domingo, janeiro 08, 2006

Se tivessem lido Schelling...



Não sou muito fã destes seriados cujos roteiros são baseados em teoria conspiratória (ficção não precisa ser assim), mas ontem parei para assistir a um episódio de 24 hours. Imaginem a cena: o Air Force 1, avião do presidente americano, cai em região deserta.
Mas como nem toda região é tão deserta assim, tinha lá um casal acampando. Eles acordam com o barulho da explosão. Vão dar uma olhada e descobrem que é o Air Force 1; e encontram a "football", como é chamada a maleta pela qual o presidente pode acionar todo o arsenal nuclear americano. Pelo celular, o cara liga para um número tal que o conecta com os agentes federais. Enquanto ele fala com o mocinho Jack Bauer, vê dois carros se aproximando. Certo de que eram os terroristas que derrubaram o avião do presidente, o agente recomenda que ele tire o rastreador da maleta e se esconda em uma usina abandonada, a única construção que há perto dali. Onde está o erro tático do agente - que deveria ser expert em estratégia? Óbvio, não?
Thomas Schelling (o vovô aí da foto), um dos vencedores do prêmio Nobel de economia deste ano, criou uma historinha para exemplificar como as pessoas tendem a tomar as mesmas decisões quando encaram a mesma situação. É mais ou menos assim: dois paraquedistas em uma missão de reconhecimento em um vilarejo saltam do avião, mas esquecem de combinar onde vão se encontrar - por alguma razão, eles acabam se separando. Ao chegar à vila, notam que há 10 casas, uma igreja e duas praças. Se você estivesse lá, que lugar escolheria para esperar seu parceiro? Na igreja, óbvio!!
Isso porque você quer encontrar alguém. Mas e se você quiser se esconder, como o azarado que achou a "football"? Há várias respostas, mas uma deve ser evitada: você não deve ir para a igreja (refiro-me ao exemplo de Schelling; nada contra quem freqüenta). Pois foi o que Bauer sugeriu que o pobre coitado fizesse. Os terroristas dispunham das mesmas informações que Bauer; ou seja, tratava-se de um jogo de informação completa. Tinham um mapa que mostrava a usina abandonada e - guess what? - chegaram à brilhante conclusão de que quem quer que estivesse com a maleta teria buscado refúgio no prédio abandonado. Não deu outra: pegaram o casal com a boca na botija, quer dizer, com a maleta na mão.
Tivesse lido Schelling, Bauer não teria metido o pobre casal naquela fria. Naquela noite escura, era só se esconder em qualquer arbusto ou correr para longe da estrada e pronto. Mas daí o roteiro não teria graça nenhuma, concordo.



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