Matéria minha na Folha de S. Paulo de hoje. Fazia tempo que não aparecia na manchete de um grande jornal diário. Pena que por um motivo triste. Segue o texto editado. Em seguida, coloco aqui o texto original que, modéstia à parte, considero melhor.
Escola no litoral recebe 300 desabrigados
PAULO HENRIQUE DE SOUSA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CAMBORIÚ
MARIANA IWAKURA
DA REPORTAGEM LOCAL
Balneário Camboriú (85 km de Florianópolis) é um dos municípios mais castigados pelas chuvas que atingem Santa Catarina. O bairro dos Municípios, na divisa com Camboriú, às margens da rodovia BR-101, é o mais atingido. É dele a maioria das 300 pessoas abrigadas no Centro Educacional Central, no centro da cidade.
Uma delas é Inês Souza, 63, que relutara em sair de casa, mesmo com a água já na altura do peito. "Meu filho teve que me puxar para eu sair", contou. No início da tarde de ontem, ela teve uma crise nervosa porque o pessoal que cuida do abrigo não permitiu que ela voltasse para casa. Não havia como, já que a água continuava subindo. Mais calma, Inês aceitou sentar-se para lanchar. Ao lado, a filha Kátia disse, chorando: "É triste ver pessoas pedindo ajuda e você nada poder fazer".
Nos dois andares do colégio, as salas de aula viraram quartos improvisados. Para evitar que os colchões espalhados no chão ficassem úmidos, uma voluntária passava oferecendo sacos plásticos como proteção.
Os mais experientes colocavam colchões sobre filas de cadeiras, de frente umas para as outras, para evitar a umidade.Um sistema de alto-falantes anunciava a hora do lanche. Os voluntários passavam com tigelas com sopa, pão, bolo, biscoito, suco e salgados.
Alguns preferiram ir para o abrigo a recorrer a parentes, como o casal Gerson Santos, 37, e Angélica Rangel, 19, que chegou à escola na madrugada de ontem. "Perdemos tudo. Vamos ter que começar do zero", disse Angélica. Em janeiro, eles já haviam passado por uma outra enchente, mas menor.
Situação semelhante vive a família de Braz César Santana, 53. A casa dele e a dos três filhos, no município vizinho de Camboriú, foram completamente alagadas. "Perdemos tudo, até um jogo de sala novinho que ainda estava encaixotado."
Ele saiu de casa às 3h, com água pelo pescoço, e foi com a mulher para um albergue. Lá, encontrou os três filhos. Foram para a casa de uma amiga, que também acabou inundada.
Uma pessoa morreu em Guaratuba (litoral sul do Paraná) na noite de sábado em razão da chuva. A lanchonete de Jair Dias, 45, foi atingida pelo deslizamento de um barranco.Também no litoral, em Paranaguá (90 km de Curitiba), as chuvas causaram o desabamento de quatro casas, e o abastecimento de água foi cortado devido aos detritos.Um barco ficou à deriva na baía de Paranaguá, e seus tripulantes foram resgatados por volta das 6h de ontem.
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