quarta-feira, outubro 29, 2008

One way racism

A CBC está fazendo uma série de reportagens sobre as eleições americanas - no mesmo estilo da que a Globo faz no JN. Na cidadezinha de Chilicothe, no estado-chave de Ohio, um grupo de republicanos expunha as razões para não votar em Obama. Um deles perguntou qual o nome do meio de Obama. Houssein. Islâmico demais para os padrões conservadores. Racismo? Certamente, dirá a maioria. OK, é compreensível.

Em seguida, um outro cidadão sentado à mesa faz o comentário que acho o mais fundamental em toda esta campanha americana em que um negro tem todas as condições - e o dinheiro - para chegar à Casa Branca. Segundo ele, 90% dos negros votarão em Obama porque ele é negro. Tudo certo até aí. Mas se os brancos fizerem o mesmo com McCain, ah, isso sim é racismo!

Esse é só mais um exemplo do que eu chamo de "one way racism". Ou seja, o racismo é uma via de uma mão só. Só vale quando os negros são as vítimas. Nós tivemos aqui um exemplo disso, quando uma ex-ministra (ou secretária, sei lá) de Lula disse claramente que não considera racismo de um negro contra um branco.

O que está por trás de tal raciocínio? Curiosamente, não é a idéia, básica, de que todos são iguais perante a lei, sem distinção por qualquer de suas características físicas. Muita gente "progressista" considera plenamente aceitável dizer que vai votar em Obama porque ele é negro. Ou que vai ser benéfico para os EUA ter o primeiro presidente negro da história. Não vê nisso nenhum contrasenso em relação a todo o ideário anti-racista que, felizmente, parece estar avançando - pelos menos nas sociedades civilizadas.

Justificar o voto em Obama pela cor da sua pele é uma ofensa ao próprio candidato. Ele tem quase todas as qualificações para assumir a presidência da nação mais poderosa do planeta: é bem formado, culto, inteligente, elegante e um ótimo orador (já falei aqui que um discurso dele na campanha de John Kerry me manteve acordado por horas numa madrugada de 2004). Mas lhe falta uma: experiência administrativa.

Apesar disso tudo, considero Barack Obama um fenômeno de mídia - no Brasil, comparável a Fernando Collor. Caiu nas graças da imprensa por ser um candidato cem por cento politicamente correto. As duas campanhas nos brindaram com peças de propaganda que entrarão para a história. Collor e seu "caçador de marajás". Obama é ainda pior: "nós podemos". Tão sólido quanto uma bolha de sabão.

Uma observaçãozinha, antes de terminar. Uma pesquisa da Reuters de ontem ou anteontem trouxe uma diferença de menos de 4% entre os dois. Ou seja, empate técnico. Quer dizer que mesmo com a avassaladora e milionária campanha o Obama vai ganhar - se ganhar - apertado? McCain não é tão fraco assim.

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