quarta-feira, janeiro 18, 2006

Minha terra não é mais a mesma

Abaixo, matéria publicada pelo jornal A Tribuna, de Criciúma (SC), editado pelo meu amigo Gladinston Silvestrini, jornalista competentíssimo. A matéria é sobre um jovem bandido que anda barbarizando a periferia da minha cidade natal, Araranguá, que fica a uns 200 quilômetros ao sul de Florianópolis. Araranguá não chega a ter 60 mil habitantes e as pessoas de lá já começam a se preocupar com problemas típicos de cidade grande, como a violência. No Balneário Arroio do Silva, onde minha mãe mora com dois dos meus irmãos, a situação é a mesma. Jovens menores de idade roubando e traficando. O único posto policial de lá tem dois guardas por turno e uma viatura velha. Minha mãe já colocou grades nas janelas e o portão tem que ficar sempre fechado. A pergunta é: se não se tem sossego nem nas pequenas cidades, onde é que nós vamos parar? A saída parece ser mesmo o aeroporto.
Passemos à matéria do repórter Márcio Costa.


A.Q.C., 15 anos, matou mais um

Há pouco mais de um ano, o adolescente A.Q.C., de 15 anos, entrou no mundo do crime. De lá pra cá, ele já matou duas pessoas e tentou assassinar ou-tras duas. As vítimas mais recentes do "matador", como se autodenomina, foram atacadas na casa onde o adolescente mora com a mãe e um irmão, localizada no bairro Polícia Rodoviária, na Zona do Meretrício, em Araranguá. Os pedreiros Claudemir Pinto Maciel, de 27 anos, e Valmir Pinto Maciel, de 41 anos, acabaram atingidos por tiros de revólver calibre 38 após se envolverem, na madrugada de domingo, numa discussão com o garoto. Claudemir morreu no local e seu corpo foi encontrado pela polícia no meio da sala da residência. Seis tiros atingiram a vítima. Valmir está internado em estado grave na UTI do Hospital Regional. Os irmãos não possuem antecedentes criminais. O jovem está sendo procurado pela polícia.Para o promotor da Vara da Infância e do Adolescente de Araranguá, Isaac Sabba Guimarães, a falta de vagas em Centros de Internação Provisória (Cip) do Estado vem contribuindo para que o ado- lescente continue solto. "Já solicitei à Secretaria de Segurança Pública do (SSP) a internação do rapaz. No entanto, fui informado que não existe vaga em nenhum centro de Santa Catarina. Isso é uma calamidade pública", diz. Na tarde de ontem, o promotor aguardava o inquérito sobre o caso ocorrido na Zona do Meretrício, e uma posição quanto à uma vaga no CIP de Tubarão. "Estou esperando resposta da direção do Cip. Mas a chance de obter a internação é mínima", diz. "É provável que ele permaneça, caso seja apreendido, na carceragem de uma delegacia. Este adolescente não pode viver em sociedade." O secretário da SSP, Ronaldo Benedet, afirma que pretende ampliar, ainda este ano, o número de vagas nas unidades do Estado.Conforme uma cunhada de Claudemir, os irmãos saíam de moto de um bar de propriedade dos pais das vítimas, localizado próximo à casa do adolescente, quando escutaram vários tiros. Então Claudemir decidiu, junto com Valmir, ir à casa do ado- lescente ver o que tinha acontecido. De repente, segundo depoimentos de testemunhas, o jovem começou a atirar contra os irmãos. "Ele chegou a descarregar o tambor do revólver 38. Em seguida, carregou a arma novamente e disparou à queima roupa outra vez", diz o coordenador da Central de Polícia de Araranguá, delegado Jorge Giraldi. Minutos depois do crime, por volta de meia-noite, o jovem escapou em uma moto. "Na fuga, ele encontrou algumas pessoas e prometeu matá-las caso contassem algo à polícia." Giraldi explica que o adolescente é frio e calculista, e oferece risco à sociedade, já que está envolvido em inúmeros furtos e assaltos cometidos no Vale do Araranguá. Os crimes são cometidos, segundo a polícia, à mando de bandidos que realizam o tráfico de drogas na Zona do Meretrício. "Constatamos que se tratava de um jovem perigoso após ele ter confessado, no início de dezembro do ano passado, a morte de Paulo Ricardo Fernandes dos Santos, conhecido como Esmerilho, de 24 anos. Esmerilho foi morto a tiros em frente a um bailão, no bairro Mato alto. O garoto não demonstrou nenhum arrependimento pelo crime. Simplesmente admitiu que estava alcoolizado e, na saída do baile, como já tinha uma desavença com Fernandes, decidiu matá-lo." Na época, a polícia realizou um termo circunstanciado e colocou o ado-lescente à disposição da Justiça.Até o fechamento desta edição, o adolescente ainda não havia sido apreendido pela polícia. "A informação é de que o jovem iria se entregar na presença de um advogado. Mas continua foragido", contou o delegado Jorge Giraldi. Valmir Pinto Maciel, permanece internado na UTI em estado grave, de acordo com enfermeiros plantonistas do Hospital Regional.

5 comentários:

Anônimo disse...

É geral, caro PH.
E não me venham as cantilenas de que é a pobreza, que é problema social etc. (uma pequena parte, sim).
O Estado monstrengo não garante segurança e educação, que são suas atividades-fins.
As leis são demasiado brandas. Menor é responsável para votar, mas não para ir para o fundo da cadeia por crimes hediondos, estupros etc.
A impunidade é garantida. Os moleques bandidos são hoje donos das ruas em qualquer cidade.
Por bárbaros que sejam os crimes, essa ralé está de volta às ruas em pouco tempo. E bárbaros são considerados os norte-americanos, que fazem a coisa certa, pouco importa a idade: matou, é cadeia - perpétua, inclusive. Aqui sequer existe prisão perpétua, até para adultos.
Vá o Estado ser brando assim no inferno. Cada vez mais essa ralé se convence de que o crime compensa. Estou começando a acreditar que tem razão.

Abs., Tambosi

Paulo Henrique disse...

É vero, caríssmo professor! Infelizmente, o Estado parece a camada de ozônio: cada vez mais cheio de buracos e desaparecendo aos poucos. E o pior é que o discurso era que o estado deveria sair de áreas não fundamentais para investir em saúde, educação, segurança... aquela coisa toda. Acabou que não faz nem uma coisa, nem outra.
abração

Anônimo disse...

P.H.
Só hoje percebi que o amigo tem um blog também. Obrigado pelas visitas lá no meu. Vi que me lincaste aí do lado. Abraço grande e parabéns pelos teus textos primorosos. Quanto à violência, vamos que vamos, marchando para o fim dos tempos (como diria aquele pastor da Leléia que pregava na Praça 15 de Novembro e foi expulso pelos vendilhões do templo, quer dizer, pelos mendigos, coitados, que só bebem e fumam o dia inteiro).C
Carlos Damião

Paulo Henrique disse...

Damião, teu blog é ducaralho! Tenho um colega lá no Valor que o lê com freqüência e até te elogiou um dia desses. Abraço e seja bem-vindo.

Anônimo disse...

pH:
não sabia de Silvestrini estava em Criciúma. Envie-me o e-mail dele para que possa enviar-lhe uma mensagem.
Cordial abraço,

aluízio amorim

P.S.: Aguarde a tréplica. Hoje estou com preguiça.