segunda-feira, dezembro 31, 2007
Feliz 2008!
Fim de ano, festas, viagens... Estive longe da internet por alguns dias e só agora apareço aqui para desejar a todos um belíssimo 2008!
sexta-feira, dezembro 21, 2007
De solstícios e equinócios
Vim ao mundo no solstício de verão de 1970. Quer dizer, não sei bem se aquele dia 21 de dezembro foi mesmo o solstício, já que costuma variar entre 21 e 23. Whatever.
Fazer aniversário perto do Natal é bom e ruim. A gente costuma ganhar só um presente. Não dos pais, claro. Mas não estou sozinho nisso. Meu irmão Sócrates faz 30 amanhã, dia 22. Parabéns, Tóti!
Mas a vantagem é que nos tempos de escola já estávamos em férias. Podia jogar bola o dia todo. Hoje só jogo às quartas-feiras. Uma única horinha em toda a semana!
Mas é bom fazer aniversário por estes dias porque há sempre um clima bom de Natal - ainda que esta época do ano me deixe meio ensimesmado. Sim, concordo, parece contraditório.
O fato é que dos 37 anos, os sete em que morei em São Paulo foram os que passaram mais rápido. Fiz 30 e, de repente, já estou na segunda metade dos trinta. O tempo é cruel.
Os solstícios - de inverno e de verão - costumam ser datas de muito significado no mundo todo. O Natal chegou a ser fixado em 25 de dezembro porque essa data coincidia com o solstício de inverno no Hemisfério Norte, pelo calendário juliano. Na verdade, as festas pagãs realizadas nos períodos de solstício e de equinócio foram quase todas apropriadas pelo cristianismo - Natal, Páscoa, etc.
Fazer aniversário perto do Natal é bom e ruim. A gente costuma ganhar só um presente. Não dos pais, claro. Mas não estou sozinho nisso. Meu irmão Sócrates faz 30 amanhã, dia 22. Parabéns, Tóti!
Mas a vantagem é que nos tempos de escola já estávamos em férias. Podia jogar bola o dia todo. Hoje só jogo às quartas-feiras. Uma única horinha em toda a semana!
Mas é bom fazer aniversário por estes dias porque há sempre um clima bom de Natal - ainda que esta época do ano me deixe meio ensimesmado. Sim, concordo, parece contraditório.
O fato é que dos 37 anos, os sete em que morei em São Paulo foram os que passaram mais rápido. Fiz 30 e, de repente, já estou na segunda metade dos trinta. O tempo é cruel.
Os solstícios - de inverno e de verão - costumam ser datas de muito significado no mundo todo. O Natal chegou a ser fixado em 25 de dezembro porque essa data coincidia com o solstício de inverno no Hemisfério Norte, pelo calendário juliano. Na verdade, as festas pagãs realizadas nos períodos de solstício e de equinócio foram quase todas apropriadas pelo cristianismo - Natal, Páscoa, etc.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Imperdível
O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas preparou um guia sobre o mundo digital para jornalistas. O download do e-book é gratuito.
Um belo exemplo
Dona Florinda tirou o primeiro diploma aos 9o anos. Não é mais analfabeta. É o tipo de coisa que me deixa emocionado. É o tipo de gente que admiro.
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Campanha pela sensatez
Os jornais do grupo RBS têm capas fantásticas hoje. Diário Catarinense e Zero Hora mostram a seguinte manchete: "Isso tem que ter fim"
Abaixo, simplesmente uma lista de nomes de pessoas e a respectiva idade... com que morreram em acidentes de trânsito em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, no verão passado.
Nas estradas catarinenses, morreram 261 pessoas. Outras 379 perderam a vida no Rio Grande do Sul. Não precisa dizer mais nada, não é mesmo?
Essa é uma campanha da RBS para tentar reduzir esse absurdo. Não sei exatamente se funciona, mas a parabenizo pela iniciativa.
E as capas dos jornais ficaram ótimas. A Zero Hora já havia feito algo parecido no desastre do avião da Tam - a capa toda coberta com as fotos das vítimas. Ela concorre, aliás, ao prêmio Esso de melhor capa deste ano. Parabéns aos colegas jornalistas e ao Marcelo Rech, diretor de jornais da RBS.
Eu só trocaria o slogan para "Isso tem que acabar", para evitar a repetição do verbo "ter".
Dawkins, Dennett, Harris e Hitchens
Esta eu tirei lá do blog do Tambosi. Os quatro "cavaleiros" falam de ciência e religião. Ou melhor, por que são acusados pelos religiosos de arrogantes e outros adjetivos poucos simpáticos. Vale a pena.
terça-feira, dezembro 18, 2007
O contraponto ao catastrofismo
Do International Herald Tribune.
Excesso de retórica ambientalista enfraquece argumentação contra o aquecimento global
John Vinocur
As pessoas que se preocupam com o aquecimento global contam com uma boa argumentação. Uma argumentação que tem tanto mérito que as figuras de retórica atualmente usadas para apoiá-la - nações mobilizadas para a guerra, coragem moral, Hitler, Churchill - minam a sua credibilidade.
Essas palavras se constituem em fatores excludentes, bloqueadores maniqueístas da discussão e barreiras do tipo "ou está conosco ou está contra nós" de tal magnitude que elas tendem a transformar perguntas, sugestões e diversas interpretações da questão em dissenso herético.
Bastava ouvir Al Gore na semana passada, aceitando a sua parcela do Prêmio Nobel da Paz por ter popularizado a idéia de que o controle climático constitui-se em um vasto problema internacional:"Quando se trata de aquecimento global, atualmente um número muito reduzido de líderes se constitui em Winstons Churchill respondendo à ameaça representada por um Hitler", disse Gore. Para ele, neste momento o mundo precisa aglutinar uma determinação que só foi vista anteriormente "quando nações mobilizaram-se para a guerra".
Ele disse: "Nós e o clima da Terra estamos interconectados em uma relação que é familiar para os planejadores da guerra - a garantia da destruição mútua". E conclamou: "Seja um daqueles que a quem a História perguntará com admiração, 'Como você encontrou a coragem moral para se levantar e enfrentar uma crise que muitos descreveram como não tendo solução?'"
Se a certeza e a retidão expressas nessas frases terminarem vinculadas às preocupações que costumam ser menos exaltadas, como aquela com o preço do litro de gasolina ou com a luta para se eleger em um mundo de temores imediatos, uma candidatura poderá entrar em colapso devido ao peso do excesso político de Gore.
Avaliemos o quadro: aquecimento global é política, assim como a política é a administração de opções; e a demagogia é a política feita de uma forma que não permite tais opções e a suas discussões. Bjorn Lomborg está longe de se definir como anti-Gore - ele acredita que o aquecimento global realmente existe e que os seres humanos são um fator central para a intensificação desse problema -, mas ele é rotulado de negador da crise climática. Isso soa meio como uma tentativa de colocá-lo na categoria de um David Irving, que foi preso na Áustria por negar a existência do Holocausto.
Lomborg, um professor dinamarquês de estatística que se auto-descreve como "um pouco esquerdista na Dinamarca, o que provavelmente faz de mim uma pessoa muito esquerdista nos Estados Unidos", apresenta uma análise não histérica da mudança climática em livros (como, "Cool It: The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming"/algo como "Esfriando as Coisas: O Guia do Aquecimento Global para o Ambientalista Cético") e palestras.
Basicamente, sem guinchos apocalípticos ou o desprezo zombeteiro dos desmascaradores, Lomborg diz que a discussão real é "sobre o quanto podemos fazer". A sua opinião:"Se você gastar US$ 180 bilhões anualmente com a redução das emissões de dióxido de carbono por meio do processo de Kyoto, será capaz de adiar o aquecimento global em cinco anos no final do século. Mas se esse dinheiro for destinado a pesquisa e desenvolvimento no sentido de que se lide melhor com o processo em um período de 50 anos, ou se for gasto com coisas mais concretas, como a restauração de pântanos e charcos ou o combate a malária, o mundo terá feito um bem formidável às pessoas e à natureza reais".
Vários argumentos de Lomborg reduzem o teor dramático do debate ao criarem modelos para o aquecimento global baseados em projeção médias fundamentadas em tendências existentes. Até mesmo para os imparciais, isso nitidamente não leva muito em conta os piores cenários possíveis, e Lomborg me disse que o seu livro deveria ter um capítulo que proporcionasse uma análise racional da possibilidade das hipóteses mais assustadoras.
Mas Lomborg não retrocede. Em uma conversa, ele disse que pronunciamentos como o discurso de Gore ao receber o Prêmio Nobel dizem respeito a sustentar o pânico como um substituto para "as questões e políticas desagradáveis e chatas relativas à infra-estrutura" que se concentrariam em controlar danos causados por inundações ou furacões no futuro relativamente próximo.
"Essa abordagem permitiu aos políticos centralizar as atenções como defensores dos interesses da humanidade, distanciando-se daquela luta diária que é típica da política baseada no auto-interesse". Nomes, por favor? Gerhard Schröder, Angela Merkel, respondeu ele.
Lomborg argumenta que ficar do lado certo quanto aos padrões de níveis de emissão foi uma jogada fácil para a Alemanha e o Reino Unido, já que as circunstâncias industriais dos dois países quase que acidentalmente os colocaram nessa posição desde 1997.
E quanto ao processo de Kyoto, como é que ele o vê politicamente? Sem ser amigo do governo Bush, Lomborg disse que, "se os Estados Unidos não estiverem cooperando, para muitos isto torna Kyoto algo extra-bom e correto".
No seu livro, Lomborg sustenta: "Infelizmente Kyoto tornou-se o símbolo da oposição a um Estados Unidos aparentemente desinteressado nas opiniões do resto do mundo. Assim, Kyoto foi ressuscitado politicamente sem ter sido seriamente questionado quando à sua eficiência e factibilidade. E essa é a verdadeira questão: Kyoto é ao mesmo tempo impossivelmente ambicioso e ambientalmente desimportante. As suas tentativas de modificar padrões que vigoram há séculos em 15 anos terminaram custando uma fortuna e apresentando quase que nenhum resultado".
Lomborg comparou Kyoto "às políticas maçantes" e às concessões necessárias para se lidar com a Rodada Doha, as negociações de comércio mundial, notavelmente no que se refere aos subsídios agrícolas, que estão se desenrolando desde 2001 entre os países industriais e o mundo em desenvolvimento.
"A Europa simplesmente não cede", disse ele. "Eis aqui uma questão moral que ilude tanto os consumidores europeus quanto as perspectivas de construção de economias vigorosas nas nações pobres".Nada disso torna Lomborg um negador da crise climática. Seria mais justo chamá-lo de relativista climático.
Mas, e quanto a Al Gore? Talvez ele devesse ser chamado de absolutista climático. Para Gore, o aquecimento global constitui-se em uma última chance de redenção universal para a população atual. Compre essa causa e, conforme as palavras de Lomborg ao citar o ex-vice-presidente, "ganhe uma missão que engloba gerações; o regozijo do objetivo moral; uma causa compartilhada e unificadora; a emoção de ser forçado pelas circunstâncias a deixar de lado as mediocridades e conflitos que com tanta freqüência reprimem a incansável necessidade humana de transcendência".
Isso é algo mais do que encontrar um campo efetivo de respostas para o aquecimento global. Em síntese, trata-se de uma abordagem que provoca o efeito divisivo e até mesmo debilitante de falar sobre soluções em termos cataclísmicos ou messiânicos. Incluindo referências à guerra e à paz, às desprezadas advertências de Winston Churchill e à brutalidade de Adolf Hitler.
Excesso de retórica ambientalista enfraquece argumentação contra o aquecimento global
John Vinocur
As pessoas que se preocupam com o aquecimento global contam com uma boa argumentação. Uma argumentação que tem tanto mérito que as figuras de retórica atualmente usadas para apoiá-la - nações mobilizadas para a guerra, coragem moral, Hitler, Churchill - minam a sua credibilidade.
Essas palavras se constituem em fatores excludentes, bloqueadores maniqueístas da discussão e barreiras do tipo "ou está conosco ou está contra nós" de tal magnitude que elas tendem a transformar perguntas, sugestões e diversas interpretações da questão em dissenso herético.
Bastava ouvir Al Gore na semana passada, aceitando a sua parcela do Prêmio Nobel da Paz por ter popularizado a idéia de que o controle climático constitui-se em um vasto problema internacional:"Quando se trata de aquecimento global, atualmente um número muito reduzido de líderes se constitui em Winstons Churchill respondendo à ameaça representada por um Hitler", disse Gore. Para ele, neste momento o mundo precisa aglutinar uma determinação que só foi vista anteriormente "quando nações mobilizaram-se para a guerra".
Ele disse: "Nós e o clima da Terra estamos interconectados em uma relação que é familiar para os planejadores da guerra - a garantia da destruição mútua". E conclamou: "Seja um daqueles que a quem a História perguntará com admiração, 'Como você encontrou a coragem moral para se levantar e enfrentar uma crise que muitos descreveram como não tendo solução?'"
Se a certeza e a retidão expressas nessas frases terminarem vinculadas às preocupações que costumam ser menos exaltadas, como aquela com o preço do litro de gasolina ou com a luta para se eleger em um mundo de temores imediatos, uma candidatura poderá entrar em colapso devido ao peso do excesso político de Gore.
Avaliemos o quadro: aquecimento global é política, assim como a política é a administração de opções; e a demagogia é a política feita de uma forma que não permite tais opções e a suas discussões. Bjorn Lomborg está longe de se definir como anti-Gore - ele acredita que o aquecimento global realmente existe e que os seres humanos são um fator central para a intensificação desse problema -, mas ele é rotulado de negador da crise climática. Isso soa meio como uma tentativa de colocá-lo na categoria de um David Irving, que foi preso na Áustria por negar a existência do Holocausto.
Lomborg, um professor dinamarquês de estatística que se auto-descreve como "um pouco esquerdista na Dinamarca, o que provavelmente faz de mim uma pessoa muito esquerdista nos Estados Unidos", apresenta uma análise não histérica da mudança climática em livros (como, "Cool It: The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming"/algo como "Esfriando as Coisas: O Guia do Aquecimento Global para o Ambientalista Cético") e palestras.
Basicamente, sem guinchos apocalípticos ou o desprezo zombeteiro dos desmascaradores, Lomborg diz que a discussão real é "sobre o quanto podemos fazer". A sua opinião:"Se você gastar US$ 180 bilhões anualmente com a redução das emissões de dióxido de carbono por meio do processo de Kyoto, será capaz de adiar o aquecimento global em cinco anos no final do século. Mas se esse dinheiro for destinado a pesquisa e desenvolvimento no sentido de que se lide melhor com o processo em um período de 50 anos, ou se for gasto com coisas mais concretas, como a restauração de pântanos e charcos ou o combate a malária, o mundo terá feito um bem formidável às pessoas e à natureza reais".
Vários argumentos de Lomborg reduzem o teor dramático do debate ao criarem modelos para o aquecimento global baseados em projeção médias fundamentadas em tendências existentes. Até mesmo para os imparciais, isso nitidamente não leva muito em conta os piores cenários possíveis, e Lomborg me disse que o seu livro deveria ter um capítulo que proporcionasse uma análise racional da possibilidade das hipóteses mais assustadoras.
Mas Lomborg não retrocede. Em uma conversa, ele disse que pronunciamentos como o discurso de Gore ao receber o Prêmio Nobel dizem respeito a sustentar o pânico como um substituto para "as questões e políticas desagradáveis e chatas relativas à infra-estrutura" que se concentrariam em controlar danos causados por inundações ou furacões no futuro relativamente próximo.
"Essa abordagem permitiu aos políticos centralizar as atenções como defensores dos interesses da humanidade, distanciando-se daquela luta diária que é típica da política baseada no auto-interesse". Nomes, por favor? Gerhard Schröder, Angela Merkel, respondeu ele.
Lomborg argumenta que ficar do lado certo quanto aos padrões de níveis de emissão foi uma jogada fácil para a Alemanha e o Reino Unido, já que as circunstâncias industriais dos dois países quase que acidentalmente os colocaram nessa posição desde 1997.
E quanto ao processo de Kyoto, como é que ele o vê politicamente? Sem ser amigo do governo Bush, Lomborg disse que, "se os Estados Unidos não estiverem cooperando, para muitos isto torna Kyoto algo extra-bom e correto".
No seu livro, Lomborg sustenta: "Infelizmente Kyoto tornou-se o símbolo da oposição a um Estados Unidos aparentemente desinteressado nas opiniões do resto do mundo. Assim, Kyoto foi ressuscitado politicamente sem ter sido seriamente questionado quando à sua eficiência e factibilidade. E essa é a verdadeira questão: Kyoto é ao mesmo tempo impossivelmente ambicioso e ambientalmente desimportante. As suas tentativas de modificar padrões que vigoram há séculos em 15 anos terminaram custando uma fortuna e apresentando quase que nenhum resultado".
Lomborg comparou Kyoto "às políticas maçantes" e às concessões necessárias para se lidar com a Rodada Doha, as negociações de comércio mundial, notavelmente no que se refere aos subsídios agrícolas, que estão se desenrolando desde 2001 entre os países industriais e o mundo em desenvolvimento.
"A Europa simplesmente não cede", disse ele. "Eis aqui uma questão moral que ilude tanto os consumidores europeus quanto as perspectivas de construção de economias vigorosas nas nações pobres".Nada disso torna Lomborg um negador da crise climática. Seria mais justo chamá-lo de relativista climático.
Mas, e quanto a Al Gore? Talvez ele devesse ser chamado de absolutista climático. Para Gore, o aquecimento global constitui-se em uma última chance de redenção universal para a população atual. Compre essa causa e, conforme as palavras de Lomborg ao citar o ex-vice-presidente, "ganhe uma missão que engloba gerações; o regozijo do objetivo moral; uma causa compartilhada e unificadora; a emoção de ser forçado pelas circunstâncias a deixar de lado as mediocridades e conflitos que com tanta freqüência reprimem a incansável necessidade humana de transcendência".
Isso é algo mais do que encontrar um campo efetivo de respostas para o aquecimento global. Em síntese, trata-se de uma abordagem que provoca o efeito divisivo e até mesmo debilitante de falar sobre soluções em termos cataclísmicos ou messiânicos. Incluindo referências à guerra e à paz, às desprezadas advertências de Winston Churchill e à brutalidade de Adolf Hitler.
sábado, dezembro 15, 2007
Utilidade pública
Aos turistas que pretendem vir a Santa Catarina neste verão, um serviço de utilidade pública. Veja aqui como estão as condições de balneabilidade das praias catarinenses. O mar de Balneário Camboriú, por exemplo, a mais movimentada, está em péssimas condições. É praticamente um esgoto a céu aberto, com exceção da ponta Sul e de Estaleiro. Em Florianópolis a coisa não é muito melhor, não.
Na minha Balneário Arroio do Silva, dos dois pontos medidos pela Fatma, um deles está impróprio para banho. Já Morro dos Conventos, em Araranguá, está em boas condições.
É um retrato da falta de saneamento básico em Santa Catarina, um dos estados mais desenvolvidos do país. Uma vergonha para um estado que se propõe turístico.
Na minha Balneário Arroio do Silva, dos dois pontos medidos pela Fatma, um deles está impróprio para banho. Já Morro dos Conventos, em Araranguá, está em boas condições.
É um retrato da falta de saneamento básico em Santa Catarina, um dos estados mais desenvolvidos do país. Uma vergonha para um estado que se propõe turístico.
sexta-feira, dezembro 14, 2007
É dose
É possível o editor de um veículo especializado em economia e negócios não saber o que vem a ser balanço de pagamentos? É, sim. Tudo bem que o cara só escreva sobre aqueles temas chatos de gestão; aqueles mesmos que costumam ser objeto da chamada literatura de aeroporto. Mas o problema é que fica chato o cara perguntar em alto e bom som se "um tal de balanço de pagamentos" se escreve com caixa alta ou baixa (maiúscula ou minúscula). Fiz questão de mostrar minha cara de espanto diante de demonstração de tamanha ignorância.
E a figura já tem anos de experiência, o que lhe rendeu um ar meio arrogante e presunçoso. Isso tudo porque conhece todos os gurus do que se convencionou chamar de "gestão de empresas" - o campo mais fértil para a proliferação da picaretagem acadêmica. E acha que isso é economia.
E a figura já tem anos de experiência, o que lhe rendeu um ar meio arrogante e presunçoso. Isso tudo porque conhece todos os gurus do que se convencionou chamar de "gestão de empresas" - o campo mais fértil para a proliferação da picaretagem acadêmica. E acha que isso é economia.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Palestras dos laureados
No site do Prêmio Nobel é possível assistir às palestras dos ganhadores deste ano e acompanhar os slides ao mesmo tempo. Realmente, vale a pena.
terça-feira, dezembro 11, 2007
Desabou o mundo
Um dia de São Paulo em Balneário Camboriú. A cidade parou durante a manhã e boa parte continuou inacessível durante todo o dia. Choveu em algumas horas o equivalente ao mês todo. Minha mulher não conseguiu chegar no trabalho. Saiu de casa e ficou ilhada. Voltou para casa e tentamos uns minutos mais tarde, quando a chuva cedera. Não deu. Ficamos parado num posto de gasolina até o meio-dia. O jeito foi dar uma baita volta, ir até o trevo de Itajaí e voltar pela BR-101.
Morei em São Paulo quase oito anos e nunca passei por uma dessas. Tal qual a capital paulista, descobri que Balneário Camboriú também é uma cidade impermeável. Mas isso nem foi o pior. Pior mesmo foi a água entrando nas casas e desabrigando muitas famílias, que perderam móveis e tudo mais. Uma lástima.
Morei em São Paulo quase oito anos e nunca passei por uma dessas. Tal qual a capital paulista, descobri que Balneário Camboriú também é uma cidade impermeável. Mas isso nem foi o pior. Pior mesmo foi a água entrando nas casas e desabrigando muitas famílias, que perderam móveis e tudo mais. Uma lástima.
Os idiotas latino-americanos da academia
Mais uma do vestibular da UFSC. Na abertura de uma questão da prova de História, lia-se algo assim: a revolução cubana estimulou a intelectualidade de esquerda na América Latina na busca por um futuro melhor para os povos. Assim mesmo, na cara dura.
Uma das alternativas da mesma questão dizia que a revolução cubana teve a mesma importância para a América Latina como a chinesa para Ásia e a russa para a Europa. E daí, fazer o que, nesse caso? Assinalei que sim. Acho que era o que eles queriam ler.
Deixei vários comentários de protesto ao longo da prova. Sem contar que algumas questões tinham alternativas que poderiam estar certa ou errada, dependendo do ponto de vista. Um comunista realmente vai concordar com a abertura da questão a que me referi. É dose.
Uma das alternativas da mesma questão dizia que a revolução cubana teve a mesma importância para a América Latina como a chinesa para Ásia e a russa para a Europa. E daí, fazer o que, nesse caso? Assinalei que sim. Acho que era o que eles queriam ler.
Deixei vários comentários de protesto ao longo da prova. Sem contar que algumas questões tinham alternativas que poderiam estar certa ou errada, dependendo do ponto de vista. Um comunista realmente vai concordar com a abertura da questão a que me referi. É dose.
Pensando alto
A prova de língua portuguesa do vestibular da UFSC continha um excerto de um texto de Marilena Chauí sobre, vejam vocês,... ética! A cidadã que defendeu o governo Lula nos vários escândalos em que se meteu com a alegação de que tudo não passou de invenção da mídia burguesa e golpista.
Aridez
Andei meio sumido, eu sei. Como não sou rico, preciso trabalhar. Estive na redação de um veículo de comunicação aqui do Sul. Como andam modorrentas estas redações. Uma molecada não sei se arrogante ou se tímida que se esconde à frente da tela do computador. Uma aridez só.
Não é um fenômeno local, não. No país inteiro é assim. As redações costumam ter um clima sepulcral. As discussões, quando ocorrem, costumam ser um punhado de lugares comuns. Na maioria das vezes, reles tentativa de demonstração de "cultura". E o significado dessa palavra é quase sempre reduzido a coisas como cinema e música - quando muito, teatro. Literatura anda meio em baixa. Ciência? Nem pensar.
Sim, mas eu também não tenho muita paciência para papo cabeça do pessoal da "cultura". Muito menos para discussões políticas que resvalam para o lugar comum, para os clichês e frases feitas tiradas de cartilhas de grupelhos "de esquerda". Dão-me ânsia de vômito.
Quatro dias trabalhando fora foram suficientes para sentir uma baita falta do isolamento de meu escritório residencial. Pelo menos aqui posso de debater com gente bem mais interessante. Ora com Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, ora com Mirowski, ou então Machado ou Carl Sagan. Como as pessoas andam desinteressantes! Ou estarei eu ainda mais rabugento do que de costume? Acho que as duas coisas.
Mas há exceções. Pelo menos soube que um amigo anda fazendo a festa na bolsa de valores. Aprendi alguma coisa útil nestes quatro dias, sem dúvida. Huuum, acho que vou pensar melhor neste assunto.
Não é um fenômeno local, não. No país inteiro é assim. As redações costumam ter um clima sepulcral. As discussões, quando ocorrem, costumam ser um punhado de lugares comuns. Na maioria das vezes, reles tentativa de demonstração de "cultura". E o significado dessa palavra é quase sempre reduzido a coisas como cinema e música - quando muito, teatro. Literatura anda meio em baixa. Ciência? Nem pensar.
Sim, mas eu também não tenho muita paciência para papo cabeça do pessoal da "cultura". Muito menos para discussões políticas que resvalam para o lugar comum, para os clichês e frases feitas tiradas de cartilhas de grupelhos "de esquerda". Dão-me ânsia de vômito.
Quatro dias trabalhando fora foram suficientes para sentir uma baita falta do isolamento de meu escritório residencial. Pelo menos aqui posso de debater com gente bem mais interessante. Ora com Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, ora com Mirowski, ou então Machado ou Carl Sagan. Como as pessoas andam desinteressantes! Ou estarei eu ainda mais rabugento do que de costume? Acho que as duas coisas.
Mas há exceções. Pelo menos soube que um amigo anda fazendo a festa na bolsa de valores. Aprendi alguma coisa útil nestes quatro dias, sem dúvida. Huuum, acho que vou pensar melhor neste assunto.
sexta-feira, novembro 30, 2007
A realidade se impõe
O noticiário confunde a gente de vez em quando, não é mesmo? Ué, jornalista admitindo que se confunde com as notícias? É mais ou menos isso, sim. Num dia, o "presimente" da República comemora a entrada do Brasil no rol dos países de alto Índice de Desevolvimento Humano (IDH). Não esqueçam que esse é o mesmo índice que os petistas tanto detrataram há anos. Pensei cá comigo: agora vai! Parece que o país melhorou, mesmo. Pelo menos nos três aspectos medidos pelo IDH: renda per capita, escolaridade e expectativa de vida. Mas tem alguma coisa estranha aí.
Uma semana depois, a realidade se impõe. A OCDE diz que os nossos pobres alunos estão lá na rabeira quando o assunto é ciência. Entre 57 países, os brasileiros ficaram em 52º lugar - só na frente de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. Lá na frente, aparecem Finlândia, Hong Kong e Canadá (ah, o meu visto de imigração não há de demorar).
Ah, era isso que estava errado - entre muitas outras coisas não medidas pelo IDH. Se hoje há muito mais jovens na escola do que há quatro ou cinco décadas, por outro lado, a qualidade do ensino é péssima. Outro dia uma destas "pesquisas" mostrou que os alunos que saem do segundo grau têm conhecimentos equivalentes aos da quinta série. E todas as pesquisas apontam o ensino brasileiro como um dos piores do mundo.
No ano passado, estive com professor de filosofia da UFSC e, não lembro bem por que, o tema da qualidade da educação veio à tona. E ele me contou uma historinha que ouvira havia pouco tempo, que ilustrava bem a situação da educação no Brasil. Se me recordo bem, ele ouvira um professor do ensino fundamental reclamar do calendário letivo do ano seguinte, quando as aulas começariam muito cedo. Mas algum problem pedagógico havia? Não, ele simplesmente seria prejudicado porque não poderia aproveitar mais o verão para uma atividade importante: catar latinhas para vendê-las e complementar o salário de professor! "Como é que essa criatura tem condições de ensinar alguma coisa", perguntou-me o colega dele de profissão.
É uma questão de gerenciamento de recursos públicos. O governo atual prefere botar o dinheiro em programas meramente assistencialistas, de onde os pobres nunca sairão, em vez de investí-lo para melhorar a situação da educação - o que daria aos mais pobres as condições necessárias para a quebra do ciclo de pobreza. Mas isso não renderia tantos votos.
Uma semana depois, a realidade se impõe. A OCDE diz que os nossos pobres alunos estão lá na rabeira quando o assunto é ciência. Entre 57 países, os brasileiros ficaram em 52º lugar - só na frente de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. Lá na frente, aparecem Finlândia, Hong Kong e Canadá (ah, o meu visto de imigração não há de demorar).
Ah, era isso que estava errado - entre muitas outras coisas não medidas pelo IDH. Se hoje há muito mais jovens na escola do que há quatro ou cinco décadas, por outro lado, a qualidade do ensino é péssima. Outro dia uma destas "pesquisas" mostrou que os alunos que saem do segundo grau têm conhecimentos equivalentes aos da quinta série. E todas as pesquisas apontam o ensino brasileiro como um dos piores do mundo.
No ano passado, estive com professor de filosofia da UFSC e, não lembro bem por que, o tema da qualidade da educação veio à tona. E ele me contou uma historinha que ouvira havia pouco tempo, que ilustrava bem a situação da educação no Brasil. Se me recordo bem, ele ouvira um professor do ensino fundamental reclamar do calendário letivo do ano seguinte, quando as aulas começariam muito cedo. Mas algum problem pedagógico havia? Não, ele simplesmente seria prejudicado porque não poderia aproveitar mais o verão para uma atividade importante: catar latinhas para vendê-las e complementar o salário de professor! "Como é que essa criatura tem condições de ensinar alguma coisa", perguntou-me o colega dele de profissão.
É uma questão de gerenciamento de recursos públicos. O governo atual prefere botar o dinheiro em programas meramente assistencialistas, de onde os pobres nunca sairão, em vez de investí-lo para melhorar a situação da educação - o que daria aos mais pobres as condições necessárias para a quebra do ciclo de pobreza. Mas isso não renderia tantos votos.
terça-feira, novembro 27, 2007
Chaer espanca PHA
Márcio Chaer, do Conjur, não poupa o príncipe dos chapas brancas - porque o rei é um pouco mais velho (if you know what I mean).
Chinelada no chapa branca
O chapa branca mor, Paulo Henrique Amorim, apanhou no primeiro round contra Mainardi.
Do Comunique-se
A Justiça de São Paulo julgou improcedente ação de danos morais movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim contra seu colega Diogo Mainardi e a Editora Abril. A ação foi motivada pela coluna "A Voz do PT", publicada na revista Veja, em que Mainardi afirma que o dinheiro gasto para manter a página de Amorim no iG é público, e que o portal segue uma linha editorial “petista”. A decisão é em primeira instância, e Amorim pode recorrer.
Do Comunique-se
A Justiça de São Paulo julgou improcedente ação de danos morais movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim contra seu colega Diogo Mainardi e a Editora Abril. A ação foi motivada pela coluna "A Voz do PT", publicada na revista Veja, em que Mainardi afirma que o dinheiro gasto para manter a página de Amorim no iG é público, e que o portal segue uma linha editorial “petista”. A decisão é em primeira instância, e Amorim pode recorrer.
quarta-feira, novembro 21, 2007
Tristes trópicos
Noblat reproduz texto esclarecedor de Miriam Leitão sobre o expurgo ideológico ocorrido no Ipea. Stalin vive.
terça-feira, novembro 20, 2007
Cinismo "de esquerda"
É engraçado como, para justificar uma atitude autoritária e antidemocrática, algumas autoridades recorrem a "tecnicalidades". Para justificar o fechamento da RCTV, o Chapolim Colorado venezuelano disse que simplesmente a concessão expirara e que não seria renovada. Já para justificar o expurgo ideológico de quatro pesquisadores, o Ipea (Pochmann e Unger) diz que foi apenas uma "questão administrativa".
É o cinismo "de esquerda" que segue firme e forte na América Lat(r)ina. O nosso presidente, por exemplo, diz que há democracia na Venezuela porque há eleições. De novo, se apega à formalidade, à tecnicalidade. Como já apontaram outros blogueiros, democracia é muito mais do que isso. Eleição é condição necessária, mas não suficiente, para haver democracia.
Mas não sei nem por que estou aqui defendendo os expurgados do Ipea, já que um deles - Fábio Giambiagi - se recusa a falar sobre isso, como mostrou a Folha hoje.
É o cinismo "de esquerda" que segue firme e forte na América Lat(r)ina. O nosso presidente, por exemplo, diz que há democracia na Venezuela porque há eleições. De novo, se apega à formalidade, à tecnicalidade. Como já apontaram outros blogueiros, democracia é muito mais do que isso. Eleição é condição necessária, mas não suficiente, para haver democracia.
Mas não sei nem por que estou aqui defendendo os expurgados do Ipea, já que um deles - Fábio Giambiagi - se recusa a falar sobre isso, como mostrou a Folha hoje.
quinta-feira, novembro 15, 2007
CENSURA
Neste dia da proclamação da República, uma notícia na capa da Folha me deixou extremamente aborrecido. Quatro economistas foram "expurgados" do Ipea, órgão dirigido pelo economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp, e com quem trabalhei em 2004, na prefeitura de São Paulo. O expurgo, segundo a Folha, acontece por divergência ideológica - com Pochmann e com o chefe Mangabeira Unger. Em outras palavras, censura. Até Delfim Neto, defensor deste governo corrupto e inepto, diz que nem na ditadura houve tal censura no Ipea.
Vejam a que ponto chegamos: um outro economista que não se enquadra nos padrões de João Sicsú, diretor do Ipea, está deixando o instituto rumo aos Estados Unidos - uma espécie de auto-exílio.
A Folha que me desculpe, mas vou copiar aqui a matéria na íntegra por se tratar de interesse público.
Ipea "expurga" economistas divergentes
Quatro pesquisadores independentes e considerados não alinhados ao atual pensamento econômico do governo foram afastados nesta semana do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger. São eles: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios não seriam renovados no vencimento, em dezembro. Já para os outros dois, que estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o instituto, a alegação foi a de que eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e que fica instalada no Rio, não se pronunciaram. A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados pela Folha. De acordo com a versão oficial, Giambiagi e Tourinho teriam pedido para voltar para o BNDES, e, em relação aos outros dois, o Ipea informou que apenas estariam aposentados.
Segundo a Folha apurou, no entanto, Giambiagi e Tourinho teriam sido informados ou por Sicsú ou por seu assessor Renault Michel de que seus convênios com o BNDES não seriam renovados. Os dois já estavam cedidos ao Ipea pelo BNDES há vários anos. Já Bonelli e Rezende, especialistas respectivamente em indústria e agricultura, foram convidados a deixar as salas que ocupavam no Ipea por já estarem aposentados. No governo Fernando Henrique Cardoso, Bonelli ocupou uma diretoria do BNDES, e Rezende, uma diretoria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para os quatro, a direção do Ipea alegou que havia irregularidades nos contratos deles com o instituto.
Os quatro pesquisadores tinham em comum também o fato de serem críticos do excesso de gastos do governo, o que contraria o pensamento tanto de Pochmann como de Sicsú, que se definem "desenvolvimentistas" e defendem um aumento da política de gastos públicos para acelerar o crescimento da economia.
O clima no Ipea é de indignação e desconforto com a saída dos quatro economistas. Ontem, pesquisadores do instituto organizaram um almoço de solidariedade, no Rio, aos quatro técnicos afastados. O ambiente era de preocupação com a nova orientação da direção do instituto.
Considerado um dos maiores centros do pensamento econômico do país, o Ipea, criado há 43 anos, sempre se caracterizou pela liberdade de pensamento. Mesmo no período da ditadura militar, o Ipea nunca deixou de exercitar a crítica -por exemplo, à política de distribuição de renda.
O ex-deputado Delfim Netto, que comandou a economia no período de 1979 a 1985, durante o regime militar, chegando a ser chamado de superministro, lamentou e criticou a saída dos quatro pesquisados do Ipea. Delfim foi até chamado por Pochmann -e aceitou- para assumir o cargo de conselheiro do Ipea."Tenho esses profissionais [os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa, com boa formação acadêmica e trabalhos relevantes prestados à economia brasileira", afirmou o ex-deputado.
Delfim lembrou-se do período do autoritarismo e de sua convivência com o Ipea, quando ministro: "Nunca houve censura de nenhuma natureza no Ipea. No período da ditadura, eles atacavam a ditadura à vontade e ainda recebiam aumento de salário. O que espero é que não haja nenhuma censura à pesquisa acadêmica que o Ipea tem produzido".
Outros pesquisadores do Ipea, segundo a Folha apurou, pensam em deixar o instituto. O economista Ricardo Paes de Barros, um dos maiores especialistas do país da área social e um nome reconhecido internacionalmente, já está de passagem marcada para Chicago, nos Estados Unidos, onde irá permanecer por um tempo dando aulas e realizando seminários.
Vejam a que ponto chegamos: um outro economista que não se enquadra nos padrões de João Sicsú, diretor do Ipea, está deixando o instituto rumo aos Estados Unidos - uma espécie de auto-exílio.
A Folha que me desculpe, mas vou copiar aqui a matéria na íntegra por se tratar de interesse público.
Ipea "expurga" economistas divergentes
Quatro pesquisadores independentes e considerados não alinhados ao atual pensamento econômico do governo foram afastados nesta semana do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger. São eles: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios não seriam renovados no vencimento, em dezembro. Já para os outros dois, que estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o instituto, a alegação foi a de que eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e que fica instalada no Rio, não se pronunciaram. A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados pela Folha. De acordo com a versão oficial, Giambiagi e Tourinho teriam pedido para voltar para o BNDES, e, em relação aos outros dois, o Ipea informou que apenas estariam aposentados.
Segundo a Folha apurou, no entanto, Giambiagi e Tourinho teriam sido informados ou por Sicsú ou por seu assessor Renault Michel de que seus convênios com o BNDES não seriam renovados. Os dois já estavam cedidos ao Ipea pelo BNDES há vários anos. Já Bonelli e Rezende, especialistas respectivamente em indústria e agricultura, foram convidados a deixar as salas que ocupavam no Ipea por já estarem aposentados. No governo Fernando Henrique Cardoso, Bonelli ocupou uma diretoria do BNDES, e Rezende, uma diretoria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para os quatro, a direção do Ipea alegou que havia irregularidades nos contratos deles com o instituto.
Os quatro pesquisadores tinham em comum também o fato de serem críticos do excesso de gastos do governo, o que contraria o pensamento tanto de Pochmann como de Sicsú, que se definem "desenvolvimentistas" e defendem um aumento da política de gastos públicos para acelerar o crescimento da economia.
O clima no Ipea é de indignação e desconforto com a saída dos quatro economistas. Ontem, pesquisadores do instituto organizaram um almoço de solidariedade, no Rio, aos quatro técnicos afastados. O ambiente era de preocupação com a nova orientação da direção do instituto.
Considerado um dos maiores centros do pensamento econômico do país, o Ipea, criado há 43 anos, sempre se caracterizou pela liberdade de pensamento. Mesmo no período da ditadura militar, o Ipea nunca deixou de exercitar a crítica -por exemplo, à política de distribuição de renda.
O ex-deputado Delfim Netto, que comandou a economia no período de 1979 a 1985, durante o regime militar, chegando a ser chamado de superministro, lamentou e criticou a saída dos quatro pesquisados do Ipea. Delfim foi até chamado por Pochmann -e aceitou- para assumir o cargo de conselheiro do Ipea."Tenho esses profissionais [os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa, com boa formação acadêmica e trabalhos relevantes prestados à economia brasileira", afirmou o ex-deputado.
Delfim lembrou-se do período do autoritarismo e de sua convivência com o Ipea, quando ministro: "Nunca houve censura de nenhuma natureza no Ipea. No período da ditadura, eles atacavam a ditadura à vontade e ainda recebiam aumento de salário. O que espero é que não haja nenhuma censura à pesquisa acadêmica que o Ipea tem produzido".
Outros pesquisadores do Ipea, segundo a Folha apurou, pensam em deixar o instituto. O economista Ricardo Paes de Barros, um dos maiores especialistas do país da área social e um nome reconhecido internacionalmente, já está de passagem marcada para Chicago, nos Estados Unidos, onde irá permanecer por um tempo dando aulas e realizando seminários.
domingo, novembro 11, 2007
God save the king!
Covardia petralha
A petralhada não dá folga: o Aguinaldo Silva, autor da novela Duas Caras, está sendo ameaçado de morte por algum petralha covarde (olha o pleonasmo). Não consegui entender direito, mas devem estar vendo chifre em cabeça de cavalo, como é típico do messianismo esquizofrênico dessa gentalha.
sábado, novembro 10, 2007
Pau mandado
Além de bajular o poderoso de plantão, o meu xará PH Amorim ainda se mete com gente da pesada. Matéria do grande Márcio Chaer.
segunda-feira, novembro 05, 2007
Por que amamos Santa Catarina
Esse é o título da matéria de capa da revista Viagens e Turismo deste mês. SC foi eleito o melhor estado pelos leitores da revista, pelo que entendi. Sim, sim, há muitos clichês, mas a matéria está bem intencionada e muito bem escrita. O problema é que quanto mais se faz propaganda de SC, mais gente muda de vez pra Floripa. E a cidade segue inchando, sem a menor estrutura. Mas não dá pra negar uma pontinha de orgulho.
Aqui vai a introdução da matéria.
Num país com tantos lugares sedutores e amores rápidos de verão, conquistar os brasileiros não é fácil. Com a beleza das praias, o charme da serra e a simpatia natural das pessoas, o estado catarinense conseguiu. Acertou em cheio o seu, o meu, o nosso coração.
segunda-feira, outubro 29, 2007
Uma Mente Brilhante
Como esta semana será outra de trabalho intensivo e viagem, deixo a vocês um textinho de minha própria lavra sobre uma figura interessantíssima da ciência do século XX: John von Neumann.
Na Budapeste do início do século XX, o pequeno János entretia os visitantes da família Neumann com sua assombrosa memória fotográfica. Aos seis anos, era capaz de, com uma ou duas passadas de olhos, decorar páginas inteiras da lista telefônica. Não adiantava o visitante querer pular a ordem dos nomes e números; ele sempre os acertava. Entre suas façanhas estava também a de fazer piadas com o pai, Max Neumann, em grego clássico. Puro folclore, diriam os mais céticos. Mas é difícil não acreditar nisso depois de conhecer toda a história de John von Neumann – nome que János adotou depois de mudar-se para os Estados Unidos, na Universidade Princeton, onde se consolidou como um dos três maiores matemáticos do século passado.
Na verdade, “matemático” nem é a melhor definição de von Neumann. Como bem notou Sylvia Nasar em A Beautiful Mind, ele foi o último polímata. Ao contrário da maioria dos matemáticos daquela época, não tinha restrições quanto à matemática aplicada, geralmente considerada uma coisa menor. Charmoso era lidar com a matemática pura. Não para von Neumann. Onde quer que houvesse um problema ou enigma passível de ser resolvido pela lógica matemática, von Neumann não se furtava a atacá-lo.
Suas idéias influenciaram campos tão diversos quanto a física e a economia: trabalhou na axiomatização da mecânica quântica e escreveu o livro seminal de teoria dos jogos – Theory of Games and Economic Behavior, de 1944, em parceria com o economista alemão Oskar Morgenstern. Quando morreu precocemente aos 57 anos – há meio século, em fevereiro de 1957 – estava trabalhando numa teoria do funcionamento do cérebro humano.
Von Neumann pode ser considerado discípulo do alemão David Hilbert, o maior entre os matemáticos no início do século passado. Na Universidade de Göttingen, Hilbert reunira em torno de si as melhores mentes da Europa nos anos 20. Lá von Neumann encontrou J. Robert Oppenheimer pela primeira vez – parceria que se repetiria quase 20 anos mais tarde, do outro lado do Atlântico.
Mecânica quântica e teoria dos conjuntos não o fariam famoso fora do meio científico. Mas é bom não esquecer que o homem tinha uma queda por matemática aplicada. Em Los Alamos, ficou incomodado com a lentidão das máquinas de calcular e passou um tempo analisando o Eniac, o primeiro computador do Exército americano, na verdade uma grande máquina de calcular. Acabada a guerra, decidiu construir um computador melhor. A idéia não foi muito bem recebida em Princeton. Einstein teria dito que um computador não o ajudaria a elaborar a teoria do campo unificado – aquela que unificaria a relatividade geral com o eletromagnetismo em uma única teoria.
Von Neumann teve que buscar financiamento na Marinha, com a ajuda do engenheiro eletricista Vladimir Zworykin. O argumento não poderia ser mais persuasivo: o novo computador poderia prever o tempo. Afinal de contas, o desembarque na Normandia não tinha corrido um risco enorme por causa da total imprevisão das condições do clima? Resultado: o dinheiro apareceu rapidinho, da Marinha e de outras fontes oficiais, e o computador acabou sendo construído em Princeton mesmo.
Foi o primeiro computador digital com memória que podia ser programado para realizar determinadas tarefas, ao contrário do Eniac, que precisava ser programado a cada novo cálculo. Mas é preciso dizer que ele não previa o tempo muito bem, não. Tampouco resolveu os problemas de Einstein, também não resolvido pelas gerações de computadores que se seguiram.
Por outro lado, deu origem a uma nova anedota em Princeton. Pronto o computador, sua rapidez precisava ser testada. Não demorou para que alguém propusesse uma competição da máquina contra o melhor cérebro humano. Exatamente! Contra o próprio von Neumann. O criador superou a máquina, no que pode ser considerada a prévia do embate entre Gary Kasparov contra o Deep Blue, no xadrez. O físico Edward Teller resumiu bem o papel de von Neumann no desenvolvimento dos computadores: “a IBM provavelmente deve a metade de seu dinheiro a Johnny von Neumann”.
Von Neumann não cabia no estereótipo do matemático desligado das coisas mundanas. Vestia-se classicamente, de terno e gravata, e adorava carros e brinquedos infantis. Dirigia de forma um tanto inconseqüente, a ponto de um cruzamento em Princeton ter sido batizado de “esquina von Neumann”, pelo número de acidentes que provocara lá. Adorava festas e quase todas as semanas recebia convidados em sua casa, ao lado da mulher Klara, quando, dizem, costumava beber um pouquinho além da conta. Nada que comprometesse sua memória invejável. Era sempre a atenção desses encontros, contando piadas politicamente incorretas e falando com a mesma desenvoltura sobre física ou história bizantina. Um especialista no assunto cometeu o equívoco de teimar com Von Neumann sobre uma data de um fato histórico e, claro, perdeu. Da outra vez em que foi convidado para um convescote na casa dos Neumann, disse que iria com uma condição: que von Neumann não discutisse sobre história bizantina na frente dos convidados. “Todos pensam que eu sou o maior especialista do mundo, e eu quero que continuem pensando assim”, justificou-se.
O folclore sobre von Neumann o tornou uma figura quase mitológica ainda em vida. Em Princeton, havia uma anedota sugerindo que, na verdade, ele não seria humano, mas um semideus que estudara os seres humanos a ponto de imitá-los perfeitamente. Não se pode nem dizer que era o brilho de uma estrela solitária, porque se tratava de uma constelação, a Princeton daqueles tempos, de Kurt Gödel, Albert Einstein e outros menos famosos, mas não menos brilhantes.
Boa parte deles buscou refúgio nos Estados Unidos por causa da ascensão do nazismo na Europa. Von Neumann trilhara o mesmo caminho no início da década de 1930. Também na contramão de seus colegas matemáticos, tinha convicções políticas bem definidas – antinazista e anticomunista – e não se furtou em colaborar com o governo americano nesses dois fronts. Durante a Segunda Guerra, era uma das estrelas do Projeto Manhattan; era um dos poucos cientistas com autorização para entrar e sair de Los Alamos. Durante a Guerra Fria, passou à condição de conselheiro do governo americano – sua última aparição pública foi recebendo a Medalha da Liberdade, confinado à cadeira de rodas, das mãos do presidente Einsenhower. E defendeu abertamente a polêmica idéia de que os Estados Unidos deveriam fazer ataque nuclear preventivo contra a União Soviética. Coisa de maluco? Não para algumas outras cabeças brilhantes, como o filósofo Bertrand Russel. Para eles, não haveria espaço para duas superpotências nucleares. E defendiam mais: um único governo mundial. O governo americano não lhes deu ouvidos.
Na verdade, “matemático” nem é a melhor definição de von Neumann. Como bem notou Sylvia Nasar em A Beautiful Mind, ele foi o último polímata. Ao contrário da maioria dos matemáticos daquela época, não tinha restrições quanto à matemática aplicada, geralmente considerada uma coisa menor. Charmoso era lidar com a matemática pura. Não para von Neumann. Onde quer que houvesse um problema ou enigma passível de ser resolvido pela lógica matemática, von Neumann não se furtava a atacá-lo.
Suas idéias influenciaram campos tão diversos quanto a física e a economia: trabalhou na axiomatização da mecânica quântica e escreveu o livro seminal de teoria dos jogos – Theory of Games and Economic Behavior, de 1944, em parceria com o economista alemão Oskar Morgenstern. Quando morreu precocemente aos 57 anos – há meio século, em fevereiro de 1957 – estava trabalhando numa teoria do funcionamento do cérebro humano.
Von Neumann pode ser considerado discípulo do alemão David Hilbert, o maior entre os matemáticos no início do século passado. Na Universidade de Göttingen, Hilbert reunira em torno de si as melhores mentes da Europa nos anos 20. Lá von Neumann encontrou J. Robert Oppenheimer pela primeira vez – parceria que se repetiria quase 20 anos mais tarde, do outro lado do Atlântico.
Mecânica quântica e teoria dos conjuntos não o fariam famoso fora do meio científico. Mas é bom não esquecer que o homem tinha uma queda por matemática aplicada. Em Los Alamos, ficou incomodado com a lentidão das máquinas de calcular e passou um tempo analisando o Eniac, o primeiro computador do Exército americano, na verdade uma grande máquina de calcular. Acabada a guerra, decidiu construir um computador melhor. A idéia não foi muito bem recebida em Princeton. Einstein teria dito que um computador não o ajudaria a elaborar a teoria do campo unificado – aquela que unificaria a relatividade geral com o eletromagnetismo em uma única teoria.
Von Neumann teve que buscar financiamento na Marinha, com a ajuda do engenheiro eletricista Vladimir Zworykin. O argumento não poderia ser mais persuasivo: o novo computador poderia prever o tempo. Afinal de contas, o desembarque na Normandia não tinha corrido um risco enorme por causa da total imprevisão das condições do clima? Resultado: o dinheiro apareceu rapidinho, da Marinha e de outras fontes oficiais, e o computador acabou sendo construído em Princeton mesmo.
Foi o primeiro computador digital com memória que podia ser programado para realizar determinadas tarefas, ao contrário do Eniac, que precisava ser programado a cada novo cálculo. Mas é preciso dizer que ele não previa o tempo muito bem, não. Tampouco resolveu os problemas de Einstein, também não resolvido pelas gerações de computadores que se seguiram.
Por outro lado, deu origem a uma nova anedota em Princeton. Pronto o computador, sua rapidez precisava ser testada. Não demorou para que alguém propusesse uma competição da máquina contra o melhor cérebro humano. Exatamente! Contra o próprio von Neumann. O criador superou a máquina, no que pode ser considerada a prévia do embate entre Gary Kasparov contra o Deep Blue, no xadrez. O físico Edward Teller resumiu bem o papel de von Neumann no desenvolvimento dos computadores: “a IBM provavelmente deve a metade de seu dinheiro a Johnny von Neumann”.
Von Neumann não cabia no estereótipo do matemático desligado das coisas mundanas. Vestia-se classicamente, de terno e gravata, e adorava carros e brinquedos infantis. Dirigia de forma um tanto inconseqüente, a ponto de um cruzamento em Princeton ter sido batizado de “esquina von Neumann”, pelo número de acidentes que provocara lá. Adorava festas e quase todas as semanas recebia convidados em sua casa, ao lado da mulher Klara, quando, dizem, costumava beber um pouquinho além da conta. Nada que comprometesse sua memória invejável. Era sempre a atenção desses encontros, contando piadas politicamente incorretas e falando com a mesma desenvoltura sobre física ou história bizantina. Um especialista no assunto cometeu o equívoco de teimar com Von Neumann sobre uma data de um fato histórico e, claro, perdeu. Da outra vez em que foi convidado para um convescote na casa dos Neumann, disse que iria com uma condição: que von Neumann não discutisse sobre história bizantina na frente dos convidados. “Todos pensam que eu sou o maior especialista do mundo, e eu quero que continuem pensando assim”, justificou-se.
O folclore sobre von Neumann o tornou uma figura quase mitológica ainda em vida. Em Princeton, havia uma anedota sugerindo que, na verdade, ele não seria humano, mas um semideus que estudara os seres humanos a ponto de imitá-los perfeitamente. Não se pode nem dizer que era o brilho de uma estrela solitária, porque se tratava de uma constelação, a Princeton daqueles tempos, de Kurt Gödel, Albert Einstein e outros menos famosos, mas não menos brilhantes.
Boa parte deles buscou refúgio nos Estados Unidos por causa da ascensão do nazismo na Europa. Von Neumann trilhara o mesmo caminho no início da década de 1930. Também na contramão de seus colegas matemáticos, tinha convicções políticas bem definidas – antinazista e anticomunista – e não se furtou em colaborar com o governo americano nesses dois fronts. Durante a Segunda Guerra, era uma das estrelas do Projeto Manhattan; era um dos poucos cientistas com autorização para entrar e sair de Los Alamos. Durante a Guerra Fria, passou à condição de conselheiro do governo americano – sua última aparição pública foi recebendo a Medalha da Liberdade, confinado à cadeira de rodas, das mãos do presidente Einsenhower. E defendeu abertamente a polêmica idéia de que os Estados Unidos deveriam fazer ataque nuclear preventivo contra a União Soviética. Coisa de maluco? Não para algumas outras cabeças brilhantes, como o filósofo Bertrand Russel. Para eles, não haveria espaço para duas superpotências nucleares. E defendiam mais: um único governo mundial. O governo americano não lhes deu ouvidos.
domingo, outubro 28, 2007
Nobel de Economia - atrasado
Você não entendeu uma linha sequer do que leu sobre o prêmio Nobel de Economia deste ano? Bom, você não está sozinho. O melhor que li até agora foi este texto da Economist (via De Gustibus). Não fosse por mais nada, valeria pela ironia do primeiro parágrafo em relação ao Nobel da Paz.
Sim, sim, estou chegando muito tarde no assunto do Nobel de Economia. É que estava viajando na segunda-feira em que divulgaram o prêmio, e depois, vocês sabem, muito trabalho e preguiça. Então, só agora trato disso. Mas o texto da Economist vale a pena.
Confesso que nunca tinha ouvido falar no tal "mechanism design" - não confunda com "inteligent desing" (arghh!), por favor!! Pelo pouco que li depois, desconfiei que tinha muito a ver com teoria dos jogos. Aliás, essa área tem levado muitos prêmios Nobel nos últimos anos: começando com John Nash, Harsany e Selten, em 1994, depois com Robert Aumann e Thomas Shelling, em 2005. Sem contar outros laureados que também trabalharam com teoria dos jogos em algum momento.
Há muita coisa disponível na rede sobre teoria dos jogos - minha fonte preferida é esta. Have fun.
Sim, sim, estou chegando muito tarde no assunto do Nobel de Economia. É que estava viajando na segunda-feira em que divulgaram o prêmio, e depois, vocês sabem, muito trabalho e preguiça. Então, só agora trato disso. Mas o texto da Economist vale a pena.
Confesso que nunca tinha ouvido falar no tal "mechanism design" - não confunda com "inteligent desing" (arghh!), por favor!! Pelo pouco que li depois, desconfiei que tinha muito a ver com teoria dos jogos. Aliás, essa área tem levado muitos prêmios Nobel nos últimos anos: começando com John Nash, Harsany e Selten, em 1994, depois com Robert Aumann e Thomas Shelling, em 2005. Sem contar outros laureados que também trabalharam com teoria dos jogos em algum momento.
Há muita coisa disponível na rede sobre teoria dos jogos - minha fonte preferida é esta. Have fun.
sexta-feira, outubro 26, 2007
Tudo sobre o A380
Devo confessar que tenho receio de voar. Isso não me impede de ter verdadeiro fascínio por aviões. Mas não sou daqueles que colecionam cópias ou revistas. É mais uma admiração pelo engenho humano de fazer voar um tróço destes.
Para quem também se encanta com a capacidade do homem de criar coisas incríveis (em meio a tanta estupidez), aqui vai um bom link.
Para quem também se encanta com a capacidade do homem de criar coisas incríveis (em meio a tanta estupidez), aqui vai um bom link.
Desculpas
Aos meus milhares de leitores, explico que andei um tanto atarefado nas últimas duas semanas. Viagem ao Sul de SC, a Blumenau, Florianópolis e à capital Federal. Como freelancer, tenho que aproveitar todos os trabalhos que aparecem porque dezembro e janeiro costumam ser meses de faturamento baixo.
Nestes dias de ausência, entrevistei até um prêmio Nobel de Química, Hartmut Michel. Depois que for publicada na revista coloco aqui.
Nestes dias de ausência, entrevistei até um prêmio Nobel de Química, Hartmut Michel. Depois que for publicada na revista coloco aqui.
quinta-feira, outubro 11, 2007
A coisa não tem limite
Ei, você é um retardado que não consegue estacionar o carro? Está tristinho porque se sente sozinho neste mundo capitalista injusto e desumano? Pois seus problemas "se acabaram-se". Agora, seu carro pode estacionar quase sozinho e ainda conversa com você, animando-o naqueles momentos deprês.
Não sei por que, mas tenho sempre a impressão de que a indústria do entretenimento (carro é entretenimento?) tende a tratar as pessoas como estúpidas. E agora isso está chegando a outras áreas da indústria.
Ah, mas é implicância minha. Isso nada mais é do que a tecnologia oferecendo mais conforto aos "consumidores". Tudo bem, sou sempre a favor do conforto e da tecnologia. Mas daí a tratar carro com carinho, como se fosse bicho de estimação, já é um pouco demais. Puro marketing da estupidificação - processo, aliás, em franca expansão.
Não sei por que, mas tenho sempre a impressão de que a indústria do entretenimento (carro é entretenimento?) tende a tratar as pessoas como estúpidas. E agora isso está chegando a outras áreas da indústria.
Ah, mas é implicância minha. Isso nada mais é do que a tecnologia oferecendo mais conforto aos "consumidores". Tudo bem, sou sempre a favor do conforto e da tecnologia. Mas daí a tratar carro com carinho, como se fosse bicho de estimação, já é um pouco demais. Puro marketing da estupidificação - processo, aliás, em franca expansão.
quarta-feira, outubro 10, 2007
Nossa língua portuguesa sem certeza
Para quem acha que em SC só há descendentes de alemães, lembro que o belíssimo litoral catarinense é de colonização açoriana. Aproveitando o embalo das festas alemãs de outubro, Itajaí, aqui ao lado de Balneário Camboriú, realiza a Marejada. A festa é portuguesa, mas o cuidado com a língua é nenhum. Dêem uma espiada aqui no excelente blog do Damião.
Costumo dizer que o principal problema da ignorância é ignorá-la: o camarada não tem dúvidas sobre como escrever, se a grafia da palavra está correta, se o plural está certo, etc. Enfim, uma indigência só.
Costumo dizer que o principal problema da ignorância é ignorá-la: o camarada não tem dúvidas sobre como escrever, se a grafia da palavra está correta, se o plural está certo, etc. Enfim, uma indigência só.
terça-feira, outubro 09, 2007
Passagem só de ida, por favor
Eis mais um caso que explica por que, se me deixarem, vou embora "deffepaiff" logo, logo. Recebi hoje uma comunicação da Receita Federal sobre meu IRPF ano base 2004. Ainda não recebi a restituição daquele ano. A RF me alegava que o rendimento que informei estava diferente do informado pela fonte pagadora. Ora, só havia recebido o salário da prefeitura de São Paulo. Agora, a RF me lembra que também recebi grana de uma tal Sociedade Educadora Anchieta. É verdade que lecionei para a Faculdade Anglo Latino no primeiro semestre daquele ano. Mas há um detalhezinho: eles não me pagaram! Deram-me um calote - o terceiro que tomei na minha vida profissional.
Em resumo, eles não me pagam, mentem para a Receita, e eu ainda tenho que pagar imposto por uma renda que não tive!!! Como sou um idiota, perdi o prazo para entrar com processo na Justiça contra aqueles picaretas. Agora, nem posso alegar que estou cobrando a dívida. Mas quero ver eles provarem que me pagaram. Mas vou ter que recorrer. Dá uma incomodação dos diabos.
Falei antes que esse foi o terceiro calote que recebi. Os outros dois foram de "idôneos" empresários de comunicação. O primeiro foi do jornal Indústria & Comércio, do Paraná, e o segundo, da Gazeta Mercantil - ambos tocados por dois picaretas profissionais. Otoni é visto dirigindo carrões importados em Curitiba; não tem bens no próprio nome para não serem tomados pelas centenas de ações judiciais nas quais é réu. Já o picareta Luiz Fernando Levy passou a Gazeta Mercantil para outro não menos picareta, Nelson Tanure. Não é preciso dizer que nenhum dos dois quer saber de pagar a dívida trabalhista que deixaram para trás. Levy deu golpe em centenas de pessoas - boa parte jornalistas - e continua a levar sua vidinha nababesca.
Se me pagassem o que me devem, o dinheiro seria suficiente para comprar um muito bom apartamento aqui em Balneário Camboriú - onde o metro quadrado custa caríssimo. Ganhei os dois processos, mas as chances de receber são remotíssimas. Aqui, no país da picaretagem, vigarista profissional de colarinho branco não paga dívidas; cadeia, então, nem se fala.
Enfim, esse é o brasilzão. Nunca vai ter jeito. O jeito, então, é se mandar daqui. Motivos não faltam.
Em resumo, eles não me pagam, mentem para a Receita, e eu ainda tenho que pagar imposto por uma renda que não tive!!! Como sou um idiota, perdi o prazo para entrar com processo na Justiça contra aqueles picaretas. Agora, nem posso alegar que estou cobrando a dívida. Mas quero ver eles provarem que me pagaram. Mas vou ter que recorrer. Dá uma incomodação dos diabos.
Falei antes que esse foi o terceiro calote que recebi. Os outros dois foram de "idôneos" empresários de comunicação. O primeiro foi do jornal Indústria & Comércio, do Paraná, e o segundo, da Gazeta Mercantil - ambos tocados por dois picaretas profissionais. Otoni é visto dirigindo carrões importados em Curitiba; não tem bens no próprio nome para não serem tomados pelas centenas de ações judiciais nas quais é réu. Já o picareta Luiz Fernando Levy passou a Gazeta Mercantil para outro não menos picareta, Nelson Tanure. Não é preciso dizer que nenhum dos dois quer saber de pagar a dívida trabalhista que deixaram para trás. Levy deu golpe em centenas de pessoas - boa parte jornalistas - e continua a levar sua vidinha nababesca.
Se me pagassem o que me devem, o dinheiro seria suficiente para comprar um muito bom apartamento aqui em Balneário Camboriú - onde o metro quadrado custa caríssimo. Ganhei os dois processos, mas as chances de receber são remotíssimas. Aqui, no país da picaretagem, vigarista profissional de colarinho branco não paga dívidas; cadeia, então, nem se fala.
Enfim, esse é o brasilzão. Nunca vai ter jeito. O jeito, então, é se mandar daqui. Motivos não faltam.
Nobel de física
A semana do Prêmio Nobel está só começando. Hoje foi divulgado o de física para um francês e um alemão que descobriram propriedades eletromagnéticas que aumentaram muito a capacidade de leitura de dados em discos rígidos cada vez menores. Leia as notícias em português aqui e aqui.
Amanhã será anunciado o ganhador (ou ganhadores) do prêmio de química; na quinta, o de literatura; na sexta, o da paz e na segunda, o de economia.
Amanhã será anunciado o ganhador (ou ganhadores) do prêmio de química; na quinta, o de literatura; na sexta, o da paz e na segunda, o de economia.
segunda-feira, outubro 08, 2007
domingo, outubro 07, 2007
Acorrentado
Tambosi me incluiu numa corrente que lhe foi passada por Nariz Gelado. Vou apenas responder a ela e, porque sou do contra, não vou vou passá-la adiante.
Devo abrir o livro mais próximo na página 161 e escrever aqui a quinta frase inteira dessa página.
Neste exato momento, tenho dois livros em minha frente, e vou seguir à risca a recomendação: pegar o que me está mais perto - Metodologia da Economia (Mark Blaug). A quinta frase completa da página 161: "De alguma forma misteriosa, a economia clássico-marxista procura fugir de todas essas dificuldades, mas é claro que o faz por meio da evasão da medida empírica da validação de teorias."
Por pura preguiça, não vou aqui explicar quais são as "dificuldades". Trata-se do capítulo 2: Os Falsificacionistas - Uma História Completa do Século XX. E mais não me foi dito nem perguntado.
Devo abrir o livro mais próximo na página 161 e escrever aqui a quinta frase inteira dessa página.
Neste exato momento, tenho dois livros em minha frente, e vou seguir à risca a recomendação: pegar o que me está mais perto - Metodologia da Economia (Mark Blaug). A quinta frase completa da página 161: "De alguma forma misteriosa, a economia clássico-marxista procura fugir de todas essas dificuldades, mas é claro que o faz por meio da evasão da medida empírica da validação de teorias."
Por pura preguiça, não vou aqui explicar quais são as "dificuldades". Trata-se do capítulo 2: Os Falsificacionistas - Uma História Completa do Século XX. E mais não me foi dito nem perguntado.
sexta-feira, outubro 05, 2007
Game theory applied to... games
Desde moleque, sempre pratiquei dois esportes: futebol e basquete. E, modéstia à parte, jogo bem ambos - mas isso não vem ao caso. Nas peladas de futebol, sempre a turma costumava passar dos limites, e as brigas eram um tanto comum. Já nos rachas de basquete isso não acontecia; entreveros eram raros.
Nunca consegui explicar isso, mas agora tenho um palpite - um tanto quanto controverso, admito. No basquete, adotávamos uma única (R): pediu falta, é falta. No futebol não havia isso, e a cada lance polêmico seguia-se uma discussão interminável - não raramente terminando nas "vias de fato". E o importante é notar que brigas havia mesmo com a presença de um juiz - ou muito por causa dele.
Mas cadê o raio da teoria dos jogos, ph? Calma. Minha "tchiuria" parte da hipótese de que o motivo de haver ou não brigas é a existência da tal regra do "pediu, é falta". Tomo basquete e futebol por "jogos repetidos", no sentido de que não são jogos (interação) que terminam em único lance. Assim, os jogadores tenderiam a cooperar para levar o jogo a um bom termo.
Ainda não me fiz claro. Mas vamos lá. No caso do basquete, em que vale a regra R, se um time abusar de pedir faltas, o outro vai fazer a mesma coisa, e o jogo tende ao equilíbrio. Já no caso do futebol, os lances são decididos em discussões intermináveis (quando não há um juiz) ou em reclamações contra o juiz. E o pau segue comendo. E não me perguntem se tem isso algum cabimento.
Nunca consegui explicar isso, mas agora tenho um palpite - um tanto quanto controverso, admito. No basquete, adotávamos uma única (R): pediu falta, é falta. No futebol não havia isso, e a cada lance polêmico seguia-se uma discussão interminável - não raramente terminando nas "vias de fato". E o importante é notar que brigas havia mesmo com a presença de um juiz - ou muito por causa dele.
Mas cadê o raio da teoria dos jogos, ph? Calma. Minha "tchiuria" parte da hipótese de que o motivo de haver ou não brigas é a existência da tal regra do "pediu, é falta". Tomo basquete e futebol por "jogos repetidos", no sentido de que não são jogos (interação) que terminam em único lance. Assim, os jogadores tenderiam a cooperar para levar o jogo a um bom termo.
Ainda não me fiz claro. Mas vamos lá. No caso do basquete, em que vale a regra R, se um time abusar de pedir faltas, o outro vai fazer a mesma coisa, e o jogo tende ao equilíbrio. Já no caso do futebol, os lances são decididos em discussões intermináveis (quando não há um juiz) ou em reclamações contra o juiz. E o pau segue comendo. E não me perguntem se tem isso algum cabimento.
quinta-feira, outubro 04, 2007
Apagando velinhas
Uma pessoa especialíssima faz aniversário hoje: minha mãe! Parabéns, D. Janete! Vida longa, saúde e paz de espírito.
Tem gente que diz que mãe é tudo igual. Não acho, não. Conheço algumas que não fizeram pelos filhos metade do que minha mãe fez por mim e por meus quatro irmãos. Começou a trabalhar muitíssimo cedo. Foi a única, dos dez filhos de minha avó, a estudar. Para isso, teve que trabalhar como empregada na casa de uma família rica. Perseverou e concluiu o colegial.
Casou cedo e teve filhos cedo. Fui o primeiro. A faculdade, concluiu depois de casada. Estudava nas férias em Florianópolis. Era o que havia disponível naquela década de 70. Não havia, como hoje, faculdades no Vale do Araranguá.
Eram tempos duros. Acordava cedinho, lá pelas 5h, deixava a comida quase pronta e a casa limpa. Dava aulas o dia inteiro, e o trabalho continuava em casa. Se hoje não é fácil cuidar de quatro filhos, imagine naquela época. Ia até tarde da noite corrigindo provas e trabalhos de classe. Um sacrifício só. Tudo isso custou a ela alguns problemas de saúde.
Meu pai não era propriamente um parceiro nas atividades domésticas, para dizer o mínimo. Mas sempre foi um excelente pai, com o qual sempre contamos, em todos os momentos. Também ele foi o único a estudar na família de meu avô.
Em resumo, meu pai e minha mãe são bons exemplos de que o esforço individual é o único caminho legítimo para o sucesso. E que somos resultados de nossas escolhas. Não adianta ficar choramingando. Se minha mãe fizesse isso, não teria estudado e alcançado um relativo conforto agora que chega aos 58.
Tem gente que diz que mãe é tudo igual. Não acho, não. Conheço algumas que não fizeram pelos filhos metade do que minha mãe fez por mim e por meus quatro irmãos. Começou a trabalhar muitíssimo cedo. Foi a única, dos dez filhos de minha avó, a estudar. Para isso, teve que trabalhar como empregada na casa de uma família rica. Perseverou e concluiu o colegial.
Casou cedo e teve filhos cedo. Fui o primeiro. A faculdade, concluiu depois de casada. Estudava nas férias em Florianópolis. Era o que havia disponível naquela década de 70. Não havia, como hoje, faculdades no Vale do Araranguá.
Eram tempos duros. Acordava cedinho, lá pelas 5h, deixava a comida quase pronta e a casa limpa. Dava aulas o dia inteiro, e o trabalho continuava em casa. Se hoje não é fácil cuidar de quatro filhos, imagine naquela época. Ia até tarde da noite corrigindo provas e trabalhos de classe. Um sacrifício só. Tudo isso custou a ela alguns problemas de saúde.
Meu pai não era propriamente um parceiro nas atividades domésticas, para dizer o mínimo. Mas sempre foi um excelente pai, com o qual sempre contamos, em todos os momentos. Também ele foi o único a estudar na família de meu avô.
Em resumo, meu pai e minha mãe são bons exemplos de que o esforço individual é o único caminho legítimo para o sucesso. E que somos resultados de nossas escolhas. Não adianta ficar choramingando. Se minha mãe fizesse isso, não teria estudado e alcançado um relativo conforto agora que chega aos 58.
quarta-feira, outubro 03, 2007
Autoritarismo ou populismo
Alvaro Vargas Llosa conseguiu resumir e explicar, num pequeno texto sobre o Paraguai, direto e elegante, a razão dos males atuais da América Latina: não vemos alternativa a não ser o autoritarismo de direita e o populismo de esquerda. Prova cabal de nosso pouco apreço pela democracia.
PS. Via blog do Tambosi.
PS. Via blog do Tambosi.
terça-feira, outubro 02, 2007
Guerra Fria, Teoria dos Jogos, RAND...
Cheguei a isto pelo De Gustibus. A série de documentários "Pandora´s Box" é imperdível.
segunda-feira, outubro 01, 2007
O que é independência
Diz a boa teoria econômica que quanto mais empresas ofertam um determinado produto, melhor para os consumidores, que podem escolher o menor preço ê/ou a melhor qualidade, etc. Ou seja, o ideal é que haja uma concorrência perfeita, com muitos vendedores e compradores. O monopólio, assim, seria prejudicial às pessoas.
Nas últimas décadas, tem havido uma tendência de concentração de produtores em alguns setores, inclusive na mídia. Essa é uma indústria muito peculiar, que suscita muitas análises românticas, completamente descoladas da realidade. As almas esquerdóides se alvoroçam a cada negócio fechado que poderia sinalizar uma concentração da produção jornalística numa determinada região ou no país. Diferentemente delas - que consideram "independente" um veículo desde que ele seja "progressista" ou qualquer outro lugar comum do jargão - meu conceito de independência de um jornal (ou revista, ou rádio, etc.) está relacionado a aspectos do mercado. Quanto mais ligado ao mercado, menos dependente do governo. E essa independência é que importa.
Aonde eu quero chegar? Vamos lá. Por exemplo: uma região onde quem dá as cartas é uma única organização de mídia, com rádios, jornais e emissoras de televisão. Isso é necessariamente ruim para o público? O senso comum diz que sim. Não há "pluralidade" de coberturas, de discursos (se preferirem).
Mas há um outro aspecto, o do mercado. Se a organização reina praticamente sozinha, deve abocanhar a grande maioria da verba publicitária da região. Se os anúncios vêm majoritariamente da iniciativa privada, a organização de mídia hegemônica (para usar um conceito deles) é muito menos dependente das benesses dos governos. Por ser forte comercialmente, tem condições de fazer coberturas jornalisticamente corretas. Isto é, se tiver que "bater" no poderoso de plantão, baterá, por não depender dele financeiramente.
Já a existência de muitos jornais e revistas pequenos não é garantia alguma de boa prática jornalística. Muito pelo contrário. Em todos os estados há aqueles jornalecos feitos para tirar dinheiro de político. Há muitos jornaizinhos e pouco jornalismo. A quantidade de produtores não garante o abastecimento do mercado com bons produtos jornalísticos. Eles são fracos e dependem das verbas oficiais.
Isso tudo, claro, se tivéssemos um mercado forte aqui no Brasil; se tivéssemos algo que pudésemos chamar de capitalismo. Como não há, as mídias regionais ficam puxando o saco de governadores e prefeitos, com exceções. A saída para tornar a mídia mais independente é: mais mercado.
Nas últimas décadas, tem havido uma tendência de concentração de produtores em alguns setores, inclusive na mídia. Essa é uma indústria muito peculiar, que suscita muitas análises românticas, completamente descoladas da realidade. As almas esquerdóides se alvoroçam a cada negócio fechado que poderia sinalizar uma concentração da produção jornalística numa determinada região ou no país. Diferentemente delas - que consideram "independente" um veículo desde que ele seja "progressista" ou qualquer outro lugar comum do jargão - meu conceito de independência de um jornal (ou revista, ou rádio, etc.) está relacionado a aspectos do mercado. Quanto mais ligado ao mercado, menos dependente do governo. E essa independência é que importa.
Aonde eu quero chegar? Vamos lá. Por exemplo: uma região onde quem dá as cartas é uma única organização de mídia, com rádios, jornais e emissoras de televisão. Isso é necessariamente ruim para o público? O senso comum diz que sim. Não há "pluralidade" de coberturas, de discursos (se preferirem).
Mas há um outro aspecto, o do mercado. Se a organização reina praticamente sozinha, deve abocanhar a grande maioria da verba publicitária da região. Se os anúncios vêm majoritariamente da iniciativa privada, a organização de mídia hegemônica (para usar um conceito deles) é muito menos dependente das benesses dos governos. Por ser forte comercialmente, tem condições de fazer coberturas jornalisticamente corretas. Isto é, se tiver que "bater" no poderoso de plantão, baterá, por não depender dele financeiramente.
Já a existência de muitos jornais e revistas pequenos não é garantia alguma de boa prática jornalística. Muito pelo contrário. Em todos os estados há aqueles jornalecos feitos para tirar dinheiro de político. Há muitos jornaizinhos e pouco jornalismo. A quantidade de produtores não garante o abastecimento do mercado com bons produtos jornalísticos. Eles são fracos e dependem das verbas oficiais.
Isso tudo, claro, se tivéssemos um mercado forte aqui no Brasil; se tivéssemos algo que pudésemos chamar de capitalismo. Como não há, as mídias regionais ficam puxando o saco de governadores e prefeitos, com exceções. A saída para tornar a mídia mais independente é: mais mercado.
sexta-feira, setembro 28, 2007
Livros, livros
Dauro Veras (link ao lado) escreveu um post muito legal sobre livros. E instigou os visitantes a listar alguns livros que de alguma forma os influenciaram. Fiz uma pequena lista dos primeiros livros que me vieram à cabeça:
1. Desafio aos Deuses: Uma Breve História do Risco. (Bernstein)
2. Ensaios Analíticos (M. H. Simonsen)
3. Conjectures and Refutations (Karl Popper)
4. Manual do Perfeito Idiota Latino Americano (Llosa et all)
5. A Sangue Frio (Truman Capote)
É claro que há mais. Poderia citar até o manual de microeconomia do Varian. E o mais perto que consegui chegar do jornalismo foi o título do Truman Capote, mesmo.
O Dauro é um cara bacana. Está, hoje, mais à esquerda do que eu no espectro político. Até porque essa distinção entre esquerda e direita, na minha opinião, já não mais se sustenta. Mas também eu fui um esquerdista, por muito mais tempo do que deveria. Hoje sou um porco liberal a serviço do capitalismo da civilização judaico-cristã ocidental. Tanto que o blog do Dauro é o único mais "à esquerda" na lista de links aí à direita (ops!).
Temos, eu e Dauro, em comum a tolerância. Notem que também ele tem um link para o blog do Aluizio Amorim, cujas idéias são bem difererentes das dele, creio. Eu tenho um amigo e colega de profissão com quem travo longas discussões sobre política, ou melhor, sobre o governo. A gente quebra o pau, mas não deixa de conviver bem. É por isso que visito o blog do Dauro com regularidade. E também porque é bem escrito.
Ah, ia esquecendo: faça a sua lista.
1. Desafio aos Deuses: Uma Breve História do Risco. (Bernstein)
2. Ensaios Analíticos (M. H. Simonsen)
3. Conjectures and Refutations (Karl Popper)
4. Manual do Perfeito Idiota Latino Americano (Llosa et all)
5. A Sangue Frio (Truman Capote)
É claro que há mais. Poderia citar até o manual de microeconomia do Varian. E o mais perto que consegui chegar do jornalismo foi o título do Truman Capote, mesmo.
O Dauro é um cara bacana. Está, hoje, mais à esquerda do que eu no espectro político. Até porque essa distinção entre esquerda e direita, na minha opinião, já não mais se sustenta. Mas também eu fui um esquerdista, por muito mais tempo do que deveria. Hoje sou um porco liberal a serviço do capitalismo da civilização judaico-cristã ocidental. Tanto que o blog do Dauro é o único mais "à esquerda" na lista de links aí à direita (ops!).
Temos, eu e Dauro, em comum a tolerância. Notem que também ele tem um link para o blog do Aluizio Amorim, cujas idéias são bem difererentes das dele, creio. Eu tenho um amigo e colega de profissão com quem travo longas discussões sobre política, ou melhor, sobre o governo. A gente quebra o pau, mas não deixa de conviver bem. É por isso que visito o blog do Dauro com regularidade. E também porque é bem escrito.
Ah, ia esquecendo: faça a sua lista.
quarta-feira, setembro 26, 2007
Genial
Texto de Cláudio Angelo, editor de ciência da Folha de S. Paulo. Uma mostra de que há vida inteligente no jornalismo brasileiro. Não poupa as bobagens pós-modernas e politicamente corretas.
Tive o desprazer de conversar com Richard Dawkins apenas duas vezes na vida. É um sujeito antipático, pedante e de uma intolerância insuportável. Exatamente o oposto da personalidade que se espera encontrar em alguém cuja profissão de (ops!) fé é levar a ciência ao grande público. E que é, goste-se ou não dele, um dos intelectuais mais brilhantes que a seleção natural já produziu.
Talvez essa certeza de superioridade, que transborda nos escritos do biólogo britânico, explique em parte por que Dawkins é tão vilipendiado pelos ditos intelectuais "de esquerda" e "culturalistas", para não falar nos (credo!) pós-modernos. Essa patota não hesita em pichá-lo de darwinista bitolado que não consegue enxergar nada além de genes egoístas tramando a destruição do livre-arbítrio humano.
São poucos, no entanto, os que terão notado a seguinte passagem no clássico dos clássicos de Dawkins, "O Gene Egoísta", de 1976: "Para compreender a evolução do homem moderno, nós devemos começar jogando fora o gene como a única base das nossas idéias sobre a evolução". Os que notaram talvez a tenham creditado a um erro de edição. Ou, na obsessão por afastar o cálice da biologia dos lábios sacrossantos do comportamento humano, resolveram simplesmente varrê-la para baixo do tapete e seguir atirando no mensageiro.
Dawkins tem pago o preço de sua honestidade intelectual desde então. "O Gene Egoísta" foi publicado apenas um ano depois de o também zoólogo Edward Osborne Wilson, de Harvard, ter despertado a fúria da "ciência marxista" (acredite, isso já existiu) com a publicação de "Sociobiologia", a primeira obra a dizer com todas as letras (e sem muito tato) que o comportamento humano poderia ser explicado pela seleção natural darwinista.Embora hoje isso seja óbvio em certa medida -dado que o comportamento é produto do cérebro e o cérebro é objeto de seleção natural-, Wilson foi chamado de porco nazista.
Ao dar munição à sociobiologia com suas idéias sobre genética, Dawkins também virou alvo. O máximo expoente da "biologia dialética", Richard Lewontin, chegou a deturpar uma passagem de "O Gene Egoísta". Onde Dawkins dizia "eles [os genes] nos criaram, corpo e mente", Lewontin enxertou "eles nos controlam, corpo e mente". Até hoje não se desculpou por isso.
Com "Deus, um Delírio", o zoólogo britânico volta a atrair detratores, de ambas as extremidades do espectro político, de todas as cores e -principalmente- credos. Seu único crime terá sido meter a mão num vespeiro (a religião) para o qual os cientistas têm insistido em dar as costas, enquanto dele esvoaçam sem cessar fanáticos do calibre de Osama Bin Laden e George W. Bush. Dawkins esnoba os críticos. Ele sabe que o "meme" darwinista triunfa, e que a luz já foi lançada sobre o mistério da existência humana.
Tive o desprazer de conversar com Richard Dawkins apenas duas vezes na vida. É um sujeito antipático, pedante e de uma intolerância insuportável. Exatamente o oposto da personalidade que se espera encontrar em alguém cuja profissão de (ops!) fé é levar a ciência ao grande público. E que é, goste-se ou não dele, um dos intelectuais mais brilhantes que a seleção natural já produziu.
Talvez essa certeza de superioridade, que transborda nos escritos do biólogo britânico, explique em parte por que Dawkins é tão vilipendiado pelos ditos intelectuais "de esquerda" e "culturalistas", para não falar nos (credo!) pós-modernos. Essa patota não hesita em pichá-lo de darwinista bitolado que não consegue enxergar nada além de genes egoístas tramando a destruição do livre-arbítrio humano.
São poucos, no entanto, os que terão notado a seguinte passagem no clássico dos clássicos de Dawkins, "O Gene Egoísta", de 1976: "Para compreender a evolução do homem moderno, nós devemos começar jogando fora o gene como a única base das nossas idéias sobre a evolução". Os que notaram talvez a tenham creditado a um erro de edição. Ou, na obsessão por afastar o cálice da biologia dos lábios sacrossantos do comportamento humano, resolveram simplesmente varrê-la para baixo do tapete e seguir atirando no mensageiro.
Dawkins tem pago o preço de sua honestidade intelectual desde então. "O Gene Egoísta" foi publicado apenas um ano depois de o também zoólogo Edward Osborne Wilson, de Harvard, ter despertado a fúria da "ciência marxista" (acredite, isso já existiu) com a publicação de "Sociobiologia", a primeira obra a dizer com todas as letras (e sem muito tato) que o comportamento humano poderia ser explicado pela seleção natural darwinista.Embora hoje isso seja óbvio em certa medida -dado que o comportamento é produto do cérebro e o cérebro é objeto de seleção natural-, Wilson foi chamado de porco nazista.
Ao dar munição à sociobiologia com suas idéias sobre genética, Dawkins também virou alvo. O máximo expoente da "biologia dialética", Richard Lewontin, chegou a deturpar uma passagem de "O Gene Egoísta". Onde Dawkins dizia "eles [os genes] nos criaram, corpo e mente", Lewontin enxertou "eles nos controlam, corpo e mente". Até hoje não se desculpou por isso.
Com "Deus, um Delírio", o zoólogo britânico volta a atrair detratores, de ambas as extremidades do espectro político, de todas as cores e -principalmente- credos. Seu único crime terá sido meter a mão num vespeiro (a religião) para o qual os cientistas têm insistido em dar as costas, enquanto dele esvoaçam sem cessar fanáticos do calibre de Osama Bin Laden e George W. Bush. Dawkins esnoba os críticos. Ele sabe que o "meme" darwinista triunfa, e que a luz já foi lançada sobre o mistério da existência humana.
sexta-feira, setembro 21, 2007
Nome aos bois
Estes são os picaretas de SC que votaram a favor da CPMF e CONTRA O POVO:
Angela Amin (PP), Carlito Merss (PT), Celso Maldaner (PMDB), Cláudio Vignatti (PT), Décio Lima (PT), Djalma Berger (PSB), Edinho Bez (PMDB), João Matos (PMDB), João Pizzolatti (PP), Nelson Goetten (PR), Odacir Zonta (PP) e Valdir Colatto (PMDB).
A favor do povo, que paga os impostos, ficaram apenas quatro deputados: Fernando Coruja (PPS), Gervásio Silva (Dem), Paulo Bornhausen (DEM) e José Carlos Vieira (DEM).
Engraçada esta nossa "política". Aqui em SC, PP e PMDB se engalfinham; ainda são os grandes adversários históricos. Lá em Brasília, no entanto, votam juntinhos e fazem tudo o que o mestre mandar. O que os une e separa? Cargos. Aqui, não estão juntos simplesmente porque não há como acomodar a todos no mesmo governo. O governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) teve que inventar secretarias regionais para empregar todos os puxa-sacos. Já no governo federal cabe todo mundo. Por isso, Angela Amin vota juntinho com todos os peemedebistas. E dane-se o povo, que segue pagando o pato: a maior carga tributária de um país subdesenvolvido.
Angela Amin (PP), Carlito Merss (PT), Celso Maldaner (PMDB), Cláudio Vignatti (PT), Décio Lima (PT), Djalma Berger (PSB), Edinho Bez (PMDB), João Matos (PMDB), João Pizzolatti (PP), Nelson Goetten (PR), Odacir Zonta (PP) e Valdir Colatto (PMDB).
A favor do povo, que paga os impostos, ficaram apenas quatro deputados: Fernando Coruja (PPS), Gervásio Silva (Dem), Paulo Bornhausen (DEM) e José Carlos Vieira (DEM).
Engraçada esta nossa "política". Aqui em SC, PP e PMDB se engalfinham; ainda são os grandes adversários históricos. Lá em Brasília, no entanto, votam juntinhos e fazem tudo o que o mestre mandar. O que os une e separa? Cargos. Aqui, não estão juntos simplesmente porque não há como acomodar a todos no mesmo governo. O governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) teve que inventar secretarias regionais para empregar todos os puxa-sacos. Já no governo federal cabe todo mundo. Por isso, Angela Amin vota juntinho com todos os peemedebistas. E dane-se o povo, que segue pagando o pato: a maior carga tributária de um país subdesenvolvido.
Faroeste caboclo
"Ele queria era falar pro presidente
pra ajudar toda esta gente
que só faz sofrer" (Legião Urbana)
Notem que o pobre coitado não quer um esmolão; quer educação para os filhos, atendimento médico de qualidade e policiamento!
Lavrador invade Planalto para pedir ajuda
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedia uma entrevista ao jornal "The New York Times", no terceiro andar do Palácio do Planalto, um incidente mobilizou a segurança no saguão. Ângelo de Jesus, 37, agricultor baiano, invadiu o local por volta das 9h. Ele queria falar com Lula. Passou direto pelo detector de metais, mas foi rendido pelos seguranças do Planalto -foram necessários seis para segurá-lo. "Presidente, salva eu, salva eu presidente", gritava o agricultor.
Ângelo insistia em falar com Lula e se debatia, tentando se desvencilhar dos seguranças. Disse aos jornalistas que estava há quatro dias sem comer e que sofria de hanseníase. Saiu do palácio algemado e carregado por seguranças e policiais militares, chamados ao local. De ambulância, foi levado ao Hospital Regional da Asa Norte, aonde chegou, segundo funcionários, "com desorientação" e freqüência cardíaca de 144 batimentos por minuto.
Segundo a assistente social Edna Joaquim de Moraes, ele disse que havia vindo para Brasília, de carona, "por causa das injustiças em sua cidade", mas já havia desistido de falar com Lula porque "o povo não tem vez". Edna ligou para um departamento de assistência social do Distrito Federal para providenciar uma passagem de volta para o agricultor, mas, ao pedir um carro do hospital para levá-lo ao departamento, viu que ele havia sumido.
Segundo a Presidência, Ângelo foi transferido para o Hospital das Forças Armadas, onde um médico e um assessor do gabinete pessoal de Lula acompanham o agricultor. Funcionários também tentavam, até ontem à tarde, contatar familiares de Ângelo. Ele é natural de Pindobaçu, Bahia.
Do orelhão da cidade, a mulher de Ângelo e uma de suas vizinhas, que viram tudo pela TV, disseram que, na segunda-feira, ele encontrou uma amiga da família no ponto de ônibus e pediu que ela avisasse que ele ia a Brasília falar com Lula. Segundo a vizinha, "ele está muito revoltado" com a escola de seus quatro filhos, que tem um esgoto aberto, com a falta de policiamento e com o sistema de saúde do município.
Tentativas de invasões e protestos são relativamente comuns nas áreas do governo. Em 2004, um ex-prefeito de Diadema se acorrentou no hall de entrada do Planalto. Em 2005, um mecânico desempregado subiu a rampa do Planalto de mobilete. Em 2003, um vendedor ambulante tentou invadir o Palácio da Alvorada, e derrubou o portão com um Fiat Uno.
pra ajudar toda esta gente
que só faz sofrer" (Legião Urbana)
Notem que o pobre coitado não quer um esmolão; quer educação para os filhos, atendimento médico de qualidade e policiamento!
Lavrador invade Planalto para pedir ajuda
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedia uma entrevista ao jornal "The New York Times", no terceiro andar do Palácio do Planalto, um incidente mobilizou a segurança no saguão. Ângelo de Jesus, 37, agricultor baiano, invadiu o local por volta das 9h. Ele queria falar com Lula. Passou direto pelo detector de metais, mas foi rendido pelos seguranças do Planalto -foram necessários seis para segurá-lo. "Presidente, salva eu, salva eu presidente", gritava o agricultor.
Ângelo insistia em falar com Lula e se debatia, tentando se desvencilhar dos seguranças. Disse aos jornalistas que estava há quatro dias sem comer e que sofria de hanseníase. Saiu do palácio algemado e carregado por seguranças e policiais militares, chamados ao local. De ambulância, foi levado ao Hospital Regional da Asa Norte, aonde chegou, segundo funcionários, "com desorientação" e freqüência cardíaca de 144 batimentos por minuto.
Segundo a assistente social Edna Joaquim de Moraes, ele disse que havia vindo para Brasília, de carona, "por causa das injustiças em sua cidade", mas já havia desistido de falar com Lula porque "o povo não tem vez". Edna ligou para um departamento de assistência social do Distrito Federal para providenciar uma passagem de volta para o agricultor, mas, ao pedir um carro do hospital para levá-lo ao departamento, viu que ele havia sumido.
Segundo a Presidência, Ângelo foi transferido para o Hospital das Forças Armadas, onde um médico e um assessor do gabinete pessoal de Lula acompanham o agricultor. Funcionários também tentavam, até ontem à tarde, contatar familiares de Ângelo. Ele é natural de Pindobaçu, Bahia.
Do orelhão da cidade, a mulher de Ângelo e uma de suas vizinhas, que viram tudo pela TV, disseram que, na segunda-feira, ele encontrou uma amiga da família no ponto de ônibus e pediu que ela avisasse que ele ia a Brasília falar com Lula. Segundo a vizinha, "ele está muito revoltado" com a escola de seus quatro filhos, que tem um esgoto aberto, com a falta de policiamento e com o sistema de saúde do município.
Tentativas de invasões e protestos são relativamente comuns nas áreas do governo. Em 2004, um ex-prefeito de Diadema se acorrentou no hall de entrada do Planalto. Em 2005, um mecânico desempregado subiu a rampa do Planalto de mobilete. Em 2003, um vendedor ambulante tentou invadir o Palácio da Alvorada, e derrubou o portão com um Fiat Uno.
quarta-feira, setembro 19, 2007
Pesquisa em jornalismo
O curso de mestrado em jornalismo da UFSC está realizando o I Simpósio de Pesquisa Avançada da Região Sul, transmitido ao vivo pela internet.
sábado, setembro 15, 2007
Congresso em foco
Por que gosto muito de Perez e Simon. Na lista, também está o Fernando Coruja, o melhor congressista catarinense. É claro que o fato de estar na lista não significa atestado de competência e ética, pois lá está também a Ideli Salvasti Calheiros - defensora dos mensaleiros e de senador criador de bois voadores e de pomares de laranja.
quinta-feira, setembro 13, 2007
Booom!
O nosso 12 de setembro: um atentado contra o Senado Federal, um deboche à frágil democracia brasileira.
quinta-feira, setembro 06, 2007
Simulação do eclipse solar
O Grupo de Estudos de Astronomia da UFSC fez uma simulação do eclipse parcial do sol que vai ocorrer na próxima terça-feira de manhã.
segunda-feira, setembro 03, 2007
coragem, inteligência e honestidade
Da Folha de S. Paulo. Alguém corajoso no Itamaraty a ponto de contraditar os stalinistas de plantão.
Excelência, defina "elite".
Quando alguém me pergunta qual o principal problema do Brasil atual, não hesito em responder: a falta de precisão vocabular. Vivemos sob o império dos sofismas, em que toda ilegalidade tem direito a um eufemismo, todo impostor, livre acesso à honradez, e toda bravata, o status de argumento. Num ambiente semelhante, o debate público, sério e fundamentado, se torna inviável.
Exemplos existem aos montes, mas talvez nenhum deles seja tão grave quanto a utilização que se vem fazendo do termo "elite". Toda vez que um de nossos dirigentes precisa livrar-se de acusações, desqualificar opositores ou simplesmente neutralizar qualquer crítica, a palavra "elite" surge como o pecado feito verbo. Ela encarna tudo o que há de ruim e malvado, o dolo em essência, o egoísmo mais nocivo, a traição sempre à espreita.
Curiosamente, essa "elite" não tem rosto. Ela é sempre o outro -o inimigo, o desafeto, o adversário, o opositor. Em suma: o dissenso. Diz-se pertencer à "elite" o indivíduo ou instituição que ouse questionar os atos do poder. Em qualquer língua do planeta, esse substantivo afrancesado -"elite"- inclui o estamento dirigente da nação. Salvo no idioma falado pelos próceres de nossa República.
Aqui, ministros de Estado, secretários de governo, parlamentares, magistrados, diretores de bancos e empresas estatais, nenhum se julga parte da "elite". Tampouco são vistos como integrantes da "elite" usineiros heróicos, empreiteiros amigos, marqueteiros audazes ou banqueiros satisfeitos.
Já o cidadão de classe média que manifesta publicamente o seu desagrado com o Estado de anomia do país é, de imediato, acusado de tramar o eterno retorno das desigualdades sociais e da concentração de renda. A ofensa é absurda, mas poucos se dão conta disso. Ora, quem paga os elevadíssimos impostos que, já de algum tempo, são cobrados no Brasil não pode ser acusado de responsável pelo atraso da nação. Os verdadeiros culpados são aqueles que tomam esses impostos sem investir corretamente na educação do povo e no desenvolvimento de nossas forças produtivas.
As "bandas podres" existem, disso não resta a menor dúvida. Mas hoje, tal como ontem, elas vivem em conúbio com o Estado. O atual governo não moveu uma palha para mudar tal quadro. Pelo contrário, especializou-se em lotear cargos e apadrinhar o fisiologismo. Além disso, encampou a ortodoxia monetária tucana, continuando a desperdiçar o arrocho fiscal no enriquecimento dos grandes investidores nacionais e estrangeiros.
Como pode então que os dirigentes continuem a ver nas vaias de alguns ou nas críticas da imprensa a mão conspiratória da "elite"? Dá vontade de dizer: "Excelência, defina elite!". O uso sofístico do conceito de "elite" teve sua origem em nossa intelectualidade. Foi ela quem ensinou aos atuais homens de poder a conveniente manipulação da antinomia elite-povo e quem primeiro se auto-excluiu da tão odiosa "elite brasileira".
Ao passar décadas tratando a "elite" como um bloco monolítico e, sobretudo, ao fazer de conta que um país justo se possa estruturar sem elites técnicas, científicas, intelectuais, políticas, burocráticas, artísticas e econômicas, nossa intelectualidade transformou o conceito em um mero clichê ao dispor das lideranças populistas de viés autoritário. Basta-lhes agora dizer "eu sou o povo" e todo questionamento passa a estar identificado com a insatisfação da "elite reacionária".
Basta-lhes repetir "o povo chegou ao poder" e o papel histórico da democracia se cumpre, tornando-se ela um instrumento obsoleto. Para que alternância de partidos se quem está de fora é a "elite"? O atual debate sobre a crise aérea espelha à perfeição os efeitos nefastos desse pântano conceitual. Todas as críticas são ditas "provenientes da elite". O próprio tema dos aeroportos em pane e do caos regulatório do setor é tratado como um assunto menor, de exclusivo interesse da "elite".
Dois aviões já caíram. Quantos mortos a mais serão necessários para que os governistas de plantão acordem de seu transe? Nenhum povo jamais foi redimido pelo sucateamento dos setores de ponta da economia. Em um debate público sério, estaríamos agora discutindo a crônica incapacidade de nossos governos em assegurar a modernização da infra-estrutura do país. Ao insistirmos na utilização oportunista de conceitos, continuaremos enfrentando crise após crise. O Brasil ficará para trás. A pobreza se eternizará. E a democracia descerá pelo ralo.
MARCELO OTÁVIO DANTAS , 43, formado em ciências econômicas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é escritor, roteirista e diplomata de carreira, autor do livro "Três Vezes Mago" (no prelo). É chefe da Divisão de Assuntos Multilaterais Culturais do Ministério das Relações Exteriores.
Excelência, defina "elite".
Quando alguém me pergunta qual o principal problema do Brasil atual, não hesito em responder: a falta de precisão vocabular. Vivemos sob o império dos sofismas, em que toda ilegalidade tem direito a um eufemismo, todo impostor, livre acesso à honradez, e toda bravata, o status de argumento. Num ambiente semelhante, o debate público, sério e fundamentado, se torna inviável.
Exemplos existem aos montes, mas talvez nenhum deles seja tão grave quanto a utilização que se vem fazendo do termo "elite". Toda vez que um de nossos dirigentes precisa livrar-se de acusações, desqualificar opositores ou simplesmente neutralizar qualquer crítica, a palavra "elite" surge como o pecado feito verbo. Ela encarna tudo o que há de ruim e malvado, o dolo em essência, o egoísmo mais nocivo, a traição sempre à espreita.
Curiosamente, essa "elite" não tem rosto. Ela é sempre o outro -o inimigo, o desafeto, o adversário, o opositor. Em suma: o dissenso. Diz-se pertencer à "elite" o indivíduo ou instituição que ouse questionar os atos do poder. Em qualquer língua do planeta, esse substantivo afrancesado -"elite"- inclui o estamento dirigente da nação. Salvo no idioma falado pelos próceres de nossa República.
Aqui, ministros de Estado, secretários de governo, parlamentares, magistrados, diretores de bancos e empresas estatais, nenhum se julga parte da "elite". Tampouco são vistos como integrantes da "elite" usineiros heróicos, empreiteiros amigos, marqueteiros audazes ou banqueiros satisfeitos.
Já o cidadão de classe média que manifesta publicamente o seu desagrado com o Estado de anomia do país é, de imediato, acusado de tramar o eterno retorno das desigualdades sociais e da concentração de renda. A ofensa é absurda, mas poucos se dão conta disso. Ora, quem paga os elevadíssimos impostos que, já de algum tempo, são cobrados no Brasil não pode ser acusado de responsável pelo atraso da nação. Os verdadeiros culpados são aqueles que tomam esses impostos sem investir corretamente na educação do povo e no desenvolvimento de nossas forças produtivas.
As "bandas podres" existem, disso não resta a menor dúvida. Mas hoje, tal como ontem, elas vivem em conúbio com o Estado. O atual governo não moveu uma palha para mudar tal quadro. Pelo contrário, especializou-se em lotear cargos e apadrinhar o fisiologismo. Além disso, encampou a ortodoxia monetária tucana, continuando a desperdiçar o arrocho fiscal no enriquecimento dos grandes investidores nacionais e estrangeiros.
Como pode então que os dirigentes continuem a ver nas vaias de alguns ou nas críticas da imprensa a mão conspiratória da "elite"? Dá vontade de dizer: "Excelência, defina elite!". O uso sofístico do conceito de "elite" teve sua origem em nossa intelectualidade. Foi ela quem ensinou aos atuais homens de poder a conveniente manipulação da antinomia elite-povo e quem primeiro se auto-excluiu da tão odiosa "elite brasileira".
Ao passar décadas tratando a "elite" como um bloco monolítico e, sobretudo, ao fazer de conta que um país justo se possa estruturar sem elites técnicas, científicas, intelectuais, políticas, burocráticas, artísticas e econômicas, nossa intelectualidade transformou o conceito em um mero clichê ao dispor das lideranças populistas de viés autoritário. Basta-lhes agora dizer "eu sou o povo" e todo questionamento passa a estar identificado com a insatisfação da "elite reacionária".
Basta-lhes repetir "o povo chegou ao poder" e o papel histórico da democracia se cumpre, tornando-se ela um instrumento obsoleto. Para que alternância de partidos se quem está de fora é a "elite"? O atual debate sobre a crise aérea espelha à perfeição os efeitos nefastos desse pântano conceitual. Todas as críticas são ditas "provenientes da elite". O próprio tema dos aeroportos em pane e do caos regulatório do setor é tratado como um assunto menor, de exclusivo interesse da "elite".
Dois aviões já caíram. Quantos mortos a mais serão necessários para que os governistas de plantão acordem de seu transe? Nenhum povo jamais foi redimido pelo sucateamento dos setores de ponta da economia. Em um debate público sério, estaríamos agora discutindo a crônica incapacidade de nossos governos em assegurar a modernização da infra-estrutura do país. Ao insistirmos na utilização oportunista de conceitos, continuaremos enfrentando crise após crise. O Brasil ficará para trás. A pobreza se eternizará. E a democracia descerá pelo ralo.
MARCELO OTÁVIO DANTAS , 43, formado em ciências econômicas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é escritor, roteirista e diplomata de carreira, autor do livro "Três Vezes Mago" (no prelo). É chefe da Divisão de Assuntos Multilaterais Culturais do Ministério das Relações Exteriores.
quinta-feira, agosto 30, 2007
Genial!
Adam Smith desembarca em Brasília
Rolf Kuntz*
Sujeitinho vivo era aquele escocês, o tal Adam Smith. Ele notou, há mais de 200 anos, que os ganhos de produtividade acumulados durante séculos eram explicáveis, na maior parte, pela divisão do trabalho. Ele achou essa idéia tão importante que resolveu apresentá-la no primeiro capítulo de um grande livro a respeito da riqueza das nações. Essa idéia não era exatamente uma novidade. Um amigo mais velho de Smith, chamado David Hume, havia descrito num ensaio econômico o crescimento de uma economia a partir da diferenciação entre atividades agrícolas e não agrícolas. Seu parceiro aprofundou a análise.
Essa noção foi incorporada pelo senso comum há muito tempo, mas tem sido rejeitada por integrantes do governo brasileiro. Parece, agora, estar ficando popular pelo menos no Palácio do Planalto. A Presidência divulgou, ontem, dados sobre a melhora das condições de vida dos brasileiros. A desigualdade e a miséria têm diminuído. Tomando-se como referência o salário mínimo, as parcelas de brasileiros pobres e extremamente pobres passaram, entre 1990 e 2005, de 52% para 38% e de 28% para 16%, respectivamente. Ainda há fome e desnutrição, segundo o documento, mas esse desafio resulta, sobretudo, "do baixo poder aquisitivo de milhões de brasileiros".
Os primeiros dados eram mais ou menos conhecidos e já haviam sido examinados tanto pelo IBGE quanto pelo Ipea. A grande novidade, em termos políticos, é a aceitação, no Palácio do Planalto, da idéia de que a fome, no Brasil, é um problema de falta de dinheiro. Trocando em miúdos: há comida suficiente para quem pode comprá-la, seja qual for sua ocupação. Quem tem uma atividade razoavelmente rentável, seja como assalariado ou como trabalhador por conta própria, é capaz de encher seu prato e os de seus dependentes.
Quando assumiu o governo pela primeira vez, há pouco mais de cinco anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda parecia acreditar em duas lendas da esquerda: a produção de alimentos era insuficiente para a exportação e para o abastecimento do mercado interno e muitos brasileiros comiam menos que o necessário porque não tinham terra para plantar.
Ele parecia não haver notado, em sua breve experiência como operário, que trabalhadores da indústria conseguiam comer sem plantar, desde que recebessem um salário tolerável, e que milhões de brasileiros podiam ter carros e geladeiras mesmo sem ser donos de fábricas de automóveis e de eletrodomésticos. Se tivesse considerado o assunto com um pouco mais atenção aos fatos e menos aos incompetentes que o cercavam, poderia ter percebido outro dado notável: quanto mais a agropecuária se mostrava capaz de exportar, mais baratos se tornavam, a longo prazo, os produtos vendidos no mercado interno. O mesmo ocorria com os bens industriais.
Foi assim que o frango, um alimento de luxo quando era produzido artesanalmente, se tornou uma fonte barata de proteína. Mas isso ocorreu também com alimentos não exportados. As crises de abastecimento de feijão deixaram de ocorrer quando se combinaram dois fatores muito importantes, a mudança tecnológica e o fim dos controles de preços. Na turma do presidente Lula havia economistas que durante décadas se haviam dedicado ao estudo da famigerada "questão agrária". Cuidaram tanto desse tema que deixaram de notar o que ocorria na agropecuária brasileira - ou, mais amplamente, no agronegócio. No caso desses acadêmicos, a especialização foi contraproducente, porque resultou mais de antolhos ideológicos do que de um genuíno esforço de investigação.
Os principais ganhos de eficiência foram obtidos pelos produtores que se modernizaram e passaram a trabalhar levando em conta o mercado - como fornecedores de indústrias ou como competidores diretos no comércio de produtos básicos. Essa foi a experiência tanto da agropecuária empresarial quanto das unidades familiares mais permeáveis à modernização. A distinção relevante, nesse caso, não é entre a propriedade patronal e a familiar. Comida barata, boa e vendida em condições de competitividade foi o que fez diminuir o peso da alimentação no orçamento familiar dos brasileiros.
O resto é um besteirol que o governo deveria esquecer. Seu problema é criar oportunidades de empregos produtivos, tomando o cuidado de não atrapalhar a modernização do setor rural. O governo do presidente Lula ainda tem muita gente fascinada pela agricultura de pés descalços, enxada enferrujada e galinha ciscando no terreiro.
*Rolf Kuntz é jornalista
Rolf Kuntz*
Sujeitinho vivo era aquele escocês, o tal Adam Smith. Ele notou, há mais de 200 anos, que os ganhos de produtividade acumulados durante séculos eram explicáveis, na maior parte, pela divisão do trabalho. Ele achou essa idéia tão importante que resolveu apresentá-la no primeiro capítulo de um grande livro a respeito da riqueza das nações. Essa idéia não era exatamente uma novidade. Um amigo mais velho de Smith, chamado David Hume, havia descrito num ensaio econômico o crescimento de uma economia a partir da diferenciação entre atividades agrícolas e não agrícolas. Seu parceiro aprofundou a análise.
Essa noção foi incorporada pelo senso comum há muito tempo, mas tem sido rejeitada por integrantes do governo brasileiro. Parece, agora, estar ficando popular pelo menos no Palácio do Planalto. A Presidência divulgou, ontem, dados sobre a melhora das condições de vida dos brasileiros. A desigualdade e a miséria têm diminuído. Tomando-se como referência o salário mínimo, as parcelas de brasileiros pobres e extremamente pobres passaram, entre 1990 e 2005, de 52% para 38% e de 28% para 16%, respectivamente. Ainda há fome e desnutrição, segundo o documento, mas esse desafio resulta, sobretudo, "do baixo poder aquisitivo de milhões de brasileiros".
Os primeiros dados eram mais ou menos conhecidos e já haviam sido examinados tanto pelo IBGE quanto pelo Ipea. A grande novidade, em termos políticos, é a aceitação, no Palácio do Planalto, da idéia de que a fome, no Brasil, é um problema de falta de dinheiro. Trocando em miúdos: há comida suficiente para quem pode comprá-la, seja qual for sua ocupação. Quem tem uma atividade razoavelmente rentável, seja como assalariado ou como trabalhador por conta própria, é capaz de encher seu prato e os de seus dependentes.
Quando assumiu o governo pela primeira vez, há pouco mais de cinco anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda parecia acreditar em duas lendas da esquerda: a produção de alimentos era insuficiente para a exportação e para o abastecimento do mercado interno e muitos brasileiros comiam menos que o necessário porque não tinham terra para plantar.
Ele parecia não haver notado, em sua breve experiência como operário, que trabalhadores da indústria conseguiam comer sem plantar, desde que recebessem um salário tolerável, e que milhões de brasileiros podiam ter carros e geladeiras mesmo sem ser donos de fábricas de automóveis e de eletrodomésticos. Se tivesse considerado o assunto com um pouco mais atenção aos fatos e menos aos incompetentes que o cercavam, poderia ter percebido outro dado notável: quanto mais a agropecuária se mostrava capaz de exportar, mais baratos se tornavam, a longo prazo, os produtos vendidos no mercado interno. O mesmo ocorria com os bens industriais.
Foi assim que o frango, um alimento de luxo quando era produzido artesanalmente, se tornou uma fonte barata de proteína. Mas isso ocorreu também com alimentos não exportados. As crises de abastecimento de feijão deixaram de ocorrer quando se combinaram dois fatores muito importantes, a mudança tecnológica e o fim dos controles de preços. Na turma do presidente Lula havia economistas que durante décadas se haviam dedicado ao estudo da famigerada "questão agrária". Cuidaram tanto desse tema que deixaram de notar o que ocorria na agropecuária brasileira - ou, mais amplamente, no agronegócio. No caso desses acadêmicos, a especialização foi contraproducente, porque resultou mais de antolhos ideológicos do que de um genuíno esforço de investigação.
Os principais ganhos de eficiência foram obtidos pelos produtores que se modernizaram e passaram a trabalhar levando em conta o mercado - como fornecedores de indústrias ou como competidores diretos no comércio de produtos básicos. Essa foi a experiência tanto da agropecuária empresarial quanto das unidades familiares mais permeáveis à modernização. A distinção relevante, nesse caso, não é entre a propriedade patronal e a familiar. Comida barata, boa e vendida em condições de competitividade foi o que fez diminuir o peso da alimentação no orçamento familiar dos brasileiros.
O resto é um besteirol que o governo deveria esquecer. Seu problema é criar oportunidades de empregos produtivos, tomando o cuidado de não atrapalhar a modernização do setor rural. O governo do presidente Lula ainda tem muita gente fascinada pela agricultura de pés descalços, enxada enferrujada e galinha ciscando no terreiro.
*Rolf Kuntz é jornalista
domingo, agosto 26, 2007
Professor aloprado
Vejam, vocês, que o homem que cuida do nosso longo prazo consegue se perder nos corredores do Palácio do Planalto. Poderia ter sido comido por um minotauro - ou por um sapo barbudo.
Num dos muitos delírios, uma viagem para disseminar a mobilização pelo interior do país por uma nova ordem econômica e social, foi atropelado por um Kombi, teve a mão machucada por espinhos e caiu num poço e quebrou o braço. Jeitoso, o homi, não?
A sorte que, no longo prazo, estaremos todos mortos, como bem disse Keynes.
Num dos muitos delírios, uma viagem para disseminar a mobilização pelo interior do país por uma nova ordem econômica e social, foi atropelado por um Kombi, teve a mão machucada por espinhos e caiu num poço e quebrou o braço. Jeitoso, o homi, não?
A sorte que, no longo prazo, estaremos todos mortos, como bem disse Keynes.
O IPCC não é mais aquele
Coluna Ciência em Dia
Marcelo Leite
Folha de S.Paulo - caderno Mais 12 de agosto de 2007
Há quase duas décadas escrevo sobre aquecimento global. Esses anos todos serviram para criar a convicção de que a fonte mais confiável de projeções sobre o problema são os relatórios do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática posto em ação pela ONU em 1988. Talvez seja hora de adicionar um grão de sal a essa convicção.
Quem primeiro alertou para a possibilidade de haver algo questionável no IPCC foi o economista José Eli da Veiga, da USP. Há coisa de seis meses, ouvi dele a intrigante afirmação de que não identificara grandes nomes da economia ambiental entre os autores dos textos do IPCC publicados no com repercussão no começo do ano.
Para quem não está familiarizado com o modo de produção dos relatórios do IPCC, é bom saber que mais de 2.000 pesquisadores de muitos campos e países participam. A cada meia década, revisam toda a literatura científica sobre várias áreas de especialidade. Daí surgem seus cenários sobre aumento de temperatura (pelo menos mais 1,8C até 2100) e elevação do nível do mar (de 18 cm a 59 cm).
Como é mais ou menos óbvio, essas projeções dependem de séries de dados econômicos sobre atividades emissoras de gases do efeito estufa, de energia a transportes e agricultura. Prever quanto, onde e como a economia vai crescer é crucial para predizer o futuro das emissões e, portanto, da temperatura (que se eleva com o acúmulo de gás carbônico na atmosfera).
Pelo menos desde 2003 uma dupla de especialistas -David Henderson (ex-OCDE) e Ian Castles (ex-presidente do Birô de Estatísticas Australiano)- questiona premissas econômicas básicas dos cenários do IPCC. Parece um mero detalhe técnico: o painel usa preços de mercado nas comparações de PIBs nacionais e sua evolução, em lugar de valores expressos no conceito de "paridade de poder de compra" (PPP, na sigla em inglês).
Sem entrar aqui na minúcia econômica, para Henderson e Castles isso leva o IPCC a superestimar a diferença de riqueza entre países pobres e ricos em 1990, ano de referência dos cenários. Em conseqüência, também haveria distorções no crescimento estimado das economias desde então, o que por sua vez tenderia a inflar as emissões de gases-estufa.
Não é uma objeção trivial, longe disso. A dupla acusa o IPCC, porém, de desconsiderá-la sumariamente desde 2003, apesar da receptividade inicial demonstrada por Rajendra Pachauri, que preside o painel. Um apanhado recente da controvérsia (em inglês) se encontra no artigo "Governos e Questões de Mudança Climática", publicado por Henderson na edição de abril-junho do periódico "World Economics".
O autor denuncia ali que nenhum de seus artigos sobre o tema foi incluído entre mais de 400 referências do "Quarto Relatório de Avaliação" lançado neste ano (AR4, como ficou conhecido), embora incluam um comunicado de imprensa em que Pachauri ataca o duo.
Henderson e Castles ponderam que órgãos estatísticos internacionais recomendam o uso da metodologia PPP. Defensores do IPCC retrucam que a mudança não alteraria de modo significativo as projeções físicas (como a temperatura) e que seria ônus dos críticos produzir modelos e estimativas que demonstrem o oposto. O IPCC tem a seu favor o argumento de que muitas medições desde 1990 confirmam as tendências delineadas pelo órgão.
Essa pendenga não se resolverá tão cedo, mas precisa vir a público -para indicar que o IPCC não é bem um evangelho que deve ser seguido por todos cegamente.
Marcelo Leite
Folha de S.Paulo - caderno Mais 12 de agosto de 2007
Há quase duas décadas escrevo sobre aquecimento global. Esses anos todos serviram para criar a convicção de que a fonte mais confiável de projeções sobre o problema são os relatórios do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática posto em ação pela ONU em 1988. Talvez seja hora de adicionar um grão de sal a essa convicção.
Quem primeiro alertou para a possibilidade de haver algo questionável no IPCC foi o economista José Eli da Veiga, da USP. Há coisa de seis meses, ouvi dele a intrigante afirmação de que não identificara grandes nomes da economia ambiental entre os autores dos textos do IPCC publicados no com repercussão no começo do ano.
Para quem não está familiarizado com o modo de produção dos relatórios do IPCC, é bom saber que mais de 2.000 pesquisadores de muitos campos e países participam. A cada meia década, revisam toda a literatura científica sobre várias áreas de especialidade. Daí surgem seus cenários sobre aumento de temperatura (pelo menos mais 1,8C até 2100) e elevação do nível do mar (de 18 cm a 59 cm).
Como é mais ou menos óbvio, essas projeções dependem de séries de dados econômicos sobre atividades emissoras de gases do efeito estufa, de energia a transportes e agricultura. Prever quanto, onde e como a economia vai crescer é crucial para predizer o futuro das emissões e, portanto, da temperatura (que se eleva com o acúmulo de gás carbônico na atmosfera).
Pelo menos desde 2003 uma dupla de especialistas -David Henderson (ex-OCDE) e Ian Castles (ex-presidente do Birô de Estatísticas Australiano)- questiona premissas econômicas básicas dos cenários do IPCC. Parece um mero detalhe técnico: o painel usa preços de mercado nas comparações de PIBs nacionais e sua evolução, em lugar de valores expressos no conceito de "paridade de poder de compra" (PPP, na sigla em inglês).
Sem entrar aqui na minúcia econômica, para Henderson e Castles isso leva o IPCC a superestimar a diferença de riqueza entre países pobres e ricos em 1990, ano de referência dos cenários. Em conseqüência, também haveria distorções no crescimento estimado das economias desde então, o que por sua vez tenderia a inflar as emissões de gases-estufa.
Não é uma objeção trivial, longe disso. A dupla acusa o IPCC, porém, de desconsiderá-la sumariamente desde 2003, apesar da receptividade inicial demonstrada por Rajendra Pachauri, que preside o painel. Um apanhado recente da controvérsia (em inglês) se encontra no artigo "Governos e Questões de Mudança Climática", publicado por Henderson na edição de abril-junho do periódico "World Economics".
O autor denuncia ali que nenhum de seus artigos sobre o tema foi incluído entre mais de 400 referências do "Quarto Relatório de Avaliação" lançado neste ano (AR4, como ficou conhecido), embora incluam um comunicado de imprensa em que Pachauri ataca o duo.
Henderson e Castles ponderam que órgãos estatísticos internacionais recomendam o uso da metodologia PPP. Defensores do IPCC retrucam que a mudança não alteraria de modo significativo as projeções físicas (como a temperatura) e que seria ônus dos críticos produzir modelos e estimativas que demonstrem o oposto. O IPCC tem a seu favor o argumento de que muitas medições desde 1990 confirmam as tendências delineadas pelo órgão.
Essa pendenga não se resolverá tão cedo, mas precisa vir a público -para indicar que o IPCC não é bem um evangelho que deve ser seguido por todos cegamente.
sábado, agosto 25, 2007
O risco do totalitarismo
Por este texto, o jornalista de Veja responde a inquérito policial. É longo, mas vale a pena, pois retrata o nosso "estado de direito" sob o jugo lulo-petista. Sob o stalinismo, a liberdade de imprensa corre sério risco. E nisso não há exagero nem teoria da conspiração.
Nuvens escuras no horizonte
Por Mario Sabino
As relações do governo Lula com a imprensa voltaram a entrar em temperatura crítica. Na segunda-feira da semana passada, munidos da convicção – calculadamente aloprada – de que a vitória nas urnas significou uma absolvição dos crimes de corrupção do PT, militantes do partido, com o duplo crachá de funcionários públicos, agrediram jornalistas à entrada do Palácio da Alvorada. No dia seguinte, a situação adquiriu contornos ainda mais graves: os repórteres de VEJA Julia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, responsáveis pela apuração de reportagens que mostraram a participação de policiais federais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" no escândalo da compra do dossiê, foram constrangidos nas dependências da Polícia Federal, em São Paulo, pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira. Os repórteres haviam sido convocados para prestar esclarecimentos na condição de testemunhas, mas o delegado, utilizando meios ilegais, tentou transformá-los – e, por extensão, a VEJA – em réus. Como se a revista tivesse "fabricado" as reportagens que revelaram os movimentos de um grupo dentro da PF para apagar, no episódio investigado, as impressões digitais de gente ligada diretamente ao Palácio do Planalto.
Diante da arbitrariedade, VEJA divulgou no mesmo dia uma nota em seu site na qual relatou os abusos cometidos pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira (veja a íntegra abaixo). A reação da sociedade foi imediata e vigorosa. Jornais, colunistas, políticos e entidades de classe protestaram contra as intimidações sofridas pelos repórteres da revista, numa demonstração ao mesmo tempo de solidariedade e indignação diante da ameaça, embutida na atitude do delegado da PF, à liberdade de imprensa.
Há duas formas de observar ambas as ocorrências – a dos jornalistas agredidos no Alvorada e a dos repórteres de VEJA constrangidos na PF. Na primeira, a mais benigna, pode-se enxergá-las como atos isolados, resultantes do fanatismo partidário e da vingança corporativa, respectivamente. Nesse caso, basta expressar a indignação e exigir a neutralização dos seus protagonistas, a ser encarados apenas na qualidade de agentes patogênicos que envenenam a democracia e aos quais as instituições dispõem de instrumentos para expurgar. O segundo modo de examinar os acontecimentos, no entanto, comporta a inquietação maior de que eles são fruto de uma ação coordenada do governo do PT para controlar jornais, revistas e emissoras de televisão – e, por meio de tal controle, obstaculizar a missão da imprensa de fiscalizar o poder. Antecedentes existem: em 2004, o governo, com o bem estimável apoio de pelegos sindicais e editores a serviço do PT, tentou criar um certo Conselho Federal de Jornalismo, que, a pretexto de coibir erros, significaria na prática a imposição de censura prévia aos meios de comunicação. Antes disso, o Planalto quis expulsar o correspondente do jornal americano The New York Times Larry Rohter porque ele registrara o gosto do presidente pelo consumo de bebidas alcoólicas – fato, aliás, que o próprio nunca escondeu de ninguém, mas que de repente adquiriu a proporção de um ataque à honra nacional. Também foram recorrentes, ao longo do primeiro mandato de Lula, as diatribes lançadas contra a imprensa pelo próprio e por assessores seus apanhados em gatunagens.
Quando tudo isso, no entanto, parecia pertencer ao passado, eis que as últimas agressões e arbitrariedades contra jornalistas, não bastasse a sua gravidade intrínseca, ganharam uma moldura preocupante. Ao condenar de forma burocrática o espetáculo promovido por militantes do PT em Brasília, o presidente do partido, Marco Aurélio Garcia, aproveitou a oportunidade para sugerir à imprensa que fizesse uma "auto-reflexão" sobre sua atuação na campanha eleitoral. Ele afirmou ainda que os jornalistas deviam uma informação à sociedade: a de que o esquema do mensalão não existiu. Semelhantes disparates enquadram-se na tradição autoritária da esquerda marxista, da qual Garcia é um inebriado seguidor e que tem como uma de suas estratégias recorrer a eufemismos para perpetrar enormidades. Ao falar em "reflexão", ele na verdade quer dizer "genuflexão". Quando afirma, sem enrubescer, que o esquema do valerioduto não existiu, porque disso não há "evidências", o presidente do PT usa da mesma artimanha do camarada Stalin, que por várias vezes "reescreveu" a história da então União Soviética, apagando de textos históricos os relatos de fatos que lhe eram negativos e de fotografias as imagens de opositores políticos. Salvo melhor juízo, a imprensa ideal de Garcia é a cubana, que goza de toda a liberdade para elogiar Fidel Castro. O furo jornalístico mais recente da imprensa cubana se deu quando o comandante saiu da operação de um tumor no intestino. O furo não foi sobre a gravidade da doença. Esqueça. O jornal estampou a manchete "Absolvido pela história", reverberando a frase famosa do ditador dita quando sua revolução começou a matar gente indiscriminadamente e isso chamou a atenção do mundo.
Garcia, segundo um alto integrante da cúpula governamental, não passa de "um ideólogo perigoso que precisa ser afastado dos ouvidos do presidente". Mas, para dissipar receios, seria recomendável que o presidente Lula fosse mais enfático na condenação às tentativas de cerceamento à liberdade de imprensa. No caso dos constrangimentos impostos aos repórteres de VEJA pelo delegado da Polícia Federal, ele não se pronunciou publicamente. Pelo relato estampado no jornal Folha de S.Paulo, limitou-se a dizer a assessores que era um equívoco "vitimizar" setores da imprensa que julga terem sido "injustos" com ele. Ou seja, é lícito supor que, na visão de Lula, se a inquirição dos repórteres não vitimizasse a imprensa independente do governo, estaria tudo certo.
A acirrar as dúvidas sobre a convicção do atual governo em relação à necessidade de uma imprensa livre, um dos pilares do sistema democrático, levem-se em conta, ainda, as afirmações do ex-ministro Ciro Gomes, aliado de Lula, feitas também na semana passada a um jornalista chapa-branca. De acordo com Gomes, "é preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos, fortalecer cooperativas de jornalistas". A sintonia do ex-ministro com o programa de "democratização da mídia" do PT é comovente. O tal programa sugere a desconcentração da propriedade de emissoras de rádio e televisão. No que se refere à imprensa escrita, seria preciso criar um "programa de incentivos legais e econômicos para o desenvolvimento de jornais e revistas independentes". A verdade é que, por trás de propósitos aparentemente tão nobres, está a aspiração à criação de um kolkhoz jornalístico onde seriam apascentadas dóceis vaquinhas de presépio do governo petista. Por "jornais e revistas independentes", leia-se "publicações submissas ao PT". Quanto à desconcentração da mídia eletrônica – bem, que tal começar pelas emissoras de propriedade dos petistas de ocasião do Norte e do Nordeste?
A liberdade de imprensa tornou ao centro da discussão, o que não é um bom sinal para a democracia brasileira. Menos ainda quando até um chefe de polícia resolve emitir opiniões a respeito, na condição de chefe de polícia. Foi o que se permitiu o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, ao negar os abusos contra os repórteres de VEJA. Ele disse que jornalistas não estão acima da lei. De fato, não estão. Assim como também não estão delegados da PF, Gedimar Passos e Freud Godoy, principais beneficiários da "operação abafa" denunciada por VEJA. É curioso que a Polícia Federal se empenhe tanto nos depoimentos dos jornalistas da revista e seja tão frouxa na investigação desses personagens.
O delegado Moysés Eduardo Ferreira tratou os repórteres de VEJA como suspeitos, não permitiu que eles conversassem com sua advogada e, num ato de flagrante ilegalidade, não deixou que eles saíssem com a cópia de seus depoimentos. A coisa chegou a tal ponto que a procuradora da República Elizabeth Kobayashi, testemunha de tudo, procurou o repórter Marcelo Carneiro e a advogada da Editora Abril, Ana Rita Dutra, antes que eles deixassem as dependências da Polícia Federal. Relata Carneiro: "À nossa saída, já no hall dos elevadores do 9º andar da PF, a procuradora nos abordou e disse: 'Não deixe acontecer no próximo depoimento o que ocorreu hoje aqui. O delegado não podia ter proibido a conversa entre vocês' ". Um dia depois, a procuradora soltou uma nota ambígua, em que, apesar de não desmentir os fatos descritos por VEJA, afirma que, no seu "entendimento pessoal", não havia ocorrido intimidação. Compreende-se o receio de Elizabeth de ter parecido conivente com o delegado Moysés ao não usar de suas prerrogativas institucionais para detê-lo em suas arbitrariedades. Mas, a fim de evitar que nuvens escuras se adensem no horizonte, é preciso que todos se comportem à altura de suas responsabilidades – imprensa, governo, chefes de polícia e procuradores da República.
Nuvens escuras no horizonte
Por Mario Sabino
As relações do governo Lula com a imprensa voltaram a entrar em temperatura crítica. Na segunda-feira da semana passada, munidos da convicção – calculadamente aloprada – de que a vitória nas urnas significou uma absolvição dos crimes de corrupção do PT, militantes do partido, com o duplo crachá de funcionários públicos, agrediram jornalistas à entrada do Palácio da Alvorada. No dia seguinte, a situação adquiriu contornos ainda mais graves: os repórteres de VEJA Julia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, responsáveis pela apuração de reportagens que mostraram a participação de policiais federais em atos descritos pela revista como "uma operação abafa" no escândalo da compra do dossiê, foram constrangidos nas dependências da Polícia Federal, em São Paulo, pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira. Os repórteres haviam sido convocados para prestar esclarecimentos na condição de testemunhas, mas o delegado, utilizando meios ilegais, tentou transformá-los – e, por extensão, a VEJA – em réus. Como se a revista tivesse "fabricado" as reportagens que revelaram os movimentos de um grupo dentro da PF para apagar, no episódio investigado, as impressões digitais de gente ligada diretamente ao Palácio do Planalto.
Diante da arbitrariedade, VEJA divulgou no mesmo dia uma nota em seu site na qual relatou os abusos cometidos pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira (veja a íntegra abaixo). A reação da sociedade foi imediata e vigorosa. Jornais, colunistas, políticos e entidades de classe protestaram contra as intimidações sofridas pelos repórteres da revista, numa demonstração ao mesmo tempo de solidariedade e indignação diante da ameaça, embutida na atitude do delegado da PF, à liberdade de imprensa.
Há duas formas de observar ambas as ocorrências – a dos jornalistas agredidos no Alvorada e a dos repórteres de VEJA constrangidos na PF. Na primeira, a mais benigna, pode-se enxergá-las como atos isolados, resultantes do fanatismo partidário e da vingança corporativa, respectivamente. Nesse caso, basta expressar a indignação e exigir a neutralização dos seus protagonistas, a ser encarados apenas na qualidade de agentes patogênicos que envenenam a democracia e aos quais as instituições dispõem de instrumentos para expurgar. O segundo modo de examinar os acontecimentos, no entanto, comporta a inquietação maior de que eles são fruto de uma ação coordenada do governo do PT para controlar jornais, revistas e emissoras de televisão – e, por meio de tal controle, obstaculizar a missão da imprensa de fiscalizar o poder. Antecedentes existem: em 2004, o governo, com o bem estimável apoio de pelegos sindicais e editores a serviço do PT, tentou criar um certo Conselho Federal de Jornalismo, que, a pretexto de coibir erros, significaria na prática a imposição de censura prévia aos meios de comunicação. Antes disso, o Planalto quis expulsar o correspondente do jornal americano The New York Times Larry Rohter porque ele registrara o gosto do presidente pelo consumo de bebidas alcoólicas – fato, aliás, que o próprio nunca escondeu de ninguém, mas que de repente adquiriu a proporção de um ataque à honra nacional. Também foram recorrentes, ao longo do primeiro mandato de Lula, as diatribes lançadas contra a imprensa pelo próprio e por assessores seus apanhados em gatunagens.
Quando tudo isso, no entanto, parecia pertencer ao passado, eis que as últimas agressões e arbitrariedades contra jornalistas, não bastasse a sua gravidade intrínseca, ganharam uma moldura preocupante. Ao condenar de forma burocrática o espetáculo promovido por militantes do PT em Brasília, o presidente do partido, Marco Aurélio Garcia, aproveitou a oportunidade para sugerir à imprensa que fizesse uma "auto-reflexão" sobre sua atuação na campanha eleitoral. Ele afirmou ainda que os jornalistas deviam uma informação à sociedade: a de que o esquema do mensalão não existiu. Semelhantes disparates enquadram-se na tradição autoritária da esquerda marxista, da qual Garcia é um inebriado seguidor e que tem como uma de suas estratégias recorrer a eufemismos para perpetrar enormidades. Ao falar em "reflexão", ele na verdade quer dizer "genuflexão". Quando afirma, sem enrubescer, que o esquema do valerioduto não existiu, porque disso não há "evidências", o presidente do PT usa da mesma artimanha do camarada Stalin, que por várias vezes "reescreveu" a história da então União Soviética, apagando de textos históricos os relatos de fatos que lhe eram negativos e de fotografias as imagens de opositores políticos. Salvo melhor juízo, a imprensa ideal de Garcia é a cubana, que goza de toda a liberdade para elogiar Fidel Castro. O furo jornalístico mais recente da imprensa cubana se deu quando o comandante saiu da operação de um tumor no intestino. O furo não foi sobre a gravidade da doença. Esqueça. O jornal estampou a manchete "Absolvido pela história", reverberando a frase famosa do ditador dita quando sua revolução começou a matar gente indiscriminadamente e isso chamou a atenção do mundo.
Garcia, segundo um alto integrante da cúpula governamental, não passa de "um ideólogo perigoso que precisa ser afastado dos ouvidos do presidente". Mas, para dissipar receios, seria recomendável que o presidente Lula fosse mais enfático na condenação às tentativas de cerceamento à liberdade de imprensa. No caso dos constrangimentos impostos aos repórteres de VEJA pelo delegado da Polícia Federal, ele não se pronunciou publicamente. Pelo relato estampado no jornal Folha de S.Paulo, limitou-se a dizer a assessores que era um equívoco "vitimizar" setores da imprensa que julga terem sido "injustos" com ele. Ou seja, é lícito supor que, na visão de Lula, se a inquirição dos repórteres não vitimizasse a imprensa independente do governo, estaria tudo certo.
A acirrar as dúvidas sobre a convicção do atual governo em relação à necessidade de uma imprensa livre, um dos pilares do sistema democrático, levem-se em conta, ainda, as afirmações do ex-ministro Ciro Gomes, aliado de Lula, feitas também na semana passada a um jornalista chapa-branca. De acordo com Gomes, "é preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos, fortalecer cooperativas de jornalistas". A sintonia do ex-ministro com o programa de "democratização da mídia" do PT é comovente. O tal programa sugere a desconcentração da propriedade de emissoras de rádio e televisão. No que se refere à imprensa escrita, seria preciso criar um "programa de incentivos legais e econômicos para o desenvolvimento de jornais e revistas independentes". A verdade é que, por trás de propósitos aparentemente tão nobres, está a aspiração à criação de um kolkhoz jornalístico onde seriam apascentadas dóceis vaquinhas de presépio do governo petista. Por "jornais e revistas independentes", leia-se "publicações submissas ao PT". Quanto à desconcentração da mídia eletrônica – bem, que tal começar pelas emissoras de propriedade dos petistas de ocasião do Norte e do Nordeste?
A liberdade de imprensa tornou ao centro da discussão, o que não é um bom sinal para a democracia brasileira. Menos ainda quando até um chefe de polícia resolve emitir opiniões a respeito, na condição de chefe de polícia. Foi o que se permitiu o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, ao negar os abusos contra os repórteres de VEJA. Ele disse que jornalistas não estão acima da lei. De fato, não estão. Assim como também não estão delegados da PF, Gedimar Passos e Freud Godoy, principais beneficiários da "operação abafa" denunciada por VEJA. É curioso que a Polícia Federal se empenhe tanto nos depoimentos dos jornalistas da revista e seja tão frouxa na investigação desses personagens.
O delegado Moysés Eduardo Ferreira tratou os repórteres de VEJA como suspeitos, não permitiu que eles conversassem com sua advogada e, num ato de flagrante ilegalidade, não deixou que eles saíssem com a cópia de seus depoimentos. A coisa chegou a tal ponto que a procuradora da República Elizabeth Kobayashi, testemunha de tudo, procurou o repórter Marcelo Carneiro e a advogada da Editora Abril, Ana Rita Dutra, antes que eles deixassem as dependências da Polícia Federal. Relata Carneiro: "À nossa saída, já no hall dos elevadores do 9º andar da PF, a procuradora nos abordou e disse: 'Não deixe acontecer no próximo depoimento o que ocorreu hoje aqui. O delegado não podia ter proibido a conversa entre vocês' ". Um dia depois, a procuradora soltou uma nota ambígua, em que, apesar de não desmentir os fatos descritos por VEJA, afirma que, no seu "entendimento pessoal", não havia ocorrido intimidação. Compreende-se o receio de Elizabeth de ter parecido conivente com o delegado Moysés ao não usar de suas prerrogativas institucionais para detê-lo em suas arbitrariedades. Mas, a fim de evitar que nuvens escuras se adensem no horizonte, é preciso que todos se comportem à altura de suas responsabilidades – imprensa, governo, chefes de polícia e procuradores da República.
sexta-feira, agosto 24, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
A moda pegou
Depois da USP, agora é a vez do prédio da reitoria da UFSC ser invadido por "alunos". Sim, alunos, e entre aspas, mesmo, já que estudantes não são.
Ao magnífico reitor, Lúcio Botelho, uma sugestão bem simples: faça como a direção da faculdade de direito da USP, que não titubeou e chamou a polícia ontem para retirar os invasores do prédio. Decisão irretorquível.
Em vez disso, Botelho preferiu um "apelo ao bom senso". Democrata? Não autoritário? Conciliador? Nada disso: pusilânime, mesmo.
segunda-feira, agosto 20, 2007
Prestando contas
Aos meus milhares de leitores, justifico que passei uma semana fora e, por isso, não atualizei o blog. Passei uns dias no meio-oeste catarinense. Fazia tempo que não ia por aquelas bandas. Muito bom. E trabalho intenso também. Na volta, vim pela serra. Gosto muito daquele clima. Aquela estrada entre Bom Jardim da Serra e Lages é uma delícia. É sempre bom andar por lá.
Visitei vários municípios em apenas cinco dias. Uma delícia.
Da serra para o mar. Desci pela inesquecível Serra do Rio do Rastro. Aproveitei e fui visitar minha mãe, em Araranguá, no litoral sul de Santa Catarina. Em Arroio do Silva, pude apreciar aquela tainha assada com pirão de peixe! E no dia seguinte, a incomparável papa-terra frita feita pela dona Janete. Incomparável!! Vida longa!
Bons motivos para deixar o blog de lado, não é mesmo?
Visitei vários municípios em apenas cinco dias. Uma delícia.
Da serra para o mar. Desci pela inesquecível Serra do Rio do Rastro. Aproveitei e fui visitar minha mãe, em Araranguá, no litoral sul de Santa Catarina. Em Arroio do Silva, pude apreciar aquela tainha assada com pirão de peixe! E no dia seguinte, a incomparável papa-terra frita feita pela dona Janete. Incomparável!! Vida longa!
Bons motivos para deixar o blog de lado, não é mesmo?
sábado, agosto 11, 2007
A modéstia passou longe
O rapaz não fez muita cerimônia ao dizer com todas as letras que os economistas são os cientistas sociais mais bem preparados. Será mesmo? Eu acho que ele não deixa de ter razão.
Está tudo lá no blog do professor Mankiw.
Fui lá em busca de uma avaliação original sobre a crise atual, mas o homem parece não querer mexer com isso, não.
Está tudo lá no blog do professor Mankiw.
Fui lá em busca de uma avaliação original sobre a crise atual, mas o homem parece não querer mexer com isso, não.
quarta-feira, agosto 08, 2007
Reforçando as estruturas
Ontem fui ao lançamento de alguns livros da editora da Univali, entre os quais Teoria das Estruturas II, do meu amigo Luiz Alberto Duarte Filho, professor de engenharia civil daquela universidade. Disse-me, na saída, que uma segunda edição já está a caminho, tamanha a demanda por um livro texto desse tipo. Sucesso, meu caro.
quarta-feira, agosto 01, 2007
Dois pesos e duas medidas
Outra coisa que lembrei agora mostra o oportunismo e mau caratismo de certas pessoas. Quando desabou aquele buraco do metrô, em São Paulo, choveu gente (ou melhor, petista) culpando o governo do Estado (Alckmin e todos os tucanos). As construtoras só foram lembradas muito depois. Trataram logo de apelidá-lo de "buraco do Alckmin". No jogo pesado da politicagem, acho isso normal, pelo menos aqui no Bananão.
Mas os mesmos picaretas vêem golpismo agora em quem põe no Apedeuta boa parte da culpa do desastre da Tam. Ora, Alckmin não estava gerenciando as obras, assim como Lula não estava pilotando o avião. Se o primeiro foi "culpado" por ser "responsável" pela obra, o segundo também deve ter culpa por ser "responsável" pelo sistem aéreo e, mais especificamente, pela pista de Congonhas. Fosse ela mais longa, com área de escape, não teriam morrido 199 pessoas. Outros dois acidentes semelhantes ocorreram no exterior, com apenas três mortos - nenhum deles passageiro. Tivesse o governo investido primeiro em segurança, e não embelezado os prédios dos aeroportos, o desastre poderia ter sido minimizado.
Mas o que importa, mesmo, é a maquiar. "Ifftou convenffido de que nunca anteff neffepaiff" a fachada foi tão importante.
Mas os mesmos picaretas vêem golpismo agora em quem põe no Apedeuta boa parte da culpa do desastre da Tam. Ora, Alckmin não estava gerenciando as obras, assim como Lula não estava pilotando o avião. Se o primeiro foi "culpado" por ser "responsável" pela obra, o segundo também deve ter culpa por ser "responsável" pelo sistem aéreo e, mais especificamente, pela pista de Congonhas. Fosse ela mais longa, com área de escape, não teriam morrido 199 pessoas. Outros dois acidentes semelhantes ocorreram no exterior, com apenas três mortos - nenhum deles passageiro. Tivesse o governo investido primeiro em segurança, e não embelezado os prédios dos aeroportos, o desastre poderia ter sido minimizado.
Mas o que importa, mesmo, é a maquiar. "Ifftou convenffido de que nunca anteff neffepaiff" a fachada foi tão importante.
Ameaça
Senti um certo tom de ameaça no discurso do Lula lá no Mato Grosso, num ambiente fechado, já que não freqüenta mais as ruas por medo de vaias. Aqui em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul ele não vem tão cedo. hahaha
Voltando ao discurso. A menção à ditadura me pareceu fora de propósito. A menos que ele esteja pensando nisso. É só se espelhar no ditador da Venezuela. É bom que fiquemos atentos.
E por falar em ditadura, é engraçado que a maioria dos que a ela se opuseram, nos 60 e 70, agora não têm vergonha em falar de boicote à "mídia golpista". Não se pode criticar o desgoverno do pt sob pena de ser acusado de golpismo. Para os desesperados "amigos do presidente", criticá-lo é um ato que não cabe à democracia - pelo menos não no modelo como a concebem. Na democracia deles, só aplauso e bajulação. Para esse serviço, não faltarão coleguinhas jornalistas a bom soldo.
Voltando ao discurso. A menção à ditadura me pareceu fora de propósito. A menos que ele esteja pensando nisso. É só se espelhar no ditador da Venezuela. É bom que fiquemos atentos.
E por falar em ditadura, é engraçado que a maioria dos que a ela se opuseram, nos 60 e 70, agora não têm vergonha em falar de boicote à "mídia golpista". Não se pode criticar o desgoverno do pt sob pena de ser acusado de golpismo. Para os desesperados "amigos do presidente", criticá-lo é um ato que não cabe à democracia - pelo menos não no modelo como a concebem. Na democracia deles, só aplauso e bajulação. Para esse serviço, não faltarão coleguinhas jornalistas a bom soldo.
terça-feira, julho 31, 2007
Se fosse petista, seria "golpismo"
O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por suposto abuso de poder econômico na última eleição. Se fosse um petista, a matilha petralha diria que tudo não passara de "golpismo". Golpe - e outras derivadas, como golpismo, golpista - é a palavra do momento na boca da tropa de choque petista, que conta com a participação de coleguinhas jornalistas ilustres, como Luis Nassif.
E não estou aqui defendendo o governador, não. Nem sequer o conheço. Fica muito longe daqui de Santa Catarina. Se abusou do poder econômico, que perca o mandato mesmo.
E não estou aqui defendendo o governador, não. Nem sequer o conheço. Fica muito longe daqui de Santa Catarina. Se abusou do poder econômico, que perca o mandato mesmo.
segunda-feira, julho 30, 2007
Oportunistas
E o oportunismo petista não tem limites. Notem que, quando a informação lhes convém, não há reparos quanto à Veja. Mas quando a revista critica o governo, daí então passa a ser golpista. Se a matéria desta semana dissesse que a culpa pelo acidente é do governo, seria atirada na vala comum do golpismo.
Aliás, esse discurso de golpismo é muito interessante. Coleguinhas chapa-branca de hoje reclamam dos que criticam o governo - papel de toda imprensa que se preze. Para os bajuladores de agora, os críticos querem dar um golpe no apedeuta. Engraçado isso. Quer dizer que eles podiam desancar o FHC, todo santo dia, toda santa semana, mas agora não se pode fazer o mesmo com o Luis Inércio?
Hoje, qualquer crítica ao governo é interpretada como tentativa de golpe; é preconceito contra o metalúrgico pobre que veio do Nordeste; é preconceito contra os nordestinos, e blá, blá, blá. A grande mídia é "golpista". Já as "cartas" e "caros" fazem jornalismo "independente". Só eles têm o direito de fazer oposição, são a reserva moral "deffepaiff". É de chorar de rir.
Aliás, esse discurso de golpismo é muito interessante. Coleguinhas chapa-branca de hoje reclamam dos que criticam o governo - papel de toda imprensa que se preze. Para os bajuladores de agora, os críticos querem dar um golpe no apedeuta. Engraçado isso. Quer dizer que eles podiam desancar o FHC, todo santo dia, toda santa semana, mas agora não se pode fazer o mesmo com o Luis Inércio?
Hoje, qualquer crítica ao governo é interpretada como tentativa de golpe; é preconceito contra o metalúrgico pobre que veio do Nordeste; é preconceito contra os nordestinos, e blá, blá, blá. A grande mídia é "golpista". Já as "cartas" e "caros" fazem jornalismo "independente". Só eles têm o direito de fazer oposição, são a reserva moral "deffepaiff". É de chorar de rir.
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