Matéria da Folha de S. Paulo de sábado. Se bobearmos, voltamos à Idade Média.
Um dos laboratórios do Instituto de Biociências da USP foi alvo de vândalos na noite de quinta-feira. Os criminosos deixaram a assinatura ALF (Frente de Libertação Animal, na sigla em inglês) no local, uma sala de cultura de células onde se faz pesquisa sobre malária. Na ação, fios de computadores foram cortados e vidros quebrados. Outra pichação dizia: "Nós voltaremos".Se for confirmada a autoria da ação, essa é pelo menos a terceira vez no ano em que grupos contrários ao uso de animais em pesquisas agem de forma violenta no país.Em agosto, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) sofreu uma ameaça de bomba, também assinada pela ALF. A denúncia do artefato interditou por cerca de três horas o quarteirão onde está localizado o prédio da universidade. E, em julho deste ano, durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Campinas, membros de uma organização denominada Vegan Staff.org jogaram tinta vermelha na pesquisadora Regina Markus, da USP.No site do grupo, os integrantes dizem ter escolhido "cuidadosamente" a vítima do protesto e que o ato representava "a ciência suja de sangue". Ela coordenava no evento o núcleo de experimentação com animais de laboratório.Neste último caso, na USP, a porta da sala não chegou a ser arrombada -as pessoas teriam entrado pela janela.Mais de mil alunos, além de cerca de cem professores e 200 funcionários, circulam pelo Instituto de Biociências, onde fica a sala. Segundo o diretor do instituto, Wellington Delitti, a sala foi lacrada pela polícia e permanecia assim ontem.Ele não descarta, porém, a possibilidade de ter sido um "crime comum". "Quando a polícia liberar a sala será feito um inventário para saber se equipamentos foram roubados." Para Delitti, o instituto é vulnerável -fica isolado e guardas apenas fazem ronda no local.Ele pensa, no entanto, em realizar uma campanha educativa a respeito da importância do trabalho com animais.Segundo o diretor, o maior problema desse tipo de crime é a perda de dados científicos. "A malária mata milhões. Eles causaram um atraso na pesquisa e danos para muita gente."Na opinião do pesquisador Marcelo Morales, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o vandalismo na USP "não tem nada a ver com a discussão sobre a proteção aos animais". "São atos terroristas, e têm de ser punidos como atos terroristas", diz. Ele organiza atualmente uma campanha nacional para o esclarecimento sobre a pesquisa com animais que custará R$ 1,5 milhão e deve ser veiculada em dois meses na TV, em rádios e em cinemas.Morales ressalta que, se não houver punição, "daqui a pouco vai acontecer como nos EUA, onde pesquisadores estão sendo ameaçados".Renato Balão Cordeiro, farmacólogo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), já previa que essas ações fossem ocorrer. Segundo ele, como os vários ativistas anônimos não podem mais sensibilizar vereadores, porque a Lei Arouca (que regulamenta o uso de cobaias em experimentos) já foi aprovada no Congresso, "eles começam a fazer essas sandices".Para Cordeiro, é urgente que a lei, sancionada em outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seja regulamentada.Muitos alunos da USP ainda não sabiam do ocorrido na tarde de ontem. Alguns opinavam que os autores deviam ser pessoas da própria universidade -que conheciam o local. A estudante de biologia Natany Bissiato, 18, soube do ocorrido ao conversar com veteranos. "Todos têm o direito de expressar sua opinião, mas acho que essa não é a melhor maneira."
(Via Blog do Tambosi)
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