Sou péssimo para guardar nomes de pessoas, datas... estas coisas. Pois esqueci até mesmo que este modesto blog fez o primeiro aniversário na quarta-feira. Nesse tempo, tem sido visitado basicamente por amigos fiéis e nada virtuais.
Estou pensando em fazer algumas mudanças. Minha dúvida principal é saber se um blog deve ser focado em alguns assuntos que possam interessar a um público menor, mas cativo, ou ficar livre para falar o que bem entender. O problema é que me interesso por assuntos muito variados, desde coisas esquisitas como filosofia da economia até os problemas mais comezinhos de convivência social - como os caras que insistem em nos castigar com o som do carro no último volume, sempre tocando porcaria, claro. Alguém já viu aí um destes babacas com uma discoteca ambulante tocando Sinatra?
Como este blog ainda não é um negócio profissional, não tenho esquentado muito a cabeça. Quando me decidir, aviso. Mas antes vou precisar da ajuda do Alexandre Gonçalves, cujo site é um primor.
sexta-feira, dezembro 29, 2006
sábado, dezembro 23, 2006
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Hoje
Hoje me aproximo um pouco mais dos quarenta. É verdade que ainda faltam quatro. O tempo é cruel.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
O mundo é colorado
"Glória do desporto nacional,
óh Internacional que eu sigo a exaltar..."
Entre meus muitos defeitos, está o de ser flamenguista. (Como sabemos, todos nascem flamenguistas, mas alguns degeneram ;)
Mesmo assim, ontem acordei cedo para torcer pelo Inter. Torceria para qualquer time brasileiro, até para o Vasco e para o Grêmio, mas não com a mesma intensidade de ontem, claro. Abelão deu um show de tática. Dá-lhe Colorado!!! Bem-vindo ao clube dos campeões mundiais!
óh Internacional que eu sigo a exaltar..."
Entre meus muitos defeitos, está o de ser flamenguista. (Como sabemos, todos nascem flamenguistas, mas alguns degeneram ;)
Mesmo assim, ontem acordei cedo para torcer pelo Inter. Torceria para qualquer time brasileiro, até para o Vasco e para o Grêmio, mas não com a mesma intensidade de ontem, claro. Abelão deu um show de tática. Dá-lhe Colorado!!! Bem-vindo ao clube dos campeões mundiais!
sábado, dezembro 16, 2006
Premiação
Na sexta de manhã, fui a Florianópolis receber o prêmio Fiesc de Jornalismo. Na foto de cima, eu e o presidente da Fiesc, Alcantaro Corrêa; na outra, todos os vencedores deste ano.
Gostaria de parabenizar a Fiesc por essa iniciativa que vem mantendo há mais de uma década. Certamente, é um incentivo ao trabalho jornalístico de qualidade.
Foi uma oportunidade também de rever pessoas queridas que há muito não encontrava, como o professor Orlando Tambosi e os colegas jornalistas da Fiesc Elmar, Ivonei e Juliano.
sábado, dezembro 09, 2006
Bush não vai gostar deste nome
Em 2004, acompanhei alguns debates e comícios da campanha para presidente dos Estados Unidos. As estrelas eram Bush Jr. e J. Kerry, mas fiquei particularmente impressionado com um candidato ao Senado por Illinois. Novo e negro, tinha uma verve afiadíssima. Assisti a dois discursos dele. Em ambos, cada frase estava em seu devido lugar, cada palavra parecia ter sido cuidadosamente colocada. Mas isso não significava um texto burocrático. Não, pelo contrário! Ele interpretava cada palavra de uma forma absolutamente adequada; não forçava nada e tudo parecia absolutamente espontâneo. Não me ocorre ninguém no Brasil com quem pudesse compará-lo.
Há muito não via um discurso assim. Fiquei impressionado ao ponto de, no dia seguinte, mandar um email ao Márcio Pochmann (meu chefe) falando daquele negrão de nome estranho, de semblante absolutamente simpático e cativante. Não que tivesse concordado com tudo que o Obama (isso mesmo, Obama!) dissera, mas o casamento perfeito entre forma e conteúdo me pareceu competente o suficiente para levá-lo além do Senado.
Soube depois que, lá pela metade da campanha, os republicanos já tinham jogado a toalha e desistido de financiar o concorrente de Barack Obama em Illinois. Chegou ao Senado e, pelo que começa a comentar a imprensa americana, já está tirando o sono de Ms. Clinton na disputa pela presidência dos EUA. Podem até fazer uma dobradinha. Alguém duvida que o próximo ocupante da Casa Branca será um democrata?
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Ganhei
Sistema FIESC divulga vencedores do Prêmio de Jornalismo
Florianópolis, 6.12.2006 – A Federação das Indústrias (FIESC) divulga o resultado da edição 2006 do Prêmio Sistema FIESC de Jornalismo. O trabalho vencedor na categoria mídia impressa foi “Caminho estratégico”, de autoria do jornalista Paulo Henrique de Sousa, da Revista Expressão. A reportagem “Sobrevivendo aos governos: a busca alternativa por energia”, de Túlio Borges Filho, veiculada na Furb TV, de Blumenau, foi a vencedora na categoria mídia eletrônica, que inclui rádio e TV. Na categoria mídia regional (para todos os tipos de veículos regionais) o trabalho vencedor foi “Vale do Rio do Peixe: o berço da indústria do vinho”, de Marcelo Santos, da Rádio Catarinense, de Joaçaba.
A comissão julgadora, reunida nesta terça-feira (5), ainda atribuiu menções honrosas para “Cosméticos made in SC”, de Cleide Klock, da RBS TV , “Vinho cria nova safra de empresários em Santa Catarina”, de Vanessa Jurgenfeld, do jornal Valor Econômico, e “De volta aos trilhos”, série de Rodrigo Stüpp, do jornal A Notícia.
A premiação acontecerá no dia 15 de dezembro, durante a reunião de diretoria do Sistema FIESC.
A comissão julgadora desta edição foi composta por: Orlando Tambosi, professor do curso de jornalismo da UFSC, Osmar Teixeira, vice-presidente Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Josemar Sehnen, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Moacir Loth, jornalista na Editora da UFSC e coordenador do Programa de Jornalismo Científico da Fapesc, e Pedro Moreira Filho, presidente do Conselho Regional de Economia de Santa Catarina (Corecon).
O Prêmio Sistema FIESC de Jornalismo reconhece a contribuição dos profissionais e empresas de comunicação social à pesquisa, divulgação de dados e reportagens enfocando a indústria catarinense.
Florianópolis, 6.12.2006 – A Federação das Indústrias (FIESC) divulga o resultado da edição 2006 do Prêmio Sistema FIESC de Jornalismo. O trabalho vencedor na categoria mídia impressa foi “Caminho estratégico”, de autoria do jornalista Paulo Henrique de Sousa, da Revista Expressão. A reportagem “Sobrevivendo aos governos: a busca alternativa por energia”, de Túlio Borges Filho, veiculada na Furb TV, de Blumenau, foi a vencedora na categoria mídia eletrônica, que inclui rádio e TV. Na categoria mídia regional (para todos os tipos de veículos regionais) o trabalho vencedor foi “Vale do Rio do Peixe: o berço da indústria do vinho”, de Marcelo Santos, da Rádio Catarinense, de Joaçaba.
A comissão julgadora, reunida nesta terça-feira (5), ainda atribuiu menções honrosas para “Cosméticos made in SC”, de Cleide Klock, da RBS TV , “Vinho cria nova safra de empresários em Santa Catarina”, de Vanessa Jurgenfeld, do jornal Valor Econômico, e “De volta aos trilhos”, série de Rodrigo Stüpp, do jornal A Notícia.
A premiação acontecerá no dia 15 de dezembro, durante a reunião de diretoria do Sistema FIESC.
A comissão julgadora desta edição foi composta por: Orlando Tambosi, professor do curso de jornalismo da UFSC, Osmar Teixeira, vice-presidente Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Josemar Sehnen, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Moacir Loth, jornalista na Editora da UFSC e coordenador do Programa de Jornalismo Científico da Fapesc, e Pedro Moreira Filho, presidente do Conselho Regional de Economia de Santa Catarina (Corecon).
O Prêmio Sistema FIESC de Jornalismo reconhece a contribuição dos profissionais e empresas de comunicação social à pesquisa, divulgação de dados e reportagens enfocando a indústria catarinense.
segunda-feira, dezembro 04, 2006
Amadorismo II
Se o amadorismo ficasse restrito a alguns restaurantes, tudo bem, mas não. Ontem tive o desprazer de presenciar uma cena terrível na praia quase em frente de casa. Uma criança de seis anos foi levada pelo mar, a poucos metros de um posto de salva-vidas.
Quando eu cheguei no local, os bombeiros estavam começando a procurar pelo menino com um jet-ski. Zanzando de lá para cá por mais de hora, não conseguiram encontrá-lo. Na praia mais movimentada do estado, apenas dois homens dos bombeiros foram destacados para procurar pelo garoto com um mísero jet-ski! Os bombeiros não foram capazes de pedir a ajuda de outras embarcações de uma marina próxima, ou mesmo destacar mais homens para a busca. Isso tudo aqui no centro de Balneário Camboriú.
Hoje de manhã eles ainda não haviam encontrado o corpo. A família estava indignada com o serviço do Corpo de Bombeiros. Não sem razão.
Quando eu cheguei no local, os bombeiros estavam começando a procurar pelo menino com um jet-ski. Zanzando de lá para cá por mais de hora, não conseguiram encontrá-lo. Na praia mais movimentada do estado, apenas dois homens dos bombeiros foram destacados para procurar pelo garoto com um mísero jet-ski! Os bombeiros não foram capazes de pedir a ajuda de outras embarcações de uma marina próxima, ou mesmo destacar mais homens para a busca. Isso tudo aqui no centro de Balneário Camboriú.
Hoje de manhã eles ainda não haviam encontrado o corpo. A família estava indignada com o serviço do Corpo de Bombeiros. Não sem razão.
Amadorismo I
Não foi preciso mais do que um mês morando aqui para perceber que Balneário Camboriú não tem estrutura para receber turistas. Isso mesmo, uma cidade turística que não os comporta bem!
Não estou falando da qualidade dos hotéis ou coisa parecida. Refiro-me ao atendimento nos lugares públicos, principalmente nos restaurantes. Desde um reles McDonald´s até resturantes bons da Via Gastronômica.
Você sente e espera, espera, espera... O garçom passa e atira o cardápio sobre a mesa e você reza para que não o atinja. Daí, você acaba com receio de pedir para não interromper o frenesi dos garçons, em desabalada carreira. Isso aconteceu comigo na Macarronada Italiana, onde a comida é boa, mas o atendimento, péssimo. E fiz questão de deixar isso bem claro para o gerente daquela birosca.
Mas nem todos são assim, claro. Na Casa da Lagosta o atendimento é ótimo.
Não estou falando da qualidade dos hotéis ou coisa parecida. Refiro-me ao atendimento nos lugares públicos, principalmente nos restaurantes. Desde um reles McDonald´s até resturantes bons da Via Gastronômica.
Você sente e espera, espera, espera... O garçom passa e atira o cardápio sobre a mesa e você reza para que não o atinja. Daí, você acaba com receio de pedir para não interromper o frenesi dos garçons, em desabalada carreira. Isso aconteceu comigo na Macarronada Italiana, onde a comida é boa, mas o atendimento, péssimo. E fiz questão de deixar isso bem claro para o gerente daquela birosca.
Mas nem todos são assim, claro. Na Casa da Lagosta o atendimento é ótimo.
Porque me ufano
Acordei cedo neste domingo. Tive uma manhã meio assim... como direi?... patriótica. Dá gosto de ver a seleção de vôlei jogar. Tanto a masculina quanto a feminina.
Eles representam tudo o que não vemos nas outras áreas: competência.
Sim, eu sou daqueles que acordam de madrugada pra ver um bom jogo, não só de vôlei, como também de futebol e basquete. Acompanhei os mundiais de vôlei feminino e masculino mesmo com jogos de madrugada. Valeu a pena. As meninas ficaram em segundo e os rapazes foram bicampeões. Uma aula de dedicação e competência.
Bernardinho para presidente!
Eles representam tudo o que não vemos nas outras áreas: competência.
Sim, eu sou daqueles que acordam de madrugada pra ver um bom jogo, não só de vôlei, como também de futebol e basquete. Acompanhei os mundiais de vôlei feminino e masculino mesmo com jogos de madrugada. Valeu a pena. As meninas ficaram em segundo e os rapazes foram bicampeões. Uma aula de dedicação e competência.
Bernardinho para presidente!
domingo, dezembro 03, 2006
Saudade
Hoje meu velho faria 60 anos. É o segundo ano que não tenho pra quem ligar neste dia. Saudade, pai!
sábado, novembro 18, 2006
Isso explica muita coisa
Dia desses, fui a um churrasco com alguns bons amigos, num aprazível canto da zona Sul de Florianópolis. Um amigo e colega jornalista me contou que retomara o curso de economia, que abandonara no finalzinho. Falamos do quão interessante (e chato) pode ser um curso de economia. Pra mim, economia é um curso perfeito porque reúne elementos do que pode haver de melhor em outras ciências humanas/sociais, da psicologia à política.
Mas, por aqui, em tempos de discursos bolivarianos, ainda grassa muita desconfiança de tudo que seja ligado à ciência, não raramente seguida por algum adjetivo do tipo "burguesa". Não é difícil entender porque estamos neste atraso todo.
Mas, voltando à economia, o meu amigo me contou um episódio que ilusta bem isso tudo. Um belo dia, um professor dele, do curso de economia da UFSC, comentou com os alunos (coitados) ter lido um artigo muito interessante de um "pensador" francês (tinha que ser) que considerava a matemática uma "ciência alientante". Isso mesmo!
Pergunto eu: como vamos tirar "effepaiff" do atraso em que se encontra com professores como esses ensinando nas nossas melhores escolas? É por isso que a grande maioria dos economistas sai da graduação praticamente analfabeta em matemática. E vão produzir o quê, essas criaturas, em termos acadêmicos? Lixo.
Mas, por aqui, em tempos de discursos bolivarianos, ainda grassa muita desconfiança de tudo que seja ligado à ciência, não raramente seguida por algum adjetivo do tipo "burguesa". Não é difícil entender porque estamos neste atraso todo.
Mas, voltando à economia, o meu amigo me contou um episódio que ilusta bem isso tudo. Um belo dia, um professor dele, do curso de economia da UFSC, comentou com os alunos (coitados) ter lido um artigo muito interessante de um "pensador" francês (tinha que ser) que considerava a matemática uma "ciência alientante". Isso mesmo!
Pergunto eu: como vamos tirar "effepaiff" do atraso em que se encontra com professores como esses ensinando nas nossas melhores escolas? É por isso que a grande maioria dos economistas sai da graduação praticamente analfabeta em matemática. E vão produzir o quê, essas criaturas, em termos acadêmicos? Lixo.
sexta-feira, novembro 17, 2006
Assino embaixo
Dá-lhe, Dines! - em dia particularmente inspirado.
Os que atacam a imprensa, na tentativa de defender o lulismo, não criticam um veículo em particular, ou uma prática danosa, mas a instituição da imprensa livre. E não entendem que imprensa livre não significa imparcial, desinteressada.
Os que atacam a imprensa, na tentativa de defender o lulismo, não criticam um veículo em particular, ou uma prática danosa, mas a instituição da imprensa livre. E não entendem que imprensa livre não significa imparcial, desinteressada.
quinta-feira, novembro 16, 2006
terça-feira, novembro 14, 2006
Notícias de dois países latino-americanos
Segunda-feira agitada, esta! Lula deu um pulinho ali na Venezuela (com o aerolula tudo fica mais fácil) para participar de um comício do Chavez. Era a inauguração de uma ponte sobre o Rio Orinoco, entre o Brasil e a Venezuela, mas virou comício do presidente-candidato. Tudo na maior cara-de-pau.
Blairo Maggi, aquele que se vendeu por R$ 1 bilhão (por essa grana, até eu!), disse que se fosse no Brasil o tiranete estaria inelegível por 300 anos. E vejam como Chavez gosta do seu querido povo: a ponte já estava pronta há quatro meses, mas só foi inaugurada agora, porque Lula não podia estar lá durante a campanha daqui.
Na ausência de Lula, o Brasil teve o primeiro presidente comunista, Aldo Rebelo. Essa vai entrar para os livros de História.
Por fim, pra fechar com chavez de ouro (não consegui resistir!), o nosso Chavez Requião desapropriou uma fazenda de uma multinacional usada para pesquisa científica que fora invadida pelo movimento Via Campesina. Idade Média, aqui vamos nós!
Blairo Maggi, aquele que se vendeu por R$ 1 bilhão (por essa grana, até eu!), disse que se fosse no Brasil o tiranete estaria inelegível por 300 anos. E vejam como Chavez gosta do seu querido povo: a ponte já estava pronta há quatro meses, mas só foi inaugurada agora, porque Lula não podia estar lá durante a campanha daqui.
Na ausência de Lula, o Brasil teve o primeiro presidente comunista, Aldo Rebelo. Essa vai entrar para os livros de História.
Por fim, pra fechar com chavez de ouro (não consegui resistir!), o nosso Chavez Requião desapropriou uma fazenda de uma multinacional usada para pesquisa científica que fora invadida pelo movimento Via Campesina. Idade Média, aqui vamos nós!
quinta-feira, novembro 09, 2006
Em tempos de manifesto...
Esta eu tirei do blog do Claudio Shikida. Em tempos de manifesto em favor de Emir Sader, vale a pena ler um trechinho do depoimento de Eduardo Gianetti, no livro Conversas com Economistas Brasileiros.
"A vida intelectual brasileira ainda é muito tribal. Tem grupinhos de autores que dão tapinhas nas costas e que atacam junto as outras tribos.(...)Quando José Guilheme Merquior acusou Marilena Chauí de fazer aquele plágio, e, segundo a evidência, parece-me que constituiu plágio, chegaram a fazer um abaixo-assinado de solidariedade a Marilena Chauí, que é a reação mais tribal que se pode imaginar. Quer dizer, a pessoa fez um plágio e sucita um abaixo-assinado de apoio porque ela foi vítima de um ataque vil?!"
Como gostam de um manifesto por aqui, heim!
"A vida intelectual brasileira ainda é muito tribal. Tem grupinhos de autores que dão tapinhas nas costas e que atacam junto as outras tribos.(...)Quando José Guilheme Merquior acusou Marilena Chauí de fazer aquele plágio, e, segundo a evidência, parece-me que constituiu plágio, chegaram a fazer um abaixo-assinado de solidariedade a Marilena Chauí, que é a reação mais tribal que se pode imaginar. Quer dizer, a pessoa fez um plágio e sucita um abaixo-assinado de apoio porque ela foi vítima de um ataque vil?!"
Como gostam de um manifesto por aqui, heim!
quarta-feira, novembro 08, 2006
Dúvidas e considerações
Algumas considerações sobre o "caso Emir Sader".
1. Numa democracia, recorrer à Justiça é um direito básico de qualquer cidadão que se sinta prejudicado ou ofendido (ainda que eu ache que alguns endinheirados usem essa tática para intimidar os seus críticos). O senador Jorge Bornhausen se sentiu ofendido pelo artigo de Sader e recorreu à Justiça, o que é plenamente legítimo.
2. O juiz condenou Sader por injúria, ou seja, quando alguém ofende um outro por um juízo geral, não por ter cometido um fato específico, como fez Sader ao chamar o senador de "racista, pessoa abjeta", entre outros elogios.
3. Ignorante que sou em Direito, não consigo chegar a uma conclusão sobre se Sader foi condenado por um crime de opinião. Dizer que uma pessoa é racista significa imputar a ela um comportamento criminoso. Logo, está-se cometendo um crime se não se confirmar que tal pessoa praticou um ato racista.
4. No caso do senador, Sader entendeu que a expressão "esta raça" usada por ele teria conotação racista. Francamente, só com muita limitação intelectual ou má-fé, mesmo. "Esta raça" é uma expressão corrente que se refere a grupo, turma e similares.
5. Muitos dos "intelectuais" e jornalistas que assinaram o manifesto de apoio a Sader alegam que ele está sendo vítima de uma condenação por crime de opinião. Ele não teria ofendido o senador ao chamá-lo de "fascista, pessoa repulsiva da burguesia brasileira, racista, repulsivo, odioso..." Bom, se alguém que escreve isso não tem a intenção de ofender, então também não tem condição de dar aulas em uma universidade pública por absoluta falta de discernimento. Se assim não for, terá mentido na defesa.
6. Entre os que assinaram o manifesto, estão pessoas que foram à Justiça contra jornalistas que os teriam ofendido, principalmente contra Diogo Mainardi, o boquirroto da Veja. Ou seja, Eles podem processar o Mainardi por injúria, calúnia e difamação, mas o Bornhausen não pode processar o Sader pelo mesmo motivo??
7. Esse tipo de comportamento é um verdadeiro perigo porque mostra o messianismo deste pessoal (eu poderia usar a expressão "dessa raça", aqui): processar o Diogo Mainardi ou qualquer outro, como o próprio Bornhausen, porque são "de direita", da "elite branca" - pra ficar em alguns termos simplistas usados por Sader. Mas o sociológo não pode ser processado por ser "de esquerda", o bom moço, um elemento do conjunto dos joãozinho-do-passo-certo, a quem tudo é permitido por ser "de esquerda".
8. Por outro lado, não seria um risco também condenar Sader tão severamente, inclusive com a perda do cargo de professor? Isso não daria margem para que outros juízes condenem outros "intelectuais" - de esquerda ou de direita - por supostas opiniões? E dou o exemplo de intelectuais que escrevem regularmente na internet com críticas a pessoas de "esquerda" ou de "direita". O presidente Lula não poderia processar alguém que o chamasse pelos muitos apelidos que tem angariado nos quatro anos de (des)governo?
9. Falando disso me vem à cabeça o caso da crítica feita pelo professor Roberto Romano a um livro do "intelectual" Muniz Bandeira, publicado na finada revista Primeira Leitura. O autor do livro pediu direito de resposta por ter se sentido ofendido e, até onde eu sei, a revistanão chegou a publicar a resposta. Blogs que publicaram a crítica de Romano publicaram a resposta de Bandeira, como foi o caso do Tambosi. Também até onde eu sei, Bandeira pediu apenas direito de resposta. Não seria o caso de o senador Bornhausen ter se limitado a isso também, no caso do artigo ofensivo de Sader?
10. Enfim, meu receio é o de que, daqui para a frente, a patrulha fique tão intensa que não se possa escrever mais nada, sob pena de responder a processo judicial. Isso é da democracia, claro, mas pode se tornar uma dor de cabeça e um ônus insuportável para os que não têm condições de pagar bons advogados. E isso faz toda a diferença.
PS. Ia esquecendo: virou moda chamar de "fascista ou racista qualquer um que tenha posição diferente do senso comum, do politicamente correto. Eu mesmo fui alvo disso enquanto estudava, porque fazia parte de uma "raça" que satirizava os gays, a quem chamávamos de "viados".
1. Numa democracia, recorrer à Justiça é um direito básico de qualquer cidadão que se sinta prejudicado ou ofendido (ainda que eu ache que alguns endinheirados usem essa tática para intimidar os seus críticos). O senador Jorge Bornhausen se sentiu ofendido pelo artigo de Sader e recorreu à Justiça, o que é plenamente legítimo.
2. O juiz condenou Sader por injúria, ou seja, quando alguém ofende um outro por um juízo geral, não por ter cometido um fato específico, como fez Sader ao chamar o senador de "racista, pessoa abjeta", entre outros elogios.
3. Ignorante que sou em Direito, não consigo chegar a uma conclusão sobre se Sader foi condenado por um crime de opinião. Dizer que uma pessoa é racista significa imputar a ela um comportamento criminoso. Logo, está-se cometendo um crime se não se confirmar que tal pessoa praticou um ato racista.
4. No caso do senador, Sader entendeu que a expressão "esta raça" usada por ele teria conotação racista. Francamente, só com muita limitação intelectual ou má-fé, mesmo. "Esta raça" é uma expressão corrente que se refere a grupo, turma e similares.
5. Muitos dos "intelectuais" e jornalistas que assinaram o manifesto de apoio a Sader alegam que ele está sendo vítima de uma condenação por crime de opinião. Ele não teria ofendido o senador ao chamá-lo de "fascista, pessoa repulsiva da burguesia brasileira, racista, repulsivo, odioso..." Bom, se alguém que escreve isso não tem a intenção de ofender, então também não tem condição de dar aulas em uma universidade pública por absoluta falta de discernimento. Se assim não for, terá mentido na defesa.
6. Entre os que assinaram o manifesto, estão pessoas que foram à Justiça contra jornalistas que os teriam ofendido, principalmente contra Diogo Mainardi, o boquirroto da Veja. Ou seja, Eles podem processar o Mainardi por injúria, calúnia e difamação, mas o Bornhausen não pode processar o Sader pelo mesmo motivo??
7. Esse tipo de comportamento é um verdadeiro perigo porque mostra o messianismo deste pessoal (eu poderia usar a expressão "dessa raça", aqui): processar o Diogo Mainardi ou qualquer outro, como o próprio Bornhausen, porque são "de direita", da "elite branca" - pra ficar em alguns termos simplistas usados por Sader. Mas o sociológo não pode ser processado por ser "de esquerda", o bom moço, um elemento do conjunto dos joãozinho-do-passo-certo, a quem tudo é permitido por ser "de esquerda".
8. Por outro lado, não seria um risco também condenar Sader tão severamente, inclusive com a perda do cargo de professor? Isso não daria margem para que outros juízes condenem outros "intelectuais" - de esquerda ou de direita - por supostas opiniões? E dou o exemplo de intelectuais que escrevem regularmente na internet com críticas a pessoas de "esquerda" ou de "direita". O presidente Lula não poderia processar alguém que o chamasse pelos muitos apelidos que tem angariado nos quatro anos de (des)governo?
9. Falando disso me vem à cabeça o caso da crítica feita pelo professor Roberto Romano a um livro do "intelectual" Muniz Bandeira, publicado na finada revista Primeira Leitura. O autor do livro pediu direito de resposta por ter se sentido ofendido e, até onde eu sei, a revistanão chegou a publicar a resposta. Blogs que publicaram a crítica de Romano publicaram a resposta de Bandeira, como foi o caso do Tambosi. Também até onde eu sei, Bandeira pediu apenas direito de resposta. Não seria o caso de o senador Bornhausen ter se limitado a isso também, no caso do artigo ofensivo de Sader?
10. Enfim, meu receio é o de que, daqui para a frente, a patrulha fique tão intensa que não se possa escrever mais nada, sob pena de responder a processo judicial. Isso é da democracia, claro, mas pode se tornar uma dor de cabeça e um ônus insuportável para os que não têm condições de pagar bons advogados. E isso faz toda a diferença.
PS. Ia esquecendo: virou moda chamar de "fascista ou racista qualquer um que tenha posição diferente do senso comum, do politicamente correto. Eu mesmo fui alvo disso enquanto estudava, porque fazia parte de uma "raça" que satirizava os gays, a quem chamávamos de "viados".
quarta-feira, novembro 01, 2006
A coisa é muito séria
Abusos, ameaças e constrangimentos a jornalistas de Veja
A pretexto de obter informações para uma investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados, a Polícia Federal intimou cinco jornalistas de VEJA a prestar depoimentos. Eles foram os profissionais responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" destinada a afastar Freud Godoy, assessor da presidência da Republica, da tentativa de compra do dossiê falso que seria usado para incriminar políticos adversários do governo. Três dos cinco jornalistas intimados – Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro – foram ouvidos na tarde de terça-feira pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira.
Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial. Não houve violência física.
O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição.
Ao tomar o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira indagou os motivos pelos quais ela escrevera "essa falácia". A repórter da VEJA, então, perguntou ao delegado Moysés qual era o sentido de seu depoimento, uma vez que ele já chegara à conclusão antecipada de que as informações publicadas pela revista eram "falácias". Ao ditar esse trecho do depoimento para o escrivão, o delegado atribuiu a palavra à repórter, no que foi logo advertido pela representante do Ministério Público Federal, a procuradora Elizabeth Kobayashi. A procuradora pediu ao delegado que retirasse tal palavra do depoimento porque tratava-se de um juízo de valor dele próprio e que a repórter nunca admitira que escrevera falácias.
Embora a jornalista de VEJA estivesse depondo na condição de testemunha num inquérito sem nenhuma relação com a divulgação das fotos do dinheiro do dossiê, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre reportagem anterior, assinada por ela, que tratava do tema. O delegado exigiu, então, da repórter que revelasse quem lhe dera um CD com as fotos. A repórter se recusou a revelar sua fonte.
Durante todo o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre o que ele dizia ser uma operação de VEJA para "fabricar" notícias contra a Polícia Federal. Disse que a matéria fora preconcebida pelos editores da revista e quis saber quem fora o editor responsável pela expressão "Operação Abafa".
O delegado disse que as acusações contra o diretor-executivo da Superintendência da PF, Severino Alexandre, eram muito graves. E perguntou "Foi você quem as fez? Como vieram parar aqui?". Referindo-se à duração do depoimento, o delegado Moysés Eduardo Ferreira disse: "Se você ficou duas horas, seu chefe vai ficar quatro"
Indagada sobre sua participação na matéria, a repórter Camila Pereira disse ter-se limitado a redigir uma arte explicativa, a partir de entrevistas com advogados, sobre como a revelação da origem do dinheiro poderia ameaçar a candidatura e/ou um eventual segundo mandato do presidente Lula. O delegado perguntou quais advogados foram ouvidos. A repórter respondeu que seus nomes haviam sido publicados no próprio quadro. O delegado, então, perguntou se VEJA pagara pela colaboração dos advogados. Diante da resposta negativa, o delegado ditou para o escrevente que a repórter respondera que "normalmente a revista não paga por esse tipo de colaboração". A repórter, então, o corrigiu, dizendo que a revista nunca paga para suas fontes
Embora os repórteres de VEJA tenham sido convocados como testemunhas, o delegado Moysés Eduardo Ferreira impediu que eles se consultassem com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida. Em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente. Ele também negou aos jornalistas de VEJA o direito a cópias de suas próprias declarações, alegando que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi foi impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.
A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades. Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio. Nunca é demais lembrar: "Pior do que estar submetido à ditadura de uma minoria é estar submetido a uma ditadura da maioria."
A pretexto de obter informações para uma investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados, a Polícia Federal intimou cinco jornalistas de VEJA a prestar depoimentos. Eles foram os profissionais responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" destinada a afastar Freud Godoy, assessor da presidência da Republica, da tentativa de compra do dossiê falso que seria usado para incriminar políticos adversários do governo. Três dos cinco jornalistas intimados – Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro – foram ouvidos na tarde de terça-feira pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira.
Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial. Não houve violência física.
O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição.
Ao tomar o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira indagou os motivos pelos quais ela escrevera "essa falácia". A repórter da VEJA, então, perguntou ao delegado Moysés qual era o sentido de seu depoimento, uma vez que ele já chegara à conclusão antecipada de que as informações publicadas pela revista eram "falácias". Ao ditar esse trecho do depoimento para o escrivão, o delegado atribuiu a palavra à repórter, no que foi logo advertido pela representante do Ministério Público Federal, a procuradora Elizabeth Kobayashi. A procuradora pediu ao delegado que retirasse tal palavra do depoimento porque tratava-se de um juízo de valor dele próprio e que a repórter nunca admitira que escrevera falácias.
Embora a jornalista de VEJA estivesse depondo na condição de testemunha num inquérito sem nenhuma relação com a divulgação das fotos do dinheiro do dossiê, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre reportagem anterior, assinada por ela, que tratava do tema. O delegado exigiu, então, da repórter que revelasse quem lhe dera um CD com as fotos. A repórter se recusou a revelar sua fonte.
Durante todo o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre o que ele dizia ser uma operação de VEJA para "fabricar" notícias contra a Polícia Federal. Disse que a matéria fora preconcebida pelos editores da revista e quis saber quem fora o editor responsável pela expressão "Operação Abafa".
O delegado disse que as acusações contra o diretor-executivo da Superintendência da PF, Severino Alexandre, eram muito graves. E perguntou "Foi você quem as fez? Como vieram parar aqui?". Referindo-se à duração do depoimento, o delegado Moysés Eduardo Ferreira disse: "Se você ficou duas horas, seu chefe vai ficar quatro"
Indagada sobre sua participação na matéria, a repórter Camila Pereira disse ter-se limitado a redigir uma arte explicativa, a partir de entrevistas com advogados, sobre como a revelação da origem do dinheiro poderia ameaçar a candidatura e/ou um eventual segundo mandato do presidente Lula. O delegado perguntou quais advogados foram ouvidos. A repórter respondeu que seus nomes haviam sido publicados no próprio quadro. O delegado, então, perguntou se VEJA pagara pela colaboração dos advogados. Diante da resposta negativa, o delegado ditou para o escrevente que a repórter respondera que "normalmente a revista não paga por esse tipo de colaboração". A repórter, então, o corrigiu, dizendo que a revista nunca paga para suas fontes
Embora os repórteres de VEJA tenham sido convocados como testemunhas, o delegado Moysés Eduardo Ferreira impediu que eles se consultassem com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida. Em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente. Ele também negou aos jornalistas de VEJA o direito a cópias de suas próprias declarações, alegando que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi foi impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.
A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades. Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio. Nunca é demais lembrar: "Pior do que estar submetido à ditadura de uma minoria é estar submetido a uma ditadura da maioria."
Tudo o que eu queria dizer está resumido aqui
Há uns dias eu vinha pensando, nas poucas horas de folga, em algumas idéias para um artigo que juntasse eleições e a crítica da imprensa que alguns jornalistas governistas estão fazendo. Mesmo ganhando com 60% dos votos, eles reclamam da imprensa. Ou melhor, da Veja. Querem unanimidade; a aprovação unânime da administração do apedeuta. Tristes trópicos; aliás, bananão.
Agora, não preciso ter o trabalho de escrever mais nada. Está tudo aqui no artigo excelente de Gustavo Ioschpe. Simplesmente, perfeito.
Gustavo Ioschpe
Perversões da democracia
A função de todo sistema político é maximizar o bem-estar de seus cidadãos. A premissa da democracia é que ninguém melhor do que o próprio cidadão para julgar o que é melhor para si, e que da agregação das vontades individuais cumprir-se-á a vontade coletiva.
Nas democracias modernas, as vontades são expressas em voto e seus artífices são os eleitos. Para que o processo seja justo e atinja seus objetivos, são necessárias algumas condições. O eleitor precisa saber o que ocorre e o que cada candidato defende (informação) e precisa conseguir analisar esse conhecimento para julgar qual proposta será mais condizente à consecução de seu ideal de país (formação).
Em um país como o Brasil, em que o acesso à informação é precário e a capacidade de julgamento é prejudicada pelo baixo esclarecimento da maioria da população, três quartos dos cidadãos não são plenamente alfabetizados -a tentação de usar as limitações da democracia para solapá-la são enormes.
Em particular há duas tentações: a de sacrificar o futuro pelo presente e a de sacrificar a minoria pela maioria. Creio que o governo que acaba de ser reeleito comete ambos os abusos. Os paliativos oferecidos aos pobres são financiados por um aumento do peso do Estado, que tende a fazer com que o subdesenvolvimento perdure. Os pobres que recebem a ajuda não sabem disso, mas os governantes, sim.
Não apenas a pobreza de amanhã financia a de hoje, como se criou uma cultura de ressentimento e vilanização dos que pensam diferente. Quem aponta a nudez do rei é visto como elitista. Quem cobra a eficiência da gestão pública é tachado de privatista. Quem discorda da imposição de critérios raciais na orientação de políticas públicas é racista. Quem denuncia que o presidente bebe é expulso do país. Quem acredita que o respeito à lei e às instituições é um dever que voto nenhum pode alterar virou golpista. Os adversários políticos que não se vendem serão destruídos por dossiês criminosos.
A democracia está sendo solapada pela desqualificação do contraditório, pelo achincalhamento dos mecanismos de controle do Executivo da imprensa ao Congresso. Pão e mensalão: a receita da pax lulista.
Esse meio é seu próprio fim. O poder que corrompe é usado a serviço da manutenção do poder. Ninguém acredita que o Bolsa Família diminuirá a pobreza. É uma política sem finalidades que não a sua perpetuação. Os que crêem que o petismo morre com Lula são os que acreditaram que o mensalão decretava seu fim. As engrenagens que descosturam nossa fibra democrática estão a pleno vapor.
Assim é também porque os oposicionistas sacrificam o respeito às instituições por votos. Se continuar assim, a justiça econômica advirá da socialização da pobreza, a igualdade social virá por decreto e o processo eleitoral se transformará em mero simulacro de uma democracia que, por vontade popular entronizará a maravilha da brasilidade mantendo inalterado esse caloroso atoleiro em que nos transformamos.
Agora, não preciso ter o trabalho de escrever mais nada. Está tudo aqui no artigo excelente de Gustavo Ioschpe. Simplesmente, perfeito.
Gustavo Ioschpe
Perversões da democracia
A função de todo sistema político é maximizar o bem-estar de seus cidadãos. A premissa da democracia é que ninguém melhor do que o próprio cidadão para julgar o que é melhor para si, e que da agregação das vontades individuais cumprir-se-á a vontade coletiva.
Nas democracias modernas, as vontades são expressas em voto e seus artífices são os eleitos. Para que o processo seja justo e atinja seus objetivos, são necessárias algumas condições. O eleitor precisa saber o que ocorre e o que cada candidato defende (informação) e precisa conseguir analisar esse conhecimento para julgar qual proposta será mais condizente à consecução de seu ideal de país (formação).
Em um país como o Brasil, em que o acesso à informação é precário e a capacidade de julgamento é prejudicada pelo baixo esclarecimento da maioria da população, três quartos dos cidadãos não são plenamente alfabetizados -a tentação de usar as limitações da democracia para solapá-la são enormes.
Em particular há duas tentações: a de sacrificar o futuro pelo presente e a de sacrificar a minoria pela maioria. Creio que o governo que acaba de ser reeleito comete ambos os abusos. Os paliativos oferecidos aos pobres são financiados por um aumento do peso do Estado, que tende a fazer com que o subdesenvolvimento perdure. Os pobres que recebem a ajuda não sabem disso, mas os governantes, sim.
Não apenas a pobreza de amanhã financia a de hoje, como se criou uma cultura de ressentimento e vilanização dos que pensam diferente. Quem aponta a nudez do rei é visto como elitista. Quem cobra a eficiência da gestão pública é tachado de privatista. Quem discorda da imposição de critérios raciais na orientação de políticas públicas é racista. Quem denuncia que o presidente bebe é expulso do país. Quem acredita que o respeito à lei e às instituições é um dever que voto nenhum pode alterar virou golpista. Os adversários políticos que não se vendem serão destruídos por dossiês criminosos.
A democracia está sendo solapada pela desqualificação do contraditório, pelo achincalhamento dos mecanismos de controle do Executivo da imprensa ao Congresso. Pão e mensalão: a receita da pax lulista.
Esse meio é seu próprio fim. O poder que corrompe é usado a serviço da manutenção do poder. Ninguém acredita que o Bolsa Família diminuirá a pobreza. É uma política sem finalidades que não a sua perpetuação. Os que crêem que o petismo morre com Lula são os que acreditaram que o mensalão decretava seu fim. As engrenagens que descosturam nossa fibra democrática estão a pleno vapor.
Assim é também porque os oposicionistas sacrificam o respeito às instituições por votos. Se continuar assim, a justiça econômica advirá da socialização da pobreza, a igualdade social virá por decreto e o processo eleitoral se transformará em mero simulacro de uma democracia que, por vontade popular entronizará a maravilha da brasilidade mantendo inalterado esse caloroso atoleiro em que nos transformamos.
terça-feira, outubro 31, 2006
Nada como o espírito democrático
Vejam como são democratas os petralhas. Um absurdo!
Da Folha online:
Militantes do PT agrediram verbalmente hoje jornalistas que cobriram a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Base Aérea de Brasília. Na chegada ao Palácio do Alvorada, os militantes voltaram a xingar os jornalistas. Um deles usou o mastro da bandeira do PT para tentar bater num repórter.À tarde, após coletiva do presidente-interino do PT, Marco Aurélio Garcia, um militante voltou a xingar os jornalistas.Garcia condenou a atitude da militância. "Se houve qualquer manifestação de intolerância, tem a nossa condenação muito clara. Todos sabem que muitas vezes divergimos sobre o comportamento da imprensa. Mas nunca a ponto de negar o papel que ela tem."No entanto, ele disse que a imprensa também deveria fazer uma "auto-reflexão" sobre sua atuação durante a campanha eleitoral.
Ah, e um diretor da Fenaj teria justificado que "os jornalistas provocam"! Esta minha "catchiguria"...
Será que isso nos dá uma idéia do que nos espera nos próximos quatro anos?
Da Folha online:
Militantes do PT agrediram verbalmente hoje jornalistas que cobriram a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Base Aérea de Brasília. Na chegada ao Palácio do Alvorada, os militantes voltaram a xingar os jornalistas. Um deles usou o mastro da bandeira do PT para tentar bater num repórter.À tarde, após coletiva do presidente-interino do PT, Marco Aurélio Garcia, um militante voltou a xingar os jornalistas.Garcia condenou a atitude da militância. "Se houve qualquer manifestação de intolerância, tem a nossa condenação muito clara. Todos sabem que muitas vezes divergimos sobre o comportamento da imprensa. Mas nunca a ponto de negar o papel que ela tem."No entanto, ele disse que a imprensa também deveria fazer uma "auto-reflexão" sobre sua atuação durante a campanha eleitoral.
Ah, e um diretor da Fenaj teria justificado que "os jornalistas provocam"! Esta minha "catchiguria"...
Será que isso nos dá uma idéia do que nos espera nos próximos quatro anos?
sábado, outubro 28, 2006
Lula desmascarado
Pronto; está aqui. Mais um mito do governo Lula cai por terra. Apesar de alardear que "nuncaantesneztepaiz" se investiu tanto no social, o professor Marcio Pochmann, da Unicamp, mostra que os gastos sociais de Lula são inferiores aos de FHC! O Marcio, com quem tive o prazer de trabalhar, faz diferença entre gasto social e gasto com assistência social. Para nós, leigos, é tudo a mesma coisa, mas para um profissional sério como ele, não.
Marcio é o tipo de pessoa de quem você até pode discordar, mas a quem nunca poderá acusar de falsear a realidade. Como secretário, foi a reserva moral do governo de Marta Suplicy, em São Paulo. Grande Marcio!
Marcio é o tipo de pessoa de quem você até pode discordar, mas a quem nunca poderá acusar de falsear a realidade. Como secretário, foi a reserva moral do governo de Marta Suplicy, em São Paulo. Grande Marcio!
quarta-feira, outubro 25, 2006
E agora?
E falando em racismo... a foto ao lado (da EFE) põe por terra a estultice de que a cor da pele da gente denota raças diferentes. Tão diferentes que nasceram dois gêmeos, um negro e outro branco. Ambos muito fofos, né não?
Resta dizer, meu caros, que a idiotice não tem cor, não. Há idiotas brancos, negros, amarelos, vermelhos, rosas com bolinhas verdes... O que parece claro é que ONGs e outros picaretas se esmeram em disseminar a cizânia. Afinal, se não for assim, vão perder a razão de existir.
Conseguiram
Pronto. Eles conseguiram. Vejam no que dá esta história de cotas que levam em conta a cor da pele das pessoas. Um bando de idiotas se acha no direito de xingar os negros porque estariam tomando seus lugares nas escolas. Tanto os idiotas negros quanto os brancos incorrem no mesmo erro: o conceito de "raça" não se sustenta cientificamente. Somos todos iguais, portanto, como já declara nossa Constituição.
Da Folha de hoje:
KLEBER TOMAZDA
REPORTAGEM LOCAL
Três homens foram presos na madrugada de ontem colando panfletos racistas com críticas ao programa de cotas de vagas para afrodescendentes nas universidades públicas. O grupo foi flagrado com o material nas imediações da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, próximo a uma universidade.
Os três foram indiciados sob a acusação de crime de racismo - incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional. O crime é inafiançável e a pena é de 1 a 3 anos de prisão.
Os cartazes, que foram impressos do site do grupo White Power (Poder Branco) São Paulo, diziam: "Vestibulando branco. Hoje eles roubam sua vaga nas universidades públicas. E chamam isso de direitos iguais. Se você não agir agora, quem nos garante que eles não roubarão vagas nos concursos públicos? Devemos assegurar a existência de nossa raça e futuro de nossas crianças brancas". Também simula uma prova de vestibular feita por um negro com respostas com erros grosseiros e o carimbo de "aprovado".
O White Power São Paulo, que é investigado pelo Ministério Público desde 2004, se diz "nacional-socialista", prega a valorização da raça branca, a intolerância contra negros, judeus, nordestinos, imigrantes ilegais e homossexuais.
Os presos são: o autônomo Rogerio Costa Andrade, 27, o designer Eduardo Brandão Jarussi, 26, e o vendedor Emerson de Almeida Chieri, 34. À polícia, eles disseram que não são racistas. À Folha, disseram que têm o direito de expressar sua opinião (leia texto ao lado).
"O White Power é nazi-racista e está se organizando. Já foi denunciado por panfletagem pregando ódio contra negros e judeus no ABC há três meses", afirmou ontem Dojival Vieira dos Santos, da Afropress -Agência Afroétnica de Notícias. Segundo ele, o White Power se considera mais "ideológico do que os Skinheads [Cabeças Raspadas]", conhecidos pelas ações violentas.
A página do White Power SP na internet contém diversos artigos que enaltecem o nazismo. Ensina até "como divulgar a propaganda pró-branco", dá dicas de como colar os panfletos e até recomenda que os mesmos sejam afixados, entre 23h e 4h.
Segundo a polícia, os acusados, que são todos brancos, foram presos por volta da 0h35 de ontem. Dois têm a cabeça raspada: Andrade, que segundo a polícia possui tatuagens do grupo White Power e Skinhead, do qual teria sido membro atuante, e o designer Jarussi.
Já o vendedor Almeida Chieri, também indicado, já teve passagens na polícia por roubo, furto e posse de droga. "Não sabia que os cartazes tinham esse conteúdo. Pensei que se tratavam só de críticas as cotas para negros", disse ele à polícia.Chieri ainda alegou que tem dois filhos afrodescendentes com sua ex-mulher.
Os três foram transferidos para o CDP (Centro de Detenção Provisória) Independência, na capital.Eles já teriam afixado 20 dos 261 cartazes de cunho racista quando foram surpreendidos pela PM na esquina das avenidas Lins de Vasconcelos com a professor Noe Azevedo, nas proximidades da faculdade Unip e Metrô Vila Mariana.
Caso fique provado que os três ainda são responsáveis pela autoria do conteúdo dos cartazes, a pena pode aumentar para de 2 a 5 anos. Segundo a versão da polícia, Chieri estava com um soco inglês e um cartaz. Andrade segurava um tubo de cola e um rolo para pintar. Jarussi ficou dentro de um carro com cartazes.
O delegado-assistente Rui Diogo da Silva, do 36º DP, do Paraíso, onde foi feita a ocorrência, investiga a possibilidade de mais pessoas estarem envolvidas com os três acusados."Eles são contra a cota para negros e não se dizem racistas, mas a conduta prova o contrário. Menospreza a capacidade intelectual da raça negra", disse o delegado, que é afrodescendente e contrário às cotas raciais. "Acho que as cotas devem ser para alunos das escolas públicas, brancos ou negros."
Da Folha de hoje:
KLEBER TOMAZDA
REPORTAGEM LOCAL
Três homens foram presos na madrugada de ontem colando panfletos racistas com críticas ao programa de cotas de vagas para afrodescendentes nas universidades públicas. O grupo foi flagrado com o material nas imediações da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, próximo a uma universidade.
Os três foram indiciados sob a acusação de crime de racismo - incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional. O crime é inafiançável e a pena é de 1 a 3 anos de prisão.
Os cartazes, que foram impressos do site do grupo White Power (Poder Branco) São Paulo, diziam: "Vestibulando branco. Hoje eles roubam sua vaga nas universidades públicas. E chamam isso de direitos iguais. Se você não agir agora, quem nos garante que eles não roubarão vagas nos concursos públicos? Devemos assegurar a existência de nossa raça e futuro de nossas crianças brancas". Também simula uma prova de vestibular feita por um negro com respostas com erros grosseiros e o carimbo de "aprovado".
O White Power São Paulo, que é investigado pelo Ministério Público desde 2004, se diz "nacional-socialista", prega a valorização da raça branca, a intolerância contra negros, judeus, nordestinos, imigrantes ilegais e homossexuais.
Os presos são: o autônomo Rogerio Costa Andrade, 27, o designer Eduardo Brandão Jarussi, 26, e o vendedor Emerson de Almeida Chieri, 34. À polícia, eles disseram que não são racistas. À Folha, disseram que têm o direito de expressar sua opinião (leia texto ao lado).
"O White Power é nazi-racista e está se organizando. Já foi denunciado por panfletagem pregando ódio contra negros e judeus no ABC há três meses", afirmou ontem Dojival Vieira dos Santos, da Afropress -Agência Afroétnica de Notícias. Segundo ele, o White Power se considera mais "ideológico do que os Skinheads [Cabeças Raspadas]", conhecidos pelas ações violentas.
A página do White Power SP na internet contém diversos artigos que enaltecem o nazismo. Ensina até "como divulgar a propaganda pró-branco", dá dicas de como colar os panfletos e até recomenda que os mesmos sejam afixados, entre 23h e 4h.
Segundo a polícia, os acusados, que são todos brancos, foram presos por volta da 0h35 de ontem. Dois têm a cabeça raspada: Andrade, que segundo a polícia possui tatuagens do grupo White Power e Skinhead, do qual teria sido membro atuante, e o designer Jarussi.
Já o vendedor Almeida Chieri, também indicado, já teve passagens na polícia por roubo, furto e posse de droga. "Não sabia que os cartazes tinham esse conteúdo. Pensei que se tratavam só de críticas as cotas para negros", disse ele à polícia.Chieri ainda alegou que tem dois filhos afrodescendentes com sua ex-mulher.
Os três foram transferidos para o CDP (Centro de Detenção Provisória) Independência, na capital.Eles já teriam afixado 20 dos 261 cartazes de cunho racista quando foram surpreendidos pela PM na esquina das avenidas Lins de Vasconcelos com a professor Noe Azevedo, nas proximidades da faculdade Unip e Metrô Vila Mariana.
Caso fique provado que os três ainda são responsáveis pela autoria do conteúdo dos cartazes, a pena pode aumentar para de 2 a 5 anos. Segundo a versão da polícia, Chieri estava com um soco inglês e um cartaz. Andrade segurava um tubo de cola e um rolo para pintar. Jarussi ficou dentro de um carro com cartazes.
O delegado-assistente Rui Diogo da Silva, do 36º DP, do Paraíso, onde foi feita a ocorrência, investiga a possibilidade de mais pessoas estarem envolvidas com os três acusados."Eles são contra a cota para negros e não se dizem racistas, mas a conduta prova o contrário. Menospreza a capacidade intelectual da raça negra", disse o delegado, que é afrodescendente e contrário às cotas raciais. "Acho que as cotas devem ser para alunos das escolas públicas, brancos ou negros."
sábado, outubro 21, 2006
Jornalismo oficial
A respeito da polêmica sobre a divulgação das fotos da dinheirama do dossiêgate, tenho lido muitos coleguinhas (entre eles, gente boa) criticar com veemência a postura dos jornais e TVs que as publicaram. Para mim, alguns textos não passam de defesa do governo travestida de crítica da imprensa. A discussão está toda lá no Observatório da Imprensa.
Surrupiei do blog do meu amigo Marcelo Soares alguns trechos com os quais concordo integralmente.
"Ilimar Franco (O Globo), em seu blog:
"Eu publicaria a foto do dinheiro. É de interesse jornalístico, ponto. Protegeria e ocultaria minha fonte. É assim que funciona a apuração jornalística. Se um jornalista disser para você o contrário pode ter certeza que estás diante de um mentiroso. A tentativa de criminalizar a apuração jornalística é um erro grave. Tem muita gente boa fazendo isso sem pensar nas consequências para o nosso árduo trabalho diário. É o seguinte: os jornalistas que conseguiram as fotos não revelaram a fonte. Tentaram proteger a fonte. Deviam tê-lo feito? Sim. Deviam fazer como a reportagem de Carta Capital, que conta uma história sem citar uma única fonte sequer. O mesmo método dos três delegados da PF da Veja, no governo Lula, ou das quatro fontes do mercado sobre corrupção no Banco Central, no governo Fernando Henrique. É assim mesmo. São histórias sensacionais, que denigrem instituições e lançam suspeitas sobre pessoas, diretorias ou corporações inteiras, mas sem um único patriota disposto a denunciar publicamente."
Paulo Moreira Leite (Estadão), em seu blog:
"Acho errado todo esforço para mudar de assunto no meio da investigação sobre a operação tabajara. A operação envolve uma ação condenável de manipulação eleitoral, que deve ser investigada a fundo. Todo esforço para demonstrar que o PT foi vítima de uma conspiração adversária perde o sentido quando se recorda que petistas de primeiro escalão montaram a operação suicida, que impediu a vitória de Lula no primeiro turno. Ou seja: mesmo que se demonstre que o lance original da operação tabajara tenha sido dado por um cérebro ligado ao PSDB, a CIA ou a quem quer seu seja, o máximo que essa informação revela diz respeito à qualificação e ao vergonhoso despreparo de determinados auxiliares de confiança Lula. Pode-se dar muitas voltas, mas a responsabilidade sempre retornará a este círculo. Outra coisa é o papel do delegado Edmilson Bruno. Não acho que caiba a um funcionário público esconder uma informação relevante da população. Sempre fui a favor da divulgação das fotos do dinheiro, porque essa é uma tradição do jornalismo brasileiro, seja em casos de apreensões de tijolos de maconha, de sacos de cocaína, de armas contrabandeadas. Não vejo por que mudar de hábitos quando eles iriam prejudicar o governo. Isso seria manipulação. Acho que também é manipulação um delegado definir quando essa informação será divulgada – em prazos que têm uma ligação direta com a votação para presidente da república."
Ali Kamel (TV Globo), no Observatório da Imprensa:
"Agiram mal a TV Globo e toda a imprensa ao divulgar as fotos? De maneira alguma, elas eram de extremo interesse público. Agiu mal a TV Globo ao preservar a fonte? Também não, porque ao mesmo tempo em que preservou a fonte, não fez, em nenhum momento, o que ela pediu: alegar que os CDs haviam sido furtados. Desde o primeiro instante a TV Globo disse a seus telespectadores que conseguira os CDs de uma fonte graduada da Polícia Federal, com isso deixando claro que se tratava de alguém da hierarquia da polícia. Em nenhum momento dissemos que os CDs por nós obtidos eram fruto de furto ou roubo. O que mais impressiona é a parte da reportagem em que se destaca a frase do delegado: "Tem de sair hoje à noite na TV. Tem de sair no Jornal Nacional". Trata-se de um caso de omissão cujo objetivo pode ter sido dar a entender que a intenção do delegado era vazar as fotos prioritariamente para a TV Globo. Nada mais falso. Conversando com quatro jornalistas, nenhum deles da TV Globo, o delegado, a certa altura, pergunta para qual televisão ele deve divulgar, alegando que precisa que as fotos saiam numa TV. Os repórteres, nenhum deles da TV Globo, sugerem a Globo e o SBT. O delegado pergunta então se há alguém da Globo nas proximidades, e os repórteres apontam para Rodrigo Bocardi, repórter do Jornal Nacional, que estava de plantão na Polícia Federal. Outro repórter do grupo acrescenta que também está na PF um repórter da TV Bandeirantes, a quem classifica de gente finíssima. O delegado alega que não tem CDs para todos, mas os repórteres asseguram a ele que tirarão cópias e farão a distribuição aos repórteres de TV."
Surrupiei do blog do meu amigo Marcelo Soares alguns trechos com os quais concordo integralmente.
"Ilimar Franco (O Globo), em seu blog:
"Eu publicaria a foto do dinheiro. É de interesse jornalístico, ponto. Protegeria e ocultaria minha fonte. É assim que funciona a apuração jornalística. Se um jornalista disser para você o contrário pode ter certeza que estás diante de um mentiroso. A tentativa de criminalizar a apuração jornalística é um erro grave. Tem muita gente boa fazendo isso sem pensar nas consequências para o nosso árduo trabalho diário. É o seguinte: os jornalistas que conseguiram as fotos não revelaram a fonte. Tentaram proteger a fonte. Deviam tê-lo feito? Sim. Deviam fazer como a reportagem de Carta Capital, que conta uma história sem citar uma única fonte sequer. O mesmo método dos três delegados da PF da Veja, no governo Lula, ou das quatro fontes do mercado sobre corrupção no Banco Central, no governo Fernando Henrique. É assim mesmo. São histórias sensacionais, que denigrem instituições e lançam suspeitas sobre pessoas, diretorias ou corporações inteiras, mas sem um único patriota disposto a denunciar publicamente."
Paulo Moreira Leite (Estadão), em seu blog:
"Acho errado todo esforço para mudar de assunto no meio da investigação sobre a operação tabajara. A operação envolve uma ação condenável de manipulação eleitoral, que deve ser investigada a fundo. Todo esforço para demonstrar que o PT foi vítima de uma conspiração adversária perde o sentido quando se recorda que petistas de primeiro escalão montaram a operação suicida, que impediu a vitória de Lula no primeiro turno. Ou seja: mesmo que se demonstre que o lance original da operação tabajara tenha sido dado por um cérebro ligado ao PSDB, a CIA ou a quem quer seu seja, o máximo que essa informação revela diz respeito à qualificação e ao vergonhoso despreparo de determinados auxiliares de confiança Lula. Pode-se dar muitas voltas, mas a responsabilidade sempre retornará a este círculo. Outra coisa é o papel do delegado Edmilson Bruno. Não acho que caiba a um funcionário público esconder uma informação relevante da população. Sempre fui a favor da divulgação das fotos do dinheiro, porque essa é uma tradição do jornalismo brasileiro, seja em casos de apreensões de tijolos de maconha, de sacos de cocaína, de armas contrabandeadas. Não vejo por que mudar de hábitos quando eles iriam prejudicar o governo. Isso seria manipulação. Acho que também é manipulação um delegado definir quando essa informação será divulgada – em prazos que têm uma ligação direta com a votação para presidente da república."
Ali Kamel (TV Globo), no Observatório da Imprensa:
"Agiram mal a TV Globo e toda a imprensa ao divulgar as fotos? De maneira alguma, elas eram de extremo interesse público. Agiu mal a TV Globo ao preservar a fonte? Também não, porque ao mesmo tempo em que preservou a fonte, não fez, em nenhum momento, o que ela pediu: alegar que os CDs haviam sido furtados. Desde o primeiro instante a TV Globo disse a seus telespectadores que conseguira os CDs de uma fonte graduada da Polícia Federal, com isso deixando claro que se tratava de alguém da hierarquia da polícia. Em nenhum momento dissemos que os CDs por nós obtidos eram fruto de furto ou roubo. O que mais impressiona é a parte da reportagem em que se destaca a frase do delegado: "Tem de sair hoje à noite na TV. Tem de sair no Jornal Nacional". Trata-se de um caso de omissão cujo objetivo pode ter sido dar a entender que a intenção do delegado era vazar as fotos prioritariamente para a TV Globo. Nada mais falso. Conversando com quatro jornalistas, nenhum deles da TV Globo, o delegado, a certa altura, pergunta para qual televisão ele deve divulgar, alegando que precisa que as fotos saiam numa TV. Os repórteres, nenhum deles da TV Globo, sugerem a Globo e o SBT. O delegado pergunta então se há alguém da Globo nas proximidades, e os repórteres apontam para Rodrigo Bocardi, repórter do Jornal Nacional, que estava de plantão na Polícia Federal. Outro repórter do grupo acrescenta que também está na PF um repórter da TV Bandeirantes, a quem classifica de gente finíssima. O delegado alega que não tem CDs para todos, mas os repórteres asseguram a ele que tirarão cópias e farão a distribuição aos repórteres de TV."
sexta-feira, outubro 20, 2006
Darwin on line
Já está na internet a maior parte dos trabalhos do naturalista inglês Charles Darwin, o criador da Teoria da Evolução - assim mesmo, com caixa alta.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Recado
Cristovam foi tímido, mas deu o recado.
Da FSP de hoje:
MEDO: CRISTOVAM DIZ QUE TEME NOVO MANDATO PARA PT
Mesmo com a recomendação do PDT para não revelar seu voto, o senador Cristovam Buarque disse ontem que tem medo de um segundo mandato do presidente Lula: "Eu temo mais quatro anos do governo que mistura partido, governo e Estado". Na reunião do PDT, Cristovam defendeu a candidatura Alckmin como oportunidade de alternância de poder.
PS. O fato é que o PDT está parecendo o PMDB: é um partido em cada estado. Lá em cima, tem um governador apoiando o Lula; em São Paulo, apóia o Alckmin...
Da FSP de hoje:
MEDO: CRISTOVAM DIZ QUE TEME NOVO MANDATO PARA PT
Mesmo com a recomendação do PDT para não revelar seu voto, o senador Cristovam Buarque disse ontem que tem medo de um segundo mandato do presidente Lula: "Eu temo mais quatro anos do governo que mistura partido, governo e Estado". Na reunião do PDT, Cristovam defendeu a candidatura Alckmin como oportunidade de alternância de poder.
PS. O fato é que o PDT está parecendo o PMDB: é um partido em cada estado. Lá em cima, tem um governador apoiando o Lula; em São Paulo, apóia o Alckmin...
Golpe baixo
O PT continua com o mote de que o Alckmin privatizaria tudo o que pudesse, se fosse eleito. Eu não vejo grandes problemas nisso, não. Pelo contrário, acho até que tem coisa pra privatizar, sim, como o Aerolula. Mas as pesquisas indicam que a choldra não gosta de privatização, que o populacho repele essa idéia. Então, dá-lhe acusar o Alckmin de mascate do século XXI (melhor escrever em arábicos porque o Lula não lê algarismos romanos).
Eu sugiro à modorrenta campanha de Alckmin que parta para o ataque, ora essa. Poderia ser dito, por exemplo, que o presidente poderá fechar o Congresso e dar um golpe de Estado, caso seja reeleito. Afinal, ele mesmo confidenciou que o "diabo" o tem atentado a fazer isso.
Pensando bem, não sei se teria efeito positivo pro Alckmin. Vai que a tigrada gosta da idéia de termos outro ditadorzinho e isso impulsione ainda mais a candidatura do Noço Guia.
Eu sugiro à modorrenta campanha de Alckmin que parta para o ataque, ora essa. Poderia ser dito, por exemplo, que o presidente poderá fechar o Congresso e dar um golpe de Estado, caso seja reeleito. Afinal, ele mesmo confidenciou que o "diabo" o tem atentado a fazer isso.
Pensando bem, não sei se teria efeito positivo pro Alckmin. Vai que a tigrada gosta da idéia de termos outro ditadorzinho e isso impulsione ainda mais a candidatura do Noço Guia.
sábado, outubro 14, 2006
Music
Let the music play
I just wanna dance the night away
Here, right here, right here is where I’m gonna stay
All night long, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, wee
Let the music play on
Just until I feel this misery is gone
Movin? kickin? groovin? keep the music strong
On and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on
I just wanna dance the night away
Here, right here, right here is where I’m gonna stay
All night long, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, wee
Let the music play on
Just until I feel this misery is gone
Movin? kickin? groovin? keep the music strong
On and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on and on
quinta-feira, outubro 12, 2006
Bando
Os petralhas não dão folga na internet. Dêem uma espiada na nota "O spin doctor aloprado", do blog Deu no Jornal, do meu amigo Marcelo Soares.
Estes caras são malucos messiânicos. Um bando de vagabundos que não têm mais o que fazer a não ser infernizar a vida de quem trabalha. Vão trabalhar, petralhas! Vão pegar num cabo de enxada, bando de desocupados! Devem estar sendo pagos com dinheiro público, sem dúvida. Dinheiro das ongs mantidas pelo governo, como a do chuveirão Lorenzetti, que afanou R$ 18 milhões no desgoverno Lula.
Mais quatro anos desta gente lá em cima vai ser duro de agüentar. Ainda bem que já estou arrumando a papelada pra pular fora deste "acampamento", como diz o Tambosi.
Estes caras são malucos messiânicos. Um bando de vagabundos que não têm mais o que fazer a não ser infernizar a vida de quem trabalha. Vão trabalhar, petralhas! Vão pegar num cabo de enxada, bando de desocupados! Devem estar sendo pagos com dinheiro público, sem dúvida. Dinheiro das ongs mantidas pelo governo, como a do chuveirão Lorenzetti, que afanou R$ 18 milhões no desgoverno Lula.
Mais quatro anos desta gente lá em cima vai ser duro de agüentar. Ainda bem que já estou arrumando a papelada pra pular fora deste "acampamento", como diz o Tambosi.
Começa assim
Estudantes do Piauí que apóiam a candidatura do Noço Guia fizeram queimaram a revista Veja em praça pública, alegando que ela faz campanha sistemática contra o governo. Os moleques dizem que defendem a liberdade de imprensa, mas que Veja estaria sendo parcial.
Ora, ora, parcial. E daí? Onde é que está dito que uma revista ou um jornal não podem ser parciais? Os moleques certamente não conhecem a legislação. Jornais e revistas não são concessão de serviço público, como rádios e TVs; por isso, podem adotar a linha editorial que melhor lhes couber.
Veja nunca escondeu sua antipatia por Lula, assim como CartaCapital não esconde a simpatia. Estamos numa democracia, ora pois. Mas os moleques não sabem o que isso significa.
Em um certo país europeu, lá pela década de 40, os fanáticos também queimaram livros e revistas em praça pública; e a democracia foi assada. Mais tarde, as fogueiras continuaram, não queimando papel, mas gente.
Exagero meu? Pode ser, mas que o espírito "democrático" deste povo messiânico causa arrepios, ah isso causa!
Ora, ora, parcial. E daí? Onde é que está dito que uma revista ou um jornal não podem ser parciais? Os moleques certamente não conhecem a legislação. Jornais e revistas não são concessão de serviço público, como rádios e TVs; por isso, podem adotar a linha editorial que melhor lhes couber.
Veja nunca escondeu sua antipatia por Lula, assim como CartaCapital não esconde a simpatia. Estamos numa democracia, ora pois. Mas os moleques não sabem o que isso significa.
Em um certo país europeu, lá pela década de 40, os fanáticos também queimaram livros e revistas em praça pública; e a democracia foi assada. Mais tarde, as fogueiras continuaram, não queimando papel, mas gente.
Exagero meu? Pode ser, mas que o espírito "democrático" deste povo messiânico causa arrepios, ah isso causa!
quarta-feira, outubro 11, 2006
Ele mente, pra variar
Veja quem é que está mentindo, mesmo, sobre os cortes de gastos públicos no próximo governo.
Lula diz que Alckmin vai cortar, mas o ministro dele o desmente.
Da Folha de S. Paulo de hoje:
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto a campanha do PT ataca a proposta de ajuste fiscal do oponente tucano, Geraldo Alckmin, o governo Luiz Inácio Lula da Silva estuda a ampliação do mecanismo que permite à União cortar gastos sociais impostos pela Constituição.
A medida foi defendida ontem pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento), do PT, com argumentos idênticos aos do programa do PSDB: a redução das despesas federais abrirá espaço para a queda da carga tributária e dos juros, além da ampliação dos investimentos.
"Precisamos dar alguns sinais claros na área fiscal aos agentes econômicos, para alavancar de vez nosso crescimento econômico", disse o ministro após audiência na Comissão de Orçamento. Com a ressalva de que só falava em nome de seu ministério, e não do governo, Bernardo propôs a ampliação da DRU (Desvinculação de Receita da União), a regra que hoje permite ao governo federal gastar livremente 20% de suas receitas: o percentual subiria gradualmente até 25% ou 30%.
Além da DRU, Bernardo defendeu a prorrogação da CPMF, o outro instrumento provisório que expirará no próximo ano. Para o tributo, porém, a proposta é torná-lo permanente, com uma redução gradual ao longo de dez ou 15 anos, de forma que a alíquota caia de 0,38% até 0,08%.
Criada em 1993 como parte do Plano Real e em vigor desde 1994, a DRU é usada para driblar as principais imposições constitucionais de gastos, caso do direcionamento de 18% da arrecadação de impostos à educação e de 100% da receita das contribuições sociais à seguridade. Com a DRU, esses percentuais incidem sobre uma base 20% menor. O PT, que combateu a DRU na oposição, rendeu-se a ela ao chegar ao poder. Em 2003, prorrogou a regra até o final de 2007. Naquela época, a ampliação da DRU foi cogitada, mas não vingou devido à reação da bancada petista.
As idéias de Bernardo retomam uma agenda intensamente debatida pelo governo Lula no ano passado e consensual entre os economistas de pensamento ortodoxo, que inspiram o programa de Alckmin. Apoiada pelo ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), a proposta de um programa fiscal de longo prazo foi bombardeada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e prejudicada pela chegada do ano eleitoral. Mas nunca deixou a pauta das discussões reservadas do governo.
Com o segundo turno, o tema se tornou pretexto para ataques à candidatura tucana, cujo programa é explícito ao pregar a necessidade de redução de despesas -apesar de negar o corte de gastos sociais. Anteontem, a campanha de Lula divulgou documento afirmando que o ajuste fiscal de Alckmin irá "reduzir os benefícios conquistados pelos idosos", "interromper o processo de redução da pobreza e da desigualdade" e "provocar uma séria recessão".
O texto comentava declarações atribuídas ao economista Yoshiaki Nakano, ligado ao tucano, segundo as quais seria possível cortar despesas em cerca de 3% do PIB, algo como R$ 65 bilhões, a partir do primeiro ano de governo. "Deve ser um mal-entendido. Nakano é uma pessoa da mais alta qualificação e sabe que isso não é possível", disse Bernardo.
Lula diz que Alckmin vai cortar, mas o ministro dele o desmente.
Da Folha de S. Paulo de hoje:
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto a campanha do PT ataca a proposta de ajuste fiscal do oponente tucano, Geraldo Alckmin, o governo Luiz Inácio Lula da Silva estuda a ampliação do mecanismo que permite à União cortar gastos sociais impostos pela Constituição.
A medida foi defendida ontem pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento), do PT, com argumentos idênticos aos do programa do PSDB: a redução das despesas federais abrirá espaço para a queda da carga tributária e dos juros, além da ampliação dos investimentos.
"Precisamos dar alguns sinais claros na área fiscal aos agentes econômicos, para alavancar de vez nosso crescimento econômico", disse o ministro após audiência na Comissão de Orçamento. Com a ressalva de que só falava em nome de seu ministério, e não do governo, Bernardo propôs a ampliação da DRU (Desvinculação de Receita da União), a regra que hoje permite ao governo federal gastar livremente 20% de suas receitas: o percentual subiria gradualmente até 25% ou 30%.
Além da DRU, Bernardo defendeu a prorrogação da CPMF, o outro instrumento provisório que expirará no próximo ano. Para o tributo, porém, a proposta é torná-lo permanente, com uma redução gradual ao longo de dez ou 15 anos, de forma que a alíquota caia de 0,38% até 0,08%.
Criada em 1993 como parte do Plano Real e em vigor desde 1994, a DRU é usada para driblar as principais imposições constitucionais de gastos, caso do direcionamento de 18% da arrecadação de impostos à educação e de 100% da receita das contribuições sociais à seguridade. Com a DRU, esses percentuais incidem sobre uma base 20% menor. O PT, que combateu a DRU na oposição, rendeu-se a ela ao chegar ao poder. Em 2003, prorrogou a regra até o final de 2007. Naquela época, a ampliação da DRU foi cogitada, mas não vingou devido à reação da bancada petista.
As idéias de Bernardo retomam uma agenda intensamente debatida pelo governo Lula no ano passado e consensual entre os economistas de pensamento ortodoxo, que inspiram o programa de Alckmin. Apoiada pelo ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), a proposta de um programa fiscal de longo prazo foi bombardeada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e prejudicada pela chegada do ano eleitoral. Mas nunca deixou a pauta das discussões reservadas do governo.
Com o segundo turno, o tema se tornou pretexto para ataques à candidatura tucana, cujo programa é explícito ao pregar a necessidade de redução de despesas -apesar de negar o corte de gastos sociais. Anteontem, a campanha de Lula divulgou documento afirmando que o ajuste fiscal de Alckmin irá "reduzir os benefícios conquistados pelos idosos", "interromper o processo de redução da pobreza e da desigualdade" e "provocar uma séria recessão".
O texto comentava declarações atribuídas ao economista Yoshiaki Nakano, ligado ao tucano, segundo as quais seria possível cortar despesas em cerca de 3% do PIB, algo como R$ 65 bilhões, a partir do primeiro ano de governo. "Deve ser um mal-entendido. Nakano é uma pessoa da mais alta qualificação e sabe que isso não é possível", disse Bernardo.
Pela culatra?
A estratégia era arriscada, mas Alckmin não tinha muita alternativa para o debate a não ser a que adotou. Mas parece que o eleitorado não gostou muito. Caiu três pontos na pesquisa do Datafolha e a distância para o Noço Guia aumentou para 11 pontos. Os eleitores não viram o debate como tendo sido uma surra de Alckmin em Lula, como muitos acharam (inclusive eu).
Para ajudar a entender como pensa o eleitor, sugiro o artigo "Estupidez moralista", do Cláudio Weber Abramo, no blog A Coisa Aqui Tá Preta - com o qual não concordo integralmente. Abramo defende que não se pode concluir que o povo brasileiro é tolerante com a corrupção só porque Lula se mantém à frente nas intenções de voto, mesmo com tantas denúncias.
Argumenta que ninguém toma decisões apenas com base em fatores morais. Os fatores materiais podem se sobrepor aos morais, no caso dos que recebem os caraminguás do Bolsa Família. Prova disso é que lá no Nordeste o Noço Guia chegou a ter 70% dos votos em algumas regiões.
Concordo com a avaliação: é claro que quem passou a ganhar 50 ou 100 reais agora tem tudo para votar em Lula, mas lastimo que as decisões estejam sendo tomadas com o estômago. Assim que o dinheiro deixar de ser pago, Lula passará a ser odiado. Ou será pago para sempre? Como diz o professor Tambosi, o PT está tomando o lugar dos coronelões nos cafundós do Brasil.
Abramo diz que é moralismo, ou pensamento pequeno-burguês, pensar que o cidadão morto de fome deva colocar os preceitos morais antes dos materiais. Pode estar certo, mas isso é um sinal de que estamos perdidos: o partido que prometia mudar "este país" age mesmo como os coronelões. O objetivo é ter o voto dos pobres.
Para ajudar a entender como pensa o eleitor, sugiro o artigo "Estupidez moralista", do Cláudio Weber Abramo, no blog A Coisa Aqui Tá Preta - com o qual não concordo integralmente. Abramo defende que não se pode concluir que o povo brasileiro é tolerante com a corrupção só porque Lula se mantém à frente nas intenções de voto, mesmo com tantas denúncias.
Argumenta que ninguém toma decisões apenas com base em fatores morais. Os fatores materiais podem se sobrepor aos morais, no caso dos que recebem os caraminguás do Bolsa Família. Prova disso é que lá no Nordeste o Noço Guia chegou a ter 70% dos votos em algumas regiões.
Concordo com a avaliação: é claro que quem passou a ganhar 50 ou 100 reais agora tem tudo para votar em Lula, mas lastimo que as decisões estejam sendo tomadas com o estômago. Assim que o dinheiro deixar de ser pago, Lula passará a ser odiado. Ou será pago para sempre? Como diz o professor Tambosi, o PT está tomando o lugar dos coronelões nos cafundós do Brasil.
Abramo diz que é moralismo, ou pensamento pequeno-burguês, pensar que o cidadão morto de fome deva colocar os preceitos morais antes dos materiais. Pode estar certo, mas isso é um sinal de que estamos perdidos: o partido que prometia mudar "este país" age mesmo como os coronelões. O objetivo é ter o voto dos pobres.
Link novo
Há um link novo na lista aí ao lado. É o excelente blog do economista Cláudio Shikida, De Gustibus Non Est Disputandum. Aproveitem.
terça-feira, outubro 10, 2006
Nobel vai para Phelps
O americano Edmund Phelps ganhou o prêmio Nobel de Economia deste ano por sua contribuição no estudo da relação entre inflação e desemprego. Foi um dos que primeiro criticaram a ainda hoje famosa curva de Phillips, de A. W. Phillips. A curva de Phillips sugeria que o custo de reduzir a inflação era o aumento do desemprego - e vice-versa.
Aproveite para dar uma espiada na página do prêmio e conferir os ganhadores das outras categorias.
Em tempo: o prêmio de Economia, na verdade, não é um Nobel original. Alfred Nobel não o instituiu, assim como também não criou um de matemática. O prêmio de Economia é "em memória" de Alfred Nobel.
Um exemplo
O velhinho simpático aí ao lado é José Mindlin, empresário e bibliófilo. Acaba de ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Não é exatamente um escrito, mas seu amor pelos livros é comovente e exemplar. Tem a maior biblioteca pessoal da América Latina - doada para a USP. Pena que vai ter que aturar como colegas coronelões medíocres como Sarney.
Eu mereço
Bem-feito pra mim; quem mandou assistir a televisão numa noite de segunda-feira?
Pra fechar com chave de ouro minha madrugada, assisti a uma das piores entrevistas de que já tive notícia: Jô Soares falando com o físico pop Marcelo Gleiser. Não que ele não tivesse nada a falar; pelo contrário. O gordo é que fez uma miscelânea: ora falava do livro, ora saía rapidamente para outro assunto que não tinha nada a ver. Parecia conversa de louco. Misturou tudo, caiu no lugar-comum e resvalou para a superstição. Até de disco voador o cara falou, imaginem vocês! O Gleiser não conseguia disfarçar o constrangimento.
O gordo metido a intelectual, considerado um dos homens mais inteligentes "deste país" (como diria outra sumidade), disparou uma sandice após a outra. Um fiasco! Nem a produção do programa, que o salva na maioria das entrevistas, deu jeito. Confundiu física quântica com teoria da relatividade, Stephen Hawking com Planck; não tinha noção nenhuma de que século viveu Ptolomeu, entre outras barbaridades.
Mas a maior delas foi dizer que Aristóteles "quase" acertou que a Terra era o centro do universo, mesmo depois de o Gleiser ter mostrado a teoria da cebola. O que um autor não precisa fazer para vender mais livros no Brasil, não?!
Várias vezes ameacei sair do sofá, mas resisti bravamente. Agora chega; vou dormir.
Pra fechar com chave de ouro minha madrugada, assisti a uma das piores entrevistas de que já tive notícia: Jô Soares falando com o físico pop Marcelo Gleiser. Não que ele não tivesse nada a falar; pelo contrário. O gordo é que fez uma miscelânea: ora falava do livro, ora saía rapidamente para outro assunto que não tinha nada a ver. Parecia conversa de louco. Misturou tudo, caiu no lugar-comum e resvalou para a superstição. Até de disco voador o cara falou, imaginem vocês! O Gleiser não conseguia disfarçar o constrangimento.
O gordo metido a intelectual, considerado um dos homens mais inteligentes "deste país" (como diria outra sumidade), disparou uma sandice após a outra. Um fiasco! Nem a produção do programa, que o salva na maioria das entrevistas, deu jeito. Confundiu física quântica com teoria da relatividade, Stephen Hawking com Planck; não tinha noção nenhuma de que século viveu Ptolomeu, entre outras barbaridades.
Mas a maior delas foi dizer que Aristóteles "quase" acertou que a Terra era o centro do universo, mesmo depois de o Gleiser ter mostrado a teoria da cebola. O que um autor não precisa fazer para vender mais livros no Brasil, não?!
Várias vezes ameacei sair do sofá, mas resisti bravamente. Agora chega; vou dormir.
Show de grossura
Depois de me indignar com o governismo do Franklin Martins, fiquei puto com o show de grosseria do Robert Gallo. Tudo bem que tem alguns entrevistadores que são de última, mas não justifica a grossura do homem. Poderia ter sido, pelo menos, irônico, sarcástico.
Acho que ficou constrangido pelas perguntas que davam um tom crítico em relação ao Bush e sua política (anti) científica. Foi grosseiro com um repórter da Folha que perguntou se ele considerava o governo americano anti-científico. E depois desancou uma mulher de uma agência de notícias sobre Aids (ou algo parecido).
A sorte foi o Dráuzio Varella conseguir acalmar os ânimos do cientista estrelão. Mesmo assim, continuou fugindo das perguntas com tom mais político. Ah, e negou que Bush e o partido Republicano são contra o ensino do evolucionismo! E mais ainda: não foi capaz de estabelecer uma diferença entre evolucionismo e criacionismo. E citou São Thomas de Aquino para argumentar que eles poderiam conviver.
Não que eu compactue com o sentimento antiamericano, muito comum por essas plagas. Pelo contrário: acho que o Bush é um perigo para o sistema democrático americano, baseado no conhecimento científico, nos direitos civis e na tolerância com os imigrantes.
Não adianta dizer que eles perseguem esse ou aquele. Foram os Estados Unidos que deram abrigo à grande maioria de intelectuais e cientistas que fugiram da Europa tomada por Hitler durante a Segunda Guerra - inclusive aquele bando de picaretas da Escola de Frankfurt.
Acho que ficou constrangido pelas perguntas que davam um tom crítico em relação ao Bush e sua política (anti) científica. Foi grosseiro com um repórter da Folha que perguntou se ele considerava o governo americano anti-científico. E depois desancou uma mulher de uma agência de notícias sobre Aids (ou algo parecido).
A sorte foi o Dráuzio Varella conseguir acalmar os ânimos do cientista estrelão. Mesmo assim, continuou fugindo das perguntas com tom mais político. Ah, e negou que Bush e o partido Republicano são contra o ensino do evolucionismo! E mais ainda: não foi capaz de estabelecer uma diferença entre evolucionismo e criacionismo. E citou São Thomas de Aquino para argumentar que eles poderiam conviver.
Não que eu compactue com o sentimento antiamericano, muito comum por essas plagas. Pelo contrário: acho que o Bush é um perigo para o sistema democrático americano, baseado no conhecimento científico, nos direitos civis e na tolerância com os imigrantes.
Não adianta dizer que eles perseguem esse ou aquele. Foram os Estados Unidos que deram abrigo à grande maioria de intelectuais e cientistas que fugiram da Europa tomada por Hitler durante a Segunda Guerra - inclusive aquele bando de picaretas da Escola de Frankfurt.
segunda-feira, outubro 09, 2006
Que vergonha
É impressionante! O Franklin Martins não fica nem vermelho! É o comentarista mais petista da televisão brasileira. Não foi à toa que a Globo mandou ele passear. Depois da surra que o Alckmin deu no Lula, ele ainda está lá no Canal Livre insinuando que houve um empate. Todos os outros falam de pontos positivos e negativos dos dois candidatos, mas Franklin não vê pecados no "Nosso Guia" (Copy do Gaspari). Deprimente!
Vou ver o Robert Gallo na Cultura que ganho mais.
Vou ver o Robert Gallo na Cultura que ganho mais.
Aula de História
No sábado, fui ao almoço de aniversário do amigo e coleguinha de profissão Maurício Oliveira, no Ribeirão da Ilha, um ugar horroroso, à beira-mar, no sul de Florianópolis. Como a mesa foi ficando grande (sim, o Maurício é um cara muito popular), só consegui conversar com os mais próximos.
O também amigo e coleguinha Carlito sentou na minha frente e conversamos um bocado. O cara está concluindo a graduação em História; sabe como é, decidiu estudar de verdade depois de ter feito jornalismo (brincadeira; acho que aprendemos muito na baiúca da UFSC).
Carlito é um cara que se esforça para fugir dos lugares-comuns ideológicos, dos chavões, das idéias pré-concebidas. Digo "se esforça" porque não é uma coisa fácil. A gente tende sempre ficar repetindo um monte de asneiras que nos sopraram a vida inteira, principalmente se elas forem politicamente corretas.
Não sei como começamos a falar de escravidão e de como o tema está relacionado com racismo - pelo menos para nós aqui. Ou seja, negros bonzinhos escravizados por brancos malvados - o que parece compreensível. Ocorre que os negros comprados na África eram escravizados lá mesmo por tribos vencedoras de guerras tribais. A conotação racial foi feita aqui.
Calma, calma; não se trata de revisionismo histórico, não. A escravidão ocorreu e ninguém está a negar os fatos abomináveis. Entretanto, Carlito citou alguns autores que tratam do processo de vitimização dos escravos. Sim, eles foram maltratados, mas viviam eles em condições piores do que os trabalhadores europeus durante a Revolução Industrial?
Em muitos casos, não. Havia, por exemplo, limites para o castigo físico. Os senhores que se excediam no castigo eram malvistos pelos demais. É claro que para nós, hoje, isso soa como sandice, mas era o que havia naquela época; não eram absolutamente bárbaros, só um pouquinho.
Outra coisa fundamental colocada pelo Carlito: como não tinham o conceito de África, os negros não poderiam se considerar africanos. Essa relação de identidade lhes foi dada por nós que, de forma preconceituosa (agora, sim), víamos a todos como iguais por causa da cor da pele. Uma bobagem, já que as tribos se digladiavam.
Carlitão falou ainda de uma certa resistência, nas chamadas ciências sociais, em relação à ciência de verdade (essa expressão é minha, não Carlito), mas isso é uma conversa mais longa.
Enfim, uma sacudida no senso comum de vez em quando faz um bem danado.
O também amigo e coleguinha Carlito sentou na minha frente e conversamos um bocado. O cara está concluindo a graduação em História; sabe como é, decidiu estudar de verdade depois de ter feito jornalismo (brincadeira; acho que aprendemos muito na baiúca da UFSC).
Carlito é um cara que se esforça para fugir dos lugares-comuns ideológicos, dos chavões, das idéias pré-concebidas. Digo "se esforça" porque não é uma coisa fácil. A gente tende sempre ficar repetindo um monte de asneiras que nos sopraram a vida inteira, principalmente se elas forem politicamente corretas.
Não sei como começamos a falar de escravidão e de como o tema está relacionado com racismo - pelo menos para nós aqui. Ou seja, negros bonzinhos escravizados por brancos malvados - o que parece compreensível. Ocorre que os negros comprados na África eram escravizados lá mesmo por tribos vencedoras de guerras tribais. A conotação racial foi feita aqui.
Calma, calma; não se trata de revisionismo histórico, não. A escravidão ocorreu e ninguém está a negar os fatos abomináveis. Entretanto, Carlito citou alguns autores que tratam do processo de vitimização dos escravos. Sim, eles foram maltratados, mas viviam eles em condições piores do que os trabalhadores europeus durante a Revolução Industrial?
Em muitos casos, não. Havia, por exemplo, limites para o castigo físico. Os senhores que se excediam no castigo eram malvistos pelos demais. É claro que para nós, hoje, isso soa como sandice, mas era o que havia naquela época; não eram absolutamente bárbaros, só um pouquinho.
Outra coisa fundamental colocada pelo Carlito: como não tinham o conceito de África, os negros não poderiam se considerar africanos. Essa relação de identidade lhes foi dada por nós que, de forma preconceituosa (agora, sim), víamos a todos como iguais por causa da cor da pele. Uma bobagem, já que as tribos se digladiavam.
Carlitão falou ainda de uma certa resistência, nas chamadas ciências sociais, em relação à ciência de verdade (essa expressão é minha, não Carlito), mas isso é uma conversa mais longa.
Enfim, uma sacudida no senso comum de vez em quando faz um bem danado.
Soou o gongo
A semana foi puxada e o caro leitor foi poupado das minhas asneiras durante dias. Mas quase uma semana depois, vale o que foi dito no post anterior por Ioschpe: começou a campanha. O debate de ontem deu a medida.
E tem que ser assim, mesmo: contundente, afiado, agressivo, até, se preferirem. Vale chamar de mentiroso, sim; de traidor das esperanças do povo, de chefe da gangue, também. Mas só até aí. De cachaceiro não vale!
Para mim, o melhor momento do debate de ontem foi um tirada do Alckmin: o Lula sabe tudo do governo Fernando Henrique, mas não sabe de nada do seu governo". Gargalhei!
De resto, na minha opinião, debate não muda muita coisa, não. Vale como entretenimento para as duas torcidas. Mas isso não quer dizer que não deve haver debates. É que como este governo é profícuo em escândalos, impossível que o tema da corrupção não predomine nas discussões. E eu até achei que o Alckmin - perdão, Geraldo - falou pouco dos escândalos antigos, como o dinheiro do Duda Mendonça et caterva.
Plano de governo, mesmo, muito pouco. O Lula estava com cara de quem entornou todas e dormiu a tarde inteira.
Vamos aguardar o próximo. Se o picolé de chuchu repetir o desempenho de ontem, já estará de bom tamanho.
E tem que ser assim, mesmo: contundente, afiado, agressivo, até, se preferirem. Vale chamar de mentiroso, sim; de traidor das esperanças do povo, de chefe da gangue, também. Mas só até aí. De cachaceiro não vale!
Para mim, o melhor momento do debate de ontem foi um tirada do Alckmin: o Lula sabe tudo do governo Fernando Henrique, mas não sabe de nada do seu governo". Gargalhei!
De resto, na minha opinião, debate não muda muita coisa, não. Vale como entretenimento para as duas torcidas. Mas isso não quer dizer que não deve haver debates. É que como este governo é profícuo em escândalos, impossível que o tema da corrupção não predomine nas discussões. E eu até achei que o Alckmin - perdão, Geraldo - falou pouco dos escândalos antigos, como o dinheiro do Duda Mendonça et caterva.
Plano de governo, mesmo, muito pouco. O Lula estava com cara de quem entornou todas e dormiu a tarde inteira.
Vamos aguardar o próximo. Se o picolé de chuchu repetir o desempenho de ontem, já estará de bom tamanho.
terça-feira, outubro 03, 2006
Enfim, campanha eleitoral
Copio aqui artigo do economista Gustavo Ioschpe, na FSP de hoje, com quem concordo integralmente.
Que comece
O BOM DE haver segundo turno para a eleição presidencial é que talvez a campanha comece. Até agora, a impressão que se tinha era que esses candidatos estavam concorrendo à Presidência de um país escandinavo, em que tudo está resolvido e basta dar continuidade aos programas, mudando detalhes, para que o país continue no rumo tranqüilo do desenvolvimento sustentado em que se encontra. Há ao menos dois grandes temas que têm de ser abordados nessa reta final: modelo econômico e corrupção.
O Brasil vem patinando há 20 anos, enquanto o mundo tem passado por momentos de pujança não vistos talvez desde o final da Segunda Guerra. Os últimos quatro anos, especialmente, ofereceram uma combinação rara de cenário internacional favorável e sem crises e um aumento fenomenal no preço das commodities. Ainda assim, o Brasil não consegue aproveitar esses bons tempos.
Com sua política de juros reais estratosféricos, câmbio sobrevalorizado, ambiente institucional frágil e incapacidade de investimento público, seguimos adotando uma política de estabilização da moeda, de custos altíssimos, muito tempo depois dessa estabilização já ter sido conseguida. O programa que levou FHC à vitória em 1994 já estava com prazo de validade vencido em 1998, não fazia sentido em 2002 e hoje está literalmente morto, ainda que insepulto.
Os candidatos apresentarão propostas sobre como recolocar o país nos trilhos do crescimento? Alguém tem alguma idéia de como fazer o Brasil abandonar a posição de lanterninha de crescimento entre os emergentes? A nação espera. O segundo tema que precisa ser debatido e eviscerado é a corrupção. Sempre convivemos com ela, quando parecia se tratar de desvios de dinheiro público para fins privados. A situação piorou significativamente neste governo. Temos agora dinheiro público sendo usado para fortalecer um partido, temos mais de cem parlamentares envolvidos em um escândalo ou outro.
Temos vários políticos aparentemente buscando o Congresso apenas para obter imunidade. Nos aproximamos de um cenário em que a política é dominada pelo crime. E uma vez que ela se instala, cria um círculo vicioso difícil de romper: os corruptos legislam em causa própria; o Executivo vira um aliciador e transforma qualquer pacote de reformas em um leilão, transformando-se também ele em corruptor; gente séria fica cada vez mais desgostosa com a vida pública e se sente justificada em praticar a mesma bandidagem na vida privada. Com a eleição de Maluf e Collor, me pergunto se já não cruzamos o Rubicão.
Ou o próximo presidente bate com firmeza nessa questão ou seu mandato já nasce refém do balcão de negócios. A corrupção brasileira não é mais questão de moralidade. Já está corroendo as fundações da democracia. Alguém meterá o dedo na ferida ou têm todos o rabo preso?
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA)
Que comece
O BOM DE haver segundo turno para a eleição presidencial é que talvez a campanha comece. Até agora, a impressão que se tinha era que esses candidatos estavam concorrendo à Presidência de um país escandinavo, em que tudo está resolvido e basta dar continuidade aos programas, mudando detalhes, para que o país continue no rumo tranqüilo do desenvolvimento sustentado em que se encontra. Há ao menos dois grandes temas que têm de ser abordados nessa reta final: modelo econômico e corrupção.
O Brasil vem patinando há 20 anos, enquanto o mundo tem passado por momentos de pujança não vistos talvez desde o final da Segunda Guerra. Os últimos quatro anos, especialmente, ofereceram uma combinação rara de cenário internacional favorável e sem crises e um aumento fenomenal no preço das commodities. Ainda assim, o Brasil não consegue aproveitar esses bons tempos.
Com sua política de juros reais estratosféricos, câmbio sobrevalorizado, ambiente institucional frágil e incapacidade de investimento público, seguimos adotando uma política de estabilização da moeda, de custos altíssimos, muito tempo depois dessa estabilização já ter sido conseguida. O programa que levou FHC à vitória em 1994 já estava com prazo de validade vencido em 1998, não fazia sentido em 2002 e hoje está literalmente morto, ainda que insepulto.
Os candidatos apresentarão propostas sobre como recolocar o país nos trilhos do crescimento? Alguém tem alguma idéia de como fazer o Brasil abandonar a posição de lanterninha de crescimento entre os emergentes? A nação espera. O segundo tema que precisa ser debatido e eviscerado é a corrupção. Sempre convivemos com ela, quando parecia se tratar de desvios de dinheiro público para fins privados. A situação piorou significativamente neste governo. Temos agora dinheiro público sendo usado para fortalecer um partido, temos mais de cem parlamentares envolvidos em um escândalo ou outro.
Temos vários políticos aparentemente buscando o Congresso apenas para obter imunidade. Nos aproximamos de um cenário em que a política é dominada pelo crime. E uma vez que ela se instala, cria um círculo vicioso difícil de romper: os corruptos legislam em causa própria; o Executivo vira um aliciador e transforma qualquer pacote de reformas em um leilão, transformando-se também ele em corruptor; gente séria fica cada vez mais desgostosa com a vida pública e se sente justificada em praticar a mesma bandidagem na vida privada. Com a eleição de Maluf e Collor, me pergunto se já não cruzamos o Rubicão.
Ou o próximo presidente bate com firmeza nessa questão ou seu mandato já nasce refém do balcão de negócios. A corrupção brasileira não é mais questão de moralidade. Já está corroendo as fundações da democracia. Alguém meterá o dedo na ferida ou têm todos o rabo preso?
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA)
quinta-feira, setembro 28, 2006
Um verdadeiro democrata
Requião quer se reeleger no Paraná, nem que para isso tenha que calar a imprensa. É isso que dá ficar andando com o Chávez.
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A coordenação jurídica da campanha de reeleição do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), reapresentou ontem no Ministério Público do Estado um pedido de providências que inclui a quebra de sigilo telefônico de quatro jornalistas, para apurar possível vazamento de informações da investigação sobre o chamado caso Rasera.O policial civil e ex-assessor do governo do Paraná Délcio Augusto Rasera, que está preso, é acusado de comandar uma quadrilha de arapongas que se valia de grampos telefônicos na espionagem. Até ser preso, ele trabalhava no Palácio Iguaçu.O pedido foi protocolado na Corregedoria Geral do Ministério Público do Estado e também pleiteia quebra de sigilo dos promotores e policiais que atuam na investigação, centralizada na PIC (Promotoria de Investigações Criminais).Por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, o corregedor-chefe, Ernani de Souza Cubas Filho, informou que só fará uma análise do pedido hoje. Apesar de divulgar anteontem que reapresentaria o pedido na Corregedoria, a coordenação jurídica da coligação que tem o PMDB à frente só cumpriu as exigências do órgão no final da tarde de ontem.O objetivo dos advogados da coligação pró-Requião é chegar às fontes das informações trazidas nas reportagens sobre o caso. De forma velada, os advogados atribuem o vazamento aos promotores da PIC. Eles consideram ""crime" o vazamento de informações da investigação, devido à proteção do segredo de Justiça.A repórter da Folha em Curitiba, Mari Tortato, e os jornalistas da "Gazeta do Povo" Caio Castro Lima, Carlos Kohlbach e Celso Nascimento são relacionados no pedido. A primeira investida do PMDB na Corregedoria se deu sexta passada. Mas o corregedor exigiu procuração da Coligação Paraná Forte para o advogado Cezar Eduardo Ziliotto, que assina o pedido, antes de analisá-lo.No último sábado, os advogados de Requião também tentaram no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) obter uma liminar para impedir a publicação de uma reportagem da Folha sobre o caso, ainda em apuração. O juiz Munir Abagge negou. Disse que, se acolhesse, estaria cometendo ""gritante censura prévia" e atentando contra a liberdade de imprensa.Hoje, a PIC envia ao TRE cópias do inquérito do caso Rasera. Há indícios de que os grampos alcançaram políticos que disputam esta eleição. O juiz criminal Gaspar Luiz Mattos de Araujo Filho, de Campo Largo, na região de Curitiba -onde corre a ação contra a quadrilha de arapongas-, define até o final da tarde de hoje se acata a denúncia contra o ex-assessor e mais 19 envolvidos.""Não queremos saber sobre o que conversam os jornalistas, só identificar eventualmente o servidor público responsável por vazar documentos sigilosos", disse ontem um dos advogados que representam Requião, Guilherme Gonçalves.Disse não reconhecer no pedido violação do direito constitucional do jornalista de manter a fonte sob sigilo.No editorial "O direito de saber", publicado na edição de ontem, a Folha afirma "que fica patente a tentativa do candidato do PMDB, acuado por suspeitas que rondam a sua administração, de constranger o livre exercício do jornalismo".Em nota anteontem, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse que o pedido da coligação de Requião "demonstra vocação autoritária e falta de espírito democrático".
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A coordenação jurídica da campanha de reeleição do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), reapresentou ontem no Ministério Público do Estado um pedido de providências que inclui a quebra de sigilo telefônico de quatro jornalistas, para apurar possível vazamento de informações da investigação sobre o chamado caso Rasera.O policial civil e ex-assessor do governo do Paraná Délcio Augusto Rasera, que está preso, é acusado de comandar uma quadrilha de arapongas que se valia de grampos telefônicos na espionagem. Até ser preso, ele trabalhava no Palácio Iguaçu.O pedido foi protocolado na Corregedoria Geral do Ministério Público do Estado e também pleiteia quebra de sigilo dos promotores e policiais que atuam na investigação, centralizada na PIC (Promotoria de Investigações Criminais).Por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, o corregedor-chefe, Ernani de Souza Cubas Filho, informou que só fará uma análise do pedido hoje. Apesar de divulgar anteontem que reapresentaria o pedido na Corregedoria, a coordenação jurídica da coligação que tem o PMDB à frente só cumpriu as exigências do órgão no final da tarde de ontem.O objetivo dos advogados da coligação pró-Requião é chegar às fontes das informações trazidas nas reportagens sobre o caso. De forma velada, os advogados atribuem o vazamento aos promotores da PIC. Eles consideram ""crime" o vazamento de informações da investigação, devido à proteção do segredo de Justiça.A repórter da Folha em Curitiba, Mari Tortato, e os jornalistas da "Gazeta do Povo" Caio Castro Lima, Carlos Kohlbach e Celso Nascimento são relacionados no pedido. A primeira investida do PMDB na Corregedoria se deu sexta passada. Mas o corregedor exigiu procuração da Coligação Paraná Forte para o advogado Cezar Eduardo Ziliotto, que assina o pedido, antes de analisá-lo.No último sábado, os advogados de Requião também tentaram no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) obter uma liminar para impedir a publicação de uma reportagem da Folha sobre o caso, ainda em apuração. O juiz Munir Abagge negou. Disse que, se acolhesse, estaria cometendo ""gritante censura prévia" e atentando contra a liberdade de imprensa.Hoje, a PIC envia ao TRE cópias do inquérito do caso Rasera. Há indícios de que os grampos alcançaram políticos que disputam esta eleição. O juiz criminal Gaspar Luiz Mattos de Araujo Filho, de Campo Largo, na região de Curitiba -onde corre a ação contra a quadrilha de arapongas-, define até o final da tarde de hoje se acata a denúncia contra o ex-assessor e mais 19 envolvidos.""Não queremos saber sobre o que conversam os jornalistas, só identificar eventualmente o servidor público responsável por vazar documentos sigilosos", disse ontem um dos advogados que representam Requião, Guilherme Gonçalves.Disse não reconhecer no pedido violação do direito constitucional do jornalista de manter a fonte sob sigilo.No editorial "O direito de saber", publicado na edição de ontem, a Folha afirma "que fica patente a tentativa do candidato do PMDB, acuado por suspeitas que rondam a sua administração, de constranger o livre exercício do jornalismo".Em nota anteontem, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse que o pedido da coligação de Requião "demonstra vocação autoritária e falta de espírito democrático".
A "mídia"
Meu amigo Giancarlo diz que, quando "direita" e "esquerda" reclamam da imprensa, é porque ela deve estar fazendo bem o seu papel. Concordo com ele. Ultimamente tenho ouvido reclamações de tucanos e de petistas. Os primeiros reclamam que alguns jornais, como a Folha, e blogs, como o do Josias, estariam sendo condescendentes com o Lula. Já os petralhas se queixam de que a Globo estaria favorecendo Alckmin ao dar muito espaço ao escândalo do dossiê.
Não duvido que haja coleguinhas e empresas "comprados" pelo discurso oficial, mas sou contra a generalização de que "a mídia" está contra ou a favor do governo. Se está todo mundo reclamando, é porque " a mídia" está cumprindo o seu papel razoavelmente - uns veículos melhores, outros piores. Quanto ao Josias, que segundo o colega Aluizio Amorim seria "pena alugada do PT", sempre achei um dos mais críticos do PT. Sou capaz de encontrar várias colunas dele, ao longo dos últimos anos, contra o governo Lula. Mas posso estar errado, claro, até porque não acompanho esses blogs diariamente.
Não duvido que haja coleguinhas e empresas "comprados" pelo discurso oficial, mas sou contra a generalização de que "a mídia" está contra ou a favor do governo. Se está todo mundo reclamando, é porque " a mídia" está cumprindo o seu papel razoavelmente - uns veículos melhores, outros piores. Quanto ao Josias, que segundo o colega Aluizio Amorim seria "pena alugada do PT", sempre achei um dos mais críticos do PT. Sou capaz de encontrar várias colunas dele, ao longo dos últimos anos, contra o governo Lula. Mas posso estar errado, claro, até porque não acompanho esses blogs diariamente.
Meu voto
Justamente pelo vazio de idéias apontado pelo Jânio de Freitas no post logo aí embaixo é que é necessário um segundo turno para que as diferenças entre os dois principais candidatos fiquem mais claras.
E aproveito para abrir meu voto: vou de Cristóvam Buarque para - como disse um economista na semana passada - "sinalizar". Sinalizar o quê? Ora, que o Brasil precisa de investimentos maciços em educação. Basta? Não, mas é o melhor começo para nos tirar do atraso. Tudo bem, concordo que o discurso monotemático chateia um pouco, mas dos males o menor. Melhor ser monotemático do que não ter tema nenhum, como os outros todos.
Eleição em dois turnos é assim mesmo: no primeiro você vota em quem mais gosta; se ele não for para o segundo, vota no que for menos ruim.
A diferença entre Lula e os demais candidatos vem se reduzindo e pode chegar no domingo dentro da margem de erro das pesquisas. Então, votemos por segundo turno!
E aproveito para abrir meu voto: vou de Cristóvam Buarque para - como disse um economista na semana passada - "sinalizar". Sinalizar o quê? Ora, que o Brasil precisa de investimentos maciços em educação. Basta? Não, mas é o melhor começo para nos tirar do atraso. Tudo bem, concordo que o discurso monotemático chateia um pouco, mas dos males o menor. Melhor ser monotemático do que não ter tema nenhum, como os outros todos.
Eleição em dois turnos é assim mesmo: no primeiro você vota em quem mais gosta; se ele não for para o segundo, vota no que for menos ruim.
A diferença entre Lula e os demais candidatos vem se reduzindo e pode chegar no domingo dentro da margem de erro das pesquisas. Então, votemos por segundo turno!
Vazio
Do Jânio de Freitas, da mesma FSP.
O eleitor vai para a urna sem ter idéia do projeto de Brasil a que os principais disputantes dedicaria o seu governo A CAMPANHA ELEITORAL chega ao fim, meio ano de falatório desde abril (para Lula sozinho, nove meses), e o eleitor vai para a urna sem ter idéia, por ligeira que seja, do projeto de Brasil a que cada um dos dois principais disputantes dedicaria o seu pretendido governo.
Tal como a reeleição de Fernando Henrique montou no Real em 98, Lula limitou-se a cavalgar os seus feitos reais ou imaginários. Mas os oposicionistas de 98, se bem que salvaguardassem o Real, atacaram com alternativas para o crescimento econômico, a distribuição de renda e reformas sortidas. Geraldo Alckmin, como se forçado ao papel de candidato, exibiu inaptidão quase comovedora até para as simples menções a um ou outro tema próprio de campanha presidencial.
Esta campanha foi de um vazio sem precedente. Nos dias finais, a confrontação se acirrou, mas só em torno da ética administrativa. Da parte da oposição, muito mais por não-candidatos peessedebistas do que por seu candidato. Tema, porém, que não depende de campanha eleitoral, nem é mais próprio de candidatos e políticos em geral do que é da mídia, como se vê há tanto tempo. Além disso, se a disputa justifica a exploração do tema ético pela oposição, seu passado no governo não lhe daria autoridade para tanto, não fora a vocação de certo PT para a má conduta e a falta de escrúpulos. Mesmo no capítulo da ética, no entanto, não se registrou uma só palavra fora da obviedade.
O eleitor vai para a urna sem ter idéia do projeto de Brasil a que os principais disputantes dedicaria o seu governo A CAMPANHA ELEITORAL chega ao fim, meio ano de falatório desde abril (para Lula sozinho, nove meses), e o eleitor vai para a urna sem ter idéia, por ligeira que seja, do projeto de Brasil a que cada um dos dois principais disputantes dedicaria o seu pretendido governo.
Tal como a reeleição de Fernando Henrique montou no Real em 98, Lula limitou-se a cavalgar os seus feitos reais ou imaginários. Mas os oposicionistas de 98, se bem que salvaguardassem o Real, atacaram com alternativas para o crescimento econômico, a distribuição de renda e reformas sortidas. Geraldo Alckmin, como se forçado ao papel de candidato, exibiu inaptidão quase comovedora até para as simples menções a um ou outro tema próprio de campanha presidencial.
Esta campanha foi de um vazio sem precedente. Nos dias finais, a confrontação se acirrou, mas só em torno da ética administrativa. Da parte da oposição, muito mais por não-candidatos peessedebistas do que por seu candidato. Tema, porém, que não depende de campanha eleitoral, nem é mais próprio de candidatos e políticos em geral do que é da mídia, como se vê há tanto tempo. Além disso, se a disputa justifica a exploração do tema ético pela oposição, seu passado no governo não lhe daria autoridade para tanto, não fora a vocação de certo PT para a má conduta e a falta de escrúpulos. Mesmo no capítulo da ética, no entanto, não se registrou uma só palavra fora da obviedade.
Debate, mesmo?
Não consegui resistir e aqui vai o texto do diretor de redação da FSP, de hoje.
Otavio Frias Filho
Suspense
DIAS FINAIS de grande suspense, a desmentir o mantra sobre ter sido esta a mais morna das campanhas eleitorais. A distância entre Lula e a soma dos demais candidatos continua a se estreitar nas pesquisas. Mantida a tendência em curso, é provável que a diferença se reduza à margem de erro no domingo, sem autorizar palpites sobre segundo turno ou não. O único "fato novo" previsível até o domingo é o debate de hoje à noite na TV. Os assessores de Lula estão divididos sobre qual o risco menor: o da cautela (não ir para ser crucificado em ausência) e o da audácia (ir, correndo o perigo de algum tropeço ou altercação mais grave).
Algum incidente sempre pode haver, mas essa não tem sido a praxe. Nesses debates, é claro, não se debate nada. Ao longo das sucessivas eleições, marqueteiros dos candidatos foram acrescentando, à regulação intrusiva da Justiça Eleitoral, regras de proteção recíproca que a TV aceitou.
O resultado é que se reduziram muito as possibilidades de um candidato deixar vislumbrar, nesses encontros, algo do que pensa ou é. O suposto "debate" reproduz a mesma xaropada publicitária que já entope todos os programas eleitorais dos candidatos durante o horário obrigatório no rádio e TV.
Nos países onde esses debates existem para valer, a iniciativa de transmiti-los é livre, independente do Estado. As regras são poucas, substituídas pelo discernimento de um mediador respeitado pelas partes. O essencial é submeter os antagonistas a perguntas de jornalistas independentes que podem replicar.
Goste-se ou não, o liberalismo é a ideologia dominante na nossa época. Depois de ser relegado ao museu de velharias por meio século (1930 a 1980), seus escassos apóstolos ridicularizados como passadistas, eis que o liberalismo subitamente voltou, mais triunfante que nunca, nos últimos 20 anos. É no sistema de mercado que a economia funciona melhor. Cabe ao Estado assegurar condições propícias ao mercado, tornando estimulante empreender.
Alternativas à democracia representativa logo se mostram a antecâmara de alguma ditadura em nome das massas. Até os adversários do liberalismo admitem, a contragosto, esses seus tradicionais postulados.
Quando assumem o poder (vide PSDB e PT), praticam uma política liberal temperada por compensações sociais bancadas pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte. É o que José Guilherme Merquior chamava, já na época de Collor, de social-liberalismo. Mas ainda não surgiu um candidato que pregue o liberalismo sem meias medidas. Alckmin poderia ter sido esse candidato (não será outro o vetor de seu governo, em caso remoto de vitória), mas que marqueteiro o deixaria correr tamanho risco?
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha
Otavio Frias Filho
Suspense
DIAS FINAIS de grande suspense, a desmentir o mantra sobre ter sido esta a mais morna das campanhas eleitorais. A distância entre Lula e a soma dos demais candidatos continua a se estreitar nas pesquisas. Mantida a tendência em curso, é provável que a diferença se reduza à margem de erro no domingo, sem autorizar palpites sobre segundo turno ou não. O único "fato novo" previsível até o domingo é o debate de hoje à noite na TV. Os assessores de Lula estão divididos sobre qual o risco menor: o da cautela (não ir para ser crucificado em ausência) e o da audácia (ir, correndo o perigo de algum tropeço ou altercação mais grave).
Algum incidente sempre pode haver, mas essa não tem sido a praxe. Nesses debates, é claro, não se debate nada. Ao longo das sucessivas eleições, marqueteiros dos candidatos foram acrescentando, à regulação intrusiva da Justiça Eleitoral, regras de proteção recíproca que a TV aceitou.
O resultado é que se reduziram muito as possibilidades de um candidato deixar vislumbrar, nesses encontros, algo do que pensa ou é. O suposto "debate" reproduz a mesma xaropada publicitária que já entope todos os programas eleitorais dos candidatos durante o horário obrigatório no rádio e TV.
Nos países onde esses debates existem para valer, a iniciativa de transmiti-los é livre, independente do Estado. As regras são poucas, substituídas pelo discernimento de um mediador respeitado pelas partes. O essencial é submeter os antagonistas a perguntas de jornalistas independentes que podem replicar.
Goste-se ou não, o liberalismo é a ideologia dominante na nossa época. Depois de ser relegado ao museu de velharias por meio século (1930 a 1980), seus escassos apóstolos ridicularizados como passadistas, eis que o liberalismo subitamente voltou, mais triunfante que nunca, nos últimos 20 anos. É no sistema de mercado que a economia funciona melhor. Cabe ao Estado assegurar condições propícias ao mercado, tornando estimulante empreender.
Alternativas à democracia representativa logo se mostram a antecâmara de alguma ditadura em nome das massas. Até os adversários do liberalismo admitem, a contragosto, esses seus tradicionais postulados.
Quando assumem o poder (vide PSDB e PT), praticam uma política liberal temperada por compensações sociais bancadas pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte. É o que José Guilherme Merquior chamava, já na época de Collor, de social-liberalismo. Mas ainda não surgiu um candidato que pregue o liberalismo sem meias medidas. Alckmin poderia ter sido esse candidato (não será outro o vetor de seu governo, em caso remoto de vitória), mas que marqueteiro o deixaria correr tamanho risco?
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha
Vai dar
Do Uol:
Lula estanca, mas vantagem para soma dos rivais diminui
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, seria reeleito em primeiro turno se a eleição fosse realizada nesta quarta-feira, indicam as mais novas pesquisas dos institutos Datafolha e Ibope, divulgadas pela "Rede Globo". Mas crescem as chances de segundo turno. Nos dois levantamentos, Lula tem 53% dos votos válidos e uma vantagem de cinco pontos percentuais sobre a soma das intenções de voto de seus rivais.
No Datafolha, que ouviu 7.528 pessoas em 368 municípios nesta quarta-feira, a vantagem de Lula -que manteve os 49% do levantamento anterior- para a soma das intenções de voto em seus adversários caiu em relação à pesquisa feita na última sexta, quando era de oito pontos. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, oscilou de 31% para 33% -no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A senadora Heloísa Helena (PSOL), foi de 7% a 8%. E o senador Cristovam Buarque (PDT) manteve os 2% que ostentava no levantamento anterior. Os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo correspondem a 4% do total. Já os indecisos são 3%.
Os números da pesquisa Ibope, que foi realizada entre segunda e terça-feira, ouvindo um total de 3.010 eleitores, são muito próximos aos do Datafolha: Lula oscilou de 47% para 48%, e Alckmin, de 33% para 32% em relação à pesquisa anterior.
Lula estanca, mas vantagem para soma dos rivais diminui
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, seria reeleito em primeiro turno se a eleição fosse realizada nesta quarta-feira, indicam as mais novas pesquisas dos institutos Datafolha e Ibope, divulgadas pela "Rede Globo". Mas crescem as chances de segundo turno. Nos dois levantamentos, Lula tem 53% dos votos válidos e uma vantagem de cinco pontos percentuais sobre a soma das intenções de voto de seus rivais.
No Datafolha, que ouviu 7.528 pessoas em 368 municípios nesta quarta-feira, a vantagem de Lula -que manteve os 49% do levantamento anterior- para a soma das intenções de voto em seus adversários caiu em relação à pesquisa feita na última sexta, quando era de oito pontos. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, oscilou de 31% para 33% -no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A senadora Heloísa Helena (PSOL), foi de 7% a 8%. E o senador Cristovam Buarque (PDT) manteve os 2% que ostentava no levantamento anterior. Os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo correspondem a 4% do total. Já os indecisos são 3%.
Os números da pesquisa Ibope, que foi realizada entre segunda e terça-feira, ouvindo um total de 3.010 eleitores, são muito próximos aos do Datafolha: Lula oscilou de 47% para 48%, e Alckmin, de 33% para 32% em relação à pesquisa anterior.
quarta-feira, setembro 27, 2006
Teoria das cordas
O físico David Gross, ganhador do Nobel de 2004, diz, na Folha de hoje, que a controversa teoria das cordas já pode ser testada empiricamente (ou falseada, como diria Popper).
segunda-feira, setembro 25, 2006
Segundo turno à vista
Eu nunca compactuei com estas desconfianças sobre as pesquisas eleitorais; sempre achei que era mais teoria da conspiração do que outra coisa. Mas uma fonte da coligação que apóia o candidato do PMDB ao governo do estado de SC, Luiz Henrique da Silveira, me disse que a diferença entre ele e os demais candidatos é de menos de um ponto percentual; zero vírgula alguma coisa. Ou seja, muito diferente dos números divulgados pelos institutos de pesquisa, nos quais a diferença entre LHS e Amin seria de quase 20%. Segundo essa fonte insuspeita, os dados são de uma pesquisa encomendada para uso interno cuja divulgação é proibida. Segundo turno à vista em SC também.
Prática revolucionária
Um conhecido meu que trabalha com grandes empreiteiras contou-me que no governo FHC a propina era de 0,2%, no máximo, 1% do valor dos contratos. Sob Lula et caterva, passa de 10%. Disse que a a duplicação do trecho sul da BR-101, entre Palhoça (SC) e Osório (RS), está quase parado porque ainda não houve acerto - se é que vocês me entendem.
sábado, setembro 23, 2006
Copiaram minha pauta
O Estadão publicou só agora uma matéria que eu dei no Valor há uns quatro meses. Soube pelo blog do amigo Carlito. É sobre um curso de extensão de astrologia na UnB. Um disparate disfarçado de inovação científica. O argumento (vamos estudar pra mostrar que funciona) pode convencer os incautos, mas a mim, não. Dinheiro público jogado pela janela. Realmente, nossas universidades não têm mais com que se ocupar!
quinta-feira, setembro 21, 2006
A sandice oficial
Estive na UFSC conversando com alguns professores sobre um projeto de doutorado. Lá pelas tantas, durante um cafezinho, o professor (uma das maiores autoridades mundiais na área dele) perguntou se eu era "lulista". Ao ouvir o "não", sentiu-se confortável para falar de uma colega dele, da USP. Queria saber o que eu achara da frase da Marilena Chauí sobre o mundo se iluminar quando o Lula fala. "O que leva uma pessoa a dizer uma sandice dessas, me responda?" Não me segurei: "o senhor é que deveria me explicar como deixam essas pessoas entrar na universidade, já que foi colega dela." Acho que vou ter que procurar outro doutorado.
terça-feira, setembro 19, 2006
Eles chafurdam
O PT chafurda no submundo e de lá não quer mais sair. Os petralhas ofereceram as "informações" sobre Serra e Alckmin à revista Época, que agiu corretamente: antes de se comprometer em publicar qualquer coisa, como queriam os petralhas, a revista avisou que checaria as informações.
O bando desistiu e foi bater em outra freguesia. Sabe-se, agora, que a Istoé aceitou; e diz que não pagou pelo dossiê. Certamente! O que me pergunto é quanto levou para publicar aquilo.
Entre os envolvidos, um assessor do presidente Lula (mais um?). O tal Jorge Lorenzetti, mentor da podridão toda, é professor da UFSC, diretor do Besc e, nas horas de trabalho, é o churrasqueiro-mor de Sua Insselença. Oficialmente, Lorenzetti é analista de risco e mídia da campanha de Lula. Em outras palavras, é um tipo de araponga do submundo petista.
O bando desistiu e foi bater em outra freguesia. Sabe-se, agora, que a Istoé aceitou; e diz que não pagou pelo dossiê. Certamente! O que me pergunto é quanto levou para publicar aquilo.
Entre os envolvidos, um assessor do presidente Lula (mais um?). O tal Jorge Lorenzetti, mentor da podridão toda, é professor da UFSC, diretor do Besc e, nas horas de trabalho, é o churrasqueiro-mor de Sua Insselença. Oficialmente, Lorenzetti é analista de risco e mídia da campanha de Lula. Em outras palavras, é um tipo de araponga do submundo petista.
Obra-prima 16.4
Cada Bugatti Veyron, feito à mão, custa US$ 1,25 milhão (lá fora). Seu extraordinário motor W16 tem tantos cilindros e turbos quanto quatro Subaru Impreza WRX – e mais potência. O grande, malvado Bugatti acelera mais rápido que um carro da NASCAR e é mais veloz que uma máquina da Fórmula 1. Ainda assim, é dócil como um Lexus. Ele é o carro de produção em série mais rápido, mais veloz e mais caro jamais comercializado.O Veyron é a visão de um homem – Ferdinand Piëch, ex-presidente do grupo VW no mundo – e a Bugatti não ganhará nem um centavo com toda a produção antecipada de apenas 300 carros (50 por ano, no máximo, com aproximadamente um terço deles destinados aos EUA). Sua principal missão é ser a máquina de sonhos da marca, reintroduzindo essa lendária fabricante francesa no mercado em um estilo mais do que adequado.
Um sonho impossível? Não se a gente tivesse uma malinha de dinheiro como aquela do Valdebran e do Gedimar.
domingo, setembro 17, 2006
Sapo barbudo e demônio golpista
Percam as esperanças: o sapo barbudo não vai virar um príncipe, mas talvez um demônio. Um espírito genuinamente democrático este do "nosso guia". Que os deuses nos protejam pelos próximos quatro anos.
Do Gaspari de hoje, na FSP:
Demônio golpista
Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugenio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante um segundo mandato, as reformas que julga necessárias. "Nosso guia" respondeu: "Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do que "esse que está aí", pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe de pelo menos 20 notáveis nacionais. A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada pelos inúmeros convidados que a ouviram.Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.Nos últimos 50 anos, o coisa-ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato. (Castello Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.) Seja o que Deus quiser.
Do Gaspari de hoje, na FSP:
Demônio golpista
Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugenio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante um segundo mandato, as reformas que julga necessárias. "Nosso guia" respondeu: "Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso". Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do que "esse que está aí", pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe de pelo menos 20 notáveis nacionais. A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada pelos inúmeros convidados que a ouviram.Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.Nos últimos 50 anos, o coisa-ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato. (Castello Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.) Seja o que Deus quiser.
multiculturalismo?
Um trechinho do artigo de Amartya Sen sobre o multiculturalismo, hoje, na FSP.
Os porta-vozes religiosos das populações imigradas parecem desfrutar junto das autoridades britânicas de um reconhecimento (e de um acesso aos salões do poder) de amplitude inédita. Novas escolas religiosas são criadas com a benção e o encorajamento do governo. Aparentemente, este se preocupa mais com o "equilíbrio" religioso sobretudo mecânico desejado por aqueles que são descritos como "líderes comunitários" do que com ensinar às crianças os conhecimentos básicos e a aprendizagem da razão. As escolas separadas, fenômeno de enclausuramento que, na Irlanda do Norte, conseguiu apenas aumentar o abismo entre católicos e protestantes, passaram a ser autorizadas e até mesmo, na prática, encorajadas para outras parcelas da população britânica. Também lá elas serão um fator de divisão. O que é preciso hoje não é abandonar o multiculturalismo nem renunciar ao objetivo de igualdade "quaisquer que sejam as origens raciais ou étnicas -a língua ou a opção religiosa- , mas dissipar essas duas confusões que já causaram tantos problemas. Isso é imperativo, não só porque a liberdade precisa ser levada em conta mas para evitar a revolta dos mais desfavorecidos, como nos subúrbios franceses. Assim, combateremos a ameaça crescente dos pensamentos comunitaristas violentos, que avançam no Reino Unido e correm o risco de conduzir a atos de brutalidade bárbara. É importante reconhecer que os primeiros êxitos do multiculturalismo no Reino Unido estiveram vinculados aos esforços feitos pelo país não para separar, mas para integrar.
Os porta-vozes religiosos das populações imigradas parecem desfrutar junto das autoridades britânicas de um reconhecimento (e de um acesso aos salões do poder) de amplitude inédita. Novas escolas religiosas são criadas com a benção e o encorajamento do governo. Aparentemente, este se preocupa mais com o "equilíbrio" religioso sobretudo mecânico desejado por aqueles que são descritos como "líderes comunitários" do que com ensinar às crianças os conhecimentos básicos e a aprendizagem da razão. As escolas separadas, fenômeno de enclausuramento que, na Irlanda do Norte, conseguiu apenas aumentar o abismo entre católicos e protestantes, passaram a ser autorizadas e até mesmo, na prática, encorajadas para outras parcelas da população britânica. Também lá elas serão um fator de divisão. O que é preciso hoje não é abandonar o multiculturalismo nem renunciar ao objetivo de igualdade "quaisquer que sejam as origens raciais ou étnicas -a língua ou a opção religiosa- , mas dissipar essas duas confusões que já causaram tantos problemas. Isso é imperativo, não só porque a liberdade precisa ser levada em conta mas para evitar a revolta dos mais desfavorecidos, como nos subúrbios franceses. Assim, combateremos a ameaça crescente dos pensamentos comunitaristas violentos, que avançam no Reino Unido e correm o risco de conduzir a atos de brutalidade bárbara. É importante reconhecer que os primeiros êxitos do multiculturalismo no Reino Unido estiveram vinculados aos esforços feitos pelo país não para separar, mas para integrar.
sábado, setembro 16, 2006
Armação
A Istoé se prestou a ecoar a mais recente armação do PT contra o Serra. Tudo para tentar evitar o massacre que se anuncia em São Paulo, onde Mercadante será espancado, nas urnas, no próximo dia primeiro. Como diz o Reinaldo Azevedo (com quem não concordo muitas vezes), é a maior armação de um partido contra outro depois do caso Míriam Cordeiro, do qual Lula fora a vítima.
O resumo da ópera é o seguinte: na CPI, o tal Vedoin disse que o esquema dos sanguessugas não funcionava no governo anterior. Agora, estaria disposto a dizer o contrário. Agora, descobriu-se por que: por R$ 2 milhões, que seriam pagos por um ex-tesoureiro do PT. E essa grana toda por "provas" que, ao que tudo indica, não provam nada.
A Folha online deu matéria sobre a prisão dos distintos cidadãos.
Enfim, o PT desceu ao submundo e de lá parece não querer sair mais. Não vai lhe faltar companhia por lá.
O resumo da ópera é o seguinte: na CPI, o tal Vedoin disse que o esquema dos sanguessugas não funcionava no governo anterior. Agora, estaria disposto a dizer o contrário. Agora, descobriu-se por que: por R$ 2 milhões, que seriam pagos por um ex-tesoureiro do PT. E essa grana toda por "provas" que, ao que tudo indica, não provam nada.
A Folha online deu matéria sobre a prisão dos distintos cidadãos.
Enfim, o PT desceu ao submundo e de lá parece não querer sair mais. Não vai lhe faltar companhia por lá.
sexta-feira, setembro 15, 2006
quinta-feira, setembro 14, 2006
Somos nós, mesmo
Segundo uma pesquisa publicada na Nature e na Folha, a elevação da temperatura na Terra não pode ser atribuída à atividade solar. Ou seja, seria a atividade humana a causadora dos estragos no planeta. Para mim, é tema controverso.
Notinha da FSP:
Estudo inocenta Sol de mudança no clima global
DA REDAÇÃO
Uma das últimas tentativas de negar a culpa da ação humana no aquecimento global parece ter caído por terra de vez: nos últimos mil anos, o calor gerado pelo Sol tem se mantido basicamente constante, de acordo com um novo estudo."Nossos resultados mostram que, durante o último século, as influências humanas devem ter sido muito mais fortes que os efeitos das mudanças no brilho do Sol", afirmou Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, que coordenou o estudo.Ele mostrou que a variação de energia solar não ultrapassou os 0,07% nesse período. A pesquisa está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
Notinha da FSP:
Estudo inocenta Sol de mudança no clima global
DA REDAÇÃO
Uma das últimas tentativas de negar a culpa da ação humana no aquecimento global parece ter caído por terra de vez: nos últimos mil anos, o calor gerado pelo Sol tem se mantido basicamente constante, de acordo com um novo estudo."Nossos resultados mostram que, durante o último século, as influências humanas devem ter sido muito mais fortes que os efeitos das mudanças no brilho do Sol", afirmou Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, que coordenou o estudo.Ele mostrou que a variação de energia solar não ultrapassou os 0,07% nesse período. A pesquisa está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
quarta-feira, setembro 13, 2006
O que corrói a sociedade americana... e a nossa também
Divirtam-se com a excelente entrevista publicada na Folha, em 2005.
Esquerdismo acadêmico bloqueia debate
Autora de "Personas Sexuais" diz que banalização do politicamente correto dogmatiza a educação Para feminista, esquerdismo acadêmico bloqueia debate
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A feminista Camille Paglia, 58, não esconde o rancor quando o assunto é o "politicamente correto" do establishment liberal dos Estados Unidos, grupo cujo pensamento está mais associado à esquerda no país e que se contrapõe aos conservadores. Com língua afiada, queixa-se da uniformização e esterilidade do pensamento acadêmico, da lavagem cerebral feminista, da hipocrisia da esquerda moderna e resume o problema: "O liberalismo está intelectualmente exausto".
A derrota mais recente aconteceu mês passado, quando Larry Summers, reitor da Universidade Harvard, sucumbiu à pressão e decidiu deixar o cargo. Poucos se atreveram a defendê-lo em público e incorrer na mesma pecha de preconceito, racismo e falta de sofisticação acadêmica. Entre esses poucos, Paglia, mulher que se descreve como persona non grata dos campi mais prestigiosos dos Estados Unidos, mas é uma das intelectuais mais influentes no país pela atitude libertária.
Para ela, Summers, que foi também secretário do Tesouro do governo Bill Clinton, errou apenas na conduta, não no mérito das polêmicas que criou. Acovardou-se diante de uma luta válida contra o "politicamente correto entrincheirado" de Harvard, que também corrói outras faculdades de elite do país. Arquiinimiga do feminismo tradicional e "estalinista", considera que a "gafe" de Summers sobre as diferenças inatas de aptidão científica entre homens e mulheres deveria ter suscitado a inclusão da biologia no currículo de estudos de gênero, não num pedido de desculpas.
Em palestra em janeiro de 2005, Summers causou polêmica internacional ao propor uma investigação sobre as diferenças e a variabilidade dessas habilidades entre os sexos para explicar o número inferior de mulheres cientistas e engenheiras. "Nada me agradaria mais do que estar errado", disse Summers então. Porém foi pressionado a recuar e dizer que foi simplista e não tinha embasamento empírico para sustentar sua afirmação. Nisso, Paglia viu mais uma vitória do politicamente correto feminista que promove teses de que todas as diferenças de gênero são resultado de condicionamento social.
Em 2001, Summers confrontou o notório professor Cornel West, cuja produção acadêmica considerava insuficiente para seu posto. West, acadêmico negro, trocou Harvard por Princeton, na esteira de um debate mal resolvido sobre raça e mérito. Para Paglia, um exemplo de mimos dados a acadêmicos medíocres, protegidos pelo politicamente correto.Paglia não poupa ataques a Harvard. Avalia que Summers fracassou na reforma de uma instituição mais prezada pela tradição e rede de contatos profissionais do que pela qualidade de educação.
Autora dos livros "Personas Sexuais", "Sexo, Arte e Cultura Americana" e "Vamps e Vadias", Paglia está promover seu novo best-seller de análise poética, "Break Blow Burn" (sem título em português). Entre aulas e viagens, concordou em responder por escrito a perguntas da Folha. Leia a seguir trechos.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.
Folha - Por que ele fracassou?Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
Folha - O episódio Cornel West foi um exemplo de hipocrisia liberal?Paglia - Eu não sou uma admiradora de West, que nunca produziu livros do porte de seu ranking acadêmico cômodo e salário estonteante. Mas eu também não acho que cabe a um reitor de uma universidade cutucar ou provocar um professor sênior da forma que Summers fez com West.Se o Summers quisesse travar uma guerra contra a superpolitização do recrutamento de acadêmicos em Harvard, deveria ter anunciado um programa de ação. Agora, a fúria de West e sua ida para Princeton foram uma eloqüente demonstração da indulgência e do mimo aos quais essas estrelas estão acostumadas.
Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?- O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
Folha - Você avalia que a graduação de Harvard depende muito de reputação e virou um ímã de alunos e professores carreiristas?Paglia - A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito. Pais que pagam mais de US$ 40 mil ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades.
Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.
Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
Folha - Isso se traduz em que para os alunos?Paglia - Os estudantes estão sendo doutrinados pelo dogma do relativismo e do niilismo por professores pós-estruturalistas ou pós-construtivistas que parecem não ter valores ou paixão real pelo aprendizado. Por exemplo, Michel Foucault considerou "Esperando Godot", de Samuel Beckett, uma influência marcante na geração de pensadores da França pós-guerra. Eu sempre desprezei Godot pelo pessimismo reacionário e visão neurótica da fragmentação da cultura. A grande forma de arte da minha geração foi o rock, música empática, emocional, sensorial e conduzida pelos ritmos sublimes da natureza.
Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.
Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais.
Folha - E as cotas raciais, ajudaram ou atrapalharam?Paglia - A ação afirmativa, como diretriz federal, nunca deveria ter se tornado um sistema de cotas. Deveria apenas ter auxiliado negros da classe trabalhadora a obter acesso à educação universitária que não poderia ser bancada por outros meios. Mas a ação afirmativa foi seqüestrada por mulheres brancas no meio acadêmico; esse é o verdadeiro escândalo. Em todo campus da Ivy League [designação das mais prestigiosas universidades norte-americanas] há exemplos gritantes de mulheres brancas e medíocres que fizeram chantagem para obter cargos altos e lucrativos. São elas a pior fonte do politicamente correto.
Folha - Você é democrata?Paglia - Registrada e horrorizada com a desordem do partido.
Folha - Por que os democratas não conseguem reagir?Paglia - Não há liderança, coragem, programa para o futuro. É assustadora a patética inabilidade dos nossos senadores de capitalizar os erros de George W. Bush.
Folha - Como vê a ascensão do neoconservadorismo?Paglia - Eu respeito, mas não concordo com o ponto de vista conservador. Eles estão certos ao dizer que "o liberalismo está intelectualmente exausto". Os democratas já perderam o apelo com o público. Estamos numa era de terrorismo, e isso pode durar um século. Após o fiasco do Vietnã, os democratas ficaram antimilitares, e essa é uma das razões pela qual são vistos como incompetentes.
Folha - E a questão religiosa?Paglia - Essa é a segunda razão pela qual o neoconservadorismo aumentou seu poder. O humanismo secular, com o qual estou comprometida, tornou-se vazio. Eu sou atéia, mas reverencio as grandes religiões como formas espirituais de relacionar a humanidade e o cosmos. Os neoconservadores oferecem a sensação de tradição, estabilidade e propósito para quem repele o individualismo narcisista e hedonista do nosso tempo. Minha estratégia como escritora é oferecer a arte como uma alternativa à religião.
Esquerdismo acadêmico bloqueia debate
Autora de "Personas Sexuais" diz que banalização do politicamente correto dogmatiza a educação Para feminista, esquerdismo acadêmico bloqueia debate
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A feminista Camille Paglia, 58, não esconde o rancor quando o assunto é o "politicamente correto" do establishment liberal dos Estados Unidos, grupo cujo pensamento está mais associado à esquerda no país e que se contrapõe aos conservadores. Com língua afiada, queixa-se da uniformização e esterilidade do pensamento acadêmico, da lavagem cerebral feminista, da hipocrisia da esquerda moderna e resume o problema: "O liberalismo está intelectualmente exausto".
A derrota mais recente aconteceu mês passado, quando Larry Summers, reitor da Universidade Harvard, sucumbiu à pressão e decidiu deixar o cargo. Poucos se atreveram a defendê-lo em público e incorrer na mesma pecha de preconceito, racismo e falta de sofisticação acadêmica. Entre esses poucos, Paglia, mulher que se descreve como persona non grata dos campi mais prestigiosos dos Estados Unidos, mas é uma das intelectuais mais influentes no país pela atitude libertária.
Para ela, Summers, que foi também secretário do Tesouro do governo Bill Clinton, errou apenas na conduta, não no mérito das polêmicas que criou. Acovardou-se diante de uma luta válida contra o "politicamente correto entrincheirado" de Harvard, que também corrói outras faculdades de elite do país. Arquiinimiga do feminismo tradicional e "estalinista", considera que a "gafe" de Summers sobre as diferenças inatas de aptidão científica entre homens e mulheres deveria ter suscitado a inclusão da biologia no currículo de estudos de gênero, não num pedido de desculpas.
Em palestra em janeiro de 2005, Summers causou polêmica internacional ao propor uma investigação sobre as diferenças e a variabilidade dessas habilidades entre os sexos para explicar o número inferior de mulheres cientistas e engenheiras. "Nada me agradaria mais do que estar errado", disse Summers então. Porém foi pressionado a recuar e dizer que foi simplista e não tinha embasamento empírico para sustentar sua afirmação. Nisso, Paglia viu mais uma vitória do politicamente correto feminista que promove teses de que todas as diferenças de gênero são resultado de condicionamento social.
Em 2001, Summers confrontou o notório professor Cornel West, cuja produção acadêmica considerava insuficiente para seu posto. West, acadêmico negro, trocou Harvard por Princeton, na esteira de um debate mal resolvido sobre raça e mérito. Para Paglia, um exemplo de mimos dados a acadêmicos medíocres, protegidos pelo politicamente correto.Paglia não poupa ataques a Harvard. Avalia que Summers fracassou na reforma de uma instituição mais prezada pela tradição e rede de contatos profissionais do que pela qualidade de educação.
Autora dos livros "Personas Sexuais", "Sexo, Arte e Cultura Americana" e "Vamps e Vadias", Paglia está promover seu novo best-seller de análise poética, "Break Blow Burn" (sem título em português). Entre aulas e viagens, concordou em responder por escrito a perguntas da Folha. Leia a seguir trechos.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.
Folha - Por que ele fracassou?Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
Folha - O episódio Cornel West foi um exemplo de hipocrisia liberal?Paglia - Eu não sou uma admiradora de West, que nunca produziu livros do porte de seu ranking acadêmico cômodo e salário estonteante. Mas eu também não acho que cabe a um reitor de uma universidade cutucar ou provocar um professor sênior da forma que Summers fez com West.Se o Summers quisesse travar uma guerra contra a superpolitização do recrutamento de acadêmicos em Harvard, deveria ter anunciado um programa de ação. Agora, a fúria de West e sua ida para Princeton foram uma eloqüente demonstração da indulgência e do mimo aos quais essas estrelas estão acostumadas.
Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?- O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
Folha - Você avalia que a graduação de Harvard depende muito de reputação e virou um ímã de alunos e professores carreiristas?Paglia - A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito. Pais que pagam mais de US$ 40 mil ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades.
Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.
Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
Folha - Isso se traduz em que para os alunos?Paglia - Os estudantes estão sendo doutrinados pelo dogma do relativismo e do niilismo por professores pós-estruturalistas ou pós-construtivistas que parecem não ter valores ou paixão real pelo aprendizado. Por exemplo, Michel Foucault considerou "Esperando Godot", de Samuel Beckett, uma influência marcante na geração de pensadores da França pós-guerra. Eu sempre desprezei Godot pelo pessimismo reacionário e visão neurótica da fragmentação da cultura. A grande forma de arte da minha geração foi o rock, música empática, emocional, sensorial e conduzida pelos ritmos sublimes da natureza.
Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.
Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais.
Folha - E as cotas raciais, ajudaram ou atrapalharam?Paglia - A ação afirmativa, como diretriz federal, nunca deveria ter se tornado um sistema de cotas. Deveria apenas ter auxiliado negros da classe trabalhadora a obter acesso à educação universitária que não poderia ser bancada por outros meios. Mas a ação afirmativa foi seqüestrada por mulheres brancas no meio acadêmico; esse é o verdadeiro escândalo. Em todo campus da Ivy League [designação das mais prestigiosas universidades norte-americanas] há exemplos gritantes de mulheres brancas e medíocres que fizeram chantagem para obter cargos altos e lucrativos. São elas a pior fonte do politicamente correto.
Folha - Você é democrata?Paglia - Registrada e horrorizada com a desordem do partido.
Folha - Por que os democratas não conseguem reagir?Paglia - Não há liderança, coragem, programa para o futuro. É assustadora a patética inabilidade dos nossos senadores de capitalizar os erros de George W. Bush.
Folha - Como vê a ascensão do neoconservadorismo?Paglia - Eu respeito, mas não concordo com o ponto de vista conservador. Eles estão certos ao dizer que "o liberalismo está intelectualmente exausto". Os democratas já perderam o apelo com o público. Estamos numa era de terrorismo, e isso pode durar um século. Após o fiasco do Vietnã, os democratas ficaram antimilitares, e essa é uma das razões pela qual são vistos como incompetentes.
Folha - E a questão religiosa?Paglia - Essa é a segunda razão pela qual o neoconservadorismo aumentou seu poder. O humanismo secular, com o qual estou comprometida, tornou-se vazio. Eu sou atéia, mas reverencio as grandes religiões como formas espirituais de relacionar a humanidade e o cosmos. Os neoconservadores oferecem a sensação de tradição, estabilidade e propósito para quem repele o individualismo narcisista e hedonista do nosso tempo. Minha estratégia como escritora é oferecer a arte como uma alternativa à religião.
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