terça-feira, novembro 25, 2008

Resgate



Ao desembarcar do pequeno barco que as resgatara da casa alagada, dona Ilda Mendes, 35 anos, tentava proteger a filha pequena que a abraçava aos prantos, na tarde chuvosa de ontem. A casa alugada de dois pisos em que moram já estava com mais de um metro e meio de água. Ainda assim, serviu de abrigo para cerca de 25 pessoas que passaram a madrugada de sábado para domingo, no bairro dos municípios, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Como a água continuava a subir, Ilda decidiu sair com uma das filhas e deverá ser seguida pelo marido e pela outra filha. “Perdi quase tudo. Deu pra salvar pouca coisa”, lamentou, sem conseguir dizer mais nada.

Balneário Camboriú é um dos municípios mais castigados pelas chuvas que caem em Santa Catarina há mais de um mês. O bairro dos municípios, na divisa com Camboriú, às margens da BR-101, é o mais atingido. É dele que vem a maioria das 300 pessoas abrigadas no Centro Educacional Central, bem no centro da cidade, onde não há risco de inundação. Como dona Inês Souza, de 63 anos, que relutara em sair de casa, mesmo com água pelo peito. “Meu filho teve que me puxar para eu sair”, contou. No início da tarde, ela teve uma crise nervosa porque o pessoal que cuida do abrigo não permitiu que ela voltasse para casa. Não havia como, já que a água continuava subindo. Mais calma e resignada, aceitou sentar-se à mesa para um lanche. Ao lado, a filha Kátia não se contém. “É triste ver as pessoas pedindo ajuda e você não poder fazer nada”, disse, chorando.

Nos dois andares do colégio, as salas de aula viraram quartos improvisados. Para evitar que os colchões espalhados no chão ficassem úmidos, uma voluntária passava oferecendo sacos plásticos como proteção. Os mais experientes colocavam os colchões sobre duas filas de cadeiras, de frente umas para as outras, para evitar a umidade. Um sistema de auto-falantes anunciava a hora do lanche. Os voluntários passavam com as bacias e tigelas com sopa, pão, bolo, biscoito, suco e salgados. “Eles tratam a gente muito bem aqui”, elogiou Kátia.

Tanto que alguns preferiram ir para o abrigo a recorrer aos parentes. É o caso do casal Gerson Santos, 37, e Angélica Rangel, 19. Eles foram uns dos primeiros a chegar à escola, na madrugada de sábado para domingo. “Perdemos tudo. Vamos ter que começar do zero”, lastimou Angélica. Em janeiro, eles já haviam passado por uma outra enchente, mas muito menos dramática do que essa.

Situação semelhante, ou até pior, vive a família de Braz César Santana, de 53 anos. A casa dele e a dos três filhos, no município vizinho de Camboriú, foram completamente alagadas. “Perdemos tudo, até um jogo de sala novinho que ainda estava encaixotado. Vamos ter que recomeçar tudo”, disse, emocionado. Ele contou que saiu de casa às 3h da manhã com água pelo pescoço e foi com a mulher para um albergue. Lá, encontrou os três filhos. Depois, foi para a casa de uma amiga, irmã de uma colega de trabalho, que também teve a casa inundada.

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