sábado, maio 20, 2006

Salve-se quem puder

Na nota anterior, parece haver uma contradição entre defender, ao mesmo tempo, o estado de direito e que a polícia atire em presos amotinados, mas não há, não. A polícia pode atirar para matar um preso quando este ameaça a vida de um inocente. É legítima defesa de terceiros.

Agora, é preciso analisar por que os presos se rebelam. Na maior parte das vezes, eles alegam falta de condições nas prisões - o que é verdade. Outro dia estava vendo na TV que uma carceragem com condições para abrigar 17 detentos estava com 90! Parece que é feito pros caras se rebelarem, mesmo.

Preso não pode ter regalia nenhuma; nada de TV e o escambau. No máximo, um radinho pra escutar futebol. Mas têm direito, sim, a um espaço decente, sem superlotação.

A Globo mostrou ontem porque não há rebeliões nos presídios americanos há muito tempo. Lá, o sistema carcerário foi completamente reformado depois de uma grande rebelião. Os presos perigosos ficam em celas separadas, vigiados por câmeras, sem direito ao tal "banho de sol" (quando aproveitam para combinar rebeliões e outras coisas) e muito menos a visitas íntimas. E mais: as visitas são criteriosamente selecionadas. Neguinho com passagem pela polícia não pode visitar ninguém, não. Presos perigosos só falam com as visitar separadas por aqueles vidros que a gente vê nos filmes. Só presos com penas leves têm direito ao contato com os outros. Ao menor sinal de algo errado, os presos são trancafiados e só saem das celas quando o diretor julgar adequado. Ou seja, lá as coisas funcionam, e o nível de corrupção é muito menor do que aqui.

E vou reforçar o que disse: se o secretário de segurança pública não quer divulgar os nomes dos mais de cem mortos pela polícia, é porque tem algo a esconder.O receio das pessoas em São Paulo, hoje, não é nem ser morto pelos bandidos, mas ser confundido com um deles pela polícia. Daí, já era. O Estado tem que proteger os cidadãos honestos, morem eles em higienópolis ou no Capão Redondo. Isso é estado de direito, é civilidade; é o que deveria diferenciar a polícia dos bandidos. Se não for assim, a população começa a temer tanto um quanto os outros. Ou seja, o salve-se quem puder, a barbárie.


3 comentários:

Anônimo disse...

Só queria mencionar que não acho que a causa seja TV, copa, nada disso. A causa é claramente o fato de que alguns dirigentes do PCC iam para um regime onde lhes seria dificultada a comunicação com suas redes do crime. As negociações secretas devem ter sido para facilitar comunicação.

Se você gosta de História da Ciência, dê uma olhada neste post e neste outro e por favor comente. Estou tentando melhorar o meu blog e seus comentários são bem-vindos.

Um abraço,
Paulo

Anônimo disse...

Salve, Paulão,

estou de volta, enfim. Fiquei um tempão sem computador em casa, usando de vez em quando um lá da Baiúca.
No mais, é salve-se quem puder mesmo. Se o Estado não garante mais nem segurança, pra que Estado?

RODRIGO AMARAL disse...

PH,
Pois é. Eu fico pensando se não existe um meio do caminho. Será que ou a polícia é assassina, truculenta e perigosa, ou ela é banana? Há que se encontrar um meio termo.
E, sobre a superlotação, é isso aí. Não se constrói o que se deveria, o Governo Federal fica falando em seguranção e segurando o dinheiro, e, uma hora, a coisa explode.