalistas da "Gazeta do Povo" Caio Castro Lima, Carlos Kohlbach e Celso Nascimento são relacionados no pedido. A primeira investida do PMDB na Corregedoria se deu sexta passada. Mas o corregedor exigiu procuração da Coligação Paraná Forte para o advogado Cezar Eduardo Ziliotto, que assina o pedido, antes de analisá-lo.No último sábado, os advogados de Requião também tentaram no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) obter uma liminar para impedir a publicação de uma reportagem da Folha sobre o caso, ainda em apuração. O juiz Munir Abagge negou. Disse que, se acolhesse, estaria cometendo ""gritante censura prévia" e atentando contra a liberdade de imprensa.Hoje, a PIC envia ao TRE cópias do inquérito do caso Rasera. Há indícios de que os grampos alcançaram políticos que disputam esta eleição. O juiz criminal Gaspar Luiz Mattos de Araujo Filho, de Campo Largo, na região de Curitiba -onde corre a ação contra a quadrilha de arapongas-, define até o final da tarde de hoje se acata a denúncia contra o ex-assessor e mais 19 envolvidos.""Não queremos saber sobre o que conversam os jornalistas, só identificar eventualmente o servidor público responsável por vazar documentos sigilosos", disse ontem um dos advogados que representam Requião, Guilherme Gonçalves.Disse não reconhecer no pedido violação do direito constitucional do jornalista de manter a fonte sob sigilo.No editorial "O direito de saber", publicado na edição de ontem, a Folha afirma "que fica patente a tentativa do candidato do PMDB, acuado por suspeitas que rondam a sua administração, de constranger o livre exercício do jornalismo".Em nota anteontem, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse que o pedido da coligação de Requião "demonstra vocação autoritária e falta de espírito democrático".
quinta-feira, setembro 28, 2006
A "mídia"
Meu amigo Giancarlo diz que, quando "direita" e "esquerda" reclamam da imprensa, é porque ela deve estar fazendo bem o seu papel. Concordo com ele. Ultimamente tenho ouvido reclamações de tucanos e de petistas. Os primeiros reclamam que alguns jornais, como a Folha, e blogs, como o do Josias, estariam sendo condescendentes com o Lula. Já os petralhas se queixam de que a Globo estaria favorecendo Alckmin ao dar muito espaço ao escândalo do dossiê.
Não duvido que haja coleguinhas e empresas "comprados" pelo discurso oficial, mas sou contra a generalização de que "a mídia" está contra ou a favor do governo. Se está todo mundo reclamando, é porque " a mídia" está cumprindo o seu papel razoavelmente - uns veículos melhores, outros piores. Quanto ao Josias, que segundo o colega Aluizio Amorim seria "pena alugada do PT", sempre achei um dos mais críticos do PT. Sou capaz de encontrar várias colunas dele, ao longo dos últimos anos, contra o governo Lula. Mas posso estar errado, claro, até porque não acompanho esses blogs diariamente.
Não duvido que haja coleguinhas e empresas "comprados" pelo discurso oficial, mas sou contra a generalização de que "a mídia" está contra ou a favor do governo. Se está todo mundo reclamando, é porque " a mídia" está cumprindo o seu papel razoavelmente - uns veículos melhores, outros piores. Quanto ao Josias, que segundo o colega Aluizio Amorim seria "pena alugada do PT", sempre achei um dos mais críticos do PT. Sou capaz de encontrar várias colunas dele, ao longo dos últimos anos, contra o governo Lula. Mas posso estar errado, claro, até porque não acompanho esses blogs diariamente.
Meu voto
Justamente pelo vazio de idéias apontado pelo Jânio de Freitas no post logo aí embaixo é que é necessário um segundo turno para que as diferenças entre os dois principais candidatos fiquem mais claras.
E aproveito para abrir meu voto: vou de Cristóvam Buarque para - como disse um economista na semana passada - "sinalizar". Sinalizar o quê? Ora, que o Brasil precisa de investimentos maciços em educação. Basta? Não, mas é o melhor começo para nos tirar do atraso. Tudo bem, concordo que o discurso monotemático chateia um pouco, mas dos males o menor. Melhor ser monotemático do que não ter tema nenhum, como os outros todos.
Eleição em dois turnos é assim mesmo: no primeiro você vota em quem mais gosta; se ele não for para o segundo, vota no que for menos ruim.
A diferença entre Lula e os demais candidatos vem se reduzindo e pode chegar no domingo dentro da margem de erro das pesquisas. Então, votemos por segundo turno!
E aproveito para abrir meu voto: vou de Cristóvam Buarque para - como disse um economista na semana passada - "sinalizar". Sinalizar o quê? Ora, que o Brasil precisa de investimentos maciços em educação. Basta? Não, mas é o melhor começo para nos tirar do atraso. Tudo bem, concordo que o discurso monotemático chateia um pouco, mas dos males o menor. Melhor ser monotemático do que não ter tema nenhum, como os outros todos.
Eleição em dois turnos é assim mesmo: no primeiro você vota em quem mais gosta; se ele não for para o segundo, vota no que for menos ruim.
A diferença entre Lula e os demais candidatos vem se reduzindo e pode chegar no domingo dentro da margem de erro das pesquisas. Então, votemos por segundo turno!
Vazio
Do Jânio de Freitas, da mesma FSP.
O eleitor vai para a urna sem ter idéia do projeto de Brasil a que os principais disputantes dedicaria o seu governo A CAMPANHA ELEITORAL chega ao fim, meio ano de falatório desde abril (para Lula sozinho, nove meses), e o eleitor vai para a urna sem ter idéia, por ligeira que seja, do projeto de Brasil a que cada um dos dois principais disputantes dedicaria o seu pretendido governo.
Tal como a reeleição de Fernando Henrique montou no Real em 98, Lula limitou-se a cavalgar os seus feitos reais ou imaginários. Mas os oposicionistas de 98, se bem que salvaguardassem o Real, atacaram com alternativas para o crescimento econômico, a distribuição de renda e reformas sortidas. Geraldo Alckmin, como se forçado ao papel de candidato, exibiu inaptidão quase comovedora até para as simples menções a um ou outro tema próprio de campanha presidencial.
Esta campanha foi de um vazio sem precedente. Nos dias finais, a confrontação se acirrou, mas só em torno da ética administrativa. Da parte da oposição, muito mais por não-candidatos peessedebistas do que por seu candidato. Tema, porém, que não depende de campanha eleitoral, nem é mais próprio de candidatos e políticos em geral do que é da mídia, como se vê há tanto tempo. Além disso, se a disputa justifica a exploração do tema ético pela oposição, seu passado no governo não lhe daria autoridade para tanto, não fora a vocação de certo PT para a má conduta e a falta de escrúpulos. Mesmo no capítulo da ética, no entanto, não se registrou uma só palavra fora da obviedade.
O eleitor vai para a urna sem ter idéia do projeto de Brasil a que os principais disputantes dedicaria o seu governo A CAMPANHA ELEITORAL chega ao fim, meio ano de falatório desde abril (para Lula sozinho, nove meses), e o eleitor vai para a urna sem ter idéia, por ligeira que seja, do projeto de Brasil a que cada um dos dois principais disputantes dedicaria o seu pretendido governo.
Tal como a reeleição de Fernando Henrique montou no Real em 98, Lula limitou-se a cavalgar os seus feitos reais ou imaginários. Mas os oposicionistas de 98, se bem que salvaguardassem o Real, atacaram com alternativas para o crescimento econômico, a distribuição de renda e reformas sortidas. Geraldo Alckmin, como se forçado ao papel de candidato, exibiu inaptidão quase comovedora até para as simples menções a um ou outro tema próprio de campanha presidencial.
Esta campanha foi de um vazio sem precedente. Nos dias finais, a confrontação se acirrou, mas só em torno da ética administrativa. Da parte da oposição, muito mais por não-candidatos peessedebistas do que por seu candidato. Tema, porém, que não depende de campanha eleitoral, nem é mais próprio de candidatos e políticos em geral do que é da mídia, como se vê há tanto tempo. Além disso, se a disputa justifica a exploração do tema ético pela oposição, seu passado no governo não lhe daria autoridade para tanto, não fora a vocação de certo PT para a má conduta e a falta de escrúpulos. Mesmo no capítulo da ética, no entanto, não se registrou uma só palavra fora da obviedade.
Debate, mesmo?
Não consegui resistir e aqui vai o texto do diretor de redação da FSP, de hoje.
Otavio Frias Filho
Suspense
DIAS FINAIS de grande suspense, a desmentir o mantra sobre ter sido esta a mais morna das campanhas eleitorais. A distância entre Lula e a soma dos demais candidatos continua a se estreitar nas pesquisas. Mantida a tendência em curso, é provável que a diferença se reduza à margem de erro no domingo, sem autorizar palpites sobre segundo turno ou não. O único "fato novo" previsível até o domingo é o debate de hoje à noite na TV. Os assessores de Lula estão divididos sobre qual o risco menor: o da cautela (não ir para ser crucificado em ausência) e o da audácia (ir, correndo o perigo de algum tropeço ou altercação mais grave).
Algum incidente sempre pode haver, mas essa não tem sido a praxe. Nesses debates, é claro, não se debate nada. Ao longo das sucessivas eleições, marqueteiros dos candidatos foram acrescentando, à regulação intrusiva da Justiça Eleitoral, regras de proteção recíproca que a TV aceitou.
O resultado é que se reduziram muito as possibilidades de um candidato deixar vislumbrar, nesses encontros, algo do que pensa ou é. O suposto "debate" reproduz a mesma xaropada publicitária que já entope todos os programas eleitorais dos candidatos durante o horário obrigatório no rádio e TV.
Nos países onde esses debates existem para valer, a iniciativa de transmiti-los é livre, independente do Estado. As regras são poucas, substituídas pelo discernimento de um mediador respeitado pelas partes. O essencial é submeter os antagonistas a perguntas de jornalistas independentes que podem replicar.
Goste-se ou não, o liberalismo é a ideologia dominante na nossa época. Depois de ser relegado ao museu de velharias por meio século (1930 a 1980), seus escassos apóstolos ridicularizados como passadistas, eis que o liberalismo subitamente voltou, mais triunfante que nunca, nos últimos 20 anos. É no sistema de mercado que a economia funciona melhor. Cabe ao Estado assegurar condições propícias ao mercado, tornando estimulante empreender.
Alternativas à democracia representativa logo se mostram a antecâmara de alguma ditadura em nome das massas. Até os adversários do liberalismo admitem, a contragosto, esses seus tradicionais postulados.
Quando assumem o poder (vide PSDB e PT), praticam uma política liberal temperada por compensações sociais bancadas pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte. É o que José Guilherme Merquior chamava, já na época de Collor, de social-liberalismo. Mas ainda não surgiu um candidato que pregue o liberalismo sem meias medidas. Alckmin poderia ter sido esse candidato (não será outro o vetor de seu governo, em caso remoto de vitória), mas que marqueteiro o deixaria correr tamanho risco?
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha
Otavio Frias Filho
Suspense
DIAS FINAIS de grande suspense, a desmentir o mantra sobre ter sido esta a mais morna das campanhas eleitorais. A distância entre Lula e a soma dos demais candidatos continua a se estreitar nas pesquisas. Mantida a tendência em curso, é provável que a diferença se reduza à margem de erro no domingo, sem autorizar palpites sobre segundo turno ou não. O único "fato novo" previsível até o domingo é o debate de hoje à noite na TV. Os assessores de Lula estão divididos sobre qual o risco menor: o da cautela (não ir para ser crucificado em ausência) e o da audácia (ir, correndo o perigo de algum tropeço ou altercação mais grave).
Algum incidente sempre pode haver, mas essa não tem sido a praxe. Nesses debates, é claro, não se debate nada. Ao longo das sucessivas eleições, marqueteiros dos candidatos foram acrescentando, à regulação intrusiva da Justiça Eleitoral, regras de proteção recíproca que a TV aceitou.
O resultado é que se reduziram muito as possibilidades de um candidato deixar vislumbrar, nesses encontros, algo do que pensa ou é. O suposto "debate" reproduz a mesma xaropada publicitária que já entope todos os programas eleitorais dos candidatos durante o horário obrigatório no rádio e TV.
Nos países onde esses debates existem para valer, a iniciativa de transmiti-los é livre, independente do Estado. As regras são poucas, substituídas pelo discernimento de um mediador respeitado pelas partes. O essencial é submeter os antagonistas a perguntas de jornalistas independentes que podem replicar.
Goste-se ou não, o liberalismo é a ideologia dominante na nossa época. Depois de ser relegado ao museu de velharias por meio século (1930 a 1980), seus escassos apóstolos ridicularizados como passadistas, eis que o liberalismo subitamente voltou, mais triunfante que nunca, nos últimos 20 anos. É no sistema de mercado que a economia funciona melhor. Cabe ao Estado assegurar condições propícias ao mercado, tornando estimulante empreender.
Alternativas à democracia representativa logo se mostram a antecâmara de alguma ditadura em nome das massas. Até os adversários do liberalismo admitem, a contragosto, esses seus tradicionais postulados.
Quando assumem o poder (vide PSDB e PT), praticam uma política liberal temperada por compensações sociais bancadas pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte. É o que José Guilherme Merquior chamava, já na época de Collor, de social-liberalismo. Mas ainda não surgiu um candidato que pregue o liberalismo sem meias medidas. Alckmin poderia ter sido esse candidato (não será outro o vetor de seu governo, em caso remoto de vitória), mas que marqueteiro o deixaria correr tamanho risco?
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha
Vai dar
Do Uol:
Lula estanca, mas vantagem para soma dos rivais diminui
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, seria reeleito em primeiro turno se a eleição fosse realizada nesta quarta-feira, indicam as mais novas pesquisas dos institutos Datafolha e Ibope, divulgadas pela "Rede Globo". Mas crescem as chances de segundo turno. Nos dois levantamentos, Lula tem 53% dos votos válidos e uma vantagem de cinco pontos percentuais sobre a soma das intenções de voto de seus rivais.
No Datafolha, que ouviu 7.528 pessoas em 368 municípios nesta quarta-feira, a vantagem de Lula -que manteve os 49% do levantamento anterior- para a soma das intenções de voto em seus adversários caiu em relação à pesquisa feita na última sexta, quando era de oito pontos. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, oscilou de 31% para 33% -no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A senadora Heloísa Helena (PSOL), foi de 7% a 8%. E o senador Cristovam Buarque (PDT) manteve os 2% que ostentava no levantamento anterior. Os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo correspondem a 4% do total. Já os indecisos são 3%.
Os números da pesquisa Ibope, que foi realizada entre segunda e terça-feira, ouvindo um total de 3.010 eleitores, são muito próximos aos do Datafolha: Lula oscilou de 47% para 48%, e Alckmin, de 33% para 32% em relação à pesquisa anterior.
Lula estanca, mas vantagem para soma dos rivais diminui
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, seria reeleito em primeiro turno se a eleição fosse realizada nesta quarta-feira, indicam as mais novas pesquisas dos institutos Datafolha e Ibope, divulgadas pela "Rede Globo". Mas crescem as chances de segundo turno. Nos dois levantamentos, Lula tem 53% dos votos válidos e uma vantagem de cinco pontos percentuais sobre a soma das intenções de voto de seus rivais.
No Datafolha, que ouviu 7.528 pessoas em 368 municípios nesta quarta-feira, a vantagem de Lula -que manteve os 49% do levantamento anterior- para a soma das intenções de voto em seus adversários caiu em relação à pesquisa feita na última sexta, quando era de oito pontos. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, oscilou de 31% para 33% -no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A senadora Heloísa Helena (PSOL), foi de 7% a 8%. E o senador Cristovam Buarque (PDT) manteve os 2% que ostentava no levantamento anterior. Os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo correspondem a 4% do total. Já os indecisos são 3%.
Os números da pesquisa Ibope, que foi realizada entre segunda e terça-feira, ouvindo um total de 3.010 eleitores, são muito próximos aos do Datafolha: Lula oscilou de 47% para 48%, e Alckmin, de 33% para 32% em relação à pesquisa anterior.
quarta-feira, setembro 27, 2006
Teoria das cordas
O físico David Gross, ganhador do Nobel de 2004, diz, na Folha de hoje, que a controversa teoria das cordas já pode ser testada empiricamente (ou falseada, como diria Popper).
segunda-feira, setembro 25, 2006
Segundo turno à vista
Eu nunca compactuei com estas desconfianças sobre as pesquisas eleitorais; sempre achei que era mais teoria da conspiração do que outra coisa. Mas uma fonte da coligação que apóia o candidato do PMDB ao governo do estado de SC, Luiz Henrique da Silveira, me disse que a diferença entre ele e os demais candidatos é de menos de um ponto percentual; zero vírgula alguma coisa. Ou seja, muito diferente dos números divulgados pelos institutos de pesquisa, nos quais a diferença entre LHS e Amin seria de quase 20%. Segundo essa fonte insuspeita, os dados são de uma pesquisa encomendada para uso interno cuja divulgação é proibida. Segundo turno à vista em SC também.
Prática revolucionária
Um conhecido meu que trabalha com grandes empreiteiras contou-me que no governo FHC a propina era de 0,2%, no máximo, 1% do valor dos contratos. Sob Lula et caterva, passa de 10%. Disse que a a duplicação do trecho sul da BR-101, entre Palhoça (SC) e Osório (RS), está quase parado porque ainda não houve acerto - se é que vocês me entendem.
sábado, setembro 23, 2006
Copiaram minha pauta
O Estadão publicou só agora uma matéria que eu dei no Valor há uns quatro meses. Soube pelo blog do amigo Carlito. É sobre um curso de extensão de astrologia na UnB. Um disparate disfarçado de inovação científica. O argumento (vamos estudar pra mostrar que funciona) pode convencer os incautos, mas a mim, não. Dinheiro público jogado pela janela. Realmente, nossas universidades não têm mais com que se ocupar!
quinta-feira, setembro 21, 2006
A sandice oficial
Estive na UFSC conversando com alguns professores sobre um projeto de doutorado. Lá pelas tantas, durante um cafezinho, o professor (uma das maiores autoridades mundiais na área dele) perguntou se eu era "lulista". Ao ouvir o "não", sentiu-se confortável para falar de uma colega dele, da USP. Queria saber o que eu achara da frase da Marilena Chauí sobre o mundo se iluminar quando o Lula fala. "O que leva uma pessoa a dizer uma sandice dessas, me responda?" Não me segurei: "o senhor é que deveria me explicar como deixam essas pessoas entrar na universidade, já que foi colega dela." Acho que vou ter que procurar outro doutorado.
terça-feira, setembro 19, 2006
Eles chafurdam
O PT chafurda no submundo e de lá não quer mais sair. Os petralhas ofereceram as "informações" sobre Serra e Alckmin à revista Época, que agiu corretamente: antes de se comprometer em publicar qualquer coisa, como queriam os petralhas, a revista avisou que checaria as informações.
O bando desistiu e foi bater em outra freguesia. Sabe-se, agora, que a Istoé aceitou; e diz que não pagou pelo dossiê. Certamente! O que me pergunto é quanto levou para publicar aquilo.
Entre os envolvidos, um assessor do presidente Lula (mais um?). O tal Jorge Lorenzetti, mentor da podridão toda, é professor da UFSC, diretor do Besc e, nas horas de trabalho, é o churrasqueiro-mor de Sua Insselença. Oficialmente, Lorenzetti é analista de risco e mídia da campanha de Lula. Em outras palavras, é um tipo de araponga do submundo petista.
O bando desistiu e foi bater em outra freguesia. Sabe-se, agora, que a Istoé aceitou; e diz que não pagou pelo dossiê. Certamente! O que me pergunto é quanto levou para publicar aquilo.
Entre os envolvidos, um assessor do presidente Lula (mais um?). O tal Jorge Lorenzetti, mentor da podridão toda, é professor da UFSC, diretor do Besc e, nas horas de trabalho, é o churrasqueiro-mor de Sua Insselença. Oficialmente, Lorenzetti é analista de risco e mídia da campanha de Lula. Em outras palavras, é um tipo de araponga do submundo petista.
Obra-prima 16.4
Cada Bugatti Veyron, feito à mão, custa US$ 1,25 milhão (lá fora). Seu extraordinário motor W16 tem tantos cilindros e turbos quanto quatro Subaru Impreza WRX – e mais potência. O grande, malvado Bugatti acelera mais rápido que um carro da NASCAR e é mais veloz que uma máquina da Fórmula 1. Ainda assim, é dócil como um Lexus. Ele é o carro de produção em série mais rápido, mais veloz e mais caro jamais comercializado.O Veyron é a visão de um homem – Ferdinand Piëch, ex-presidente do grupo VW no mundo – e a Bugatti não ganhará nem um centavo com toda a produção antecipada de apenas 300 carros (50 por ano, no máximo, com aproximadamente um terço deles destinados aos EUA). Sua principal missão é ser a máquina de sonhos da marca, reintroduzindo essa lendária fabricante francesa no mercado em um estilo mais do que adequado.
Um sonho impossível? Não se a gente tivesse uma malinha de dinheiro como aquela do Valdebran e do Gedimar.
domingo, setembro 17, 2006
Sapo barbudo e demônio golpista
Percam as esperanças: o sapo barbudo não vai virar um príncipe, mas talvez um demônio. Um espírito genuinamente democrático este do "nosso guia". Que os deuses nos protejam pelos próximos quatro anos.
Do Gaspari de hoje, na FSP:
Demônio golpista
Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugenio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante um segundo mandato, as reformas que julga necessárias. "Nosso guia" respondeu: "Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do que "esse que está aí", pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe de pelo menos 20 notáveis nacionais. A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada pelos inúmeros convidados que a ouviram.Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.Nos últimos 50 anos, o coisa-ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato. (Castello Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.) Seja o que Deus quiser.
Do Gaspari de hoje, na FSP:
Demônio golpista
Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugenio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante um segundo mandato, as reformas que julga necessárias. "Nosso guia" respondeu: "Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do que "esse que está aí", pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe de pelo menos 20 notáveis nacionais. A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada pelos inúmeros convidados que a ouviram.Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.Nos últimos 50 anos, o coisa-ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato. (Castello Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.) Seja o que Deus quiser.
multiculturalismo?
Um trechinho do artigo de Amartya Sen sobre o multiculturalismo, hoje, na FSP.
Os porta-vozes religiosos das populações imigradas parecem desfrutar junto das autoridades britânicas de um reconhecimento (e de um acesso aos salões do poder) de amplitude inédita. Novas escolas religiosas são criadas com a benção e o encorajamento do governo. Aparentemente, este se preocupa mais com o "equilíbrio" religioso sobretudo mecânico desejado por aqueles que são descritos como "líderes comunitários" do que com ensinar às crianças os conhecimentos básicos e a aprendizagem da razão. As escolas separadas, fenômeno de enclausuramento que, na Irlanda do Norte, conseguiu apenas aumentar o abismo entre católicos e protestantes, passaram a ser autorizadas e até mesmo, na prática, encorajadas para outras parcelas da população britânica. Também lá elas serão um fator de divisão. O que é preciso hoje não é abandonar o multiculturalismo nem renunciar ao objetivo de igualdade "quaisquer que sejam as origens raciais ou étnicas -a língua ou a opção religiosa- , mas dissipar essas duas confusões que já causaram tantos problemas. Isso é imperativo, não só porque a liberdade precisa ser levada em conta mas para evitar a revolta dos mais desfavorecidos, como nos subúrbios franceses. Assim, combateremos a ameaça crescente dos pensamentos comunitaristas violentos, que avançam no Reino Unido e correm o risco de conduzir a atos de brutalidade bárbara. É importante reconhecer que os primeiros êxitos do multiculturalismo no Reino Unido estiveram vinculados aos esforços feitos pelo país não para separar, mas para integrar.
Os porta-vozes religiosos das populações imigradas parecem desfrutar junto das autoridades britânicas de um reconhecimento (e de um acesso aos salões do poder) de amplitude inédita. Novas escolas religiosas são criadas com a benção e o encorajamento do governo. Aparentemente, este se preocupa mais com o "equilíbrio" religioso sobretudo mecânico desejado por aqueles que são descritos como "líderes comunitários" do que com ensinar às crianças os conhecimentos básicos e a aprendizagem da razão. As escolas separadas, fenômeno de enclausuramento que, na Irlanda do Norte, conseguiu apenas aumentar o abismo entre católicos e protestantes, passaram a ser autorizadas e até mesmo, na prática, encorajadas para outras parcelas da população britânica. Também lá elas serão um fator de divisão. O que é preciso hoje não é abandonar o multiculturalismo nem renunciar ao objetivo de igualdade "quaisquer que sejam as origens raciais ou étnicas -a língua ou a opção religiosa- , mas dissipar essas duas confusões que já causaram tantos problemas. Isso é imperativo, não só porque a liberdade precisa ser levada em conta mas para evitar a revolta dos mais desfavorecidos, como nos subúrbios franceses. Assim, combateremos a ameaça crescente dos pensamentos comunitaristas violentos, que avançam no Reino Unido e correm o risco de conduzir a atos de brutalidade bárbara. É importante reconhecer que os primeiros êxitos do multiculturalismo no Reino Unido estiveram vinculados aos esforços feitos pelo país não para separar, mas para integrar.
sábado, setembro 16, 2006
Armação
A Istoé se prestou a ecoar a mais recente armação do PT contra o Serra. Tudo para tentar evitar o massacre que se anuncia em São Paulo, onde Mercadante será espancado, nas urnas, no próximo dia primeiro. Como diz o Reinaldo Azevedo (com quem não concordo muitas vezes), é a maior armação de um partido contra outro depois do caso Míriam Cordeiro, do qual Lula fora a vítima.
O resumo da ópera é o seguinte: na CPI, o tal Vedoin disse que o esquema dos sanguessugas não funcionava no governo anterior. Agora, estaria disposto a dizer o contrário. Agora, descobriu-se por que: por R$ 2 milhões, que seriam pagos por um ex-tesoureiro do PT. E essa grana toda por "provas" que, ao que tudo indica, não provam nada.
A Folha online deu matéria sobre a prisão dos distintos cidadãos.
Enfim, o PT desceu ao submundo e de lá parece não querer sair mais. Não vai lhe faltar companhia por lá.
O resumo da ópera é o seguinte: na CPI, o tal Vedoin disse que o esquema dos sanguessugas não funcionava no governo anterior. Agora, estaria disposto a dizer o contrário. Agora, descobriu-se por que: por R$ 2 milhões, que seriam pagos por um ex-tesoureiro do PT. E essa grana toda por "provas" que, ao que tudo indica, não provam nada.
A Folha online deu matéria sobre a prisão dos distintos cidadãos.
Enfim, o PT desceu ao submundo e de lá parece não querer sair mais. Não vai lhe faltar companhia por lá.
sexta-feira, setembro 15, 2006
quinta-feira, setembro 14, 2006
Somos nós, mesmo
Segundo uma pesquisa publicada na Nature e na Folha, a elevação da temperatura na Terra não pode ser atribuída à atividade solar. Ou seja, seria a atividade humana a causadora dos estragos no planeta. Para mim, é tema controverso.
Notinha da FSP:
Estudo inocenta Sol de mudança no clima global
DA REDAÇÃO
Uma das últimas tentativas de negar a culpa da ação humana no aquecimento global parece ter caído por terra de vez: nos últimos mil anos, o calor gerado pelo Sol tem se mantido basicamente constante, de acordo com um novo estudo."Nossos resultados mostram que, durante o último século, as influências humanas devem ter sido muito mais fortes que os efeitos das mudanças no brilho do Sol", afirmou Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, que coordenou o estudo.Ele mostrou que a variação de energia solar não ultrapassou os 0,07% nesse período. A pesquisa está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
Notinha da FSP:
Estudo inocenta Sol de mudança no clima global
DA REDAÇÃO
Uma das últimas tentativas de negar a culpa da ação humana no aquecimento global parece ter caído por terra de vez: nos últimos mil anos, o calor gerado pelo Sol tem se mantido basicamente constante, de acordo com um novo estudo."Nossos resultados mostram que, durante o último século, as influências humanas devem ter sido muito mais fortes que os efeitos das mudanças no brilho do Sol", afirmou Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, que coordenou o estudo.Ele mostrou que a variação de energia solar não ultrapassou os 0,07% nesse período. A pesquisa está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
quarta-feira, setembro 13, 2006
O que corrói a sociedade americana... e a nossa também
Divirtam-se com a excelente entrevista publicada na Folha, em 2005.
Esquerdismo acadêmico bloqueia debate
Autora de "Personas Sexuais" diz que banalização do politicamente correto dogmatiza a educação Para feminista, esquerdismo acadêmico bloqueia debate
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A feminista Camille Paglia, 58, não esconde o rancor quando o assunto é o "politicamente correto" do establishment liberal dos Estados Unidos, grupo cujo pensamento está mais associado à esquerda no país e que se contrapõe aos conservadores. Com língua afiada, queixa-se da uniformização e esterilidade do pensamento acadêmico, da lavagem cerebral feminista, da hipocrisia da esquerda moderna e resume o problema: "O liberalismo está intelectualmente exausto".
A derrota mais recente aconteceu mês passado, quando Larry Summers, reitor da Universidade Harvard, sucumbiu à pressão e decidiu deixar o cargo. Poucos se atreveram a defendê-lo em público e incorrer na mesma pecha de preconceito, racismo e falta de sofisticação acadêmica. Entre esses poucos, Paglia, mulher que se descreve como persona non grata dos campi mais prestigiosos dos Estados Unidos, mas é uma das intelectuais mais influentes no país pela atitude libertária.
Para ela, Summers, que foi também secretário do Tesouro do governo Bill Clinton, errou apenas na conduta, não no mérito das polêmicas que criou. Acovardou-se diante de uma luta válida contra o "politicamente correto entrincheirado" de Harvard, que também corrói outras faculdades de elite do país. Arquiinimiga do feminismo tradicional e "estalinista", considera que a "gafe" de Summers sobre as diferenças inatas de aptidão científica entre homens e mulheres deveria ter suscitado a inclusão da biologia no currículo de estudos de gênero, não num pedido de desculpas.
Em palestra em janeiro de 2005, Summers causou polêmica internacional ao propor uma investigação sobre as diferenças e a variabilidade dessas habilidades entre os sexos para explicar o número inferior de mulheres cientistas e engenheiras. "Nada me agradaria mais do que estar errado", disse Summers então. Porém foi pressionado a recuar e dizer que foi simplista e não tinha embasamento empírico para sustentar sua afirmação. Nisso, Paglia viu mais uma vitória do politicamente correto feminista que promove teses de que todas as diferenças de gênero são resultado de condicionamento social.
Em 2001, Summers confrontou o notório professor Cornel West, cuja produção acadêmica considerava insuficiente para seu posto. West, acadêmico negro, trocou Harvard por Princeton, na esteira de um debate mal resolvido sobre raça e mérito. Para Paglia, um exemplo de mimos dados a acadêmicos medíocres, protegidos pelo politicamente correto.Paglia não poupa ataques a Harvard. Avalia que Summers fracassou na reforma de uma instituição mais prezada pela tradição e rede de contatos profissionais do que pela qualidade de educação.
Autora dos livros "Personas Sexuais", "Sexo, Arte e Cultura Americana" e "Vamps e Vadias", Paglia está promover seu novo best-seller de análise poética, "Break Blow Burn" (sem título em português). Entre aulas e viagens, concordou em responder por escrito a perguntas da Folha. Leia a seguir trechos.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.
Folha - Por que ele fracassou?Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
Folha - O episódio Cornel West foi um exemplo de hipocrisia liberal?Paglia - Eu não sou uma admiradora de West, que nunca produziu livros do porte de seu ranking acadêmico cômodo e salário estonteante. Mas eu também não acho que cabe a um reitor de uma universidade cutucar ou provocar um professor sênior da forma que Summers fez com West.Se o Summers quisesse travar uma guerra contra a superpolitização do recrutamento de acadêmicos em Harvard, deveria ter anunciado um programa de ação. Agora, a fúria de West e sua ida para Princeton foram uma eloqüente demonstração da indulgência e do mimo aos quais essas estrelas estão acostumadas.
Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?- O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
Folha - Você avalia que a graduação de Harvard depende muito de reputação e virou um ímã de alunos e professores carreiristas?Paglia - A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito. Pais que pagam mais de US$ 40 mil ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades.
Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.
Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
Folha - Isso se traduz em que para os alunos?Paglia - Os estudantes estão sendo doutrinados pelo dogma do relativismo e do niilismo por professores pós-estruturalistas ou pós-construtivistas que parecem não ter valores ou paixão real pelo aprendizado. Por exemplo, Michel Foucault considerou "Esperando Godot", de Samuel Beckett, uma influência marcante na geração de pensadores da França pós-guerra. Eu sempre desprezei Godot pelo pessimismo reacionário e visão neurótica da fragmentação da cultura. A grande forma de arte da minha geração foi o rock, música empática, emocional, sensorial e conduzida pelos ritmos sublimes da natureza.
Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.
Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais.
Folha - E as cotas raciais, ajudaram ou atrapalharam?Paglia - A ação afirmativa, como diretriz federal, nunca deveria ter se tornado um sistema de cotas. Deveria apenas ter auxiliado negros da classe trabalhadora a obter acesso à educação universitária que não poderia ser bancada por outros meios. Mas a ação afirmativa foi seqüestrada por mulheres brancas no meio acadêmico; esse é o verdadeiro escândalo. Em todo campus da Ivy League [designação das mais prestigiosas universidades norte-americanas] há exemplos gritantes de mulheres brancas e medíocres que fizeram chantagem para obter cargos altos e lucrativos. São elas a pior fonte do politicamente correto.
Folha - Você é democrata?Paglia - Registrada e horrorizada com a desordem do partido.
Folha - Por que os democratas não conseguem reagir?Paglia - Não há liderança, coragem, programa para o futuro. É assustadora a patética inabilidade dos nossos senadores de capitalizar os erros de George W. Bush.
Folha - Como vê a ascensão do neoconservadorismo?Paglia - Eu respeito, mas não concordo com o ponto de vista conservador. Eles estão certos ao dizer que "o liberalismo está intelectualmente exausto". Os democratas já perderam o apelo com o público. Estamos numa era de terrorismo, e isso pode durar um século. Após o fiasco do Vietnã, os democratas ficaram antimilitares, e essa é uma das razões pela qual são vistos como incompetentes.
Folha - E a questão religiosa?Paglia - Essa é a segunda razão pela qual o neoconservadorismo aumentou seu poder. O humanismo secular, com o qual estou comprometida, tornou-se vazio. Eu sou atéia, mas reverencio as grandes religiões como formas espirituais de relacionar a humanidade e o cosmos. Os neoconservadores oferecem a sensação de tradição, estabilidade e propósito para quem repele o individualismo narcisista e hedonista do nosso tempo. Minha estratégia como escritora é oferecer a arte como uma alternativa à religião.
Esquerdismo acadêmico bloqueia debate
Autora de "Personas Sexuais" diz que banalização do politicamente correto dogmatiza a educação Para feminista, esquerdismo acadêmico bloqueia debate
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A feminista Camille Paglia, 58, não esconde o rancor quando o assunto é o "politicamente correto" do establishment liberal dos Estados Unidos, grupo cujo pensamento está mais associado à esquerda no país e que se contrapõe aos conservadores. Com língua afiada, queixa-se da uniformização e esterilidade do pensamento acadêmico, da lavagem cerebral feminista, da hipocrisia da esquerda moderna e resume o problema: "O liberalismo está intelectualmente exausto".
A derrota mais recente aconteceu mês passado, quando Larry Summers, reitor da Universidade Harvard, sucumbiu à pressão e decidiu deixar o cargo. Poucos se atreveram a defendê-lo em público e incorrer na mesma pecha de preconceito, racismo e falta de sofisticação acadêmica. Entre esses poucos, Paglia, mulher que se descreve como persona non grata dos campi mais prestigiosos dos Estados Unidos, mas é uma das intelectuais mais influentes no país pela atitude libertária.
Para ela, Summers, que foi também secretário do Tesouro do governo Bill Clinton, errou apenas na conduta, não no mérito das polêmicas que criou. Acovardou-se diante de uma luta válida contra o "politicamente correto entrincheirado" de Harvard, que também corrói outras faculdades de elite do país. Arquiinimiga do feminismo tradicional e "estalinista", considera que a "gafe" de Summers sobre as diferenças inatas de aptidão científica entre homens e mulheres deveria ter suscitado a inclusão da biologia no currículo de estudos de gênero, não num pedido de desculpas.
Em palestra em janeiro de 2005, Summers causou polêmica internacional ao propor uma investigação sobre as diferenças e a variabilidade dessas habilidades entre os sexos para explicar o número inferior de mulheres cientistas e engenheiras. "Nada me agradaria mais do que estar errado", disse Summers então. Porém foi pressionado a recuar e dizer que foi simplista e não tinha embasamento empírico para sustentar sua afirmação. Nisso, Paglia viu mais uma vitória do politicamente correto feminista que promove teses de que todas as diferenças de gênero são resultado de condicionamento social.
Em 2001, Summers confrontou o notório professor Cornel West, cuja produção acadêmica considerava insuficiente para seu posto. West, acadêmico negro, trocou Harvard por Princeton, na esteira de um debate mal resolvido sobre raça e mérito. Para Paglia, um exemplo de mimos dados a acadêmicos medíocres, protegidos pelo politicamente correto.Paglia não poupa ataques a Harvard. Avalia que Summers fracassou na reforma de uma instituição mais prezada pela tradição e rede de contatos profissionais do que pela qualidade de educação.
Autora dos livros "Personas Sexuais", "Sexo, Arte e Cultura Americana" e "Vamps e Vadias", Paglia está promover seu novo best-seller de análise poética, "Break Blow Burn" (sem título em português). Entre aulas e viagens, concordou em responder por escrito a perguntas da Folha. Leia a seguir trechos.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.
Folha - Por que ele fracassou?Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
Folha - O episódio Cornel West foi um exemplo de hipocrisia liberal?Paglia - Eu não sou uma admiradora de West, que nunca produziu livros do porte de seu ranking acadêmico cômodo e salário estonteante. Mas eu também não acho que cabe a um reitor de uma universidade cutucar ou provocar um professor sênior da forma que Summers fez com West.Se o Summers quisesse travar uma guerra contra a superpolitização do recrutamento de acadêmicos em Harvard, deveria ter anunciado um programa de ação. Agora, a fúria de West e sua ida para Princeton foram uma eloqüente demonstração da indulgência e do mimo aos quais essas estrelas estão acostumadas.
Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?- O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
Folha - Você avalia que a graduação de Harvard depende muito de reputação e virou um ímã de alunos e professores carreiristas?Paglia - A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito. Pais que pagam mais de US$ 40 mil ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades.
Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.
Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
Folha - Isso se traduz em que para os alunos?Paglia - Os estudantes estão sendo doutrinados pelo dogma do relativismo e do niilismo por professores pós-estruturalistas ou pós-construtivistas que parecem não ter valores ou paixão real pelo aprendizado. Por exemplo, Michel Foucault considerou "Esperando Godot", de Samuel Beckett, uma influência marcante na geração de pensadores da França pós-guerra. Eu sempre desprezei Godot pelo pessimismo reacionário e visão neurótica da fragmentação da cultura. A grande forma de arte da minha geração foi o rock, música empática, emocional, sensorial e conduzida pelos ritmos sublimes da natureza.
Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.
Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais.
Folha - E as cotas raciais, ajudaram ou atrapalharam?Paglia - A ação afirmativa, como diretriz federal, nunca deveria ter se tornado um sistema de cotas. Deveria apenas ter auxiliado negros da classe trabalhadora a obter acesso à educação universitária que não poderia ser bancada por outros meios. Mas a ação afirmativa foi seqüestrada por mulheres brancas no meio acadêmico; esse é o verdadeiro escândalo. Em todo campus da Ivy League [designação das mais prestigiosas universidades norte-americanas] há exemplos gritantes de mulheres brancas e medíocres que fizeram chantagem para obter cargos altos e lucrativos. São elas a pior fonte do politicamente correto.
Folha - Você é democrata?Paglia - Registrada e horrorizada com a desordem do partido.
Folha - Por que os democratas não conseguem reagir?Paglia - Não há liderança, coragem, programa para o futuro. É assustadora a patética inabilidade dos nossos senadores de capitalizar os erros de George W. Bush.
Folha - Como vê a ascensão do neoconservadorismo?Paglia - Eu respeito, mas não concordo com o ponto de vista conservador. Eles estão certos ao dizer que "o liberalismo está intelectualmente exausto". Os democratas já perderam o apelo com o público. Estamos numa era de terrorismo, e isso pode durar um século. Após o fiasco do Vietnã, os democratas ficaram antimilitares, e essa é uma das razões pela qual são vistos como incompetentes.
Folha - E a questão religiosa?Paglia - Essa é a segunda razão pela qual o neoconservadorismo aumentou seu poder. O humanismo secular, com o qual estou comprometida, tornou-se vazio. Eu sou atéia, mas reverencio as grandes religiões como formas espirituais de relacionar a humanidade e o cosmos. Os neoconservadores oferecem a sensação de tradição, estabilidade e propósito para quem repele o individualismo narcisista e hedonista do nosso tempo. Minha estratégia como escritora é oferecer a arte como uma alternativa à religião.
terça-feira, setembro 12, 2006
O fim do fim da História
Francis Fukuyama, o homem que pregou o "fim da História", agora diz que isso não vale mais. Esteve no Roda Viva de ontem, que acabou há pouco. Peguei só o finalzinho - o suficiente para ouvir algumas obviedades que doem nos ouvidos.
Aqui tem um artigo do Le Monde Diplomatique sobre ele. É preciso lembrar que se trata da indefectível abordagem esquerdista do Diplo. Fukuyama abandonou o governo Bush e anda fazendo uma autocrítica interessante.
Petralhas
Nunca a palavra do título coube tão bem aos petistas. Perderam a compostura. Vejam com quem eles se mancomunaram no Acre. Lembram do bandido da moto-serra? Pois é. (Reproduzo a matéria da Folha aqui porque nem todos podem acessá-la).
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
Oito anos após ter despontado na política com a promessa de tirar o Acre das páginas policiais, o grupo ligado ao governador Jorge Viana (PT) recorreu às mesmas personagens que antes combatia para se manter no poder.Forte candidato para o ministério em um eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Viana conquistou o apoio do ex-governador Orleir Cameli (1995-1998), o mesmo que era caracterizado por ele como responsável pelo "desmonte" do Estado.Cameli entrou no barco petista junto com seu primo Cesar Messias (PP), ex-prefeito de Cruzeiro do Sul (segunda cidade do Estado), indicado vice na chapa do PT ao governo.Do lado do PP, um dos pais da aliança é o ex-deputado Ronivon Santiago, presença constante nos grandes escândalos dos últimos anos -compra de votos, valerioduto e sanguessugas.Mas ele não pôde ver o resultado final de seu trabalho. Foi preso pela Polícia Federal poucas horas antes da apresentação da coligação, em 4 de maio.Figura ainda na frente petista o PL de Aureliano Pascoal, ex-secretário de Segurança Pública de Cameli e primo de Hildebrando Pascoal, símbolo do "faroeste" que o PT combatia. Hildebrando, preso desde 1999 por mandar matar um adversário com uma motosserra, comandava a PM do Estado.Há oito anos, o PT dizia que o Acre era palco de uma luta do bem contra o mal, este simbolizado por Cameli e Ronivon. Como dizia Jorge Viana à época: "São grupelhos que se organizaram e atuam como bandos. Tudo coordenado por um governador [Cameli] que não tem currículo, mas folha corrida".A "folha corrida" de Cameli incluía, além dos muitos CPFs, acusações de desvio de recursos, a apreensão de um Boeing de sua família com contrabando e a intermediação da compra de deputados para aprovar a reeleição no Congresso.O bem, no maniqueísmo vigente, era representado pelos "meninos do PT" -Jorge, o senador Tião Viana e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Hoje quarentões e grisalhos, assumem o pragmatismo."Um governo que é aprovado por 70% não pode ficar chutando pessoas que queiram apoiar nosso projeto.[...] Qualquer apoio estamos aceitando com gosto", diz Viana, 46. Mas não haverá concessão, nem há compromisso com a partilha do governo, promete. "Nosso projeto não mudou um milímetro".Os petistas agora tentam caracterizar Ronivon como uma figura secundária. "O PP não está preso a ele. O Ronivon não negociou acordo nenhum", afirma o governador.Na verdade, o ex-deputado continua apitando no partido. Seu irmão Carlinhos Santiago preside o diretório estadual do PP. Segundo ele, Ronivon -que, depois da prisão, tem se mantido nas sombras e não atendeu à Folha- teve "participação ativa" na aliança.Cameli, embora formalmente afastado do PP e há oito anos sem mandato, mantém-se influente na política acreana. Sua base é o vale do Juruá, de 120 mil habitantes, na fronteira com o Peru, que sempre foi reduto anti-petista."O Cameli é uma liderança inquestionável, adorado na sua região. Existe uma diferença muito grande entre o que sai nos jornais e o que a população sente", diz Binho Marques, candidato do PT ao governo.A aproximação de PT e PP veio aos poucos. Desde o início do ano, Cameli passou a receber uma romaria de petistas e antigos aliados. Vendiam a ele as vantagens da união. "A aliança abriu a perspectiva da volta dele à política", diz o deputado José Bestene (PP).Em 26 de maio, após o ex-governador ter sido devidamente "amaciado" por meses, a cúpula do PT desembarcou em Cruzeiro do Sul para o lance final.Do aeroporto, uma comitiva liderada por Binho e Tião foi ao escritório dele, no centro da cidade, buscar a bênção do "Barão do Juruá", como é conhecido. Os petistas pediram a Cameli que relevasse as rusgas em nome da união do Acre.O "Barão" ensaiou suspense: queria antes garantias de que seu sobrinho e herdeiro político, Gladson Cameli (PP), seria um dos puxadores de voto da coligação para deputado federal. Trato feito, o anúncio do apoio do ex-governador veio no início de julho. Ele diz que apóia o PT por ter "a melhor proposta" para o Acre.O PT calcula que o ganho por ter fincado bandeira no Juruá compensa o desgaste. É um risco, pois o principal oposicionista, Márcio Bittar (PPS), não se cansa de apontar "incoerência". "Estamos recebendo o apoio de pessoas que nunca gostaram de nosso projeto, mas reconhecem que o Acre mudou", diz Jorge Viana.Os erros dos ex-adversários não sumiram, afirma o governador. "Quem destruiu o Acre tem que acertar as contas com a Justiça. Mas, se querem votar no PT, vamos impedir?".
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
Oito anos após ter despontado na política com a promessa de tirar o Acre das páginas policiais, o grupo ligado ao governador Jorge Viana (PT) recorreu às mesmas personagens que antes combatia para se manter no poder.Forte candidato para o ministério em um eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Viana conquistou o apoio do ex-governador Orleir Cameli (1995-1998), o mesmo que era caracterizado por ele como responsável pelo "desmonte" do Estado.Cameli entrou no barco petista junto com seu primo Cesar Messias (PP), ex-prefeito de Cruzeiro do Sul (segunda cidade do Estado), indicado vice na chapa do PT ao governo.Do lado do PP, um dos pais da aliança é o ex-deputado Ronivon Santiago, presença constante nos grandes escândalos dos últimos anos -compra de votos, valerioduto e sanguessugas.Mas ele não pôde ver o resultado final de seu trabalho. Foi preso pela Polícia Federal poucas horas antes da apresentação da coligação, em 4 de maio.Figura ainda na frente petista o PL de Aureliano Pascoal, ex-secretário de Segurança Pública de Cameli e primo de Hildebrando Pascoal, símbolo do "faroeste" que o PT combatia. Hildebrando, preso desde 1999 por mandar matar um adversário com uma motosserra, comandava a PM do Estado.Há oito anos, o PT dizia que o Acre era palco de uma luta do bem contra o mal, este simbolizado por Cameli e Ronivon. Como dizia Jorge Viana à época: "São grupelhos que se organizaram e atuam como bandos. Tudo coordenado por um governador [Cameli] que não tem currículo, mas folha corrida".A "folha corrida" de Cameli incluía, além dos muitos CPFs, acusações de desvio de recursos, a apreensão de um Boeing de sua família com contrabando e a intermediação da compra de deputados para aprovar a reeleição no Congresso.O bem, no maniqueísmo vigente, era representado pelos "meninos do PT" -Jorge, o senador Tião Viana e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Hoje quarentões e grisalhos, assumem o pragmatismo."Um governo que é aprovado por 70% não pode ficar chutando pessoas que queiram apoiar nosso projeto.[...] Qualquer apoio estamos aceitando com gosto", diz Viana, 46. Mas não haverá concessão, nem há compromisso com a partilha do governo, promete. "Nosso projeto não mudou um milímetro".Os petistas agora tentam caracterizar Ronivon como uma figura secundária. "O PP não está preso a ele. O Ronivon não negociou acordo nenhum", afirma o governador.Na verdade, o ex-deputado continua apitando no partido. Seu irmão Carlinhos Santiago preside o diretório estadual do PP. Segundo ele, Ronivon -que, depois da prisão, tem se mantido nas sombras e não atendeu à Folha- teve "participação ativa" na aliança.Cameli, embora formalmente afastado do PP e há oito anos sem mandato, mantém-se influente na política acreana. Sua base é o vale do Juruá, de 120 mil habitantes, na fronteira com o Peru, que sempre foi reduto anti-petista."O Cameli é uma liderança inquestionável, adorado na sua região. Existe uma diferença muito grande entre o que sai nos jornais e o que a população sente", diz Binho Marques, candidato do PT ao governo.A aproximação de PT e PP veio aos poucos. Desde o início do ano, Cameli passou a receber uma romaria de petistas e antigos aliados. Vendiam a ele as vantagens da união. "A aliança abriu a perspectiva da volta dele à política", diz o deputado José Bestene (PP).Em 26 de maio, após o ex-governador ter sido devidamente "amaciado" por meses, a cúpula do PT desembarcou em Cruzeiro do Sul para o lance final.Do aeroporto, uma comitiva liderada por Binho e Tião foi ao escritório dele, no centro da cidade, buscar a bênção do "Barão do Juruá", como é conhecido. Os petistas pediram a Cameli que relevasse as rusgas em nome da união do Acre.O "Barão" ensaiou suspense: queria antes garantias de que seu sobrinho e herdeiro político, Gladson Cameli (PP), seria um dos puxadores de voto da coligação para deputado federal. Trato feito, o anúncio do apoio do ex-governador veio no início de julho. Ele diz que apóia o PT por ter "a melhor proposta" para o Acre.O PT calcula que o ganho por ter fincado bandeira no Juruá compensa o desgaste. É um risco, pois o principal oposicionista, Márcio Bittar (PPS), não se cansa de apontar "incoerência". "Estamos recebendo o apoio de pessoas que nunca gostaram de nosso projeto, mas reconhecem que o Acre mudou", diz Jorge Viana.Os erros dos ex-adversários não sumiram, afirma o governador. "Quem destruiu o Acre tem que acertar as contas com a Justiça. Mas, se querem votar no PT, vamos impedir?".
sexta-feira, setembro 08, 2006
It´s still the economy, stupid!
Trechinho de uma entrevista da Folha de S. Paulo de hoje, do professor americano Nouriel Roubini:
Roubini se preocupa com o efeito da recessão americana em países emergentes. "O Brasil cresceu 2,3% no ano passado e a previsão para este ano é de 3,5%. Neste cenário, é um crescimento medíocre. Se isso é o melhor que vocês conseguem fazer no melhor dos cenários globais, o que vai acontecer quando esse cenário piorar?"
Ou seja, apedeuta se orgulha de o Brasil ter crescido e ter reduzido o chamado risco-Brasil para níveis baixíssimos. Sim, quando o mar está pra peixe, todo mundo deve pescar. Ocorre que a pescaria foi farta para todos os outros países emergentes, que aproveitaram a onda mundial. Nós fomos, como disse o professor, medíocres!
E o pior é que ele prevê uma recessão brava nos Estados Unidos nos próximos anos, o que vai fazer o mar ficar agitado para todo mundo, inclusive para nós, pobres sulamericanos. Mais quatro anos de atraso.
Roubini se preocupa com o efeito da recessão americana em países emergentes. "O Brasil cresceu 2,3% no ano passado e a previsão para este ano é de 3,5%. Neste cenário, é um crescimento medíocre. Se isso é o melhor que vocês conseguem fazer no melhor dos cenários globais, o que vai acontecer quando esse cenário piorar?"
Ou seja, apedeuta se orgulha de o Brasil ter crescido e ter reduzido o chamado risco-Brasil para níveis baixíssimos. Sim, quando o mar está pra peixe, todo mundo deve pescar. Ocorre que a pescaria foi farta para todos os outros países emergentes, que aproveitaram a onda mundial. Nós fomos, como disse o professor, medíocres!
E o pior é que ele prevê uma recessão brava nos Estados Unidos nos próximos anos, o que vai fazer o mar ficar agitado para todo mundo, inclusive para nós, pobres sulamericanos. Mais quatro anos de atraso.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Boas novas
O blogueiro Aluizio Amorim traz notícias alvissareiras sobre as eleições e a possibilidade de termos, sim, pelo menos um segundo turno. Tomara!
Xô, marimbondo!
Os coronéis, vejam só, ainda sobrevivem neste início de século. Alguns deles se escondem em academias de letras fantasiados de marimbondo. Pousam de vestal; adonam-se de casas que um dia abrigaram o grande Machado, o maior de todos.
Está bem, ninguém entendeu nada. É que, com atraso, me incluo só agora na campanha contra o autoritarismo e a favor da liberdade de expressão. Não contente em mandar e desmandar no Maranhão (mas pelo jeito anda sem voto por lá), o marimbondo-de-bigodes agora barbariza no Amapá. Por ordem e mando dele, a Justiça do Amapá censurou o blog da jornalista Alcinéa Cavalcante. O Uol chegou a tirar o blog do ar!!! Leia aqui como democraticamente age a turma do Sarney lá no Norte.
Falar em censura neste caso é pouco. E a gente ainda fica abismado com aquela repercussão toda lá fora por causa das charges satirizando o islã. A censura e intolerância não é exclusividade dos islâmicos radicais, não.
PS. O livro do dito cujo "Marimbondos de Fogo" foi considerado um dos que contêm mais erros de português do país. Não duvido.
terça-feira, setembro 05, 2006
Impostômetro
Todo mundo soube, nesta semana, que a chamada carga tributária alcançou 37,37% do PIB, no ano passado. Ou seja, de cada três reais da riqueza produzida, um vai para o governo nos proporcionar a melhor qualidade de vida do mundo!
No primeiro semestre deste ano, a fome do Leão aumentou ainda mais: 39,41%. No mundo civilizado, só é menor do que as da Suécia, Noruega, França e Itália - paísezinhos que, claro, nem chegam aos nossos pés.
Mas quanto isso representa? Qual a velocidade da arrecadação de impostos? R$ 25.116,13 por segundo! Você duvida? Dê uma espiada no impostômetro.
No primeiro semestre deste ano, a fome do Leão aumentou ainda mais: 39,41%. No mundo civilizado, só é menor do que as da Suécia, Noruega, França e Itália - paísezinhos que, claro, nem chegam aos nossos pés.
Mas quanto isso representa? Qual a velocidade da arrecadação de impostos? R$ 25.116,13 por segundo! Você duvida? Dê uma espiada no impostômetro.
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